"Sempre vai haver uma forma de superar."
**"Seja bem vinda ao meu bloco gatinha, como não veio aqui nenhuma vez, resolvi convidar para uma festinha em comemoração ao seu primeiro ano aqui." - disse Ruby sensualmente, ela estava sentada em um colchão que estava no chão.**
☆-☆-☆
A conversa no bloco C era animada. Kristin, Úrsula e mais algumas mulheres se divertiam falando de alguém ou contando as coisas mais inusitadas que já fizeram tanto fora quanto dentro da penitenciária. De vez em quando Malévola e Úrsula trocavam olhares, mas logo tratavam de disfarçarem ao lembrarem que não estavam sozinhas. Todos desconfiavam que as duas tinham algo, porém ninguém tinha certeza de nada.
O tempo foi passando e elas assim como todas as detentas não notavam. Aquelas duas horas que tinham as sextas eram seus momentos de lazer.
Como de costume, quando faltava apenas meia hora para que trancassem as celas novamente, as guardas anunciavam que estava chegando a hora e era nesse momento que Malévola voltava para seu bloco depois de se despedir de suas colegas.
Kristin saiu do lugar e foi em direção ao seu bloco. No caminho cumprimentou algumas pessoas. Chegando em sua cela ela logo percebeu que havia algo de errado, pois ela estava vazia. Regina nunca saiu dali durante um ano, por que agora seria diferente?
Estranhado a ausência repentina de sua companheira, Malévola se dirigiu até a cela da frente para perguntar se alguém estava sabendo de algo.
"Sharon, cadê a menina que fica comigo?" - perguntou a mulher para uma das detentas, ela tinha cabelos negros com comprimento médio e seus olhos eram cor de mel. Estava ali por ter feito um assalto que não deu certo e acabou matando uma pessoa.
"Ela saiu com aquela oriental que conversava assim que chegou aqui." - disse naturalmente.
"Mulan?"
"Sim."
"Somente as duas?" - indagou ainda estranhando, ainda mais por saber que a oriental e Regina não tinham contato.
"Não. A Dorothy, namorada dela, estava junto."
"Puta que pariu! Ninguém estranhou nada?" - ela não estava tendo uma boa impressão daquilo.
"Não, elas estavam normais. Não percebi nada demais."
"Tem alguma coisa estranha... tem alguma coisa estranha..." - falava pensativa andando de um lado para o outro - "e eu acho que já sei qual é a intenção dessas vadias." - constatou assim que uma ideia do que estava acontecendo vem a sua mente - "Vai lá no bloco C e chama a Úrsula, manda ela ir pro B agora!" - gritou a mulher já se afastando e indo direto para lá.
Sharon avisou a Úrsula e a mulher na mesma hora se direcionou para o lugar também.
Chegando no bloco B, Kristin foi andando em meio aos corredores olhando as celas a procura de Mills. Não encontrando ela decidiu perguntar onde está a comandante do bloco.
"Onde está Ruby?" - perguntou a uma mulher que estava escorada na parede fumando e ela continuou em silêncio como se ninguém estivesse ali - "Eu perguntei onde Ruby está." - falou Malévola e a mulher continuou quieta com cara de quem não estava nem aí - "Você vai me responder ou terei que socar a sua cara até que você abra a porra da boca?" - disse já sem paciência encurralando a mulher na parede e jogando o cigarro que a mesma fumava no chão.
"Ei vamos com calma, ela está na cela dela." - falou a mulher tentando se soltar.
"Ela continua na mesma ou mudou?"
"É a mesma."
"Agora mete teu pé, já enjoei dessa sua cara." - falou Malévola soltando a mulher e ela logo se retira.
Kristin começou a andar apressadamente em direção ao penúltimo corredor do bloco e chegando nele ela foi em direção à última cela.
"Larga ela agora!" - ordenou a mulher já na porta.
Ruby tinha levantado a blusa de Regina deixando a barriga dela de fora e uma pequena parte do seio. Jogou cocaína por todo abdômen de Mills e estava cheirando enquanto lhe alisava quando fora interrompida por Malévola. Ela ergueu a cabeça para fitar a mais velha.
"E se eu não quiser?" - afrontou.
"Serei obrigada a te fazer largar."
"Não fode Malévola, deixa a gente se divertir nesse caralho."
"Vai se divertir com outra, larga a menina." - ordenou mais uma vez.
Regina estava assustada e continuava na mesma posição enquanto as duas discutiam e as outras mulheres na cela apenas observavam.
"Está tão interessada nela por quê? Ela é seu brinquedinho, é?" - perguntou se levantando.
"Não é da sua conta."
"Eu não vou largar ninguém." - falou elevando seu tom de voz.
"Olha bem como você fala comigo, não sou nenhuma dessas vadias que você fala do jeito que quer não, comigo o buraco é mais embaixo." - disse Kristin irritada.
"Estou na minha área e falo como quiser, se está incomodada vaza daqui."
"Eu só saio daqui com ela e pra eu meter a minha mão no meio da tua cara falta muito pouco. Não me provoque, eu acabo com a tua raça." - as duas já estavam frente a frente e as respirações se misturavam por conta da pouca distância.
"Vai pra casa do caralho. Se está achando que irei abaixar minha cabeça pra você está muito enganada." - disse Ruby diminuindo ainda mais a distância entre elas.
"Você invade o meu bloco, pega a força minha companheira de cela e acha que irei deixar por isso mesmo? Ah, mas está muito enganada. Você só pode ter perdido a noção do perigo, então por conta disso irei te fazer conhecer o inferno agora mesmo." - com uma força absurda Malévola empurrou Ruby e ela bateu com as costas nas grades da cela. Kristin avançou a em cima dela e agarrou em seu pescoço apertando. A mais nova se debatia, enquanto a outra apertava cada vez mais forte.
As quatro mulheres de dentro da cela ameaçaram a interferir e nesse momento Úrsula chegou.
"Parem com essa porra!" - falou puxando a loira e ela largou o pescoço de Ruby. De todas daquela penitenciária a única que conseguia fazer Kristin mudar de ideia era Úrsula. As duas eram as mais antigas no presídio.
"Você vai soltar ela ou eu vou ter que te quebrar inteira para que isso aconteça?" - questionou a loira de forma desafiadora.
Ruby alisava seu pescoço tentando aliviar o incômodo.
"Pode levar, fica com ela toda pra você, mas isso não vai ficar assim." - afrontou outra vez.
"Cala a merda da boca, você não está em condições de fazer ameaças." - disse Úrsula irritada.
"Anda garota, levanta." - mandou Malévola com a voz firme e Regina logo se pôs de pé e foi até onde á mulher estava.
"Vamos logo, daqui a pouco irão trancar tudo." - contou Úrsula.
"Tchau gatinha, nos esbarramos por aí." - falou Ruby com um sorriso diabólico.
"Toque em um fio de cabelo dela e será uma mulher morta." - ameaçou Kristin e as três se retiram. No caminho Úrsula e Malévola se despediram e a mulher de pele negra volta para seu bloco enquanto as outras duas seguem para o A em silêncio.
Já dentro da cela Regina tentava se acalmar do susto tomado.
"Você está bem?" - perguntou a loira.
"Acho que sim, obrigada por me salvar." - agradeceu com a voz trêmula.
"Não precisa agradecer, esse lugar aqui não é pra você e até demorou para que isso acontecesse ainda mais sendo tão inexperiente quanto é."
"Mesmo assim eu agradeço, só de imaginar o que poderia acontecer todo meu corpo extremesse." - ela ainda estava nervosa pelo ocorrido.
"Você deu sorte, poderia ter sido muito pior, as pessoas aqui não perdoam, mas agora vai ficar tudo bem, a partir de hoje irei te proteger aqui dentro. Agora vai descansar que amanhã você trabalha." - Kristin foi até a pequena pia para escovar os dentes e Regina subiu em sua cama.
"Como soube que eu tinha sido levada a força?" - perguntou Mills já deitada.
"Durante um ano você nunca saiu daqui as sextas, porque agora seria diferente? É claro que tinha algo errado." - falou a loira ainda na pia.
"E por que foi atrás de mim?"
"Não podia deixar uma coisa dessas acontecer. Posso ter muitos defeitos mas nunca apoiei esse tipo de coisa. Agora tente esquecer isso e vá dormir."
"Está bem, boa noite Malévola." - desejou bocejando.
"Boa noite."
A essa altura as celas já haviam sido trancadas e algumas das internas dormiam. Não demorou muito para que as duas também pagarem no sono.
Na manhã seguinte quando acordou, Regina fora questionada por Kristin se estava realmente bem e a morena confirmou. O dia seguiu rotineiro para ambas.
☆-☆-☆
*Três meses depois...*
O casamento de Mary havia ficado para o prazo de um ano depois do noivado. Com muito esforço ela havia convencido David e a cerimônia aconteceria daqui a cinco meses. Blanchard estava ficando louca com o tanto de coisa que tinha que organizar para o casamento e só estava tendo a ajuda de Regina em relação a escolha da decoração e os mais diversos detalhes. Seu noivo ajudava naquilo que podia já que tinha um gosto um tanto duvidoso e os seus horários na delegacia estavam mais sobrecarregados.
Quinta-feira, era dia da visita de Daniel. Nesse último ano os dois haviam se aproximado bastante e se tornaram grandes amigos. Os sentimentos de Colter iam além da amizade, porém ele escondia, não queria que ela se afastasse por ele estar interessado nela.
Mills e Kristin tinham se aproximado bastante nesses três meses, a cela não ficava mais em silêncio quando as duas estavam juntas, pois falavam sem parar, elas conversavam sobre tudo. Assim como havia dito, Malévola protegia Regina ali dentro, qualquer pessoa que ousasse atravessar o caminho de Mills, ela dava um jeito. Ela sempre soube que a morena não era para aquele lugar e depois de Regina dizer a ela que havia sido abusada pelo padrasto e que acabou o matando, a mulher teve mais certeza que ela não pertencia aquela realidade. Regina, Kristin e Úrsula faziam todas as suas refeições juntas e as sextas em seus momentos de lazer elas ficavam conversando durante as horas que tinham, ora no bloco de Úrsula, ora no de Malévola.
Regina estava estudando para sua prova final, que seria na próxima semana, com a ajuda de Kristin quando Miranda chegou.
"Vamos Mills." - falou destrancando a cela.
"Sim!" - concordou animada dando um pulinho.
"Mas é uma criançona mesmo." - riu Malévola do pulo que Regina deu.
"Ai me deixa, você sabe que eu me empolgo."
"Ah sei e como sei, ainda mais quando é quinta feira." - disse com uma sorriso safado.
"Pode parando, ele é só meu amigo."
"Vou fingir que acredito."
"A gente não tem nada, tá bom?" - disee Regina emburrada tentando convencer a amiga.
"Mas pelo jeito que você fala dele, bem que queria que tivessem."
"Que jeito?" - perguntou a morena arregalando os olhos.
"Como se arco-íris saíssem de sua boca." - ela começou a rir.
"Eu falo dele do mesmo modo que falo de David e Mary." - disse irritada.
"Está tentando me convencer ou se convencer?"
"Nada a ver Malévola, está vendo coisa onde não tem, agora tchau."
"Vai lá, e vê se não volta com aquele sorrisinho bobo." - a mulher continuaou alfinetando.
"É o mesmo que você fica quando fala com Úrsula." - revidou.
"Então está admitindo?" - perguntou com as sobrancelhas arqueadas.
"Não estou admitindo nada. Vamos logo porque se deixar ela vai ficar fazendo um monte de perguntas." - disse Regina para a guarda. As duas saíram deixando Kristin rindo sozinha.
Na sala de visitas, Daniel aguardava ansiosamente a presença de Regina e assim que sua imagem surgiu perante aos seus olhos, ele logo a abraçou e ela retribuiu. Os dois se perderam no momento que foi interrompido por uma voz grossa.
"Eu também estou aqui." - falou David segurando o riso e os demais coraram.
"Desculpa, eu não te vi aí." - disse Regina sem graça.
"É, eu percebi." - proferiu David balançando a cabeça. Os dois se cumprimentam com um breve abraço.
"Como você está?" - perguntou Daniel.
"Bem, as coisas estão caminhando bem, não tenho do que reclamar."
"Fico tão feliz em saber que está bem." - Colter não tirava os olhos dela, cada dia que passava ele se encantava mais e mais por Regina.
"Está escorrendo a babinha aqui, Daniel." - brincou David fazendo gesto para ele limpar o canto da boca.
"Vamos nos sentar que é melhor." - falou Daniel mudando de assunto.
Os dois se sentaram lado a lado e Regina se sentou no extremo oposto, ficando de frente para eles com as mãos apoiadas na mesa.
"E vocês, como estão?" - perguntou Mills.
"Estou bem, as coisas na defensoria pública melhoraram muito, ganhei até aumento." - comemorou o mais novo.
"Já eu, estou numa correria danada naquela delegacia, por isso que não tenho mais dia certo para vir te ver, desculpas."
"Sem problemas David, você já faz muito por mim, pode ter certeza." - ela sorriu para ele - "Eu achei que já tinham resolvido o problema na delegacia."
"Resolveram nada, como você sabe o delegado foi denunciado e estava sendo investigado pela corregedoria e iria a julgamento para saber se perderia ou não o posto, até aí novidade nenhuma, mas na hora da audiência ele ficou muito nervoso e teve um AVC, ficou todo cheio de sequelas, falando tudo embolado e tem dificuldades para se locomover, agora eu e alguns outros colegas estamos tendo que cobrir a ausência dele."
"Nossa, nunca imaginei que uma coisa dessas aconteceria." - disse Regina espantada.
"Aqui se faz, aqui se paga, né?!" - constatou Colter.
"Ah Daniel, não fala assim."
"Ele só está dizendo a verdade, Regina. Albert já fez muitas coisas erradas e você foi uma dessas coisas, não dá para se dá bem sempre. Uma hora a vida se encarrega de te cobrar."
"Verdade, mas pra ser sincera eu nunca desejei o mal para ele ou para qualquer outro que me prejudicou, preferi deixar para lá, pois assim fico bem comigo mesma."
"Faz bem, não vale a pena guardar raiva de ninguém." - disse Daniel.
"Agora vamos falar de coisa boa que é melhor... e o casamento?" - questionou Mills encarando David.
"Ainda tem o casamento, as vezes acho que vou pirar." - os três riram.
"Semana passada eu encontrei com Mary, ela está uma pilha de nervos." - falou Daniel rindo.
"Falando nela, tome isso aqui" - David entregou a Regina um envelope na cor pardo - "Ela pediu para te entregar e disse que fez algumas anotações. Também lacrou e me obrigou a não abrir, pois é sobre o vestido. Eu juro que não espiei em nada, trouxe lacradinho e aqui que abriram para ver o que era. Daniel está de prova." - se defendeu David pelo envelope estar aberto.
"Não estou nada." - disse Colter.
"Olha você nem brinca, porquê se aquela mulher achar que eu olhei, ela me mata antes de nos casarmos." - falou o homem nervoso.
Regina e Daniel começaram a gargalhar, pois Nolan estava começando a suar.
"Calma David." - pediu Regina ainda rindo - "Pode deixar que eu falo pra ela que você não olhou."
"Eu também irei dizer que não abriu, agora pode voltar a respirar por favor." - os dois ainda riam do homem.
"Dá pra pararem? Isso não tem graça nenhuma, vocês ficam rindo porque não são vocês que estão tendo que aguentar Mary nervosa. Eu até tento ajudar, mas ela não deixa."
"Compreensível, né David?! Se depender de você a festa vai ser verde e laranja fluorescente." - disse Regina rindo ainda mais.
"Qual o problema com essas cores?" - perguntou o homem entrando na brincadeira.
"Ai pra ficar mais bonito a Mary podia entrar com um vestido amarelo bem forte."
"Credo, Daniel." - falou Regina soltando uma gargalhada.
"Se ela escuta a gente falando essas coisas, vai ficar uma arara." - disse David se referindo a noiva.
Eles seguiram rindo e conversando. Quando a visita acabou se despediram e Mills voltou para sua cela com a revista em mãos e a barriga doendo de tanto que riu. Ela amava quando Daniel e David se juntavam, pois eles nunca perdiam a oportunidade de brincar fazendo com que todos se divertissem.
☆-☆-☆
*Semana seguinte...*
Segunda-feira
"Se acalme menina, você irá se sair bem."
Regina estava andando de um lado parado outro e Kristin a seguia com os olhos.
"E se eu for mal, e não conseguir concluir?" - questionou passando a mão no rosto.
"Não tem como você se sair mal. Você estudou bastante, sempre tirou boas notas e agora não será diferente."
"Mas essa é a última avaliação, eu não posso errar."
Kristin se levantou e segurou os dois braços de Regina a fazendo parar de andar.
"Olhe pra mim." - pediu e assim ela fez - "Não tem problema em errar, mas isso vai ser muito difícil de acontecer. Você se dedicou muito e vai conseguir uma boa nota. Não coloque ideias negativas em sua cabeça, você é capaz e irá conseguir." - disse Kristin de forma encorajadora.
"Você está certa, eu estudei muito e vou conseguir." - falou Mills convicta.
"É assim que se fala, agora trate de ficar calma para não se desconcertar na hora."
Regina sentou e Kristin começou a puxar algum assunto aleatório para fazer a jovem destrair a mente.
Passado meia hora, a morena foi levada para a sala onde faria sua avaliação na presença da aplicadora responsável e de mais uma guarda.
"Boa sorte." - desejou a mulher responsável pela avaliação.
"Obrigada."
Depois de uma hora Mills retornou para sua cela.
"E aí como foi?"
"Ainda não sei, mas acho que fui bem. Caiu tudo o que eu sabia, então foi fácil fazer."
"Eu sabia que ia dá tudo certo!"
"O resultado deve chegar daqui uns dias, caso eu tenha passado o certificado de conclusão irá vir junto com a nota."
"Então agora é só aguardar."
"O que eu vou fazer agora que irei terminar?"
"Sei lá, faz algum curso."
"Tem?"
"Sim, tem umas três mulheres aqui que fazem."
"E como é?"
"Isso aí eu não sei, mas acho que não é complicado de se conseguir não."
"Eu tinha que falar com alguém que faz, pra ver como é."
"Vou ver se consigo achar alguém, aí você conversa com a pessoa."
"Está bem."
*Uma semana depois...*
Terça-feira
"Bora Mills." - chamou a guarda.
"Só um instante, vou pegar umas coisas aqui." - a morena pegou aquilo que queria em meio aos seus livros e pegou também a revista com os vestidos. - "Até daqui a pouco Kristin." - se despediu da mulher e ao proferir o nome dela, a sua companheira lhe fitou com os olhos cerrados - "Malévola." - se corrigiu.
"Muito bem! Até daqui a pouco." - a loira só permitia que a chamasse pelo seu nome quando estavam sozinhas.
"Não precisa ficar triste não, já já eu volto." - provocou Regina.
"Ah pode deixar, não irei chorar." - disse rindo e Mills riu também.
"Vamos?" - perguntou para a guarda e ela liberou sua passagem - "Já volto, beijo." - falou Regina já do lado de fora da cela.
Eram nas pequenas coisas que Kristin admirava ainda mais Regina. A morena era sempre gentil, sempre lhe perguntava se estava bem ou se precisava de alguma coisa e toda vez que ia para o trabalho ou para a visita sempre se despedia dela mesmo sabendo que voltaria. Aos poucos ela foi se achegando e já havia conquistado seu lugar no coração de Malévola com seu jeito meigo de ser. Apesar dela ter apenas dezenove anos, era muito madura e forte, mas as vezes parecia uma criança brincalhona.
"Tcharam!" - comemorou Regina animada com seu certificado em mãos.
"Parabéns!" - disse Mary com um enorme sorriso e abraçou a moça.
"Obrigada!" - ela também sorria, estava muito feliz com sua nova conquista.
Blanchard pegou o documento da mão de Mills e leu cada palavra contida ali.
"Estou tão orgulhosa. Céus, você não imagina o quanto me orgulha ver isso."
"Estou muito feliz."
"E é pra ficar mesmo, você correu atrás e conseguiu."
"Não teria conseguido sem sua ajuda, obrigada por ter conseguido as coisas para eu continuar estudando."
"Não fiz nada demais."
"David semana passada disse que você tinha ido ver o local do casamento." - a morena mudou de assunto.
"Sim, por isso não deu pra vir com ele. Trouxe algumas fotos para você ver."
"Cadê?"
"Vamos nos sentar, ai espalho na mesa."
Elas se sentaram e Mary depositou as fotos na mesa. O local escolhido era um sítio e a cerimônia seria ao ar livre. Enquanto Regina ia olhando as fotografias, Mary ia explicando melhor como era e elas iam decidindo onde ficaria o altar, as mesas para os convidados, os arranjos com flores, a mesa com o bolo e os doces, decidiam onde ficaria cada coisa.
"Olhei os vestidos. No começo não tinha entendido muito bem as anotações, mas agora vendo o lugar entendi."
"A cerimônia será ao ar livre e não será para muita gente, então por isso não quero um vestido muito chamativo. Prefiro algo mais simples, mas que não deixe de ser bonito."
"Você vai ficar linda."
"Cada dia que passa eu fico mais nervosa." - ambas sorriram - "Sente só." - ela tocou o braço de Regina.
"Céus, como sua mão está gelada."
"Nervosismo de noiva." - falou esfregando uma mão na outra - "Gostou de algum dos vestidos que marquei? Aqueles são os que eu usaria."
"Na verdade eu gostei de dois."
"Quais?"
Regina pegou a revista que estava em seu colo e abriu na página que estava um dos modelos que lhe agradou.
"Bom, como você disse que quer algo simples eu pensei nesse aqui." - ela indicou um modelo sem mangas, porém com as alças grossas. Na frente ele contia um decote discreto em V, a saia era lisa com o corte simples e a parte superior era bordada. - "Achei ele muito bonito."
"Realmente é bonito."
"O outro é esse aqui." - ela folheou algumas páginas da revista e paraou quando encontrou o segundo modelo. Diferente do outro esse tinha mangas curtas, seu decote era arredondado e era todo em detalhes florais na frente. As costas contia botões e era em tule, também tinha os mesmo detalhes da parte da frente que seguia até um pouco mais abaixo da cintura pegando uma parte da saia - "Fiquei apaixonada quando vi este."
"De todos, esse foi o que eu mais gostei por conta dos detalhes, as flores estão bem delicadas e esse tule atrás deixou ainda mais bonito."
"Ele é bem romântico, combina com você."
"Também achei, então está decidido. Será este!" - falou apontando para o segundo modelo.
"David vai ter um treco, quando te ver entrando vestida com ele." - brincou Mills.
"Ah Senhor, não posso matar meu noivo antes de casarmos, tenha misericórdia de nós."
"Agora é só mandar fazer."
"Já tenho a costureira, ela é excelente."
"Esse dia vai ser perfeito."
"E você irá participar dele."
"Hã?" - a face de Regina foi tomada por confusão, ela não havia entendido. Como poderia participar se estaria ali?
"Tenho mais uma missão pra você."
"Desembucha logo Mary, quer me matar de curiosidade?"
"Longe de mim, não quero ficar sem ajudante."
"Fala, mulher!" - pediu Mills doida para saber o que ela teria que fazer.
"Quero que escreva seus votos para nós."
"Sério?" - perguntou sorridente.
"Claro que é sério. É uma forma de você também estar presente na cerimônia. Como você já sabe, Daniel é um dos padrinhos, ele vai escrever os votos dele também e irá ler o de vocês dois."
"Eu não estou acreditando nisso!" - falou emocionada e se levantou para abraçar a mulher - "Mary, você ainda vai me matar um dia." - ela apertava Blanchard em seus braços.
"Céus Regina, desse jeito irá me esmagar." - ela estava com os braços junto ao corpo enquanto Regina a apertava.
"Desculpe, foi a empolgação do momento." - falou se afastando - "Nem sei como te agradecer." - ela estava radiante.
"Me agradeça escrevendo algo bem bonito."
"Pode deixar que irei caprichar e o Daniel tem que caprichar na leitura também."
"Falando em Daniel..." - ela diz reticente.
"Ihhh, lá vem."
"David andou me contando sobre uns abraços demorados, uns olhares aqui outros ali... está acontecendo algo que não sei?" - perguntou atenta aos movimentos de Regina.
"Até você, Mary?"
"Até eu? Então quer dizer que tem mais gente querendo saber?"
"Malévola, ela me enche o saco com isso." - disse se lembrando das indagações da mulher
"Huuuum, se Malévola acha isso deve ser por que alguma coisa tem. Conte-me tudo, Regina." - pediu a mulher ansiosa para saber das coisas.
"Não vou contar nada, até porque não há o que contar. É tudo imaginação de vocês, nós somos apenas amigos."
"Amigos, dona Regina... amigos...?"
"Sim." - afirmou.
"Está nervosa por que então?"
"Eu não estou nervosa."
"Tem certeza?"
"Ai Mary, vamos mudar de assunto?" - Regina realmente estava nervosa.
"Eu não estou nervosa." - a mulher repetiu o que Regina falou segundos atrás imitando a voz da morena.
"Muito madura você, Mary. Eu vou embora antes de terminar." - disse Mills irritada.
"Tá bom, parei."
"Vamos voltar ao que interessa."
"Como se Daniel não interessasse..." - provocou.
"Mary!" - a repreende.
"Agora eu parei, não digo mais nada." - falou trampando a boca.
"Acho melhor mesmo."
Elas voltaram a falar do casamento.
☆-☆-☆
*Um mês depois...*
Quinta-feira.
Mills e Colter já estavam conversando a algum tempo e Regina tomou coragem para pedir aquilo que queria.
"Daniel, eu quero te pedir um favor."
"Pode pedir até dois." - ele sorriu para a morena.
"Andei conversando com uma mulher lá do bloco que faz curso e como conclui o ensino médio, eu quero fazer também. Só que ela me disse que tem que ser alguém de fora para fazer a inscrição, eu iria pedir a Mary, mas ela já está tão atarefada."
"Qual o nome da instituição?"
" Instituição CQPISP. Significa Curso de Qualificação Profissional aos Internos do Sistema Prisional."
"Vou me informar direto a respeito e falo com você."
"Ele é pago, o que tenho guardado acho que dá, pelo o que ela me disse não é muito caro e antes que você fale alguma coisa eu já vou logo dizendo que eu mesma quero pagar."
"Eu arcaria com as despesas com todo prazer, mas pelo que vi você não irá deixar." - falou arrancando um sorriso dela.
"Sei que arcaria, mas isso é importante pra mim. Poder fazer algo com meu próprio dinheiro, fruto do meu trabalho, sabe?"
"Eu entendo. É muito gratificante você poder pagar suas coisas."
"Por isso que quero eu mesma fazer isso."
"Já sabe qual qualificação fará?"
"Eu vi um folheto da instituição e o curso que mais me interessou foi de auxiliar administrativo. Dá para conseguir trabalho em vários lugares. Vou querer esse."
"Está bem, na próxima semana eu lhe informo como ficou e quando irá começar."
"Okay!" - concordou - "É... eu disse que era um favor, mas acabei de lembrar de outra coisa." - falou meio sem jeito.
"Me diga então."
"Esquece, não quero te incomodar."
"Você nunca me incomoda, pode falar o que quer." - ele colocou suas mãos sobre as dela que estavam em cima da mesa.
"Eu andei pensando e decidi que quero tirar meu último sobrenome."
"Bom, exclusão de sobrenome não é tão difícil de se fazer, mas no seu caso complica um pouco."
"Como assim?"
"Para que seja feita a exclusão você precisa apresentar um motivo, isso você tem, mas é necessário que a pessoa que deseja fazer a retirada do sobrenome compareça a uma audiência perante o juiz e com você aqui não dá e ainda tem o fato de todos os seus registros constarem dois sobrenomes e não um."
"Então não vai ter como tirar?"
"Não agora, você terá que aguardar até que esteja totalmente livre da justiça."
"Poxa vida." - suspirou triste, ela não queria carregar o nome do padrasto consigo pelo resto da vida.
"Sinto muito, se eu pudesse faria de tudo para que seu desejo fosse atendido, mas não depende só de mim."
"Sei que faria e te agradeço por isso." - os dois ora ou outra se perdiam nos olhos do outro.
"Regina..."
"Hum?"
"Eu acho que gosto de você." - falou Daniel meio sem jeito.
"Eu sei."
"Estou falando de gostar além da amizade que temos." - ele explicou achando que ela não havia entendido o que dissera.
"Eu sei." - repetiu sua fala.
"Sabe? Como sabe?" - perguntou com um sorriso bobo.
"Sim." - confirmou - "Sei porque eu também acho que estou gostando de você." - disse tímida.
Ele alisou as mãos dela que estavam debaixo da sua e em seguida as entrelaçou. Os dois observavam suas mãos entrelaçadas e se encararam sorrindo um para o outro.
☆-☆-☆
Quando a visita acabou, Regina foi direto para o serviço. Em dias que ela recebia alguém, era liberada meia hora antes e assim que terminasse a visita ela tinha que voltar e compensar o tempo que ficou fora para poder concluir suas oito horas diárias, então ficava até mais tarde.
Após sair de mais um dia cansativo de trabalho, ela fora levada de volta para sua cela e não se passou muito tempo para todas as detentas se encontrarem no refeitório.
"Nossa, eu estou com tanta fome." - disse Mills na fila para pegar sua refeição.
"Qual a novidade nisso?" - perguntou Kristin que estava atrás dela.
"Nenhuma." - respondeu Úrsula rindo. Ela estava atrás de Kristin.
"Eu queria saber pra onde vai tanta comida." - indagou a loira.
"Não sei que tanta comida. Vai falar que vocês não ficam com fome?" - questionou a mais nova e recebeu um aceno negativo das duas - "Céus, vocês só podem estar brincando."
"Estou falando sério, não fico com fome não." - Úrsula se inclinou um pouco para o lado afim de visualizar a morena.
"Eu também não."
"Como não? A gente só come três vezes por dia aqui, eu tomo café já pensando no almoço." - contou Regina e as duas riram.
"Mas é um buraco sem fundo mesmo né?" - Kristin provocou.
"Olha estou em fase de crescimento." - disse Mills, dando de ombros.
"Só se for para os lados." - falou Úrsula.
"Essa menina não engorda não amor, e tem é sorte porque se dependesse da fome que tem já era pra estar obesa." - disse Malévola. Regina já sabia do relacionamento das duas e por conta disso elas se chamavam por apelidos carinhosos na frente dela.
"Até parece que eu como isso tudo." - bufou a mais nova.
"Não sou eu que peço para pegar algo que não gosto para me dar depois." - proferiu Úrsula.
As duas mais velhas começaram a rir e Regina se rendeu e as acompanhou, pois sabia que era verdade. Quando tinha algo que Malévola ou Úrsula não gostavam elas sempre pegavam assim mesmo e davam a ela quando se sentavam para comer.
Após terminar o jantar, todas voltaram para suas celas.
Regina e Kristin já haviam escovado os dentes e estavam deitadas em suas camas. O cérebro de Mills parecia não querer lhe dar descanso, não parava de pensar na visita de mais cedo. Em contrapartida Malévola estava quase dormindo quando a voz receosa da mais nova soa pelo recinto.
"Kristin?" - não obteve resposta - "Kristin..." - chamou de novo só que agora um pouco mais alto.
"Hum." - a mulher apenas resmungou, estava quase se entregando ao sono.
"Kristin, tá acordada?"
"Não." - respondeu com a voz sonolenta.
"Não estou conseguindo dormir." - disse ignorando a resposta da mulher.
"Por que?" - perguntou de olhos fechados.
"Promete que não falará gracinhas?"
"Eu não falo grancinha." - rebateu. Continuava com os olhos fechados e sua voz estava arrastada.
"Promete logo."
"Tá, eu prometo. Agora diz de uma vez o que se passa ai na sua cabeça."
"Daniel..."
"Huuuuuuuuuum." - ela abriu os olhos rindo.
"Você disse que não falaria gracinhas." - resmunga Regina.
"Ué eu não disse nada." - ela ainda ria.
"Ai esquece, pode dormir." - disse irritada.
"Calma, menina." - pediu a mulher cessando o riso - "O que aconteceu hoje que te fez perder o sono?"
"Ele disse que acha que gosta de mim."
"Acha ou tem certeza?"
"Isso eu não sei."
"E você?"
"O que tem eu?"
"Gosta dele?"
"Acho que sim."
"É muito acho, misericórdia. Achar é dúvida, você gosta ou não gosta?"
"Não sei, isso é novo pra mim, não sei ao certo o que sinto."
"O que você sente?"
"Não faz pergunta difícil, Kristin." - bufou.
"Okay, vou tentar. Como você sente quando está perto dele?"
"Nervosa, mas não um nervosismo ruim. Minhas mãos suam, meu estômago se revira e quando ele me abraça eu me sinto muito bem." - uma vermelhidão tomou conta da face de Regina, ela estava com vergonha.
"Ai Senhor, você realmente gosta dele!" - exclama a mulher.
"Você acha?"
"Sim."
"E agora?" - com toda sua inocência a jovem perguntou - "Isso nunca aconteceu antes."
"Ele disse que gosta de você não foi?"
"Ele disse que acha que gosta."
"Esquece esse achar, ele gosta de você e ponto. Não sou a melhor pessoa para te aconselhar, mas deixe as coisas irem com calma, seguirem seu curso natural. Se tiver que acontecer algo assim será, apenas deixa fluir e continue sendo você mesma."
Regina nada respondeu, ficou presa em seus pensamentos e Kristin não disse mais nada, sabia que a morena devia estar pensando sobre o que falara.
☆-☆-☆
*Duas semanas depois...*
Quinta-feira
"Fiz sua inscrição no curso."
"Mas já?"
"Sim. Fui lá na instituição e eles me explicaram como funciona. É quase a mesma coisa que você fazia, é na base do auto-estudo, a diferença é que só terá uma prova que será no final da especialização que tem como tempo de duração seis meses."
"Mas eu tinha visto um ano de duração." - questionou.
"Ele tem duas etapas. A primeira é para iniciantes e a segunda para quem já tem alguma noção sobre o assunto. Juntando as duas etapas faz um ano.
"Ah, entendi. E o material?"
"As apostilas irão chegar pelo correio, assim como as notas e o certificado do curso."
"Quanto ficou?"
"Já disse que não me incomodo em pagar."
"E eu já disse que quero eu mesma pagar."
"250 dólares por etapa." - bufou.
"Tenho esse valor, vai dá para pagar as duas etapas tranquilo e ainda irá sobrar alguma coisa."
"Então está bem."
"Semana que vem eu trago para a visita, como não sabia que já tinha feito a inscrição deixei na cela." - contou a morena.
"Sem problemas." - ele não conseguia segurar o riso quando estava perto dela. Ambos estavam se gostando.
Os dois continuaram conversando ou apenas se olhando com as mãos entrelaçadas até a hora da visita acabar. Regina estava seguindo o conselho de sua companheira de cela e estava deixando as coisas fluirem.
☆-☆-☆
*Mais um mês depois...*
Terça feira.
🎵I'll be There for You - The Rembrandts🎵
Faltavam três meses para o casamento de Mary, a mulher estava numa correria danada e Regina ajudava naquilo que podia. Por conta dos diversos afazeres as visitas acabaram ficando meio embaralhadas e tinha dias que ela ia com Daniel, sozinha ou com o noivo, mas sempre ia.
"Nossa, os três juntos." - disse Mills sorridente assim que entrou na sala de visitas. Ela chegou a estranhar quando entrou pois tinha uma guarda ali dentro mas nada disse.
"Você não imagina o quão foi difícil conseguir fazer com que deixassem entrar nós três, sua sorte é que somos pessoas muito bem influenciadas." - falou David abraçando a jovem de lado, pois estava segurando uma caixa.
"Bom, eu vim hoje porque quinta tenho uma audiência com Mary e não vou ter como vir." - Daniel se aproximou dela e lhe alisou o rosto, ela sorriu tímida e em seguida se abraçaram.
"Tem como vocês dois voltarem pro planeta terra?" - perguntou Blanchard revirando os olhos e com uma caixa grande nas mãos.
"Amor, eu disse que eles agora vivem suspirando pelos cantos." - disse Nolan colocando a caixa na mesa e pegando a que estava na mão da noiva, colocando na mesa também.
"Oi Mary." - falou Regina ainda abraçada á Daniel. Ela estava corada.
"Oi Regina. Dá pra vocês se largarem e me dá um abraço?" - a pergunta da mulher a deixou mais vermelha do que estava e só então percebeu que eles ainda não haviam se soltado.
"Claro, me desculpe." - eles se afastaram e as duas se abraçaram.
"Sem problemas. Como está?"
"Bem e vocês?"
"Estamos bem também." - respondeu a mulher de cabelos curtos.
"Vocês estão trabalhando juntos de novo?" - perguntou olhando de Mary para Daniel.
"Sim." - ele respondeu.
"Adoro trabalhar com esse ser." - disse Mary e todos riram exceto Nolan que estava concentrado em outra coisa.
"Vamos logo comer isso." - disse David apontando para as caixas.
"O que é?" - questionou a morena curiosa.
"Salgadinhos para o casamento, temos que escolher os sabores que iremos querer." - respondeu Mary abrindo uma das caixas e o cheiro dos quitutes invadiram a sala.
"Eu achei que isso já estava decidido."
"Ela tinha esquecido que no casamento tem que ter comida." - proferiu Daniel rindo.
"Você esqueceu?" - perguntou Mills olhando para Mary.
"Ah Regina, é muita coisa e eu não esqueci de tudo, apenas algumas coisas, mas já dei um jeito não há com o que se preocupar."
"Esqueceu logo a comida, que pecado amor. Os convidados iam nos expulsar do nosso próprio casamento." - o homem riu e recebeu um olhar fuzilante da noiva.
"Vocês falam demais, o negócio tá esfriando aqui. Já basta o sacrificio que foi entrar com isso e vocês ainda ficam de graça." - falou Mary revirando os olhos.
"Agora entendi o motivo da guarda."
"Eles olharam tudo, mas mesmo assim só permitiram se entrasse alguém conosco." - enquanto explicava David pegou um salgadinho e logo comeu - "Gostei desse."
"Até parece que vamos te dá alguma coisa proibida." - Blanchard revirou os olhos mais uma vez.
"É norma Mary." - falou Daniel.
"Eu sei que é."
"Então é pra gente experimentar e vê quais são os melhores?" - perguntou a jovem.
"Sim." - afirmou a mulher - "Vamos logo antes que David coma tudo." - ela olhou para o homem que já estava sentado comendo seu sexto salgadinho.
"Amor, esse tem que ter." - falou ele mostrando o quitute para a noiva.
"Só vamos." - disse Regina animada puxando a cadeira para se sentar também e Daniel repete o ato feito por ela se sentando ao seu lado.
Entre risadas e mais risadas eles iam comendo e dizendo o que achavam e se deveria ter aquele sabor ou não. Mary quase não comia, estava mais concentrada em anotar quais iriam ter no casamento. Já David e Regina estavam pário duro, eram os que mais comíam e também os que mais reclamavam quando pegavam algum sabor que não lhes agradavam. Daniel por sua vez estava mais concentrado em observar Regina rindo e se deliciando com a comida a sua frente. Hora ou outra eles se perdiam no olhar do outro, mas logo a atenção deles eram reivindicada pelo casal. Não tinham conversado sobre o que sentiam desde quando haviam dito que se gostavam, estavam indo devagar e deixando rolar.
Eles ofereceram para a guarda que também estava na sala, mas ela recusou. Regina e David se olharam comemorando, pois assim sobraria mais para eles.
"Coxinha tem que ter." - falou Daniel com uma na mão.
"Concordo." - disse Mary levando uma a boca.
"Não gostei desse não." - Nolan fez uma careta enquanto mastigava.
"Qual?" - perguntou Mills e ele a entregou o salgado - "Tem gosto de geladeira, também não gostei." - falou a morena assim que experimentou.
"Gosto de geladeira?" - questionou Daniel com o cenho franzido.
"Sim. Não tem quando você coloca algo destampado na geladeira e depois quando vai comer está com um gosto estranho?" - ele acenou com a cabeça dizendo que sim - "Então, esse aqui tem esse gosto esquisito, gosto de geladeira."
"Deixe-me ver." - ele pegou um e comeu - "Não é dos melhores." - fez uma careta.
"Cadê?" - pediu Mary e seu noivo entregou um a ela - "Que troço horrível, como alguém faz um negócio desses?" - perguntou também fazendo careta após comer o salgado.
"Coloca ai na lista que é proibido de todas as formas colocar esses." - disse David.
"Proíbe esse também." - falou Regina comendo um outro quitute de formato achatado.
"Daqui a pouco eu vou ter que probir tudo. Você e David tem que se decidir."
"Não podemos fazer nada se ele mandaram uns troços que nem cachorro quer, Branca." - o homem deu de ombros e Mills começou a rir alto.
"Para de rir, Regina."
"Desculpa Mary, mas David tem razão."
"Esse é de camarão, muito gostoso." - falou Daniel entregando o salgado para Regina.
"É bonzinho."
"Bonzão, né Regina?" - questionou David comendo também - "Experimenta só, amor." - ele põe na boca de Mary - "Desse você pode pedir a vontade."
"Eu gostei."
"Só a fresca da Regina que não." - disse David.
"Três contra uma, vence a maioria." - falou Daniel.
"Eu não sou fresca, só não achei tão bom assim."
"É fresca sim."
"Não sou."
"Quando é que as duas criança vão parar de discutir e terminar de escolher?" - perguntou Mary interrompendo os dois.
"Eu gostei mais desses." - falou o homem apontando para os que tinha separado.
"Eu gostei desses." - Daniel também apontou para os que separou.
"E eu desses." - por fim Regina mostraou suas opções.
Avaliando as escolhas de cada um Mary optou pelos mais votados e alguns que havia gostado.
"Agora que já escolhemos o que vamos fazer com estes?" - perguntou a psicóloga olhando para a caixa que ainda contia alguns salgados.
"Comer né, Mary." - Regina continuava saboreando os quitutes.
"Jogar fora é que não vamos." - David também continuava comendo.
"Eu não aguento mais." - disse Daniel.
"Tem apetite de bebê ele." - Nolan provocou.
"Enjoei ué."
"Eu não quero mais comer." - falou Mary.
"Pode deixar que eu como por você." - disse Regina.
"Também faço esse sacrifício por você, amor."
"Se meu apetite é de bebê o de vocês são de ogro, só pode." - Colter olhava para ambos ainda comendo.
"Temos que aproveitar as oportunidades da vida, ainda mais quando a oportunidade é comer."
"Nossa que profundo isso Regina, vai ser meu lema de vida." - falou David e todos começaram a rir.
Eles continuam conversando enquanto Mills e Nolan comiam o que restara.
☆-☆-☆
*Três meses depois...*
"Já é essa semana, céus como passou rápido." - ela andava de um lado para o outro.
"Se acalme mulher, seu noivo não vai fugir não."
"Ah mas ele nem é doido de pensar uma coisa dessas."
"Tenho certeza que não."
"Bom, como você já sabe ficaremos um mês fora. David entrou de férias essa semana e resolvemos que nossa lua de mel durará esse tempo todo. Não terá como vir te ver por motivos óbvios."
"Sei sim e não se preocupe comigo, estou bem. Você deve aproveitar cada momento da cerimônia e da lua de mel. Vai dá tudo certo, estou aqui na torcida e se você quiser uso até pompom." - falou Mills rindo.
"Gostei da parte dos pompons, eu quero." - riu - "Vamos repassar mais uma vez os detalhes? Estou tão nervosa, não posso esquecer de nada."
"Vamos e vê se fica calma, daqui a pouco vai ter um treco se continuar assim."
"Vou tentar me acalmar, prometo."
"Então vamos lá. Flores?"
"Irão entregar e arrumar todas sábado de manhã, bem cedinho."
"Bebidas?"
"Okay."
"Comidas?" - ergueu uma das sobrancelas.
"Estão okay também, todas elas. Do almoço ao aperitivos, tudo certinho não esqueci nada, só daquela vez mesmo."
"Muito bom. Padrinhos e madrinhas?"
"Todos prontos com seus devidos ternos e vestidos."
"Falando em vestido e o seu?" - Regina já sabia a resposta, mas mesmo assim perguntou.
"Está muito bem guardado no meu consultório para David não ver, ficou a coisa mais linda!" - o sorriso da mulher se alargou.
"Deve ter ficado mesmo, mas voltando aqui... altar?"
"Será montado na sexta."
"Juiz de paz?"
"Confirmadíssimo."
"Noivo?" - brincou.
"Se ele não for, eu vou até ele e o levo até o altar pelos cabelos."
"Não precisa dessa agressividade toda." - ambas riram - "Mary está tudo certo, não precisa se preocupar. Será um casamento lindo."
"Assim espero."
"Está aqui meus votos." - a morena entregou o papel nas mãos da outra morena, só que de cabelos curtos e olhos verdes.
"Obrigada!"
"Não é pra olhar não, hein."
"Se eu disser que não estou curiosa, será uma tremenda mentira, mas não irei olhar. Não quero estragar a surpresa."
"Espero que goste."
"Tenho certeza que sim."
"Boa sorte!"
Essa era a última visita de Blanchard antes de se casar. Depois só se veriam daqui a um mês quando o casal voltasse da sua lua de mel. Regina sabia o dia que iam, o dia que voltariam, o vôo que pegariam e o horário também. Estava por dentro de todos os detalhes.
☆-☆-☆
*Sete meses depois...*
Já haviam se passado dois anos e três meses da pena de Regina. Ela seguia com sua vida da melhor maneira que conseguia.
No tempo em que Mary e David ficaram fora durante o mês inteiro a cinco meses atrás, ela recebia apenas a visita de Daniel. De lá para cá as coisas entre os dois não haviam mudado muito, tinham conversado mais sobre o que sentiam porém nada que chegasse a ser uma declaração.
Os Nolan a visitavam juntos a maioria das vezes. Mary havia levado o álbum do casamento para ela ver as fotos assim que o mesmo ficou pronto. Contou a ela cada detalhe do dia e agradeceu pelos votos que a fizeram chorar, elas estavam cada vez mais proximas. A mulher também lhe informou que Ingrid havia se casado e que tinha adotado uma menina. O coração de Mills se aqueceu com a informação, ela tinha feito a coisa certa deixando Ingrid partir, agora a loira tinha a família que sempre quis. Regina estava feliz por ela.
A morena continuava trabalhando e guardando seu dinheiro, só havia tirado para pagar o curso, que por sinal ela já havia concluído a primeira etapa recebendo seu certificado e no momento estava na segunda e última. Seu tempo estava bastante ocupado, ela sempre arrumava algo para fazer. Quando não estava no trabalho, estava lendo, estudando, fazendo palavras cruzadas ou apenas distraindo a mente conversando com Kristin.
Ela, Malévola e Úrsula não se desgrudavam mais, estavam sempre juntas quando podiam. Regina aprendia cada vez mais com as duas e as mulheres também aprendiam com Mills já que mesmo depois de todo sofrimento que passou a jovem, que agora tinha seus vinte anos completos, se mantia firme. De vez em quando a morena se pegava olhando para o passado e a tristeza lhe abatia, ela até se sentia culpada por deixar as coisas chegarem ao ponto em que chegaram e sabia que teria que lidar com isso.
Sexta-feira.
"No quintal da casa de minha vizinha tinha um pé de manga enorme, alguns galhos davam até para o quintal lá de casa e eu e meus primos pegavamos mangas desses galhos, só que como não eram muitas acabavam rápido." - Úrsula contava uma história de sua infância.
As mulheres estavam sentadas em cima dos colchões que haviam colocado no chão.
"Então vocês ficavam sem comer manga?" - perguntou Regina.
"Não! Eu pulava o muro e invadia o quintal da vizinha."
"Você invadia o terreno alheio para roubar manga?" questionou Regina rindo e Malévola riu junto.
"Sem manga é que eu não ia ficar. Eu era a única que tinha coragem de pular o muro, ele não era muito alto, então era tranquilo."
"Querida, ninguém te via não?" - agora fora a vez de Kristin perguntar.
"Não. Eu pulava e meus primos ficavam de vigias, quando aparecia alguém eles me avisavam e eu me escondia atrás do tronco da árvore."
"Céus, era uma quadrilha formada." - disse Regina.
"Digamos que sim." - confirmou a mulher de franja, rindo - "Ficamos um bom tempo fazendo isso, mas um belo dia a vizinha resolveu aumentar o tamanho do muro."
"Ai você não pulou mais?" - Regina perguntou.
"Eu já disse que não ia ficar sem manga." - relembrou Úrsula - "Ela aumentou o muro e quando eu fui subir para pular não consegui, então pegamos um banco de plástico, ele já estava um pouco rachado mas mesmo assim eu subi nele e consegui pular o muro. Fui catando as mangas tranquilamente e passando para meus primos que estavam do outro lado e na hora de pular de volta eu pedi para me passarem o banco, eles passaram. Só que eu havia esquecido um pequeno detalhe, o terreno da vizinha era mais baixo que o meu e ainda era meio mole."
"Eu acho que já sei o que aconteceu." - disse Regina rindo.
"Termina de contar logo, Úrsula." - pediu Malévola.
"Então eles jogaram o banco e quando eu fui subir ele deu uma afundada e quebrou."
As três começaram a rir sem parar.
"E o que você fez?" - perguntou Mills.
"Fiquei desesperada, não tinha como eu voltar para o meu quintal e para piorar meus primos começaram a gritar dizendo que a dona do quintal estava saindo de dentro de casa, eu até me escondi e eles disseram que ela já havia me visto, então para não dizer que tinha pulado o muro para pegar manga eu pedi que algum deles jogassem o chinelo para mim e jogaram."
"Pra que o chinelo?" - Kristin estava curiosa.
"Quando a mulher chegou perto de mim e me perguntou o por que de eu estar ali eu com a cara mais lavada do mundo mostrei o chinelo a ela e disse que nós estávamos brincando e colocamos todos os chinelos no muro só que um caiu e eu tinha pulado para pegar."
"Eu não acredito que você fez isso." - falou Regina com a mão na barriga, estava começando a doer devido as risadas.
"Ela não desconfiou de nada?"
"Ah eu fiz e não, ela não desconfiou de nada, bom pelo menos eu acho. Ela me disse pra tomar cuidado pois poderia ter me machucado ao pular o muro e me levou até o portão e eu fui pra casa, chegando lá eu comi as mangas que tinha conseguido." - Úrsula finalizou a história.
"Só você mesmo, pra me fazer rir tanto." - falou Regina recuperando o fôlego.
"Agora eu fico rindo, mas na hora so eu sei o sufoco que passei, mas até que valeu a pena pois a manga da casa dela era uma delícia."
"A gente vê que a pessoa é sonsa desde nova." - disse Kristin balançando a cabeça.
"Olha bem pra minha cara, nunca iria dizer que estava lá roubando manga."
"Essa história foi muito boa, mas e agora? O que vamos fazer?" - Regina queria estar sempre fazendo alguma coisa.
"Não faço a mínima ideia." - disse Kristin
"E se fizéssemos algum jogo?" - sugeriu Úrsula.
"Como assim?" - perguntou Mills interessada.
"Ah sei lá, pode ser mimica."
"Sou péssima em mímica." - falou Malévola.
"Podíamos jogar dominó." - propõe a morena.
"Dominó eu gosto."
"Eu também gosto, mas só tem um problema: não temos um dominó." - constatou Malévola.
"E se nós fizermos um? Tenho papel e caneta."
"Boa idéia." - concordou Kristin.
"Acho que não vai dá muito certo, o papel é muito mole pode rasgar."
"E papelão?"
"Onde vamos arrumar papelão a essa hora Regina?" - perguntou Úrsula.
"Ali." - Regina apontou para a caixa que estava no canto onde ela guardava seus livros.
"Você vai colocar suas coisas no chão?" - questionou Kristin.
"Nós não vamos usar a caixa toda, então eles não vão ficar no chão e segunda feira eu pego outra lá no trabalho, eles jogam fora mesmo é só dizer que essa rasgou o fundo que eles me dão outra." - disse Regina já de pé arrancando um pedaço da caixa.
"Sendo assim, vamos logo fazer esse dominó." - falou Úrsula animada.
"Espera ai, como vamos cortar as peças? Se for com a mão vai ficar tudo torto." - perguntou Mills tombando á cabeça.
"Deixa comigo." - Kristin se levantou e foi até a pia que tinha na cela a arrastando um pouco e pegou uma lâmina que ela escondia ali - "Acho que isso aqui dá." - ela mostrou o objeto para as duas.
"Pra que você esconde uma lâmina?"
"Por precaução né Regina, nunca se sabe quando iremos precisar de uma." - respondeu a loira.
"Vamos logo com isso, depois tenho que voltar pro meu bloco." - disse Úrsula.
"Okay. Enquanto eu vou cortando o papelão vocês duas vão desenhando." - instruiu Malévola.
Regina pegou duas canetas e entregou uma a Úrsula.
"Alguém lembra quantas peças são?" - perguntou Malévola já cortando o papelão.
"Acho que são sete de cada." - respondeu Úrsula duvidosa.
"Sim, são sete de cada de zero a cinco incluindo nessas sete a peça que tem os dois lados iguais." - confirmou Mills convicta.
"Mãos a obra então." - falou Kristin.
Enquanto elas iam fazendo o jogo conversavam. Poucos minutos se passaram e uma outra interna apareceu assustada, ela estava vindo do bloco B.
"Malévola teve briga no B e uma guarda saiu machucada." - despejou a mulher ainda ofegante devido a corrida que fez até ali.
"Teve o que?" - perguntou a loira largando o que estava fazendo e indo em direção à sua informante.
"Isso mesmo que ouviu, acabou de ter uma briga lá e quando a guarda foi separar ela acabou levando uns golpes de canivete."
"Puta que pariu!" - esbravejou Malévola.
"Como foi que isso aconteceu?" - perguntou Úrsula já ao lado de Kristin. Regina observava calada.
"Eu não sei ao certo, estava com uma amiga e quando cheguei a confusão já estava feita."
"Está bem, agora volta para sua cela que daqui a pouco as guardar irão vir trancar tudo." - disse Kristin e assim a mulher fez.
"Tenho quase certeza que esse caralho vai entrar em lockdown." - falou Úrsula já nervosa.
"Eu tenho certeza absoluta. Só queria saber onde está Ruby que não coloca ordem naquela porra."
"Gente, o que é esse lock sei lá o que?" - Mills perguntou, não estava entendendo nada que as duas diziam.
"As vezes eu esqueço que a neném não manja desse mundo." - mesmo nervosa Malévola riu ao proferir tais palavras e Úrsula a acompanhou.
"Lockdown. É um método, Regina. Tipo um regime. Quando aqui entra em lockdown a gente fica trancada o dia inteiro, até as refeições são feitas dentro da cela e não tem previsão de quando irá terminar. Pode ser alguns dias, semanas ou até meses vai depender da boa vontade dos diretores." - explicou Úrsula.
"Mas nós ja ficamos trancadas o dia inteiro." - falou Regina.
"Sempre tem um jeito de piorar as coisas, mas pra gente não faz muita diferença só que é ruim não poder sair nem pra ir ao refeitório, só pro banho e mesmo assim com o tempo reduzido." - continuava a explicar.
"Já para você será uma merda." - afirmou Malévola - "Acabou visitas, só vai sair mesmo para trabalhar."
"Sério?" - perguntou triste.
"Infelizmente sim, a única coisa que nos resta é torcer para não durar muito tempo." - disse Úrsula.
"Sinto muito." - falou Malévola alisando o ombro de Regina.
"Está tudo bem, só espero que não fique muito tempo assim." - disse cabisbaixa.
"Assim todas nós esperamos. Agora vou indo antes que as guardas cheguem." - Úrsula se despediu e se retirou.
Mills juntou as coisas que elas estavam usando para fazer o jogo e colocou em um canto, pegou seu colchão, pôs de volta na cama, o forrou e se deitou. Kristin havia ficado triste por ela, mas não havia nada que pudesse fazer.
☆-☆-☆
*Quatro meses depois...*
Como era de se esperar quando ocorria alguma briga séria, o regime foi imposto na penitenciária durando cento e vinte e dois dias devido a gravidade do problema que a confusão causou.
Por mais que dissesse que estava bem, Regina não estava. Esse tempo em que ficou sem falar cara a cara com os amigos lhe deixou triste. O único jeito que achara para manter pelo menos algum tipo contato fora a através de correspondência. Trocava cartas com o casal e com Daniel, mas não era com muita frequência. Sua única companheira era Kristin. A mulher parecia não ligar para aquilo e realmente não dava muita importância, não tinha ninguém do lado de fora lhe esperando ou querendo lhe ver, então para ela não fazia muita diferença. Elas haviam terminado de fazer o dominó e ficavam jogando para o tempo passar. Só viam Úrsula as vezes quando iam tomar banho e se esbarravam no momento em que um bloco saia para o outro entrar no banheiro. Mills continuava estudando as apostilas do curso que estava quase chegando ao fim.
Terça-Feira.
Depois de todo esse tempo sem ver sua amiga, Regina estava mais que ansiosa para retomar suas visitas, não via a hora disso acontecer.
"Menina, você vai passar mal de tanta ansiedade." - falou Kristin sentada na sua cama.
"Céus foram tanto dias, tanto tempo, não vejo a hora de vê-los novamente."
"Deu pra perceber." - elas riram - "Daqui a pouco eles chegam."
"Ah, cadê essa guarda que não chega logo, hein?" - perguntou Mills se encostando na grade afim de ver se vinha alguém.
"Não deve ter dado a hora ainda." - respondeu Kristin.
"Já passou da hora isso sim. Quatro meses sem poder receber visitas é tempo demais, alguém tem que aparecer logo." - ela ainda estava na grade.
"Realmente foi bastante tempo, mas ainda não foi o mais longo já teve piores."
"Misericórdia, como vocês aguentam?"
"Você está aqui a pouco tempo e daqui a cinco meses vai sair, mas eu não. Estou aqui há anos e ja vi de tudo, você acaba se acostumando." - por mais que a loira dissesse que não se importava no fundo se sentia triste por não ter ninguém do lado de fora.
"Sinto muito, Kristin." - ela se sentou ao lado da mulher.
"Não precisa sentir não menina, como eu disse a gente se acostuma. Eu só sinto falta da Úrsula, mas hoje no jantar iremos nos ver então está tudo certo."
"Você gosta mesmo dela né?"
"Sim, ela é tudo que eu tenho." - a loira sorriu ao pensar na companheira. O barulho de passos no corredor se faz presente - "Acho que tem alguém chegando."
"Bora Regina." - falou Miranda abrindo a cela.
"Ahhhh, finalmente!" - ela grita e se levanta empolgada - "Até daqui a pouco, Malévola." - deu um beijo no rosto da loira a pegando desprevenida e saiu com a guarda.
Andando em meio aos corredores que tanto conhecia elas iam se aproximando da sala de visitas. Quando chegaram sem esperar Regina logo entrou.
"Maaaaaary!" - ela pulou em cima da mulher que quase caiu por não está esperando tal impacto - "Eu senti tanto sua falta."
"Ahhh, eu também senti sua falta." - Blanchard a apertou em meio ao abraço.
"Daaavid, também senti sua falta." - após se soltar da mulher ela cumprimentou o homem.
"Sei que sentiu, ninguém resiste ao meu charme." - brincou o homem a puxando para um abraço.
"Ele nem é convencido." - disse Mary fazendo Regina rir.
"Eu estou tão feliz que vocês estão aqui!"
"Nós também estamos." - falou David.
"Cadê, Daniel? Achei que ele viria com vocês."
"Ele até queria, mas está em um caso um pouco complicado." - o homem respondeu.
"Entendo."
"Ele disse que fará de tudo para vir na quinta." - contou Blanchard.
"Estou com muita saudades dele."
"Vocês não ficaram namorando por cartas, não?" - perguntou David vermelho de tanto rir.
"A gente não namora, somos apenas amigos."
"Amigos que querem namorar, entendi." - rebateu o homem deixando Regina com vergonha.
"Começou as crianças, vamos parar. David para de deixar Regina corada e Regina para de mentir porque sabemos que vocês se gostam." - Mary interfere.
"Sabemos mesmo." - falou David.
"Gosto dele igual gosto de vocês."
"Conta outra, né Mills." - Blanchard riu - "Mas mudando de assunto, faltam só cinco meses." - disse Mary se referindo a pena.
"Pois é, não vejo a hora de acabar." - o sorriso não abandonava o rosto dela - "Agora eu quero saber de tudo o que aconteceu nesses últimos meses, tudinho mesmo. Já podem começar a contar." - ela se sentou e eles a acompanham fazendo o mesmo.
Quinta-feira.
Parados frente a frente os dois se olhavam com sorrisos estampados em seus rostos. Estavam felizes em se verem novamente.
"Estava com tanta saudade." - disse Daniel com os olhos marejados e coração acelerado enquanto alisava o rosto de Regina.
"Também senti sua falta." - falou olhando para baixo envergonhada pela maneira que ela a olhava.
"Pareceu uma eternidade." - após dizer isso ele se aproximou dela e a abraçou. Esse tempo em que ficou longe dela fez com que os sentimentos do homem só aumentassem.
"Você está bem?" - u Regina quando o contato dos corpos fora quebrado.
"Melhor agora e você? Vejo que está inteira." - ele sorriu a observando.
"Inteirinha." - sorriu para ele de volta.
"Continua linda!" - a elogiou.
"Daniel..." - um tom carmim tomou conta de suas bochechas.
"Não precisa ficar com vergonha, só disse a verdade." - alisou novamente o rosto dela enquanto ela o olhava.
"Obrigada." - agradeceu ainda corada - "Me conte as novidades." - pediu se sentando e indicando a cadeira á frente para ele se sentar e assim o homem fez.
Eles conversavam sobre todos os acontecimentos desses meses que ficaram sem se ver e hora ou outra Daniel sempre a elogiava. O tempo foi passando e a hora de se despedirem se aproximando. Quando chegou a hora de dar tchau eles se levantaram e ficaram novamente frente a frente.
"Regina eu tenho uma coisa para te falar, mas acho que você já sabe."
"Pode dizer."
Tomado pela coragem o homem decidiu revelar a ela seus sentimentos.
"Eu gosto muito de você, não só como amigo. Se eu pudesse eu ficaria o dia inteiro te admirando e não me cansaria, toda vez que venho te ver meu coração se aquece. Me pego pensando em você, no seu sorriso, na sua voz, nos seus olhos, em vários momentos do meu dia." - enquanto ele se declarava ela apenas mirava em seus olhos e via sinceridade neles. Quando ela abriu a boca para dizer algo ele pôs o indicador nos seus lábios num pedido silencioso para que ela nada dissesse - "Não precisa falar nada, apenas pense no que te falei." - pediu.
Ela não sabia o que dizer, gostava dele mas estava confusa, não entendia ao certo se sentia por ele algo a mais ou apenas gratidão, precisava organizar seus sentimentos.
"Nem sei o que falar, mas mesmo assim obrigada por todo carinho que tens por mim, por tudo que fez e continua fazendo, sou imensamente grata por fazer parte da minha vida."
"Irei respeitar seu tempo, sei que não deve ser fácil para você, só peço que pense em nós."
Ela apenas acenou com a cabeça. Os dois se despediram com Daniel dando um beijo no rosto dela.
☆-☆-☆
*Cinco meses depois...*
Último mês. Esses eram seus últimos dias naquele lugar e ela não via a hora de voltar para o mundo lá fora.
Regina havia concluído seu curso, porém continuava trabalhando, só pararia um dia antes de sair. Ela teve a opção de largar antes, mas preferiu assim pois era mais um dinheiro que entraria e ela também gostava das pessoas que trabalhavam com ela.
Mary e David continuavam a visitando toda semana. Eles estavam ajudando Mills a encontrar um lugar na cidade para ela morar e poder cumprir sua condicional.
Como havia dito, Colter estava respeitando o tempo de Mills, ele sabia que para ela era algo novo e não a forçaria em nada, queria que ela se sentisse a vontade com a ideia e só então eles teriam realmente algo.
Segunda-feira.
Na fila do refeitório, Regina e Úrsula aguardavam sua vez para pegar o jantar. Kristin já se encontrava sentada com a sua refeição e as aguardava para começar a comer.
"O cheiro está bom." - disse Úrsula se sentando.
"Minha barriga chega até roncar só de olhar pra comida..." - a morena nem terminou de falar, pois fora interrompida por Malévola
"Nossa, eu estou com muita fome." - falou Kristin imitando a voz de Regina e elas riram.
"Como você sabe que eu diria isso?" - questionou a mais nova.
"Eu passei os últimos dois anos te ouvindo dizer que estava com fome toda vez que pegava sua comida. É impossível não saber o que iria dizer, Regina." - respondeu a loira.
"Quando não é falando que está com fome, tá perguntando o que vamos fazer." - completou Úrsula.
"Vocês ficam gravando o que eu falo?" - perguntou a menina rindo.
"Já entranhou na nossa mente." - Úrsula disse pegando seu garfo para começar a comer.
Kristin estava apenas observando Regina e esperando a hora certa para atacar e foi quando a morena iria morder um pedaço da carne que a mulher a interrompeu.
"Opaaaa, pode passando a carne." - Mills de assustou, ela achou que a loira havia esquecido da aposta.
"Sério?" - perguntou fechando a cara.
"Seríssimo. Querendo me passar a perna, Regina? Não esqueci da aposta não, me da logo essa carne."
"Por que ela tem que te dar a carne dela?" - Úrsula estava alheia a conversa.
"A mocinha aí quis apostar no dominó, só que ela estava confiante de que iria ganhar e por isso apostou a carne do jantar pois achava que ia ficar com a minha, mas ela perdeu e não vai ter nem a dela." - falaou Malévola rindo enquanto pegava o pedaço de carne do prato de Regina.
"Ah Kristin esqueci isso, não leva tão a sério, vai?" - pediu a morena.
"Aposta é aposta."
"Kristin eu trabalho pesado naquela lavanderia, preciso repor minhas energias." - Regina apelou.
"Quantos anos as duas tem? Eu não acredito que vocês ficam apostando comida." - Úrsula não estava se aguentando de tanto rir.
"Não tem graça Úrsula, pode parando."
"Não adianta fazer chantagem emocional, você perdeu." - a loira estava se divertindo com a situação.
"Eu não aguento vocês." - Úrsula ainda ria.
"Hum, que delícia." - disse Kristin comendo a carne - "Nossa está muito bom, Regina."
"Eu vou sonhar com essa carne, tenho certeza." - Mills estava de boca aberta a observando comer.
"Pega um pedaço da minha Regina, está aí quase babando." - a mulher de pele negra dividiu a sua e deu a metade para a morena.
"Dividir comigo você não quer, né?" - questionou a loira olhando para a namorada.
"Para de ser gulosa, você já está com dois pedaços."
"Realmente está uma delícia." - falou Mills se deliciando com a refeição.
"Você teve sorte, pois se não iria ficar sem comer nada." - disse Kristin.
*Semana seguinte...*
Sexta-feira.
Regina havia acabado de completar vinte e um anos, o dia exato tinha sido na quarta feira. Na quinta ela recebeu a visita de seus três amigos que a parabenizaram e levaram uma pequena torta em comemoração.
Úrsula e Kristin estavam planejando uma surpresa para a morena. Devido ao tempo que já estavam ali elas conseguiram com que uma das cozinheiras fizessem um bolo para elas escondido, mas a mulher disse que não seria possível fazer na quarta então ficou de entregar na sexta.
Estava tudo combinado e elas iriam comemorar na cela de Mills, mas precisavam destrair a morena para conseguirem pegar o bolo e levar até lá.
Saindo do refeitório, para aproveitarem suas duas horas de lazer, as mulheres colocam o plano em ação.
"Vamos jogar dominó na minha cela hoje, tem uma colega minha que quer participar." - Úrsula disse o que estava combinado, sabia que Regina não rejeitaria.
"Vamos sim, mas ficou na minha, tem que ir lá buscar." - falou Regina.
"Deixa que pego, estou querendo fazer xixi mesmo." - disse Malévola e a morena sem desconfiar de nada concordou.
Regina e Úrsula foram rumo ao bloco C, enquanto isso Kristin foi falar com a cozinheira e a mulher disse que já combinou com uma das guardas para levar o pequeno bolo até a cela delas sem que ninguém desconfiasse e visse nada. Com muita cautela o bolo foi levado até o lugar desejado e por ser pequeno foi fácil de esconder dentro de uma caixa que era usada para recolher os lençóis das camas, assim ninguém desconfiou de nada.
Quando chegaram até o bloco C Úrsula disse a Mills que a mulher que queria participar do jogo não estava lá e que elas deviam ir para o A e ficar na cela que ela e Malévola dividiam. Caminhando pelos corredores as duas iam conversando e quando chegaram até o seu destino Regina entrou na sua cela e viu Kristin de costas.
"Feliz aniversário atrasado!" - disse a mulher se virando e mostrando a Regina o bolo.
"Onde vocês conseguiram um bolo?" - perguntou a jovem com os olhos brilhando.
"Tenho meus contatos, Regina." - falou Malévola sorridente.
"Vocês não conrrabandiaram ele não, né?" - perguntou olhando para as duas com uma sobrancelha arqueada.
"Claro que não, pagamos por ele. Quer dizer, Kristin pagou." - falou Úrsula.
"Gostou?" - perguntou a loira.
"Eu adorei! Muito obrigada, agora vamos comer logo isso."
Kristian colocou o bolo em cima da cama de Regina, tirou do bolso uma faca de plástico que havia pego no refeitório e partiu. Regina agradeceu mais uma vez pela surpresa.
"Vocês disseram que pagaram pelo bolo, mas com que dinheiro?" - questionou Regina enquanto comia.
"Eu disse que ela ia perguntar, agora se vira." - falou Úrsula para a loira.
"Caramba você não deixa passar nada, hein." - disse Malévola.
"Resolve isso com a Kristin, foi ela que arrumou o dinheiro." - Úrsula logo tirou o dela da reta.
"Resolver o que? Onde vocês arrumaram o dinheiro?" - perguntou Mills intrigada, estava achando que elas haviam roubado de alguém que não conhecia.
"Digamos que eu saiba onde você guarda seu dinheiro." - falou Kristin coçando a cabeça.
"Você pegou meu dinheiro?" - Regina tentou manter a voz séria, mas sua vontade era rir pois Malévola estava ficando sem graça e ela nunca havia visto isso.
"Eu juro que foi só dessa vez, nunca mexi em nada seu sem sua permissão. Só peguei para fazer o bolo mesmo ja que você vai embora queria fazer uma surpresa. Você pode contar e vai ver que peguei pouco. Sério Regina, eu jamais pegaria seu dinheiro para ficar pra mim, foi só dessa vez mesmo e nem era pra mim e sim pra você. Achei que ia gostar." - despejou tudo de uma vez tropeçando nas palavras.
"Eu gostei."
"Não está brava?" - perguntou Úrsula.
"Claro que não gente, só achei engraçado. Sei que vocês jamais me roubariam, conheço o caráter de vocês e confio nas duas, podem ficar tranquilas que eu não fiquei chateada, sei que a intenção foi boa e agradeço muito por isso. Confesso até que irei sentir falta das nossas noites conversando, vocês foram a melhor coisa que me aconteceu aqui dentro, fizeram com que meus dias ganhassem mais vida e que não me sentisse sozinha, obrigada mesmo por tudo."
Elas já estavam entrando em clima de despedida, Mills só ficaria mais três semanas ali.
☆-☆-☆
Terça-feira.
"Tudo bem com vocês?" - perguntou Mills após cumprimentar os três amigos, ela adorava quando iam juntos.
"Tudo ótimo." - disse Mary.
"Digo o mesmo que minha esposa." - Nolan abraçava a mulher por trás.
"Perfeitamente bem." - falou Colter sorrindo.
"O que aconteceu para estarem os três juntos? Qual a novidade?" - Regina sabia que quando algum deles ia na visita do outro era porque tinha algum compromisso. Na ocasião era Colter que estava no dia "errado".
"Estamos em mais um caso juntos por isso tive que vir hoje, quinta feira eu e Mary estaremos indo pra Portland, o julgamento foi transferido para lá." - explicou Daniel o porque dele ter ido na visita junto com os Nolan.
"Exatamente, irei fazer o acompanhamento do réu." - disse Blanchard.
"Vão ficar quantos dias fora?" - perguntou Mills.
"Bom, vamos quinta agora e só voltaremos na quarta feira, mas não dá semana que vem e sim da outra."
"Ficaremos duas semana fora, por isso não teremos como vir." - disse Daniel.
"Bom semana que vem eu ainda venho, já na outra terei que ir á cidade e voltarei com eles, tenho um compromisso da delegacia para resolver e estou indo a mando do delegado." - falou David.
"Está bem, quando voltarem ainda estarei aqui."
"Voltaremos na semana que você irá sair." - Daniel estava ansioso para que a morena fosse liberta.
"Já está chegando, só mais vinte e um dias e estará livre!" - falou Mary animada.
"Como está se sentindo, Regina? Imagino que não deve está se aguentando de ansiedade." - perguntou David.
"Eu nem sei o que sinto." - falou com um sorriso reluzente - "No começo foi tão difícil aceitar, sabe? Pensei que não aguentaria uma semana, mas aí os dias foram passando, eu vi que minha única opção era seguir em frente e hoje estou aqui, prestes a sair e retomar minha vida. Confesso que estou com um pouco de medo de como serão as coisas a partir do momento em que eu tirar os pés daqui, mas depois de tudo que eu passei acho que é normal."
"Não precisa sentir medo, estaremos com você. Passamos esses últimos três anos juntos e os anos que virão não serão diferentes." - Mary apertou a mão dela com o propósito se passar segurança a ela.
"Você não ficará sozinha, estaremos ao seu lado." - disse David.
"Basta você querer." - completou Colter.
"Como eu não iria querer vocês na minha vida? É impossível." - ela sorriu - "Sou imensamente grata por tudo o que fizeram por mim. Toda vez em que pensava em largar tudo e desistir era em vocês que eu pensava, não poderia desistir depois de todo o esforço que fizeram." - os olhos dela estavam marejados.
"Você não pode desistir da sua vida, mas não pela gente e sim por você mesma. Depois de tudo o que passou você merece essa chance de recomeçar." - disse Mary sorrindo para ela.
Eles ficam conversando até que o momento de se despedir chegou.
"Sábado voltaremos para te buscar." - falou Mary se levantando.
"Semana que vem dou uma passadinha aqui e depois só volto com os dois no sábado, okay?" - perguntou Nolan.
"Sim, te espero na terça então."
"Fechado." - o homem de aproximou dela e a abraçou.
"Tchau Regina, até daqui duas semanas." - Mary se despediu também a abraçando - "Vamos Daniel?" - perguntou a mulher para o amigo que já se encontrava de pé mas permanecia calado.
"Me esperem lá fora que eu já vou."
"Está bem. Até logo Mills." - o casal se retirou da sala os deixando a sós.
"Eu posso te esperar?" - perguntou Colter.
"Como assim?" - ela não havia entendido a pergunta.
"Você já sabe o que sinto por você, agora está prestes a sair e quero saber se posso te esperar, se tenho alguma chance."
"Eu pensei bastante sobre a gente, eu acho que você pode me esperar sim."
Sem acreditar no que estava ouvindo ele perguntou:
"É sério mesmo? Você vai me dar uma chance?" - Daniel estava com o coração acelerado e quando ela acenou confirmando ele sem se conter a abraçou tirando os pés dela do chão e a rodopiando em seu colo. Regina riu. Daniel a colocou no chão novamente.
"Você tem que ir." - a visita já havia terminado e se ele não fosse embora uma guarda logo entraria na sala para tira-lo de lá.
"Eu sei." - falou alisando o rosto dela, ainda não conseguia acreditar que eles iriam ficar juntos - "Eu quero que fique com isso." - ele retirou de seu bolso um anel com uma pequena pedra o enfeitando e ela se espantou - "Calma, não é nenhum pedido de casamento." - eles riram - "Eu já o tenho a algum tempo, disse a mim mesmo que só daria ele a mulher por quem me apaixonasse e está na hora de fazer isso. Agora ele é seu, todas as vezes que olha-lo nessas duas semanas pense em mim pois estarei pensando em você." - ele entregou a ela o anel - "Acho que terá que esconder."
"Sim, eu terei que esconder." - ela admirava o anel em sua mão - "Obrigada por ser tão bom comigo e por me fazer se sentir especial."
"É porque você é. Agora eu vou, mas eu volto para te buscar." - ele a abraçou, depositou um beijo no canto da boca dela e se retirou.
☆-☆-☆
Na semana seguinte Mills havia recebido apenas a visita de Nolan na terça feira, os outros dois já estavam em Portland e homem só iria para a cidade quando caísse a noite.
Era quinta feira e ela estava no refeitório junto com suas amigas jantando normalmente. Entre uma garfada e outra elas conversavam. Após terminar de comer Regina se levantou e foi levar a sua bandeja com o prato para ser lavado. Ao passar pelo canto onde dava para ver o que se passava na televisão ela ficou paralisada.
🎵Paralyzed - NF🎵
Estagnada ela ficou, não tinha reação alguma, seu corpo não se movia. Ela apenas continuava parada.
Notando que algo de errado estava acontecendo ao olhar para Regina e vê-la estática, Kristin foi até ela e olhou para onde a morena olhava. Na televisão tinha a foto de quatro pessoas que ela não conhecia e estava escrito na parte inferior do vídeo:
"Acidente de carro em Portland mata quatro pessoas."
Sem entender o que tanto Regina olhava para o televisão a loira perguntou:
"Você os conhece?"
"Sim." - a voz da morena era quase inaudível.
"Quem são?"
"Três deles eram meus amigos." - uma lágrima solitária escorreu pelo rosto dela.
Mary, David e Daniel eram esses três amigos. Eles haviam saído para jantar com uma outra pessoa que também estava participando do caso e o carro onde estavam havia sido atingido em cheio por uma carreta que havia derrapado na estrada.
Depois de Regina dizer quem eram foi que Kristin se lembrou da descrição que ela havia feito deles. A mulher não sabia o que fazer ou o que dizer.
Regina largou a bandeja e voltou correndo para sua cela. Chegando na cela ela se jogou em sua cama e apenas encarou o teto, não sabia o que fazer ou sentir, ela estava dormente.
Malévola foi atrás dela e até tentou falar com a jovem, mas Regina ficava quieta apenas encarando o teto vazio, assim como ela.
A noite para Mills fora longa, não havia chorado ficou apenas olhando para o nada, ela estava sozinha novamente.
Na manhã seguinte foram buscá-la para o trabalho mas ela nem se quer se moveu, continuou deitada sem nada dizer.
Os dias foram passando e Kristian se preocupava cada vez mais com Mills que continuava do mesmo jeito. Era sua última semana ali.
"Ela acabou de perder pessoas importantes, por favor deixe que ela fique aqui." - pediu a loira á uma guarda que havia ido buscar Regina. A morena havia faltado três dias de trabalho e isso fora interpretado como mal comportamento.
"Não posso fazer nada, apenas estou seguindo ordens. Ela ainda deu sorte que o castigo será leve, eles poderiam aumentar mais alguns dias na pena dela." - falou a guarda puxando a morena pelo braço e a levando para o buraco.
O lugar era frio e escuro.
Deitada no chão Regina estava perdida, não sentia nada e isso a matava cada vez mais por dentro. Ela queria sentir algo, queria gritar, chorar, mas nada conseguia sentir era como de todos os seus sentimentos estivessem sidos arrancados de dentro de si. Sua vontade de viver estava se esvaindo por entre seus dedos e ela apenas assistia, ela assistia o espetáculo de horror que sua vida havia se tornado. Sua única vontade naquele momento era morrer, mas tinha medo da morte. Ela devia sentir algo, devia se erguer e lutar, mas como fazer isso quando se perde a fé de que teria um amanhã melhor? Ela queria ser á pessoa esperançosa que fora um dia, mas não a conhecia mais, era outra pessoa totalmente diferente da de agora e seu eu clamava para que ela voltasse e não se entregasse a escuridão que tentava lhe apossar. Ela estava quebrada.
Mills ficou três dias deitada naquele chão recebendo apenas água, que ela nem fazia questão de tomar tudo. Fora um dia de castigo para um dia que ela havia faltado.
Quinta-feira a noite ela foi retirada do lugar e levada para a sua cela.
"O que você está fazendo consigo mesma?" - perguntou Kristian olhando nos olhos inexpressivos de Regina assim que ela chegou na cela. Ela estava mais esguia, o rosto abatido e com olheiras. Malévola nunca imaginou vê-la daquela maneira, ela não era a Regina cheia de vida e forte que havia conhecido.
Kristin abraçou fortemente a jovem que continuava parada sem nada dizer. Ela pegou na mão de Mills e a colocou deitada na sua cama mesmo e a cobriu. Ela tentava ao máximo se segurar para não chorar, queria ser forte naquele momento para poder tentar resgatar Regina. Malévola passou a noite em claro observando a jovem.
"Estou paralisado, onde estão meus sentimentos? Eu não sinto as coisas, eu sei que eu devia. Estou paralisado, onde está o eu de verdade? Estou perdido e isso me mata por dentro, estou paralisado"
☆-☆-☆
Sexta-feira.
Esse era o último dia de Regina na penitenciária, no dia seguinte estaria livre daquele lugar.
"Como ela está?" - perguntou Úrsula preocupada.
"Continua do mesmo jeito, não fala nada e o que mais acaba comigo é não poder fazer nada." - disse Kristin frustrada.
"Ela não quis vir almoçar?"
"Não."
"Como será daqui pra frente? Ela será solta amanhã."
"Eu não sei, sinceramente eu não sei. Meu medo é que ela faça alguma loucura."
"Acha que ela seria capaz?"
"Sei lá, as vezes acho que não, outras acho que sim. Ela tem que acordar."
As duas estavam preocupadas com Regina, queriam o bem dela.
Depois do almoço, Kristin voltou para cela e Regina continuava deitada olhando para o nada, ela tentou puxar conversa, mas a jovem nem se quer a olhava. Malévola tinha a impressão de estar falando sozinha.
A noite foi chegando e com ela o horário do jantar. Uma tempestade se fazia presente do lado de fora.
"Perdi completamente minha fome, mas é melhor vir pra cá do que vê Regina se afundando daquele jeito." - disse Kristin largando a comida.
"Nós precisamos fazer alguma coisa, ainda hoje."
"Fazer o que, amor? Só ela pode se ajudar."
"Pra falar a verdade eu não faço a mínima ideia do que fazer." - disse Úrsula frustrada.
"Eu não estou mais aguentando vê-la desse jeito, essa menina está mexendo muito comigo." - os olhos de Kristin se enchiam d'água.
"Ela vai sair dessa, temos que acreditar que vai."
"Vou tentar falar com ela pela última vez." - a mulher se levantou e se retirou.
🎵Through the Rain - Mariah Carey🎵
*Pov's Regina*
Por que coisas ruins tem que acontecer? Por que toda vez que eu acho que serei feliz acontece algo para me mostar o contrário?
Me sinto presa em mim mesma, estou sozinha, eu só quero que alguém venha me salvar pois estou afundando e tenho medo de não conseguir emergir novamente. Estou tão perturbada, não consigo entender o porquê disso acontecer.
Amanhã irei embora e não faço a mínima ideia do que farei com a minha vida, nada está acontecendo da forma que eu planejei. Estou perdida, queria encontrar um caminho a qual seguir e saber que nele eu teria uma chance de uma vida melhor.
Deitada olhando para o estrado da cama acima, queria ter forças para me levantar, mas não tenho. Ouço passos dentro da cela porém não me dou ao trabalho de olhar para ver quem era, sou prisioneira dos meus próprios pensamentos.
"Levanta agora." - ouço a voz de Kristin, mas não olho - "Eu mandei você levantar!" - ela esbravejou me assustando e eu me virei para olha-la. Ela estava com os olhos vermelhos. Eu apenas me virei de lado e encarei a parede e logo vi a mulher parar em minha frente - "Você está me ouvindo?" - sua voz diferente do que estava a segundos atrás neste momento soava calma. Apenas acenei que sim - "Então eu te imploro que reaja, não faça isso com você, não desista, não depois de tudo o que passou, essa é sua última noite aqui, você deveria estar pulando de alegria. Por favor, Regina, reaja." - as lágrimas começaram a se fazer presente molhando minha face e indo de encontro ao travesseiro, mas continuei deitada e aconteceu algo que jamais imaginei ver - "Eu nunca fiz isso por ninguém, mas faço por você agora, pois não aguento te ver desse jeito. Eu te imploro que erga essa cabeça e siga em frente." - ela estava de joelhos bem na minha frente implorando para que eu me levantasse.
"Me sinto tão longe."
"Então trate de arrumar um jeito de voltar para perto, de trazer a menina esperançosa de volta.."
"Não sei se consigo."
"Você tem que tentar Regina, não se entregue desse jeito." - estou tentando segurar minhas lágrimas, estou tão cansada de derrama-las já que minha vida vinha sendo sucessão de tragédias - "Não precisa se segurar, alivie sua alma, coloque para fora toda dor que sente, pois só assim você poderá prosseguir. Se livre dela de uma vez por todas." - ela me pediu chorando. Nunca em minha vida imaginária ver Kristin tão emocionada como estava agora.
"Eles disseram que voltariam para me buscar." - pela primeira vez depois do ocorrido me permiti chorar. Neste momento resolvi liberar aquilo que estava guardando dentro de meu peito, não posso carregar essa dor comigo, não posso e nem quero. Se eu guardar, cedo ou tarde ela acabará comigo.
"Eu sinto muito. Muito mesmo, porém infelizmente não irá acontecer, mas não é por isso que você deva cair."
"Dói tanto."
"Sei que dói, mas eles não iriam querer sua ruína. Não ouse desistir, não agora que está tão perto de ter sua chance de vida melhor."
"Eu teria. Daniel me deu esse anel e disse que toda vez que eu o olhasse era para eu me lembrar dele e é isso que estou fazendo." - disse mostrando o objeto arredondado que estava em minha mão - "Eu gostava dele, daria uma chance para a gente e sei que seríamos felizes pois ele era tão bom comigo e me fazia se sentir especial, só que agora não terei mais isso, estou sozinha novamente e não faço a mínima ideia do que fazer da minha vida."
"Você irá descobrir. A vida nem sempre é como queremos ou planejamos, ela faz com a gente aquilo que quer e cabe a nós decidir se ficaremos no chão e desistiremos ou se nos reergueremos para a próxima porrada que ela nos dará."
"Por favor, me ajuda!" implorei aos prantos e ela se levantou do chão, me estendeu sua mão e eu segurei me levantando também. Esse era um pedido de socorro, um pedido para que ela me ajudasse a emergir, para que me ajudasse a sair da escuridão que me encobria neste momento. Eu quero ser salva, quero lutar para sobreviver, só não sei se tenho forças para isso. Ela me puxou para seus braços, me apertou entre eles e eu apenas chorei.
"É difícil, eu sei, é normal sentir medo e ficar perdida, pois o futuro é incerto. Não posso te dizer como serão as coisas a partir do momento em que sair daqui, isso dependerá de você. Se optar por se salvar e prosseguir, será feliz. Agora se continuar presa ao passado esse sofrimento jamais passará." - ela me disse enquanto ainda estávamos coladas.
"Eu vou conseguir, não vou?" - perguntei olhando nos olhos dela após nos afastarmos um pouco.
"Se tentar vai sim, tenho certeza disso. Você irá se erguer, não vai? A Regina que eu conheci e que está em algum lugar aí dentro irá voltará, não irá?" - agora fora a vez dela me perguntar. Ela tem razão, tenho que continuar.
"Sim, acho que ela já está aqui." - decidi agarrar minha fé, me dar mais uma chance e na mesma hora o rosto dela fora tomando por lágrimas, mas diferentes das outras que derramou pude perceber que essas eram de alegria, ela estava contente por me ver voltar.
"Que tal um banho de chuva para marcar essa nova fase que se iniciará na sua vida?" - me perguntou limpando o rosto.
"E como farei para ir lá fora?"
"Deixa que dou um jeito nisso."
Kristin saiu da cela que ainda permanecia aberta e não demorou muito para voltar me chamando. Nós duas caminhamos pelos corredores na companhia de uma das guardas que eram amigas de Kristin rumo ao pátio. Uma forte chuva caia aquela noite.
"Ainda tem muito tempo antes de trancarem tudo outra vez, leve o tempo que precisar." - disse Kristin segurando minha mão e logo em seguida soltando-a, elas se retiram me deixando só.
Caminhei rumo a tempestade, os pingos densos começaram a me molhar até que fiquei completamente encharcada. Recordei todos os momentos junto daqueles que fizeram meus dias melhores. Recordei da promessa que fiz as duas mulheres que tanto fizeram por mim e que tanto amavam. Eu tenho que ser forte, não quero desaponta-las, não quero viver a sombra do meu passado e achar que não mereço um futuro. Eu mereço.
Não existe nada que eu não possa encarar, passei por tanta coisa que acho que o que vier não me afetará tanto. Sinto como se estivesse me tornado inabalável.
Medo? Esse eu tenho de sobra, não saber o que me aguarda é assustador, só não é mais assustador que a morte e essa eu não pretendo enfrentar nem tão cedo.
Olhei para cima e fechei meus olhos.
"Sei que não tenho o direito de te pedir nada, te abandonei quando as coisas começaram a ficar ruins e não me orgulho disso, mas eu preciso tanto de sua ajuda. Por favor, não me deixe cair. Me salve e me guie. Te peço que aqueça meu coração. Pai, me traz sua paz e o seu renovo." - clamei com toda sinceridade existente em meu peito a quem eu tanto acreditei um dia, mas que por conta das dificuldades acabei deixando de lado.
Respirei fundo e foi nesse momento em que senti meu coração ser confortado e uma paz tomar conta do meu ser. Sim, Ele havia me escutado. Não aguentado desabei no choro, agora eu sabia que não estaria sozinha nessa nova jornada.
"Obrigada por estar comigo." - o agradeci.
Corri em direção à entrada que levava as celas e fui em direção a minha. Chegando nela encontrei Úrsula e Kristin conversando e então sorrindo eu disse:
"Está na hora de arrumar minhas coisas."
"Eu posso sobreviver à chuva. Posso agüentar mais uma vez. Sozinha, e eu sei que sou forte o bastante pra me recuperar. E toda vez que eu sentir medo, me agarrarei firme à minha fé e eu vivo mais um dia, e eu sobrevivo à chuva"
☆-☆-☆
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