Nick dirigia com os olhos fixos na estrada, como não costumava fazer. Geralmente, distraia-se mudando a música do rádio ou até mesmo mexendo no celular enquanto dirigia, e por isso mesmo seus amigos costumavam evitar deixar ele dirigir quando saim juntos. Porém aquele dia era uma exceção, pois levavam um cadáver no porta-malas e estavam os quatro — Evelyn, Nick, Jenn e Edd — com a cabeça cheia demais para se preocupar com quem iria dirigir.
— Meu Deus, nós estamos tão ferrados... —, murmurava Edd do banco de trás, ao lado de Jenn. Vez ou outra ele dava um riso nervoso e não parava de falar em como eles apodreceriam na cadeia, o que apenas piorava o clima já péssimo no carro.
— CARALHO, EDD, SERÁ QUE VOCÊ NÃO PODE CALAR A PORRA DA SUA BOCA POR CINCO MINUTOS?! —, exclamou Nick, colocando para fora o que todos vinham pensando desde que saíram dos fundos do bar. Evelyn lançou um olhar de desaprovação à ele e então deitou a cabeça contra o vidro da janela, fingindo não ter visto o revirar de olhos de Nick.
Se ontem alguém dissesse a ela que ela e os amigos matariam um barman, ela jamais acreditaria. Riria com ironia da cara da pessoa e ainda diria que ela era louca, e presumia que qualquer um faria o mesmo se alguém chegasse com uma história dessas, não?
Ela levantou seus olhos para o espelho retrovisor e olhou seu reflexo, como havia feito naquele mesmo dia mais cedo, quando estava prestes a sair de casa para encontrar os amigos no bar. Seu cabelo castanho estava embaraçado e com aspecto de sujo, embora tivesse sido lavado no dia anterior. Seus olhos verdes estavam cansados, e apesar disso, encaravam-na acusatóriamente. Você matou um homem, não parava de repetir para si mesma. Seus amigos não estavam muito melhores. Todos pareciam exaustos e principalmente, assustados.
— Gente... —, balbuciou Jenn, os olhos se enchendo de lágrimas. — O que nós fizemos?
— O que nós fizemos?! Caso ainda não tenha percebido, te direi o que fizemos, Jennifer —, rosnou Edd, se voltando para a garota e pronunciando a frase que todos tinham na cabeça. — Nós matamos um homem, foi isso o que nós fizemos!
Ninguém respondeu. Todos engoliram em seco, sentindo o peso daquela frase no ar.
Depois de um tempo que pareceu horas, Evelyn falou:
— Temos que nos livrar desse corpo. É nossa unica chance de escaparmos da prisão.
— Você nunca assistiu CSI? Nunca assistiu qualquer série sobre crimes?! Os assassinos sempre são pegos, não importa quanto tempo demore! —, retrucou Edd, bufando.
— Não sei se serve de alguma coisa, mas eu assisti todos os episódios de How to Get Away With Murder... —, falou baixinho Jenn, o que fez Evelyn abrir um pequeno sorriso.— Bem, todos os que saíram até agora.
Edd jogou a cabeça para trás como se tivesse levado um soco no queixo, e Evelyn demorou um pouco para perceber que ele estava dando uma risada irônica.
— Ótimo! Estamos salvos!
— Chega de ironia, está bem? —, disse Evelyn, respirando fundo para se conter. — Vamos levar o corpo para o rio e jogar ele na água com algum peso. Ele afunda e, se acharem o corpo, ele já estará apodrecido demais para ter nosso DNA nele.
— Até que não é uma ideia tão ruim... —, murmurou Nick, falando finalmente desde aquele berro com Edd.
— A é? E quem disse que não podem achar o corpo antes? —, provocou Edd. Evelyn já estava começando a considerar a opção de atira-lo para fora do carro. — Apenas vamos logo à polícia confessar...
— Olhem, levando em consideração a minha experiencia com base em How To Get Away With Murder, devemos queimar o corpo para eliminar o DNA —, disse Jenn, me lançando um olhar de apreensão pelo retrovisor.
— Puta merda, isso é uma série! Não podemos basear nossas ações em um programa de televisão! —, protestou Edd.
— Se tiver uma ideia melhor, estamos ouvindo —, disse Nick com um leve tom irônico. Edd ficou vários segundos em silêncio até que finalmente bufou e revirou os olhos. — Isso parece um sim para mim. Ótimo, vamos lá queimar um corpo! Uhuuu!
Evelyn engoliu em, seco. Aquela seria a noite mais longa de sua vida.
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