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História Trouble Town - Pelos velhos tempos.


Escrita por: Downpie_

Notas do Autor


FELIZ NATAL!
Eu ia postar ontem mas teve festinha e pa
Gente socorro eu to doente
Tive que modificar esse capítulo de ultima hora por causa das atualizações de lore
Espero que gostem bjs

Capítulo 8 - Pelos velhos tempos.


Fanfic / Fanfiction Trouble Town - Pelos velhos tempos.

A felicidade atingiu Jinx como se fosse uma bala em sua cabeça.

Por um momento, foi como se ela voltasse no tempo. Ela e Ekko escalando o Velho Faminto para chegar ao teto de algum lugar e comer um cachorro quente com algo que definitivamente não era uma salsicha e observar a cidade tomar vida em suas máquinas.

Zaun era quase como uma cidade subterrânea, ficava num desfiladeiro atrás de Piltover, as casas eram todas fixadas nos lados das montanhas, interligadas entre pontes e torres. Era uma bagunça de vias, pontes, escadas, varandas e janelas. Era enorme, havia movimento em todo lugar, como se você sentisse o mercado negro agindo à sua volta. Todas as plantas eram protegidas por estufas de vidro, era belo. As únicas plantas livres eram os musgos entre os tijolos do chão. Parecia que tudo era feito de metal e vidro, com várias luzes esverdeadas e fumaça saindo de todo lugar.

A elite morava na superfície, então quanto mais baixo você estava, mais pobre você era. Jinx e Ekko eram familiarizados com os caminhos subterrâneos, onde não era recomendado passar a não ser se estivesse armado. Todo bom delinquente sabia o mapa decor, pois os comerciantes nunca os perseguiam até muito longe com medo de serem assassinados.

— Eu senti tanta falta da Cinza Zaun — Jinx suspirou, olhando para as nuvens de gás tóxico que pairavam no topo do desfiladeiro, atrapalhando a pouca luz do sol que a cidade tinha.

— O que você vai fazer depois que toda essa história com Piltover acabar? — Ekko quis saber, encarando o céu junto dela.

Jinx nunca havia realmente pensado nisso. O que ela faria depois de destruir Piltover? Bem, ela imaginava que após matar o que estava matando-a, sua mente ficaria normal de novo. Ela poderia voltar a fazer as coisas que ela gostava antes de surtar. Não que ela tivesse muito futuro, mas ela gostava de artes. Ela sentia-se bem ao espalhar seus desenhos em rosa-choque pela cidade, ela gostava de dançar, gostava de animais... não era grande coisa. Ela não era como Ekko, que tinha uma vocação.

— Eu vou para Iônia — Jinx sugeriu. — O que você acha, Ekko? Eu, uma bailarina? 

— É, tenho que dizer que você é bastante flexível — ele respondeu com um sorrisinho.

— Tô falando sério — ela lhe deu um leve empurrão. — Eu ficaria incrível num tutu.

— Eu nunca te vi dançando balé, mas vá em frente — ele ainda parecia achar graça.

— Você não viu porque eu nunca dancei, ué. Só as menininhas ricas dançam balé — a garota explicou, como se fosse óbvio. Jinx pensou um pouco mais sobre ser uma bailarina enquanto acariciava suas tranças. — Pensando bem, eu acho que não daria certo. Música clássica é muito chata e menininhas ricas também. Droga.

— Sei lá, você poderia vender seus desenhos ou se tornar uma assassina de aluguel — ele sugeriu.

— Assassinar pessoas é muito chato. Eu só não tenho culpa que elas entram na mira dos meus mísseis... — Jinx deu de ombros.

— Então você gosta de explodir coisas e não matar pessoas? — ele pareceu um tanto aliviado com a notícia.

— Na verdade, eu não ligo para as pessoas. Elas são só pessoas — Jinx não era sanguinária, ela só não gostava que ficassem em seu caminho. A única pessoa que ela realmente queria matar era Vi, sua ex-irmã. Se a xerife Caitlyn entrasse no caminho ou não, o problema era dela e de seus chapéus.

— Olhe, o sol está vindo para cá — Ekko apontou a luz dourada que reluzia nas torres próximas a eles.

Jinx saudou o sol de fim de tarde com um sorriso. Não havia nenhum outro lugar onde ela queria estar. Beber cerveja barata com Ekko no teto da casa de alguém rico esperando o sol bater neles era perfeito. Era simples e pessoal.

Ela nunca conseguiu entender o que sentia por Ekko. Por muito tempo, ela não se imaginava com ele, mas odiava vê-lo com outras garotas. A verdade é que na vida real não havia um verdadeiro sinal que dizia se estava apaixonada ou não. Ela só sabia que se sentia um pouco normal quando estava com ele.

Quando ele voltou, ela percebeu que precisava de alguém, de alguma coisa. Sentiu-se uma idiota quando não conseguiu ficar brava por ele ter mentido sobre Caitlyn. E foi por simplesmente não querer que ele fosse embora de novo. Ela tentou ficar sozinha de novo por algumas horas, mas a cada coisa bonitinha que via na rua, pensava em contar para ele. Era como se nesses dois dias ela tivesse ficado viciada na companhia dele.

Era muito bom ter alguém para te abraçar quando você começava a desmoronar, e Jinx achava que talvez fosse isso que definisse se você amava alguém ou não. Quer dizer, ele sempre esteve lá para ela. E dentro daquele chuveiro, ele a fez sentir-se viva novamente.

— Você está bonita hoje, X — ele interrompeu seus devaneios, colocando a franja dela atrás da orelha.

— Eu sei — ela respondeu com um sorriso. Realmente, era revigorante poder sair em público vestindo-se do jeito que ela queria. Sentir suas tranças esvoaçando e o vento em seus braços, sentir-se bonita, era bom. — Me sinto normal.

— Se você ficasse aqui comigo, seria assim todo dia — ele sugeriu.

— Eu vou voltar, Ekko — ela disse, como se fosse óbvio. — Eu gosto de você, tá? De verdade. Eu não vou te abandonar. Só preciso terminar o que eu comecei. Mesmo que a Vi se lembre, não muda nada. Ela ainda me largou.

— Eu queria tanto que as coisas fossem tão simples como eram dois anos atrás — ele suspirou. Jinx tentava não se incomodar com a neutralidade de Ekko sobre ela querer destruir uma cidade. Ele ignorava, sabendo que a briga poderia levar a amizade deles. Nada poderia parar Jinx. O que pensariam dela se ela desistisse no meio? — Só não morra, tudo bem?

— Se eu morrer você volta no tempo — ela deu de ombros com um sorriso presunçoso. O sorriso dele desapareceu, sendo substituído por uma súbita melancolia.

— Se fosse assim, Ajuna ainda estaria aqui — ele suspirou e Jinx sentiu-se uma tonta por não se lembrar disso. Ela nunca fora muito próxima do garotinho, mas Ekko o amava como um irmão. De certo modo, ela sabia como ele se sentia.

— Foi mal — ela murmurou. Eles ficaram em silêncio por algum tempo. — Mas sério, a Vi e a Caitlyn são duas otárias. Se em um ano elas não me pegaram, não vai ser agora.

— Estou de olho em você — ele respondeu. — Olhe, nós temos que sair daqui agora. O dono da casa vai aparecer e tentar nos matar com uma espingarda.

— Que saco — ela ficou um pouco chateada por não sentir o sol.

Ekko pegou sua mão e então eles pularam para a varanda do prédio de baixo, e então direto para a ponte, descendo dos lados da construção. As pessoas nem ao menos estranhavam ver jovens escalando as torres. Quando eles chegaram ao setor 45N, decidiram que iriam andar até o 39L, onde talvez Vi e Caitlyn a esperassem.

—  A srta. tem planos para depois do esquema? — Ekko falou com um sotaque piltovense fajuto.

— Hmpf, eu acho que não... — ela respondeu no mesmo tom.

— Então coloque seu melhor vestido, boneca. Eu vou te levar naquele restaurante chique do alto da torre principal — ele fez uma reverência e beijou a mão dela, fazendo-a rir.

— Vamos ser mal-educados para incomodar todo mundo? — ela quis saber. Ela realmente não queria que Ekko começasse a tratá-la como uma princesinha, então era uma pergunta importante.

— Mas é claro que sim!

— Então eu topo, senhor — ela sorriu.

Ele sorriu também, puxando-a para perto para um beijo que fez com que Jinx se sentisse quente como se estivesse na frente do sol, como ela tanto queria. Ainda era um pouco estranho, mas ela poderia se acostumar.

Após apostar uma corrida até o 39L — que Ekko claramente deixou que ela ganhasse, o que a fez reclamar um pouco e ele a calou com um beijo — eles encontraram Vi e Caitlyn sentadas na frente de uma lojinha de doces. Caitlyn usava  uma máscara de gás e Vi parecia três vezes menor sem suas manoplas. Foi concordada mais uma corrida até elas, e desta vez Ekko ganhou.

Caitlyn franziu o cenho ao vê-los  curvados com as mãos nos joelhos, parecendo um tanto cansados e sorridentes demais.

— Eu ganhei — Ekko anunciou, alongando-se.

— Será que eu te deixei ganhar por que você é uma mocinha? — Jinx resmungou. Ele lhe fez uma careta em resposta e ela revirou os olhos.

— Sério, vocês estavam apostando corrida? — a xerife quis saber.

— Ah, chapeleira, nunca pensei que te veria aqui... bem-vinda ao meu reino! — Jinx sorriu e fez pose para mostrar a paisagem da cidade. — Eu até tinha desenhado os tickets para vocês, mas eu perdi eles na escalada. Algum sortudo ganhou um ticket de expor a Vi. Hehe.

— Tudo bem, agora que estamos todos aqui, sugiro que apertemos as mãos em uma trégua. Só por hoje — Ekko sugeriu.

Era óbvio que Ekko era o único que acreditava piamente nesse negócio de trégua. Caitlyn talvez, mas Vi e Jinx estavam prontas para esfaquear uma à outra pelas costas. Mesmo assim, elas apertaram as mãos. Ela também apertou a mão de Caitlyn, e elas apertaram a mão de Ekko.

— Então, é o seguinte. Eu aceito falar tudinho que eu sei se vocês tirarem as acusações contra o Ekko e se eu puder andar disfarçada em Piltover — Jinx declarou. Antes que as faces indignadas se tornassem falas, ela continuou. — Tipo, se eu estiver lá, comprando comida no mercado e vocês me virem, vocês não me viram. Quer dizer, se alguém me reconhecer daí vocês ficam tipo “oh meu deus, é a incrível Jinx!”. Mas se eu não estiver fazendo nada de errado e ninguém me reconhecer, eu não estou lá.

— E se nós acharmos que você está fazendo algo errado? Você não é muito confiável — Vi retrucou.

— Vocês vão ter de confiar em mim, oras. Eu estou confiando de que vocês não estão tentando uma emboscada e lhes fazendo um favor, qual é — Jinx fez uma careta.

Era óbvio que se elas a traíssem, ela iria botar informações sobre Vi na mídia, e ela iria perder tudo. E além do mais que agente de inteligência Camille iria a perseguir, como ela fazia com qualquer zaunita que pretendesse frequentar os mesmos lugares que a elite de Piltover. É, Caitlyn era filha de um estadista poderoso, então ela convidava Vi para os eventos chatos da alta classe. Sem perguntas de como Jinx sabia tudo isso.

— Parece justo — Caitlyn murmurou.

— Bem, então por onde vamos começar... ah é, o laboratório... ih, isso é lá pro 26E. Por que diabos estamos aqui? — Jinx murmurou, fazendo um mapa mental de todos os lugares que eles iriam. — Nós vamos de elevador, tá?

— Argh, deve estar lotado essa hora — Ekko fez uma careta.

— É verdade... então, moças, vocês preferem uma longa e constrangedora caminhada, escalar essas torres ou ir num elevador apertado com gente fedendo à usina nuclear? — Jinx perguntou, vendo as pessoas lotarem o elevador mais próximo.

— Escalada parece o menos pior — Vi resmungou, encarando as torres. Caitlyn deu de ombros.

Jinx sentiu uma nostalgia dolorosa ao descer aquelas torres com Vi. Pelo jeito, Ekko também. De certo modo, perdia a graça com ela séria, apenas os seguindo. Ela sempre dava pulos perigosos de um prédio à outro e os chamava de mariquinhas por não terem coragem de pular tão longe. Eles logo pousaram no 21H.

A cada passo que dava em direção ao bairro dos Barões da Química, seu corpo tremia mais. Todas as cicatrizes dolorosas que tinha de lá pareciam frescas em sua pele. As agulhas, a radiação, as poções tóxicas, ela sentiu-se tonta ao chegar na frente do lugar. Os laboratórios eram altos e com poucas janelas, chaminés altas que emanavam fumaça verde e uma distância segura um de outro, fazendo as ruas bem largas.

Ela virou-se de costas para o laboratório, fechou os olhos e respirou fundo, tentando não deixar a criança interior começar a gritar. Ekko a segurou, mesmo que provavelmente não soubesse bem o motivo dela estar tão abalada.

— Foi aqui que eu te conheci, Vi — Jinx falava baixo e sem emoção, de maneira que ela nunca falaria em uma situação normal. Caitlyn engoliu em seco, provavelmente já sacando tudo. Vi ainda encarava o laboratório, preocupada. — Bem, é aqui que as crianças órfãs vem parar. Elas viram cobaias humanas para psicopatas metidos a gênios. Crianças pequenas.

Jinx fez uma pausa para respirar. Caitlyn abraçou Vi, que parecia estar captando a informação com um mau pressentimento.

— Eu não sei se você já ouviu falar do Viktor, mas é aqui que ele trabalha — a garota contou. — Dizem que nenhuma criança que entra aí sai. A morte é o menor dos problemas quando se é a cobaia de experimentos que vão dar errado. Eu tinha seis anos quando você apareceu, eu acho que você tinha uns quatro, sei lá. Já tinham te marcado — Jinx apontou a tatuagem no rosto dela. — Você era de um experimento diferente do meu, por causa do seu tipo sanguíneo, eu acho. Mas nós ficávamos na mesma cela, brincando de adoleta. Eu acho que a nossa infância acabou quando vimos o V morrer. Viktor abriu a cabeça dele com umas coisas afiadas, tirou o cérebro dele e colocou num soldado de metal, ignorou totalmente o corpo com a cabeça aberta e ficou mexendo naquela coisa... a gente viu tudo — Jinx contou, a memória fresca em sua mente a deixando enjoada. — Você era a próxima, eu sabia. A garota da cela do lado que já era toda deformada, nos ajudou a fugir pelo ducto de ar e foi assassinada por causa disso.

Ela andava para longe enquanto falava, pois não conseguia suportar aquele lugar. Ela andou até o 14G, um lugar onde haviam os comerciantes que sempre invadiam seu espaço pessoal para lhe vender alguma coisa. Ela entrou num beco e foi seguida pelos três.

— Nós moramos aqui por muito tempo — Jinx contou, mostrando os riscos que ela havia feito com pedra com os dizeres “Eu amo a Vi” em letras infantis. — Toda noite você tinha pesadelos com o laboratório, quase não dormia, só chorava... até que um dia você parou. Simplesmente esqueceu de tudo, inclusive de mim. Eu cuidei de você e tudo voltou ao normal. Eu nunca te contei sobre o laboratório, por que já era difícil morar na rua, mas ao menos você conseguia dormir agora, ao menos você parecia bem. Nós fizemos um juramento de cuspe de sermos irmãs para sempre.

Vi finalmente perdeu a pose de policial marrenta para apenas ficar arrasada. E Jinx nem havia começado a contar direito. Caitlyn e Ekko pareciam apenas sentir pena das duas, sem querer interromper a história.

— E esses eram os dias que roubar alguma coisa para comer podia custar nossa vida. Eu tenho certeza que teve gente que deixou passar porque éramos só duas garotinhas sujas. Nós começamos a nos enturmar com os outros ratos de rua, cada setor meio que se ajuda entre si.

Ela fez uma pausa e desceu no cano que levava direto à entrada dos caminhos subterrâneos, caminho que Ekko e ela sabiam de olhos fechados. Ele segurou sua mão, pois essa era a parte que começava a ficar dolorosa para ele também.

— Eu acho melhor você esconder o rosto, é capaz de que se alguém te reconhecer, vai quebrar a sua cara — ela não falou em tom de ameaça, a dor não lhe permitia agir como normalmente. Ela iria se amaldiçoar para sempre se chorasse na frente de seus inimigos. — Nós vamos chegar nessa parte depois, não se preocupe.

— Esse é o lugar que nós chamamos de lar — Ekko apresentou o prédio feio, sujo e abandonado com algumas plantas em volta assim que saíram do túnel. — O Lar Esperança, o orfanato mais feio da cidade. Aqui nasceu a gangue que conhecemos como Os Desordeiros da Selva Fabril. Os importantes tem um número. Eu, XVII, Jinx, X e você, é claro, VI — ele sorriu de leve.

— Eu era a líder deles? — Vi balbuciou, cada vez mais frágil.

— Uma deles. Você sempre tinha os melhores esquemas, sabia desmontar os trecos hextech, dava conselhos de vida, sempre sabia sair da encrenca e fazia uma sopa maneira — Jinx sorriu nostalgicamente enquanto se perguntava se Vi ainda sabia fazer sopa. — A gente conheceu o Ekko e viramos o trio mais descolado desse lado da cidade.

— É, você se vestia só de preto todos os dias e andava com luvas de boxe em momentos totalmente desnecessários e não conseguia nem pegar um copo direito — Ekko deu uma risada, seguido de Jinx. — Você vencia todos os meninos na queda de braço e odiava todas as meninas que ficavam perdendo tempo roubando maquiagem e roupa. Você era a maria-macho mais marrenta de todas.

— E é claro você teve aquela fase esquisita em que você percebeu que era gay e ficou tentando esconder só pra deixar bem óbvio que você era — Jinx zombou.— Quando você decidiu sair do armário ninguém ligou, daí você começou a ter uma namorada por semana. Metade das garotas desse setor já passaram pela sua mão.

Caitlyn adquiriu um leve riso no rosto enquanto Vi ainda parecia atordoada. Deveria ser muita informação para processar. Ekko e Jinx poderiam ficar a noite inteira falando sobre as memórias que tinham, de como Vi era a melhor amiga mamãe de todos, mas ela não iria rir com eles, ela só ficaria mais atordoada e eles mais melancólicos.

— Ah, a gente foi crescendo e tal, você ficou tentando me juntar com o Ekko mas nunca deu certo por que ele é muito lerdo — Jinx suspirou e ele pareceu indignado. Ela decidiu continuar antes que ele dissesse algo idiota. — Vocês dois meio que apadrinharam uma criança, o Ajuna. É o garotinho de óculos daquela foto, sabe? Ele era fofinho.

— Por que ele ainda não apareceu para me insultar que nem vocês dois? — ela resmungou, esfregando a mão na testa.

Ekko suspirou e fez sinal para que os seguisse, e então ela soube que estavam indo para a parede memorial, que ficava um andar abaixo. Ela não ia lá faz muito tempo, até tinha certo receio de olhar.

— Esse é o lugar de paz de todas as gangues de Zaun. É aqui que prestamos nossos respeitos à todos os que se foram, não importando de onde eles vieram — Ekko quebrou o silêncio assim que o mural ficou visível.

A figura de Ajuna com seu rosto angelical e os óculos quebrados era visível no centro da parede. Ekko parecia realmente abatido ao ver aquilo. A parede ainda era como ela se lembrava, um monte de desenhos, painéis, velas, flores e alguns pertences pessoais.

— Olhe, Jinx, você está aqui — ele apontou para um desenho estranho que fizeram dela. — O pessoal tinha certeza que você ia morrer quando você foi pra Piltover.

— Bem, eles ficariam surpresos — Jinx tentou não se irritar com fato de ter sido subestimada daquele jeito.

— Então, o orfanato foi crescendo. Nós precisávamos de planos maiores. A maioria deles era de sua autoria — Ekko disse. — Nós íamos assaltar a mineradora, mas deu muito errado. Todos nós fugimos, mas você ficou para salvar todo mundo. Você desmontou o robô de mineradora e colocou as mãos dele em você, então você segurou tudo e salvou os mineradores.

— Parece que a única coisa que você não esqueceu foi o seu gosto por bancar a heroína — Jinx disse amargamente. — No dia seguinte você veio socar a gangue por motivo nenhum, me largou e ficou sozinha para assaltar os outros ladrões, e daí você sumiu. Todo mundo sabia que eu podia ter umas crises de fúria quando a situação ficava feia, mas... — Jinx cerrou os punhos.

Uma pausa foi necessário para que Jinx deixasse algo claro para si mesma: não importava o que ela dissesse, não importava o quão angustiada ela ficasse, Vi não iria sentir pena dela, simplesmente por que não a conhecia, não se lembrava do que fez.

— Eu fiquei muito mal depois de tudo aquilo. A minha doença teve uma recaída que eu nunca senti antes, o inferno na minha mente... eu tentei todo tipo de remédio, eu só queria que aquilo parasse... eu quase virei uma cobaia do Viktor de novo, sabe? Acontece que agora ele prefere pegar os drogados de baixo calão e entupi-los de alucinógenos e hipnóticos para que eles virem soldados escravos e cara, por um triz eu não virei um robozinho — Jinx deu uma risada nervosa. Ekko a encarava atordoado, pois ela nunca havia lhe contado aquilo. — Bem, eu acho que aquelas coisas estranhas que ele enfiava nas minhas veias adicionando a reviver meus medos de infância e já a raiva que a Vi me fez passar ajudou muito para que eu finalmente enlouquecesse. Eu acho que não tem mais volta agora.

Jinx suspirou ironicamente ao terminar a fala, mesmo que por dentro ela quisesse gritar. Era terrível ter de admitir que ela seria uma doente para sempre, e ainda por coisas que totalmente não eram culpa dela. Sua cabeça novamente começou a zumbir com vozes que não eram reais, e ela cerrou os punhos, tentando se concentrar no que era real. Vi franziu o cenho, parecendo pronta para atacar se Jinx fizesse algo. O rosto dela dizia que sim. O corpo dela dizia que sim. Mas ela não iria fazer na Parede Memorial.

— Você arruinou a minha vida, Vi — ela continuou, quando conseguiu. — Quebrou meu coração da pior maneira possível. E toda essa raiva, ela me consome. E, olhe, eu não consigo me lembrar o que eu fiz para você que foi tão traumático à ponto de você perder a memória de novo, mas eu não vou parar até eu arruinar você também. Não é nem mais uma opção, é uma obrigação.

— Não se preocupe em pegar as armas que você escondeu na sua roupa. Eu posso ser louca, mas eu cumpro minhas promessas — Jinx sentia sua cabeça pulsar de raiva. O rosto sem expressão de Vi era o que mais lhe irritava, mas a realidade era que não importava o que ela respondesse, ela não a conhecia.

— Tudo começou a desmoronar quando você foi embora — Ekko completou, mas não de uma maneira furiosa como a dela, parecia apenas decepcionado. — Nós perdemos a dupla de gênios do crime, então muita coisa começou a dar errado, muita gente foi presa, sequestrada, morreu... e eu fiquei fissurado em terminar o meu Z-Drive, só para tentar consertar isso. Foi um pouco mais complicado com a mestra das armas longe. Eu consegui, mas nunca foi o suficiente.

— Então, é isso. Você virou as costas para sua família por um senso de culpa hipócrita. Eu só queria que você se lembrasse, só para ver o estrago... mas você não me conhece. Você ainda deve achar que eu estou mentindo para fazer você se sentir mal por mim. Eu não espero que você sinta pena de mim, nem preciso da sua pena. Nada mudou. — Jinx estava se esforçando ao máximo para não chorar ou ficar furiosa, tentando ignorar todas as vozes na sua cabeça.

— Nada mudou — Vi repetiu, séria. — Você continua sendo uma piromaníaca homicida.

Jinx não precisou olhar para Ekko para perceber que ele estava angustiado. Caitlyn parecia um tanto conflituosa quanto a situação. Deveria estar sendo difícil para ela, sentir pena de uma criminosa que a perseguia.

— Eu agradeço por compartilhar a história. O nosso acordo está de pé. Ekko pode andar livre e você pode sair disfarçada sob as suas condições. O que aconteceu hoje fica só entre nós — Vi falou, ainda séria, mas parecendo um pouco cansada.

— Foi bom fazer negócios com você — Jinx estendeu a mão para que a outra apertasse, e ela o fez.

— Podemos ir agora? — Vi falou de maneira suave, cortando seja lá o que Caitlyn fosse dizer. Talvez a chapeleira quisesse conhecer algum lugar, mas não iria porque Vi estava chateada. 

— Nos vemos amanhã, chapeleira! Eu tenho uma surpresa para vocêêê... — Jinx sorriu maldosamente para ela. — Se anime, Vi, amanhã você vai poder tentar me socar novamente!

— Isso é realmente inspirador — Vi respondeu, suspirando. — A gente se vê, magrela.

De solsaio era visível o rastro de um sorriso no rosto dela e, por um milésimo de segundo, parecia que tudo estava bem novamente.


Notas Finais


sim isso mesmo referencia a florence + the machine
eles são tão lindinhos aaaaa
toda a história aí baseei nas lores e alguns headcannons do tumblr
ai como eu amo drama


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