História Treacherous Destination - Dançando com as Estrelas

Jasper

Quando ouvi Lapis dizer a mim que sofre de depressão, não pude evitar sentir um batimento falho. Algo nesta doença me perturba de uma maneira que não consigo explicar. Minha mãe sofreu disto, foi uma das épocas mais terríveis de minha vida, eu fiquei desesperada pela minha mãe e pela falta do meu pai. Agora meu corpo parece reagir a tudo isso novamente, mas dessa vez ele deseja acolher e cuidar de Lapis, parece que essa pequena smurf mexe até com a parte mais dura da minha consciência. Bem que Garnet disse que se eu mostrasse meu melhor lado teria mais chances, e vendo por outro lado eu sinto que ela não merece estar só. Eu percebi que ela quase me matou quando falei sobre depressão, mas sua feição mudou totalmente quando terminei de falar.

- Eu sinto muito Jasper.- ela toca meu rosto, me surpreendendo. Um arrepio me percorre por alguns segundos e meu coração para ao perceber sua aproximação repentina, fechando seus olhos grandes azulados. Sem pensar duas vezes, também me aproximo dela, sentindo sua mão suave se direcionar os meus cabelos. Toco sua mão que está apoiada na varanda, já sentindo sua respiração contra a minha, fecho meus olhos totalmente.

- É melhor não fazermos isso.- abro meus olhos e vejo Lapis encarando o chão.

- Por que?- tento encontrar seu olhar, mas ela desvia.

- E-ela não me deixa raciocinar.- ela tapa seus ouvidos.

- Ela quem?...- levanto seu rosto para que olhe pra mim.-... hey, pode falar comigo Lapis, eu estou aqui... com você.

- A depressão, ela fica me atormentando...falando que eu não deveria fazer isso...-sua voz sai como um sussurro falhado, vejo lágrimas brotando de seus olhos.

- Então não escute ela...- respiro fundo e encaro suas orbes azuis.-....minha mãe também se sentia sufocada com isso, mas ela não estava sozinha, assim como você não está.- sorrio de canto e acaricio seu rosto.

- Hey Jasper!- uma voz nos assusta. Pronta pra xingar o filho da mãe que interrompeu tudo, olho pra baixo e encaro Moriah com sangue nos olhos, eu juro que estou quase pulando daqui de cima e quebrando ela ao meio.

- O que você quer?- cruzo os braços enquanto Lapis se apoia de costas na varanda, observo que seu rosto está extremamente vermelho.

- Esses são modos de falar com uma velha amiga?- Moriah me encara irônica como sempre.

- Você não merece nem um "obrigada" meu, e desde quando somos amigas? Para de forçar, na boa.- ela exibe uma carranca indisfarçável.

- Quando você cansar dessa aí, vai querer até ser minha noiva.- ela olha pra Lapis com nojo, me apoio na varanda e sem querer racho uma parte abaixo das minhas mãos com minha força. Respirando fundo, estendo a mão para Lapis, ela me encara em dúvida e logo pego sua mão ignorando totalmente Moriah, eu nos guio até pelo quarto e pelas escadas. Antes de sairmos da festa ela para por alguns instantes e observa uma garota cercada por garrafas de bebida alcoólica numa mesa. 

- Não posso deixar Dot sozinha, olha a situação dela.- a pequena amiga dela estava falando sozinha com uma garrafa de Vodka das mãos.

- Eu tive uma ideia...- andando em direção a pista de dança, eu vejo Amethyst e Ruby dançando. Amy parecia estar mais sóbria que a amiga de Lapis, e Ruby tomava o que parecia ser suco de frutas vermelhas. Toco o ombro da morena e chamo-a para um canto mais distante da música alta.-... Ruby eu preciso que fique de olho naquela garota...- aponto para a loira.

- A senhorita poderia me dizer o por que de me chamar para fazer isso?- Ruby arqueia uma das sobrancelhas olhando em direção a Lapis.

- Eu só preciso de um...favor...- estou me contorcendo por dentro, odeio pedir favores.

- Um favor pra ajudar uma garota que você nem sabe o nome? Hm.- ela toma um gole do suco me olhando com molecagem.

- Okay, Okay... eu quero que você fique de olho nela pra eu poder sair com a...

- Lapis?...- ela me olha com safadeza.

- Sim...- mau pude falar e ela já estava dando pulinhos.

- Sua safada! Nem perdeu tempo!...- ela se recompõem.-... pode deixar, eu fico de olho nela, qualquer coisa eu dou um jeito de deixa-la em casa.

- Obrigada esquentadinha...- bagunço seu cabelo.-... me deseje sorte.- pisco pra ela e vou em direção a Lapis, que tentará a qualquer custo convencer sua amiga a parar de beber. Me aproximando tento entender o que parecia ser uma conversa.

- Pery pare de beber agora! Olha o seu estado!- Lapis tenta tirar a garrafa de suas mãos, sem sucesso.

- BAI DAQUI, deja eu beber com o Barth Vader! Vem agui tio Vader...- suas palavras saiam totalmente erradas enquanto abraçava o vento, me deu até vontade de beber pra ver esse tal de Darth Vader.

- Lapis, deixa ela beber, eu falei com uma amiga pra ficar de olho nela.- viro-me e aponto para Ruby, que pisca pra nós.

- Não sei Jasper... acho que não devo deixa-la aqui, nem sei por que você quer sair agora que a festa está cheia de gente.- ela me olha receosa. 

- Senhorita Lazuli, acho que devo lhe contar um segredo...- me aproximo do seu ouvido esquerdo.-... eu gosto de lugares que tenham pessoas certas ao meu lado.- vejo um leve arrepio em sua pele.

- V-você quer me levar aonde?- vejo nitidamente seu nervosismo.

- Relaxe, eu quero apenas te levar para um lugar... especial, assim como você.- sorrio de canto, colocando uma mexa do seu cabelo teimoso atrás de sua orelha.

- Oh Jasper...- ela ri baixo, tapando o rosto com as mãos tentando esconder sua vergonha.-... okay, eu vou com você.

- Se prepare para uma noite inesquecível...- jogo meus cabelos com charme-... com uma pessoa mais inesquecível ainda.

- Acho que não preciso de uma noite para tornar você inesquecível pra mim.- sinto minhas bochechas corarem violentamente.

- Então v-v-vamos!- pego sua mão e antes de sairmos, faço um gesto de "fique de olho nela" com dois dedos para Ruby, que me encara novamente com seu olhar mais safado, assim ela leva uma das mãos a boca abrindo dois dedos em forma de V e passando a linguá entre eles. Seguro o riso e devolvo o gesto, dessa vez revirando os olhos. Saindo do local ao lado de Lapis, vou em direção a um estacionamento lotado de motos, lá subo numa moto V Rod.

- Oh my stars, que moto linda.- vejo o brilho nos olhos de Lapis.

- Peguei emprestada de um amigo.- dou de ombros e coloco meu capacete acrescentando minha jaqueta de couro preta logo em seguida, antes que Lapis subisse eu mesma coloco o capacete nela, que ficou um pouco grande para ela, mas serviu bem. Ela se prepara para sentar atrás de mim, mas seguro seu braço.

- Algum problema?- ela me olha com hesitação.

- Sente-se aqui.- bato a mão sobre o depósito de gasolina.

- Jasper isso é perigoso... esse lugar não é nem pra sentar!- ela cruza os braços.

- Não é de se sentar, mas a melhor visão de todas é daqui, confie em mim.- abro espaço para que se sente a minha frente. Ela me olha e encara o pequeno espaço, fazendo isso várias vezes até ceder ao meu pedido. Ela se aconchega do pequeno espaço e sinto seu corpo contrair quando me ajeito para dirigir a moto. Ligando o motor, saio do estacionamento devagar, sentindo o perfume suave de Lapis em minhas narinas, que eram totalmente preenchidas com ele por causa do vento tépido que aumentara cada vez que eu acelerava a moto. O silêncio nas ruas era arrebatador, com certeza havia poucas pessoas acordadas á essa hora. Seguindo pelas avenidas iluminadas, paro no sinal vermelho.

- Para onde estamos indo?- Lapis parecia ansiosa.

- Você vai saber quando chegarmos...- ela virá o rosto pra mim quase me fuzilando por deixa-la com curiosidade-... agora eu quero que você fique de joelhos.

- O QUE?

- Relaxe Lapis, pode confiar em mim, sei o que estou fazendo.- ela me olha relutante, mas logo fica de joelhos sobre o depósito de gasolina, ela segura em minhas mãos com força quando acelero a moto, sinto seu nervosismo.

- J-jasper é melhor eu me sentar...

- Calma, calma... eu estou aqui, fica tranquila...- com ela de joelhos ficando da minha altura na moto, consigo sussurrar em seu ouvido. Ao longo de uma parte do caminho, finalmente vejo a ponte de madeira que dava para o parque de reserva ambiental. Essa ponte está ali a muito tempo, e por conta disso várias plantas cresceram ao seu redor dando-lhe detalhes naturais e belíssimos, como se fosse a entrada de um bosque encantado. Quando estamos quase nela, me aproximo mais uma vez no ouvido de Lápis.-... agora eu preciso que você solte seus braços, não fique com medo eu vou te segurar.

- Tem certeza disso?- ela ainda está muito nervosa.

- Claro que tenho...- ela me olha e sorri gentilmente, logo em seguida começa a soutar suas mãos, assim faço um movimento rápido e coloco meus pés sobre guidão da moto e seguro a cintura da pequena com minhas mãos no exato momento que entramos na ponte. Olho para Lapis e vejo que está de olhos fechados.- Lapis...você precisa ver isso.- abrindo seus olhos lentamente, observo atentamente nossos corpos serem cercados por vagalumes que ao sentirem a velocidade da moto, se dispersão como um vórtice a nossa volta. As diversas luzes deixam tudo que tocam em perfeito contraste de cores que piscam como luzes de natal. Por um momento Lapis permanece intacta, mas logo vejo ela abrir seus braços largamente e preencher a quietude da ponte com uma risada alegre e contagiosa. Logo acompanho seu embalo, rindo e gritando como ela, percebo as coisas a nossa volta mais lentas. Olho para sua face tomada por alegria e posso jurar de dedinho que acabei de ver a felicidade que pode preencher e transbordar a minha vida. 

- Isso é incrível Jasper!- ela ria e falava ao mesmo tempo. Nada consegui dizer perante aquilo, apenas tive que acordar de meus devaneios pois o final da ponte estava próximo. Voltando a minha posição original sobre a moto, coloco Lapis sentada e sinto sua respiração contra o meu corpo.

- Gostou?- pergunto.

- Eu não gostei...eu amei!

- Esse é um dos benefícios de estar comigo.- me vanglorio.

- Então não seria ruim querer estar com você todos os dias.- me surpreendo com seu comentário e mais uma vez nessa noite, sinto minhas bochechas quase explodirem. Lapis com certeza sabe mexer com as pessoas, principalmente comigo. Sem muito o que dizer, apenas sorrio e continuamos o caminho. Passando por uma estrada de terra seca, consigo ver ao longe um pequeno lago com uma construção de madeira em cima. Chegando mais perto, estaciono a moto perto de uma barra de madeira grossa. Eu e Lapis descemos do veículo e vamos andando até a pequena casa, que tinha aberturas grandes ao seu redor, que dava para tocar a água do lago. A cada pisada no recinto era possível escutar o rangir da madeira velha. Devo admitir que esse lugar não está nos seus melhores dias. Lapis olhava para tudo encantada, apesar de ser um lugar simples ela parecia não ligar para isso.

- Você é a primeira  pessoa que eu trago aqui.- sorrio para ela, retirando minha jaqueta de couro.

- Sinto-me lisonjeada.- ela faz um reverência, rindo em seguida.

- Gostou do lugar?

- Muito... - ela sorri pra mim-... posso te perguntar uma coisa?

- Já está perguntando.- ela ri e me dá um tapinha leve no ombro.

- Outra coisa, bem... por que você me trouxe aqui?- penso bem antes de responder sua pergunta.

- Bom...meu pai me trazia aqui quando as coisas não estavam muito boas nas nossas vidas, ele fazia isso antes de ir para o exercito...- olho diretamente para suas íris azuis, que pareciam negras perante a noite.-... todas as vezes que vim aqui eu me senti calma, tranquila e em paz, então eu te trouxe aqui pra você sentir o mesmo que eu.- ela parecia prestar atenção em cada palavra minha, um pequeno silêncio permaneceu ali.

- Eu realmente estou me sentindo ótima aqui, mas receio que essa doença nunca vá me deixar...

- Hey, esqueça disso...- toco sua mão, até que uma ideia me atingi e pego meu celular, procurando uma música.-... sabe, meu pai me disse uma vez que colocar tudo que sente pra fora é a maneira mais sincera que você chega á ter paz, então...- estendo a mão para ela-... deixe que seus sentimentos fluam enquanto dança comigo.

- Jasper eu não sei dançar e...

- Eu também não sei dançar, mas podemos aprender juntas.- pisco  pra ela e dou início a música. Com o toque suave á princípio, ela cede e segura minha mão, fazemos reverência uma para outra e tomo seu corpo contra o meu, segurando uma de suas mãos e a guiando pela cintura, enquanto sua mão direita ficara depositada sobre meu braço. Nos primeiros passos, ambas levamos pisadas certeiras no pé, mas logo chegamos á um sincronia perfeita. Nos olhávamos fixamente enquanto rodopiávamos do piso de madeira. O silêncio entre nós era reconfortante, eu me sinto ótima com a presença dela junto a mim, e começo a prestar atenção na música. 

. . . . . 

One step closer

I have died every day waiting for you...

- Você mexe tanto comigo...- digo quase sussurrando.

Darling don´t be afraid

I have loved you for thousand years

I'll love you for a thousand more...

- Você faz o mesmo comigo...- vejo lágrimas escorregando pela sua face.-...mas não posso evitar essa tristeza que me invade.

- Acha triste gostar de mim?- pergunto sem retirar os olhos delas.

And all along I believed I would find you

Time has brought your heart to me...

- Estou triste por que tenho medo de perder algo que eu nem se quer tenho.- sinto o peso dos seus sentimentos sobre mim.

- Eu poderia saber o que seria isso?- continuo guiando seu corpo lentamente em círculos pequenos até quase pararmos.

I have loved you for a thousand years

I'll love you for a thousand more...

One step closer...

- Você.- me surpreendo. Engulo em seco e levo minha mão até sua face, antes que eu pudesse dizer algo sinto pequenos lábios tomarem minha boca em um beijo cheio de necessidade e expectativa. A boca adocicada de Lapis parece me acalmar, meus batimentos cardíacos diminuem a cada movimento dela. Seguro seu rosto contra o meu e deixo tudo a nossa volta desaparecer, e sinto como se eu estivesse dançando em meio as estrelas. Por um instante me sinto como uma adolescente que nunca soube beijar, que agora está a merce de toques gentis e suaves que guiam todo meu corpo. Sinto as mãos macias de Lazuli acariciar meu cabelo, pedindo passagem com a língua, ela cede a mim. Sinto seu corpo entregue ao meu enquanto uma última frase da música e me entrego a esse momento único.

One step closer.