1. Spirit Fanfics >
  2. Troca de Favores >
  3. Passado.

História Troca de Favores - Passado.


Escrita por: blenx

Notas do Autor


Atualização no dia correto, finalmente consegui voltar ao normal *-*
Bem, antes da fic queria agradecer por todos os comentários do capítulo anterior, eu realmente não esperava tanto carinho. Irei respondê-los agora! <3

Capítulo 7 - Passado.


Fanfic / Fanfiction Troca de Favores - Passado.

Quando assistia entrevistas de pessoas que foram raptadas e sobreviviam ou filmes do qual revelam detalhadamente um sequestro, Baekhyun secretamente imaginava como seria sentir a adrenalina correr por suas veias, afinal, um sequestro é praticamente um aviso de que em alguns minutos talvez você reencontre seus antepassados. Entretanto, se apenas em estar em uma sala completamente escura, com alguém o imprensando contra a parede e tampando sua boca sentia o medo lhe dar calafrios e uma ligeira revirada no estômago, imagine um sequestro de verdade?

Sentia a respiração do outro lhe tocar a face. Queria gritar, sair correndo ou o diabo a quatro para sair de perto daquela pessoa que Baekhyun podia apostar todo dinheiro do mundo ser Jongdae, não precisava ser tão esperto assim para adivinhar tal atitude.

- Tão assustada, pequena Baekhyuna... Qual motivo de tamanho susto? Por acaso deve algo?

A risada baixa que fora propositalmente perto de seu ouvido o fez se arrepiar por completo. Não havia mais dúvidas, com toda certeza do mundo era ele. Só podia ser ele.

- Tão delicada, simpática, charmosa... Ah, seria uma pena jogar essa máscara ao chão, não? Já imaginou a reação de todos ao te verem sem essa bonita peruca, Baekhyun? –a voz mansa e debochada tornara-se incisiva ao puxar o cabelo castanho, jogando-o ao chão.

Por não ter prendido a peruca com grampos ou ao menos a touca, já que só ia beber água, a pontada em sua cabeça fora mais pelo susto do que pela dor em si. Respirar era um trabalho árduo e mal tinha noção da força que aplicava no pulso de Jongdae para que ele afastasse a mão de sua boca. Totalmente em vão. O corpo do outro o imprensava de uma maneira tão brusca que o lembrava perfeitamente de situações passadas, momentos do qual se enganara tanto... Jongdae era o lobo na pele de cordeiro.

- Pensou que me enganaria, pequeno? Você não sabe como é bom te ter nas mãos novamente, quer dizer, sempre tive. –riu sem humor- Tão submisso...

O grito agoniado de Baekhyun fora abafado pela mão do moreno à frente quando o mesmo beijou seu pescoço. Ele se debatia e tentava de uma forma completamente falha escapar dos braços de Jongdae.

- Isso, grita! Quer que eu tire a mão? Todos irão acordar e ver no que a bela Baekhyuna se transforma após a meia noite, parece até um conto de fadas. –Baekhyun estancou e arregalou os olhos, ouvindo a risada divertida do maior que afastou a mão de seu rosto- Quer tentar? –sussurrou em seu ouvido.

O menor sentia nojo de si, nojo de sentir novamente aquele toque asqueroso em seu pescoço. Não podia gritar ou protestar, tinha que ceder aos beijos de Jongdae e aquilo o irritava profundamente. Seus braços agora estavam rentes ao corpo e fazia uma pressão enorme na parede, como se ela pudesse lhe engolir, pelo menos assim estaria a salvo. Sentia os lábios do outro percorrerem a extensão de seu pescoço, sendo obrigado pela mão nada delicada do moreno a tombar o rosto para o lado oposto, dando mais espaço para Jongdae se aproveitar. Fechou os olhos com força ao sentir algo úmido em sua pele, era mais do que Baekhyun podia aguentar. Empurrou o maior com toda força que encontrara no momento e passou a mão freneticamente pelo local, tentando limpar qualquer resquício da saliva do outro. Com a visão já acostumada a escuridão, conseguia ver os traços de Jongdae e sabia que o outro lhe encarava sorrindo, ele sempre gostara de brutalidade. De algo que o mesmo denominava como selvagem.

- Finalmente acordou, Baekhyun.

- O que está fazendo? Se for o seu dinheiro, já disse que o terá, agora me deixe em paz! –estava disposto a esquecer a peruca ali mesmo e foi em qualquer direção julgando ser a saída, mas novamente seu corpo encontrou a parede quando o outro lhe puxou pelo pulso.

- Quando disse que você rodaria a bolsinha, não acreditei que levaria tão a sério minhas palavras. Dando para o meu primo em troca de dinheiro, ah Baekhyun... Sua carinha de santo lhe cai tão bem. É uma ótima armadilha. –as mãos de Jongdae apertaram com força as bochechas do menor e este resmungou em dor, fazendo-o sorrir novamente- Chega a ser patético a forma que meu primo se apaixonou por um golpista, mas também não me surpreende, ele sempre fora terrivelmente lerdo. –o maior viu os olhos de Baekhyun arregalarem a acabou rindo- O que foi? Vai dizer que não percebeu o jeito que ele te olha? Não se finja de inocente! Seria cômico se não fosse tão ridículo. Agora escute bem o que vou lhe dizer, Baekhyun.

Jongdae voltou a se aproximar do outro e sussurrou em seu ouvido, com toda a calma do mundo.

- Você tem até a manhã do próximo dia para dar o fora daqui, entendeu?

- M-Mas eu não terei o seu dinheiro dessa forma! –era frustrante ser tão impotente.

- Hm... Faremos outro acordo. –afastou-se do pequeno enquanto sua mão direita brincava com uma mecha verdadeira do cabelo do outro- Você some da vida do Chanyeol e eu esqueço o que me deve.

Baekhyun arqueou a sobrancelha. Não, Jongdae não era aquele tipo de pessoa, ele só podia estar brincado consigo, como sempre fez. Tinha absoluta certeza que aquilo era outra armadilha dele, mas desta vez ele não era ingênuo de acreditar no outro. Ele simplesmente não tinha escolha.

- Qual o motivo dessa obsessão pelo Chanyeol, Jongdae? Amor platônico? Ou apenas medo de sair do armário mesmo? –poderia estar em um labirinto comandado por Jongdae, mas não era capaz de controlar sua boca.

O maior sorriu e mordeu a bochecha do menor, adorava quando este o provocava. As respostas afiadas, era isso que admirava em Baekhyun. Podia até se acostumar em ter o outro para si... Mas não. Não era de sua personalidade se entregar a alguém, apenas se divertir e só. E já tinha se divertido o suficiente com o pequeno Byun.

- Não seja tolo, Baekhyun. Só não gosto de dividir objetos que já usei com meu tão amado priminho, entende? Não quero ter que fazer nada com ele. Agora te deixarei ir, mas antes...

Os lábios de Jongdae voltaram a pele tão macia e exposta do pescoço de Baekhyun e o mesmo não demorou ao mordê-la com força. A sugava e deixava marcas evidentes pelo pescoço do menor, que se debatia com tudo o que podia, mas era difícil quando seus pulsos eram segurados fortemente pelas mãos de Jongdae contra a parede. Só sentiu-se satisfeito quando teve a certeza que ficariam, no mínimo, umas cinco manchas arroxeadas na pele tão clara.

- Conte-me a reação do seu amado namorado quando te ver com essas marcas, Baekhyun...na.

Jongdae o soltou e o viu abaixar, pegando a peruca que estava no chão ao seu lado e riu pelo desespero do outro de encontrar a porta, batendo-a sem força alguma após sair. É claro que não perdoaria uma dívida tão fácil assim, mas ter Chanyeol envolvido só complicaria as coisas. Lógico que não o machucaria, apenas queria colocar medo em Baekhyun. Não poderia tocar em um membro da família Park, do contrário seu pai acabaria consigo.

Kim Jongdae não temia nada, com a exceção de seu amado pai.

Talvez o exemplo da crueldade e de coisas sujas por baixo dos panos viera de família, assim como as máscaras. Entretanto, sabia muito bem que a família Park era muito querida por seu pai, mas claro que ninguém sabia da verdade. Sempre escutara do mais velho que ser político tem seus prós e contras. Assim como os Park e a sua própria mãe sabiam que eram políticos preocupados com o bem da população, não necessitavam saber das execuções e propinas que corriam por baixo da tão renomada Seoul. Nada neste mundo é perfeito.

Já se amaldiçoava por Chanyeol ter uma desconfiança de si. O maior sempre fora desajeitado e extremamente curioso, assim como Jongdae tinha sua calma –ou deboche, melhor dizendo- também era fácil de explodir. Apenas uma discussão entre os dois por um telefonema suspeito que o moreno recebeu e foi atendido por Chanyeol foi o bastante para a confusão começar. Mas pelo bem das famílias, fizeram o acordo de deixar isso somente entre os dois, era o melhor. Chanyeol não sabia do terço à metade, não lhe causaria problemas. Sorriu voltando ao quarto de hóspedes. Ter Baekhyun nas mãos era algo extremamente agradável para si.

 

 

x

 

 

- Baekhyun? Está me ouvindo?! Responda-me nanico!

A voz grossa de Chanyeol juntamente com as batidas desesperadas na porta do banheiro me fizeram acordar. Olhei para os lados, completamente perdido até que as imagens da madrugada passaram em minha mente.

- Já vou sair Chanyeol. –respondi com a voz fraca, sentindo novamente as lágrimas se acumularem em meus olhos.

- O que houve, Baek? –perguntou mais calmo, após suspirar- Estou te chamando há dez minutos.

- Eu só caí no sono, já irei sair.

Chanyeol falara alguma coisa que apenas ignorei, afundando-me na água da banheira. Abri os olhos, enxergando o teto deformado pela água e por um momento passou em minha cabeça ficar por ali até que o ar faltasse e finalmente me visse livre. Livre de tudo e de todos. Voltei a fechá-los e levantei-me de uma vez da banheira, ouvindo minhas juntas estalarem.

Após a animada conversa com Jongdae, não consegui dormir e quando vi o sol nascer pela janela, resolvi tomar um banho. Cada pergunta que minha mente formava não era respondida e acima de tudo, me sentia humilhado. Sentia-me um cachorrinho cumprindo as ordens do dono. Era tão frustrante estar à mercê de uma pessoa que me dava uma imensa vontade de chorar, plenamente de raiva. E o que mais me preocupava no momento era Chanyeol. Ele não merecia estar envolvido nem na metade dos problemas que o coloquei, eu realmente não devia ter feito aquela proposta. Tinha enganado sua família, o envolvi com Jongdae e possivelmente machucaria o coração da única pessoa que quer o meu bem mesmo sem saber quem sou de verdade. O quão monstruoso posso ser?

O espelho à minha frente refletia as várias marcas avermelhadas em meu pescoço e tinha umas três ou quatro arroxeadas. O local ardia pelas diversas vezes que passei a bucha para tirar aquela sensação horrenda, mas de nada adiantara. Suspirei e peguei a blusa azul escura de mangas compridas e gola alta. Definitivamente não estava em meus planos vesti-la, trouxe somente porque Luhan berrou em meu ouvido “E se fazer frio? Toma, leve-a e não discuta”, quem era louco de discutir com o loiro quando seu modo mãe estava ativado? Voltei a colocar o espartilho já que a blusa era um pouco colada no corpo e novamente senti os protestos de meu corpo quando o amarrei. Vesti a calça branca e puxei a blusa ao máximo, para que ficasse ao menos na metade das coxas e sorri fraco ao perceber que pelo menos uma coisa naquele dia dera certo.

As olheiras eram fundas, sentia-me o Zitao quando este acordava cedo para me dar aulas e não tinha tempo de passar sua preciosa maquiagem. O quão bravo ele ficaria se eu dissesse que não precisei nem da metade do que ele ensinara? Passei o corretivo lentamente e aos poucos o sono ia desaparecendo, se dormi meia hora nesta noite fora milagre, mas mesmo assim era impossível dormir com minha cabeça explodindo. Uniformizei o rosto com a base e passei o pó em seguida. O lápis de olho marrom no canto superior, não queria chamar atenção nos olhos e para finalizar um brilho labial. Penteei a peruca e fiz uma pequena trança na lateral que Luhan me ensinou para mudar o aspecto de sempre, colocando-a em minha cabeça logo em seguida. Terminei com uma presilha desenhada de elefantes e fiz o melhor aegyo que consegui. Estava péssimo.

Ao sair do banheiro, fitei a expressão preocupada de Chanyeol.

- Pode me dizer o que aconteceu? Não senti um chute durante a noite e por acaso você ao menos voltou para a cama? Demorou tanto no banheiro ontem que acabei dormindo e acordei agora contigo aí dentro, não me diga que...

- Ei, respire. Eu estou bem. –sorri fraco e o vi mais preocupado ainda.

- Está bem? Você está pálido e com olheiras, Baekhyun. E essa blusa? Não está frio para tanto, abaixe a gola ao menos.

Arregalei os olhos ao vê-lo se aproximar e me afastei rapidamente negando com as mãos.

- Não! É que estou com um pouco de dor na garganta. –menti- É melhor aquecê-la.

Chanyeol arqueou uma sobrancelha, duvidando do que eu disse e o empurrei pelos ombros até o banheiro dizendo para que se apressasse para o café. Sentei na cama exausto observando o relógio a minha frente.

- Já estou assim e ainda são nove e meia da manhã. –suspirei massageando as têmporas- Preciso sair daqui de alguma forma...

Se Jongdae ia ou não perdoar a “dívida” era uma coisa, sair daquela casa era outra. Mordi o lábio inferior contendo ao máximo que podia a raiva que crescia em meu peito.

“Tão submisso...”

- Filho da puta. –murmurei socando o colchão.

- Minha mãe não tem culpa de nada.

Assustei-me ao ver Chanyeol vestindo uma camisa cinza e xinguei-me mentalmente por sentir meu coração acelerar gradualmente, o curto intervalo de tempo que vi seu tronco exposto foi suficiente para me desconcertar. Ele se aproximou e sentou ao meu lado, suspirando. O silêncio incômodo que pairou no ar me fez lembrar do beijo que trocamos ali na noite passada e aquele silêncio só podia significar uma coisa: ele estava tomando coragem para falar algo.

- Bae...

- Vamos tomar café! –minha voz saiu mais fina do que eu esperava.

Levantei em um pulo e segui na direção da porta, saindo sem ao menos esperá-lo.

 

 

x

 

 

O dia se resumiu em um Chanyeol desconfiado e eu respondendo suas perguntas da forma mais vaga que conseguia. Fui mimado ao dizer que minha garganta doía ao explicar o motivo da blusa e meu coração aqueceu ao ver tamanho carinho que tiveram comigo, oferecendo-me diversos remédios e eu apenas agradeci a todos dizendo que já havia providenciado um, recebendo um olhar feio de Chanyeol, já que o mesmo sabia que era mentira. Enquanto isso Jongdae dava baixas risadas e me encarava na maioria das vezes, era desconfortante e principalmente irritante. E o pior que percebi que Chanyeol notara isso, trazendo-me ainda mais para perto de si, me abraçando ou segurando em minha mão. Céus, como ele era chato. Podia até gostar disso, mas estava emburrado com as mãos na cintura enquanto Chanyeol me fitava sério de braços cruzados.

- Falei para você não usar isso hoje. –sussurrou preocupado.

Após o almoço, em uma dessas agarrações da parte dele por causa dos olhares de Jongdae, ele deslizou a mão pela lateral de meu corpo e conseguiu sentir o espartilho. Aproveitou que não tinha ninguém na cozinha e me puxou para o local. Preciso comentar que estava recebendo uma bronca daquelas?

- Contando com hoje, faltam dois dias para isso acabar. –menti- Qual a diferença em usar ou não? Alguns dias não irá me matar.

Chanyeol revirou os olhos e se aproximou, consequentemente me afastei e como a sorte sempre esteve ao meu lado, senti a pia me impedir de prosseguir.

- Que tal me ouvir pelo menos uma vez? –perguntou ao levantar o meu rosto, obrigando-me a olhar para si- Você é tão teimoso!

Então pela primeira vez as palavras de Jongdae fizeram sentido. A forma que Chanyeol me olhava, me tratando tão bem, tão carinhoso. O beijo de ontem, as atitudes de hoje... No mínimo ele tinha uma quedinha por mim e Deus, eu preciso de ajuda porque sentia que a qualquer momento poderia ceder àquela distância. Eu sairia de sua vida nesta madrugada e nunca mais o veria, o tocaria ou sentiria toda essa confusão que ele faz dentro de mim ao se aproximar tanto. Por que não dou graças as divindades por isto? Não era isto o que eu queria o tempo todo? Pegar o dinheiro e sair o mais rápido possível de perto dele? Então por qual motivo meu coração estava tão apertado? Essa angústia e o receio de deixá-lo não deveriam existir.

Por um impulso do qual jamais deveria ter deixado me controlar, o abracei pela cintura e fiquei um pouco na ponta dos pés para poder roçar meu nariz com o dele, vagarosamente um beijo de esquimó formou-se e o abracei constrangido após o ato.

- Você que é mandão. –disse manhoso.

Ao sentir suas mãos em meus braços afastando-me, jurei que ele me repreenderia pela liberdade que tomei, mas me surpreendi quando seus lábios tocaram os meus novamente. Eu já estava fodido, pelo menos aproveitaria a última vez. E sim, eu disse “aproveitaria” e não me façam perguntas, meus sentimentos já estavam embolados demais para acreditar que talvez, em uma possibilidade mínima, quase inexistente, eu poderia correspondê-lo.

Acabei sorrindo e fechei os olhos, entregando-me mais uma vez a Chanyeol. O ouvi resmungar perto de meus lábios quando colocou a mão em minha cintura e sentiu por baixo da blusa o espartilho ao invés de minha pele e ri baixo, abraçando seu pescoço e finalmente o beijando. Sabe quando você lê em livros o último beijo do casal e eles descrevem como se sentissem algo estranho? Como se fosse uma despedida? Uma premonição, para ser mais exato. Eu não conseguia sentir isso com Chanyeol, em meu interior eu negava que aquele fosse nosso último beijo e quanto mais eu sentia sua língua tocar na minha, seus dentes percorrerem meus lábios mordiscando-os e os fios de seu cabelo entre meus dedos, eu acreditava cada vez mais naquilo. Estava permitindo-me iludir em anos e novamente não sei se é algo bom ou ruim, apenas queria senti-lo cada vez mais.

Minhas pernas fraquejaram e consegui por um tempo ter a mente livre de qualquer pergunta, era apenas eu e Chanyeol, nada mais. Um mundinho que me acolhia e era extremamente agradável estar envolto dele com o mais novo.

- Cha... Oh, meu Deus! Desculpem-me!

 Ele só poderia durar mais um pouquinho.

Nos separamos bruscamente e respirei fundo, como se não fizesse a muito tempo. Vi Dona Rosa parada na porta da cozinha virada de costas para nós com as mãos tampando o rosto, acabei rindo. Era impossível sentir raiva da inocência daquela mulher, a filha da puta só podia ter esperado um pouco mais antes de atrapalhar.

- S-Sim Dona Rosa, aconteceu alguma coisa? –Chanyeol perguntou com as bochechas coradas, visivelmente constrangido.

- A-Ah, a sua irmã pediu que o chamasse, ela está na sala dos computadores. -Chanyeol revirou os olhos e o vi sorrir.

- Yura sempre foi uma negação com a tecnologia. –balançou a cabeça negativamente e me fitou- Já volto.

Ele me deu um selinho e antes que pudesse se afastar totalmente lhe devolvi com outro, sugando-lhe o lábio inferior. O vi morder o mesmo sorrindo e andou em direção a Dona Rosa, levando a mulher consigo ao passar o braço pelos ombros dela.

Definitivamente, acabou.

Apoiei meu rosto em minhas mãos e de repente a paz interior em que me encontrei ao beijá-lo se desfez, rasgando como se fosse um cenário mal feito de cartolina, mostrando o verdadeiro horror por trás. Tudo o que sonhei na minha vida, lutei, nada se realizou. Nem uma vez sequer a sorte sorriu para mim, sem contar os sorrisos traiçoeiros, é claro. Uma onda de incompreensão e consternação atingiu-me em cheio, fazendo-me andar até o sofá da varanda em que toquei violão no dia anterior e apenas desabei ali, fechando os olhos. Eu precisava descobrir o endereço daquele local ao certo para marcar horário com algum taxista para me buscar de madrugada, teria que aguentar Luhan pela manhã, arrumar minha verdadeira mala e sair de Seoul, sair do alcance de Jongdae. Com a metade do dinheiro que consegui de Chanyeol dava para me sustentar em média por um mês, economizando ao máximo. Tinha que tentar a sorte em outra cidade e rezar para que mesmo assim Jongdae não procurasse por mim porque eu sabia que se ele quisesse, me encontraria até no céu, já que no inferno não é um lugar tão difícil assim para nos encontrarmos.

Divagando em pensamentos, senti o sofá afundar um pouco. Era só o que me faltava.

- Está tudo bem com você?

A voz baixa e delicada me fez abrir um olho só, observando o pequeno garoto que estava ao meu lado, Minki. Ele entrelaçou os dedos, brincando com os polegares em um nervosismo visível. Sorri.

- A questão não é essa. –sorri ainda mais ao ver sua expressão confusão quando virou o rosto em minha direção- A questão é: está tudo bem com você? Aqui? –apontei para seu coração e o vi arregalar os olhos.

As lágrimas logo marcaram presença e segurei a risada ao vê-lo inflar as bochechas e erguer o rosto com certo orgulho, como se dissesse a si mesmo que não iria chorar. Cheguei mais perto dele e apoiei meu braço no encosto do sofá, pendendo a mão e acariciando os fios chocolates do pequeno. O coração mole ataca novamente, francamente Baekhyun, você não tem jeito.

- Pode chorar. –comentei olhando o horizonte.

- Homens não choram! –declarou firme e ri baixo.

- Mas você ainda é um menininho. –voltei a analisá-lo e aproximei meu rosto, sussurrando em seu ouvido- E posso te contar um segredo? –ele afirmou com a cabeça e sorri- Só os homens mais fortes e corajosos choram.

Minki fungou até não poder mais e desabou no instante seguinte. Ele não era escandaloso nem nada do tipo, apenas enxugava com a manga da camisa as insistentes lágrimas.

- Yah, está sorrindo por quê? –reclamou manhoso e acabei por sorrir mais- Você também ‘tá chorando!

Arregalei os olhos e percebi algo quente escorrer por meu rosto. Ver Minki chorar era como se meu passado estivesse ao meu lado, além de tudo o que acontecia no momento, verdadeiramente eu só queria chorar e ter alguém para me apoiar, mas não me importava em ser o apoio de Minki. Enxuguei as lágrimas e voltei a acariciar seu cabelo.

- Vou te contar uma história, Minki. Há muito tempo atrás, um garotinho de seis anos brincava sozinho no parquinho da escola. Ele não entendia porque todos se afastaram de si, não havia feito nada de ruim. Tudo bem que era um pouco egoísta, mas era inevitável já que sua mãe trabalhava e só às vezes fazia seu lanche, ele queria aproveitar a comida toda e não dividi-la. Quando o chamavam para brincar ou dormir na casa de algum coleguinha, seus pais não deixavam, eram protetores demais. Tinha o temperamento um pouco difícil e dizer não para ele era algo fácil. Aos poucos começaram a lhe dar apelidos, por ser o menor da turma e ter traços delicados, chamavam-no de rainha de gelo, bonequinha de porcelana e várias outras coisas. Sentia-se cada vez mais triste...

- Sozinho. –complementou observando-me atentamente, como se aquela fosse a sua história de vida, com alguns pontos diferentes.

- Exatamente. Ele foi se contentando e fechando-se cada vez mais para o mundo, ignorando os novos alunos que chegavam e dando jus aos nomes que lhe davam.

- Mas a culpa não era dele! –protestou- Todos os outros eram os errados, o julgando, sem entendê-lo e...

- Não. Ele tornou-se errado quando deixou que os outros lhe rotulassem, acatou tudo de cabeça baixa e não demonstrou que aquilo o fazia mal.

- Mas e os outros?

- Também estavam errados. Na verdade, a vida desse garotinho foi uma série de mal entendidos, Minki. Assim como está sendo a sua. –o menor encarou-me confuso e fitei seriamente seus olhos- Você quer se tornar os garotos que xingavam o menino ou o próprio menininho amargurado? Quer que os outros tenham uma impressão ruim de você? Que te vejam como um garotinho ruim? Quer ver todos se afastarem e cada vez mais você afundará nesse mundo de isolamento que criou para não se machucar mais?

- Não! Eu não quero... –balbuciou voltando a lacrimejar.

- Então seja você, Minki. Seja o que teu coração é. –enxuguei suas lágrimas.

- Mas ninguém me dá atenção! Todos ficam atrás do meu irmão e ninguém me nota, ninguém me ama, ninguém...

- O que você faz quando isso acontece? –interrompi com um sorriso nos lábios, sabendo exatamente o que responderia.

- Eu digo algo ruim... –comentou como se descobrisse a maior das verdades, arregalando os olhos- Faço algo ruim para que me notem. –conseguia ver em seus olhos que ele estava entendendo o ponto em que eu queria chegar.

- Você quer isso? Que todos percebam você pelas atitudes ruins que comete? Você quer que Kangdae te odeie?

- Não! Não quero nada disso. –negou com as mãozinhas- Eu só quero que me aceitem como aceitaram ele, que me deem atenção também.

- E acha que perceberão isso toda vez que você insulta o seu irmão? –suspirei e segurei seu rostinho em minhas mãos- Minki, não é por Kangdae ser especial que você é menos amado que ele. Todos desta família e seus amigos te amam pelo o que você é, amam o verdadeiro Minki, não o Minki que usa uma máscara para confessar erroneamente seus sentimentos.

- Errone... O quê? –perguntou confuso e ri.

- Você demonstra seus sentimentos de forma errada, pequeno. Não irão te entender se continuar desse jeitinho, e isso fará Kangdae se afastar de você no futuro.

- Eu não quero nada disso! Só quero que meus pais me olhem e que Kangdae continue gostando de mim, porque eu... Amo ele. –confessou de volta as lágrimas e sorri.

- Então demonstre seus verdadeiros sentimentos, diga o que sente para seus pais e para o seu irmão. Aposto que eles irão te entender se você falar para eles da mesma forma que disse para mim. Agora vai lá, anda!

O tirei do sofá e dei leves tapinhas de encorajamento no bumbum do pequeno, rindo pelas bochechas vermelhas que tomaram seu rosto. Tombei de volta no sofá ao vê-lo sumir pela porta e fechei os olhos, seria tão mais prático se eu seguisse meus próprios conselhos.

- Muito obrigado!

Arregalei os olhos ao sentir o corpo do menor sobre o meu, abraçando-me tão forte que tive que concentrar em minha respiração, do contrário perderia para o espartilho.

- Queria conversar contigo desde ontem, quando te vi tocar. O Kangdae adora música, ele faz musicoterapia para incentivá-lo a continuar o tratamento e antes eu o acompanhava nas seções, era tão bom quanto comer algodão doce. –retribuí o abraço e ri pela comparação- Você podia tocar pra gente no hospital.

Ele desceu do meu colo e sorriu o mais largo que conseguia, o que não era difícil, já que era um membro da família Park. Ele correu e desapareceu do meu campo de visão ao passar pela porta. Musicoterapia? Soava tão bem em meus ouvidos que chegava a ser estranho.

 

 

x

 

 

O resto do dia fora só alegrias para a família, já que o pequeno Minki chegou ao jantar de mãos dadas com Kangdae. Pelo menos eu tinha feito algo correto com aquelas pessoas que tanto enganei. Chanyeol estava mais feliz impossível e de vez em quando selava nossos lábios, o que era desconfortante ao extremo por ter Jongdae nos observando com um ar irônico. Chanyeol provavelmente entendera errado a minha atitude de mais cedo, mas também, quem não entenderia?

Logo a água quente batia fortemente em meu corpo e por mais que tentasse, meus músculos não relaxavam. Tudo já estava pronto, até o taxista tinha marcado após conseguir o endereço do local com uma das empregadas. A cama não parecia tão macia dessa vez e a consciência pesava, mas isso era algo do qual eu não deveria me importar. Ao escutar o barulho do chuveiro cessar, fechei os olhos e fingi dormir. O espaço ao meu lado fora ocupado e para que o mesmo acreditasse em minha mentira, virei bruscamente em sua direção dando-lhe um chute na perna.

- Terei que te abraçar novamente esta noite?

Ouvi sua risada e para que meu corpo não demonstrasse que eu estava acordado por causa de minhas bochechas, voltei a virar e fiquei de costas para si, resmungando algo desconexo. Suspirei aliviado após ele apagar a luz do abajur, finalmente poderia tentar dormir. O celular já estava embaixo de meu travesseiro pronto para vibrar quando desse três horas e assim deixei o sono me vencer.

 

Como o previsto, três e meia eu já estava pronto. Lógico que suei para tirar o braço de Chanyeol da minha cintura sem acordá-lo, mas tudo tinha dado certo no final. O violão estava em minhas costas e a mala em minha mão, com todos os acessórios que devolveria a Luhan dentro dela. Finalmente estava vestido decente, uma calça surrada e uma blusa folgada com um boné era muito mais confortável que um vestido e todo aquele peso na minha cara.

Observei Chanyeol pela última vez, definitivamente ele não dormia como um anjo. A boca levemente aberta, a cara amassada e o cabelo escuro completamente bagunçado. Sua situação era deplorável e tapei minha boca, evitando qualquer ruído que denunciasse minha risada interna. Mordi meu lábio inferior ao deixar um bilhete dobrado na mesinha lateral da cama, tinha que acabar com qualquer sentimento que Chanyeol tivesse a meu respeito. E a única solução era fazer da pior maneira possível.

O caminho até o lado de fora da casa fora tranquilo e o táxi já estava me esperando. Fechei o portão com toda calma do mundo e suspirei ao fitar a casa, por mais que negasse, sentiria falta de todo aquele barulho. O taxista me ajudou a guardar a mala no carro e fechei os olhos apoiando minha cabeça no banco quando ele deu a partida. Sem arrependimentos, Baekhyun, esqueça teu coração.

 

 

x

 

 

O sol invadia o quarto pelas brechas das cortinas e um moreno encontrava-se desolado na cama. Não entendia, não se permitia entender. Acordou sentindo um vazio em seus braços e o procurou no banheiro e por toda a casa silenciosa, já que ainda eram sete horas da manhã. Onde estava Baekhyun? Seus olhos percorreram o quarto inteiro, como se ele fosse pequeno o suficiente para se esconder atrás de qualquer objeto. Entretanto, a busca parou assim que encontrou um papel dobrado na mesinha ao seu lado. Aquilo não estava ali ontem a noite.

 

“Eu disse para não confiar em um ator”


Notas Finais


Então, prontos para os últimos capítulos de Troca de Favores?
To com o coração pequeninho e com muito, mas muito medo mesmo de escrever o final da fic HSUHSUHSAHU Só mais dois capítulos e a fic acabará ):
Obrigada por tooooooodo o apoio de vocês e pelo carinho também, espero que tenham gostado deste capítulo e por favor, não odeiem o Baekhyun. Tenta olhar o lado dele, assim como o do Minki, ok galerinha do mau?
Beijos nos corações de vocês, trombadinhas <3


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...