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História Trilhando o passado - O cara da biblioteca


Escrita por: JaneDi

Capítulo 3 - O cara da biblioteca


A biblioteca em uma sexta-feira à tarde era um lugar vazio e silencioso. A maioria dos estudantes no campus estava se preparando para alguma festa ou jogo. Mas não para uma pessoa.

Aline se concentrava em catalogar e arrumar as novas aquisições enquanto mantinha um olho num dos únicos estudantes do lugar no horário. Ele passava horas e horas curvados sobre seu computador e uma pilha de livros de administração e filosofia ao seu lado. Ela sabia apenas duas coisas sobre ele: uma era que ele era um estudante veterano, já quase se formando (provavelmente do curso de economia ou administração, ela poderia dizer isso do tipo de livro que ele pegava) e dois, que ele muito provavelmente iria desenvolver um problema de coluna muito sério devido a sua postura e alguma complicação renal quando for mais velho, o rapaz simplesmente não levantava por nada e nem bebia água o bastante.

E agora já era nove noras da noite e ela tinha ficado pela primeira vez até aquele horário, cobrindo o turno de uma amiga. Ele parecia muito concentrado e não ia notar que já era hora de fechar a biblioteca, mas por mais que ela entendesse o quanto era bom estar em uma biblioteca (ela amava trabalhar ali), tinha que sair, pois sua condução iria encerrar na próxima hora e ela teria que ir para casa.

E o pior, pelo som do lado de fora e a última vez que consulta a previsão do tempo, uma forte chuva estava vindo por ai.

Se aproximou então da figura solitária no canto distante do salão, mas ele pareceu não notar sua presença e ela teve que pigarrear duas vezes para que ele enfim parasse de digitar seja lá o que estava fazendo velozmente e a encarasse.

E ela se surpreendeu, dois olhos azuis acinzentados a fitavam por traz de um par de óculos de aros finos e aborrecido por que ela o atrapalhara.

Apesar do olhar frio que ele lhe dera, ela não se assustou (ou não muito).

“hum... desculpa senhor, mas já estamos fechando a biblioteca” ela disse na sua voz mais profissional enquanto posicionava as mãos atrás das costas.

Ele pareceu confuso e então olhou para o próprio relógio que estava em seu pulso.

“droga!” ele disse e fechou os olhos como se tentasse lembrar de algo e começou a arrumar freneticamente a sua mesa e sua mala.

Aline suspirou aborrecida, a pilha de livros que ele tinha! Ela esqueceu que ainda iria ter que registrar eles no catálogo de devolução, além de colocar cada um dos volumes no lugar. As vezes ela odiava fazer o bem para as pessoas, agora provavelmente teria que voltar para casa na condução das onze horas!

Para agilizar, ela tentou pegar cinco volumes de uma vez, mas mal ela deu um passo, os livros caíram aos seus pés. Deus, se a bibliotecária visse isso ela teria um desmaio. Querendo se alto xingar, ela se abaixou para os recolher.

Foi então que ele se abaixou também.

“me desculpe” ele disse se aproximando dela no chão e recolhendo os livros “deixa que eu pego eles” ele falou para sua surpresa.

“hum.. ok” ela aceitou a ajuda. E então ambos em pé, ela viu que ele era quase duas cabeças mais alto que ela. Ele parecia extremamente cansado. Em silencio ambos recolheram os livros e rapidamente colocaram cada volume no lugar.

Logo ele se despediu e saiu apressado do salão. Mas mesmo com a ajuda dele, Aline percebeu que já havia perdido seu transporte. E uma chuva fina caia. Fechou o salão, desligou as luzes, guardou as chaves no repositório onde o segurança noturno ficava e finalmente foi embora.

Suspirando fundo ela usou a mochila para se proteger dos pingos da chuva e seguiu em direção aos pontos dos ônibus e, apesar do lugar está deserto, a única coisa que pensava era que mesmo cansada (e agora atrasada) teria que chegar em casa e ainda trabalhar em suas atividades e havia muita coisa a fazer.

Foi quando um carro passou por ela e depois de diminuir a velocidade parou.

Ela teve um momento de dúvida. O campus era um lugar relativamente tranquilo e e há anos nada acontecia de errado ali, porém já eram quase 10 horas e ela se viu sozinha num lugar deserto. Com cautela e orando a Deus ela seguiu seu caminho, no entanto, ao passar pelo carro, um sedan preto no mais recente modelo, os vidros escuros se abaixaram e para sua surpresa o mesmo par de olhos cinzentos a fitava novamente.

“Você está indo para onde? ” Ele perguntou de dentro do carro.

Por um momento ela hesitou diante do contexto que estava, mas ela viu algo de bom naqueles olhos. Respondeu e ele se ofereceu para levá-la até próximo de casa.

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Aline estava envolta em um mar de currículos e documentos na frente dela. Sua função era a de classificar os possíveis candidatos e depois repassar para o pessoal da direção das relações públicas. Eram tantos! E por isso ela estava grata, conseguir um emprego estava muito difícil naqueles dias e ela estava determinada a conseguir o seu melhor nesse, mesmo diante dos sacrifícios que ela tinha que fazer e com um suspiro ela olhou pela décima vez naquela hora para seu celular.

“Ainda preocupada com seu menino? ” Rute, uma das copeiras disse, a voz soando levemente divertida.

Aline sorriu acanhada, ela era tão óbvia?

“é só que...bem, ainda não me acostumei em ficar tanto tempo longe dele” explicou. E era tão difícil, ela via aquelas outras mulheres, tantas como ela que tinham que trabalhar e deixavam seus filhos em creches, e se enchia de inveja com a capacidade fácil aparentemente de deixarem suas crianças com estranhos. Mas Deus, ela ainda se enchia de medo. E se ele caísse? Se machucasse?

Edmundo era uma criança tão quieta e gentil que ela tinha medo que algo acontecesse com ele. Mas ela tinha que trabalhar, tinha dívidas, tinha que alimentá-lo, então esse sacrifício era necessário.

“Não se preocupe, é natural e você vai acabar se acostumando” a mulher mais velha disse enquanto abastecia a garrafa térmica com mais café. Aline apenas sentia que sua “obsessão” pela segurança do filho estava sendo motivo de fofocas na área de descanso dos funcionários. A garota nova que era uma mãe inexperiente, em um local com poucas pessoas como aquele, qualquer coisa já era fonte de especulação. Mas quer saber? Aline não se importava. O mundo dela se resumia ao seu filho e ela não ia negar que era uma mãe preocupada.

“Muita coisa hoje para você fazer? ”  Perguntou, decidida a mudar de assunto.

“Na verdade sim, um dos clientes da empresa resolveu aparecer de repente e está deixando Carlos louco” ela respondeu.

Aline assentiu. Carlos era seu chefe e também um bom amigo. Fora ele que tinha dado a ela essa oportunidade de trabalho. Provavelmente seria grata a ele pelo resto da vida.

“Deixa eu levar isso para você então” ela se ofereceu e pegou a bandeja das mãos da mulher mais velha em um esforço de ser mais útil e foi apenas quando ela estava há três passos da sala de vidro que separava a área comum da chefia que ela o vê.

Olhos azuis cintilam em sua direção e Aline recuou involuntariamente, mas era tarde demais, ele a tinha visto. 



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