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História Trust me - A Casa do Lago


Escrita por: LauraEllyse

Notas do Autor


OEEEEEEEEEEE POVOOOOOO OLHA EU DE NOVOOOOOO

Capítulo 44 - A Casa do Lago


Kira se ajeitou em sua cadeira na sala de biologia, tentando se fazer confortável. Aquela sala era diferente das outras, as carteiras eram compartilhadas, e não individuais. E ela compartilhava sua carteira com Lydia.

Quando chegou na sala, Lydia olhava concentrada para a tela de seu notebook. A professora ainda não havia chegado, mas Kira já estava com seu caderno e seu livro abertos. Kira se inclinou para perto da amiga e viu na tela um arquivo de texto cheio de números e letras. A princípio, ela tentou ler, mas era completamente aleatório. "...kahwobyfS!dtIwxj5sddjaf/hs,pl..."; e aquilo continuava por linhas e linhas, sem nem mesmo ter um espaço ou quebra de linha entre elas.

Se virou para Lydia, confusa.

- Ah... - limpou a garganta. - O que é isso?

- Minhas anotações de matemática.

Kira franziu as sobrancelhas, se inclinando para perto do computador.

Essas são suas anotações de matemática? Imagino que Stiles não tenha entendido a matéria nova.

- Algumas coisas no meio são as minhas notas. - ela falava sem desviar sua atenção da tela. - O resto eu acho que na verdade é um código.

- Mas você não se lembra de ter escrito?

- Nem um pouquinho. - suspirou. - Mas, considerando que meu desenho de uma árvore nos levou ao Nemeton, eu devia provavelmente descobrir o que isso é antes que tente nos matar.

Kira decidiu não mencionar o fato de que ela não sabia de que desenho a amiga estava falando e o que era o Nemeton. Lydia já parecia ter muito na cabeça. A garota imaginou o quão irritante devia ser ficar fazendo coisas sem nem ter ideia.

- Talvez seja como o Código Enigmático que os Aliados usaram. - Kira sugeriu. - Lembra que meu pai foi soldado na guerra? E minha mãe era... bom, parte dela.

- Eu acho que na verdade é uma variação de algo chamado Cifra Vigenere.

- E você sabe como quebra-lo?

Lydia suspirou, de novo.

- Com uma chave.

A ruiva teve que fechar o notebook quando a professora finalmente entrou na sala.

***

Procurar Liam na noite passada havia sido uma total perda de tempo. Os três ficaram dando voltas na vizinhança com o jipe de Stiles pelo que pareceram séculos. Scott e Isaac tentaram segui-lo pelo cheiro, mas acabaram perdendo-o quando, aparentemente, Liam tinha corrido para o meio da floresta.

- Bom, - disse Stiles. - se ele foi para a floresta, então ele não foi reclamar para a polícia.

Mesmo assim, os garotos foram até a delegacia. Acabaram encontrando o agente McCall ali, mas não o pai de Stiles. E o mais importante: não encontraram Liam.

A princípio, Stiles ficou aliviado. Mas não demorou muito para a preocupação e a ansiedade tomassem conta de seus pensamentos. Claro, Liam não era uma de suas pessoas favoritas, mas Stiles não queria que o garoto morresse no meio da floresta.

E se ele morrer - pensou. - vão rastrear os passos dele de volta para a casa de Scott, e vão acabar descobrindo que foi tudo culpa nossa. Vamos ser acusados de mante-lo refém, e vamos ficar na prisão por dez anos. 

Oh, meu Deus. Eu não quero ser a namorada de ninguém na prisão. Eu já tenho um namorado, muito obrigado, prisioneiros. Será que eu já devia ter um estoque de cigarros só por precaução?

Resolveu perguntar para um dos policiais o porquê de seu pai não estar ali. O oficial disse que o xerife estava cobrindo um assassinato no hospital. Stiles começou a ficar mais nervoso. E se descobrissem que Liam estava no hospital quando Sean foi assassinado?

O garoto começou a brincar com seus dedos. Olhou para os lados, procurando por Scott e Isaac, e viu que os dois falavam com o Agente McCall.

Stiles não prestou atenção na conversa. Ouviu algo sobre eles jantarem juntos na próxima noite, o que ele concluiu que seria a estratégia que McCall estava usando para se reaproximar de Scott. Ele se perguntou até quando a comida seria suficiente.

Ficaram uns quinze minutos na delegacia até finalmente irem para casa. Stiles deu carona para Isaac e Scott e foi direto para casa. 

Tudo bem, ele não foi. A verdade é que ele deu uma volta inteira em Beacon Hills, procurando pelo menor sinal de Liam, antes de ir para casa. E, quando chegou, estava tão ansioso que continuou no jipe. Ficou estacionado em frente à sua própria casa, ouvindo o rádio da polícia para ter certeza que Liam não seria mencionado.

Não que ele tenha ficado no carro o tempo todo. Se levantava, dava a volta no jipe, se sentava de novo. Trocava de banco. Remexia suas coisas. Checava por mensagens em seu celular. Fazia qualquer coisa que pudesse fazer, sem saber se era por conta da ansiedade ou da hiperatividade.

Mais uma vez, lembrou a si mesmo que precisava de uma consulta médica.

Levou umas duas horas para o garoto finalmente desistir e entrar em casa. Pegou qualquer coisa da geladeira antes de ir dormir. Mas ele não dormiu. Não conseguia. Não conseguia acalmar seus pensamentos tempo o suficiente para poder pegar no sono. Começou a criar teorias, paranoias e cenários em sua cabeça, cada um pior que o outro.

Então agora, enquanto procurava Liam nos corredores lotados de alunos apressados da escola, se sentia extremamente cansado. Estava muito tentado a tomar um café ou energético, mas estava resistindo o quanto podia. Não achava que seu corpo poderia aguentar algo como aquilo naquele momento.

- Liam! - ele finalmente encontrou o calouro.

Por sorte, Liam estava andando em um dos únicos corredores que estavam milagrosamente vazios. Quando o talvez-beta-de-Scott parou de andar e percebeu Stiles ali, o garoto pôde ver o quanto o calouro estava assustado e desnorteado.

A primeira coisa que Stiles percebeu, era que havia um grande curativo em seu braço direito, no lugar em que Scott o mordeu.

Se sentia mal pelo garoto. Liam apenas estava no lugar errado, na hora errada. E, agora, supondo que ele sobreviva, sua vida havia mudado para sempre. Liam praticamente tinha ganhado uma tonelada de problemas gratuitos. 

Logo atrás de Liam, vinha Scott. Stiles concluiu que o calouro estava sendo seguido a algum tempo.

Scott aproveitou que Liam havia parado de andar e se aproximou rápido, praticamente deixando Liam encurralado entre os dois mais velhos.

- Nós precisamos conversar. - disse o Alpha.

- Vocês precisam ficar longe de mim, okay? - o menor praticamente gritou. - Vocês dois.

- Pode só escutar um instante? - Scott levantou os braços, sinalizando para Liam se acalmar. - Por favor.

Stiles ficou realmente surpreso quando o calouro concordou em ouvi-los. E, aparentemente, Scott também ficou, pois lançou um olhar surpreso para Stiles. O tipo de olhar que dizia: "e agora, o que eu faço?". Stiles deu de ombros, respondendo com o seu melhor olhar de: "fale com ele, qualquer coisa".

- Liam... - Scott começou. - nós somos irmãos agora.

Houve um momento de silêncio.

- Ai, não. - Stiles abaixou a cabeça, sentindo vergonha. Talvez Scott tenha levado muito a sério a parte do "qualquer coisa".

- O quê? - Liam franziu a testa. - Do que você está falando? Nós acabamos de nos conhecer e você me mordeu.

- A mordida... - Scott continuou. - A mordida é um presente.

- Oh, Deus. - Stiles negou com a cabeça, sentindo suas bochechas literalmente queimarem naquele momento. - Scott, para. Por favor, só para. Você. - apontou para Liam. - Nós estamos tentando te ajudar, sua peste.

- Me sequestrando?

- Só para esclarecer: Scott te sequestrou. Okay? Eu só ajudei e incentivei.

- Liam, - Scott se pronunciou. - eu já passei por isso antes. Algo está acontecendo com você. Algo grande.

O calouro negou com a cabeça.

- Nada está acontecendo comigo. - ele arrancou o curativo em seu braço. - Nada.

Stiles engoliu em seco. Realmente não havia nada onde Scott o tinha mordido. Mas aquilo não era nem de longe um bom sinal. Liam se curou. Ele sobreviveu à mordida.

Enquanto o calouro dava meia volta e andava para longe dos dois, Stiles sentiu um peso em seu peito.

Liam é um lobisomem.

***

- Uau. - foi tudo o que Kira conseguiu dizer.

Scott suspirou. Com sua visão periférica, conseguia ver Stiles constantemente olhando para os lados, se certificando de que não tinha mais ninguém ali além deles. O Alpha não se lembrava de ver o amigo agitado daquele jeito em um longo tempo. Concluiu que essa situação toda com o Liam realmente o estava preocupando.

Eles haviam esperado o primeiro intervalo para falar com as meninas. Estavam no estacionamento da escola, no meio de dois ônibus vazios, conversando no menor tom de voz possível.

Scott estava tentando se manter calmo. Naquele momento, ele era um misto de culpa, vergonha e desespero.

- É, uau. - ele concordou. Sentiu a mão de Isaac apertar seu ombro levemente, lhe dando apoio.

- Vocês sabem que essa noite é lua cheia, não sabem? - disse Lydia.

- Aham. - os três garotos responderam em uníssono.

- Ótimo. - ela assentiu. - Ótimo, pelo menos vocês sabem.

- Já estamos até sentindo ela. - disse Isaac. - Liam também deve estar. Nós sabemos como controlar, mas ele? Ele vai ficar violento...

- Ainda melhor. - Lydia murmurou.

- ...Não vai nem precisar esperar anoitecer. Qualquer um que irritar ele... - ele ergueu três dedos e desenhou três linhas em sua própria garganta. - E não vai demorar muito para...

- Isaac. - Stiles o interrompeu. - Já estamos com uma imagem bem clara na cabeça. Muito obrigado.

- Foi isso o que aconteceu com o seu rosto? - Kira perguntou, olhando preocupada para Stiles.

- O quê? - o garoto levou a mão ao próprio rosto. Tinha uma eve marca avermelhada onde Liam o havia socado na noite anterior. - Ah, isso. Não, isso foi ontem. Longa história.

- Não foi ele, então?

- Foi. Ele é bem forte.

- Isso porque ele estava usando a força de humano dele. - disse Isaac. - Imaginem quando usar a de lobisomem.

- E o que nós fazemos, então? - perguntou Kira.

- Vigiamos ele. - foi Lydia quem respondeu. - Vigiamos enquanto ele estiver na escola. E depois...

- Levamos ele pra algum lugar. - Stiles completou. - Prendemos ele a noite. Era o que eu fazia com o Scott.

- Vamos sequestrar ele de novo? - perguntou o loiro.

- De novo? - Kira franziu as sobrancelhas.

- Longa história. - Stiles começou a a brincar com seus dedos. - Acho que podemos pedir ajuda pro Derek. Ele tem algemas, a gente podia usar.

De repente, todos ficaram em silêncio. Scott arregalou os olhos. Levou um tempo para Stiles levantar a cabeça e perceber que todos o estavam encarando.

- O quê? - ele olhou para seus braços e sua camiseta. - Tem alguma coisa em mim?

- Algemas? - Isaac levantou uma das sobrancelhas.

- Oh! - Stiles também arregalou os olhos. - Não! Não é o que vocês estão pensando! Mas... se bem que não é uma má ide...

- Ah meu Deus. - Scott o interrompeu, fazendo uma careta. - Pare. Por favor, pare. Ninguém tem uma ideia melhor do que a casa do Derek?

- Eu tenho. - disse Lydia. - A casa do lago da minha avó. Ela deixou a casa para minha mãe quando morreu. Eu posso pedir a chave.

- Casa do lago?

- É um tipo de chalé. Mas tem um porão. Só precisamos de umas correntes para... você sabe.

- Nós temos as correntes. Você ainda tem elas, não tem, Stiles?

Mas Scott não recebeu uma resposta. Stiles encarava as próprias mãos, ainda pensando nas algemas.

- Stiles? - ainda sem resposta. - Stiles!

- Não fizemos nada! - o garoto ergueu os braços, num sinal de rendição. Suas bochechas voltaram a queimar.

- O quê?

Stiles piscou. Levou alguns segundos para perceber que provavelmente tinha perdido uma parte importante da conversa.

- Do que nós estamos falando?

- Eu te perguntei se você ainda tem aquelas correntes.

- Que correntes?

- As que você usava pra me prender quando eu me transformei.

- Ah! - ele assentiu. - Sim, eu ainda tenho. Vamos seguir com esse plano então?

- Só que na casa do lago da Lydia.

- A casa que era da sua avó?

Lydia franziu as sobrancelhas.

- Como você sabe que era da minha avó?

- Eu... - a mente de Stiles voltou alguns anos, quando ele ainda gostava da ruiva e sabia cada detalhe de sua vida. . - Ah...

- Você acabou de nos dizer que era da sua avó. - disse Kira.

- Isso! - Stiles apontou para a Kitsune. - Você acabou de dizer, é por isso que eu sei.

A ruiva cruzou os braços.

- Pensei que você não estava ouvindo.

- Claro que eu estava. - ele riu, nervoso. - Vamos focar no plano, sim?

- Tudo bem. - ela concordou. - Podemos usar a casa dos barcos, ao invés do porão. Tem muita coisa lá, ele pode acabar quebrando algo. Tem vigas de apoio na casa dos barcos, podemos prende-lo em uma delas.

- Vocês estão esquecendo o mais importante. - Isaac se pronunciou. - Como é que vamos levar ele até lá? Vamos sequestra-lo de novo?

- Se for para impedi-lo de matar alguém, - disse Stiles. - eu voto para anestesiar ele com clorofórmio e jogar ele no lago.

Isaac pensou por uns segundos.

- Odeio dizer isso, mas na verdade pode ser uma boa ideia.

- Nós não vamos matar ou sequestrar ele! - Scott bufou.

- Então vamos ser mais inteligentes. - disse Lydia. - Dizemos para ele que tem uma festa lá e o convidamos.

- Você vai convidar um calouro pra sair? - Stiles provocou.

- Não, eu já gastei minha cota de adolescentes. Mas - ela sorriu. - se vamos enganar alguém, vamos usar o trapaceiro.

Então ela se virou para Kira. E todos os olhos ali se voltaram para Kira.

A Kitsune deu um passo para trás.

- Quem? Eu? - ela olhou para todos, esperando alguém discordar. O que não aconteceu. - Nem pensar. Eu não.

- Você, sim. - Lydia sorriu. - Sabe como eles chamam uma raposa fêmea? A conquistadora.

Eu? - ela parecia esperar que alguém risse, mas, de novo, isso não aconteceu. - O Stiles também é uma raposa!

- Hey! - Stiles cruzou os braços. - Ela disse raposa fêmea.

- Aham. - Isaac conteve uma risada. - Não é como se você estivesse gr...

- Isaac, eu juro por Deus...

- Tudo bem, tudo bem. - o loiro cedeu. - De qualquer jeito, o Liam já conhece o Stiles. E odeia ele, também. Você é bonita, Kira. Pode ser uma conquistadora.

Scott o olhou, indignado. Mas Isaac lhe lançou um olhar de: "concorda comigo".

- Ah... sim. - ele assentiu, se voltando para a amiga. - Muito bonita. Muito... conquistadora.

- Você pode fazer isso, Kira. - Lydia sorriu, satisfeita. - Seja uma conquistadora.

***

- Xerife?

- Derek? - John franziu as sobrancelhas. Olhou para os policiais com quem estava conversando, pediu uns minutos de licença e andou até sua sala. - Aconteceu alguma coisa.

- Eu tenho uma pista sobre o assassino sem boca.

John se sentou em sua cadeira. Atrás dele, em seu quadro, haviam fotos e reportagens penduradas por alfinetes. Nos últimos dias, ele tinha montado ali a sua investigação no caso de Sean Walcott. A última coisa que tinha colocado era o depoimento de Scott no hospital: "O assassino não tinha boca."

Ele se endireitou, ficando em alerta.

- Como?

- Ele veio até o meu loft.

- Atrás de você?

- Sim, mas eu não estava aqui. Ele acabou encontrando Peter.

- Peter está morto?

- Eu dei um jeito nele. Mas o assassino esqueceu uma coisa aqui. É uma espécie de gravador com um teclado. Peter disse que ele usava isso para se comunicar.

- Traga-o aqui. Vamos ver o que descobrimos.

- Já estou a caminho.

Derek encerrou a ligação. O xerife suspirou, soltando o corpo no encosto da cadeira. Estava trabalhando com Derek Hale em um caso. Quem diria.

***

Acabou que Kira realmente podia ser uma conquistadora. Eles descobriram onde Liam estava e mandaram Kira até ele. E ela conseguiu! Marcou um encontro com ele aquela noite. Ela iria até a casa do garoto naquela noite e o levaria até a casa do lago, onde aconteceria a "festa".

- Você convidou um calouro para sair. - Stiles provocou. - Cuidado, se partir o coração dele, pode ser denunciada por pedofilia.

- Ele é um ano mais novo que a gente. - a garota revirou os olhos. - Quer falar de pedofilia? Quantos anos o Derek tem, mesmo?

- Você joga sujo, Yukimura.

Depois daquilo, eles tiveram que passar o resto do dia seguindo o garoto discretamente. Eles se revesaram para observa-lo. E decidiram não deixar Stiles com essa função já que o garoto fácil demais e perdia Liam de vista.

Quando foi destituído de seu posto de stalker, Stiles andou sem rumo pela escola por um tempo. Andou até avistar Kira e Lydia sentadas em uma das mesas do refeitório. Ele mal as viu e Lydia já ergueu o baço, tentando chamar sua atenção.

Stiles andou até as meninas, se sentando junto com elas, ao lado de Kira. 

- Oi, gente. - sorriu para elas. 

Ele percebeu que elas estavam almoçando. No mesmo instante, seu estômago roncou. Ele tinha se esquecido que não tinha comido nada desde o café da manhã - pelo menos ele achava que tinha comido algo no café da manhã. -, e de repente, percebeu que estava morrendo de fome.

- Eu tenho que almoçar. - falou, para ninguém em específico. - Eu não trouxe nada, será que eu tenho algum dinheiro para compr...

Ele nem terminou a frase. Lydia pegou sua bolsa e retirou uma embalagem de isopor de dentro dela, assim como um garfo e uma faca embrulhados em um papel de restaurante. Era igual ao que a garota tinha comprado da última vez. Ela empurrou a embalagem e os talheres até o outro lado da mesa, onde Stiles estava.

- Ah... - Stiles olhou para Lydia e para a comida repetidamente. - Isso é...?

- Comida. - ela assentiu. - Coma.

- Está passando mal de novo?

- Isso.

- O que você tem?

- Problemas femininos.

Duas vezes por mês?

- Ainda é a mesma coisa, Stiles. - ela revirou os olhos. - Não vai embora tão facilmente assim.

Stiles olhou para Kira, querendo confirmar aquela história. Kira apenas assentiu da maneira mais realista que conseguiu, mas não convenceu o garoto.

- E... eu suponho que você também tenha trazido suco.

- Beba! - a ruiva tirou uma caixinha amarela de suco e a colocou na frente da embalagem de isopor.

- "Suco de caju". - Stiles pegou a caixinha e leu o rótulo. - O que você está fazendo, Lydia?

- O que quer dizer?

- Por que você está me alimentando?

- Eu não estou. É que não estou me sentindo bem para comer.

- Lydia, você está comendo. - o garoto apontou para o prato em frente à garota.

- Peixe. - ela acrescentou, apontando para a embalagem de isopor. - Não estou me sentindo bem para comer peixe.

- Oh, eu adoro peixe. - Stiles sorriu, mas logo voltou a fechar a cara. - Eu só não vou insistir nisso porque estou morrendo de fome. Mas eu ainda quero saber o que é que você está fazendo.

- Ainda não sei do que você está falando. - Lydia sorriu, levantou outra garfada até sua boca.

Stiles deu de ombros. Abriu a embalagem e começou a comer. Quase podia sentir seu estômago agradecendo-o. 

- Lydia, - ele chamou terminando de engolir antes de continuar a falar. - você conseguiu descobrir alguma coisa sobre o código?

- Oh, - Lyda e Kira trocaram olhares. - mais ou menos. Precisamos de uma chave.

- Uma chave?

- Uma senha. - reformulou. - É um código, precisa de uma senha para rodar. Acho que ele pode até ser parte de um tipo de servidor.

- E eu suponho que você não tenha ideia de qual seja essa senha?

- Nem um pouco. - balançou a cabeça, dando outra garfada em seu prato.

- Mas você escreveu todo o código. Por que as forças sobrenaturais te dariam o código, mas não a senha?

- Está dizendo que eu sei a senha?

- Estou dizendo que você não sabe ainda. Ela vai vir até você.

***

Stiles andava de um lado para o outro na casa do lago. Somente ele e Lydia estavam ali. A ruiva continuava dizendo para Stiles se acalmar, e que foi ele quem chegou cedo, não que todo mundo estava atrasado.

A casa do lago seria um lugar muito aconchegante em qualquer outra situação. Ela tinha aquele ar de lugar antigo, mas ao mesmo tempo era simples e estiloso. E era bem grande, tinha dois andares, um porão e a casa dos barcos. Sem falar que a vista para o lago era realmente bonita.

Mas Stiles não estava olhando o lago, estava olhando a estrada.

Conferiu a hora em seu celular de novo. Lydiaestava errada, Scott e Isaac já deviam estar ali. Kira só ia chegar com Liam em meia hora, mas Stiles já estava tão ansioso quanto era possível.

Olhou para suas mãos. Dez dedos. Cinco dedos em cada mão.

Bufou. Aquilo era inútil. Não funcionava mais.

Começou a bater o pé no chão. Olhava agitado pela janela da casa do lago, esperando ver a moto de Scott ou o carro de Kira chegar a qualquer instante.

Não conseguia parar de pensar nos diversos cenários que poderiam acontecer. Ou Liam acabaria entendendo o que estava acontecendo, seria compreensivo, e se tornaria amigo de todos para sempre, ou ele ia escapar das correntes e todos estariam mortos... para sempre, também.

Stiles não conseguia decidir qual era pior.

- Stiles.

O garoto pulou de susto quando Lydia o chamou. Colocou a mão em seu peito, sentindo seu coração bater forte. Ele direcionou seu olhar irritado para a ruiva.

- Lydia. - respondeu, respirando pesadamente.

- Estou te chamando já faz tempo. - ela cruzou os braços, fechando o rosto. - Você está me deixando nervosa.

- Como é?

- Você não para quieto. Está me deixando ansiosa.

- E como você acha que eu me sinto?

- Bom, então pare de se sentir ansioso.

- Eu literalmente não consigo. Eu fisicamente não consigo.

- Faça o que quiser, mas faça isso quieto.

- Oh, me desculpe. - o garoto fingiu que sua mão era um celular e a levou até a orelha. - Alô? Hiperatividade e crise de ansiedade? Será que você poderia diminuir um pouco agora? Você está incomodando a Lydia.

- Stiles. - a ruiva revirou os olhos. - Não tem porque...

- Ficar nervoso? - completou em um tom debochado. - Não sei se notou, mas Kira deve chegar em meia hora, e Scott e Isaac ainda não estão aqui. Se Liam chegar antes deles e nos atacar, nós vamos morrer. 

- Não vamos morrer. Eu saberia se fôssemos morrer.

Stiles abriu a boca, mas não conseguiu pensar em nada para dizer.

- Droga, é um ótimo argumento. - admitiu. - Mas seus poderes não são uma ciência exata. Ninguém sabe direito como funciona.

- Eu tenho certeza que eu sentiria se um desastre estivesse prestes a acontecer. - ela examinou o rosto do amigo. - Por que você acha que vai acontecer?

Stiles começou a tremer uma das pernas.

- Eu fiz algumas pesquisas antes de vir pra cá. - contou. - Sobre o Liam.

- Pesquisas?

- É, eu meio que roubei o histórico escolar dele. E outras coisas. Várias coisas. Mas o ponto é que eu descobri por que ele foi expulso da outra escola.

- É tão ruim assim?

- Pior. - levou a mão até o bolso, pegando seu celular. - Ele brigou com o Treinador da outra escola. E o carro dele ficou assim.

Entregou o celular para a amiga, mostrando na tela a foto que achou em suas "pesquisas". Stiles não sabia qual era a marca do carro, mas imaginou que seria um carro bonito antes de Liam chegar até ele. Todos os vidros estavam quebrados, a lataria estava toda amassada, e a pintura azul dele estava toda riscada. Em toda a lateral do veículo, uma frase foi riscada: "Isso é culpa sua."

- Uau. - ela arregalou os olhos. - Ele fez isso sozinho?

- Se alguém ajudou, ele não contou. - Stiles pegou seu celular de volta. - Não estamos só lidando com um novo lobisomem. Estamos lidando com um lobisomem violento. Esse garoto tem sérios problemas de raiva. Então sim, Lydia, eu estou nervoso. Talvez mais do que eu deveria, mas eu não tenho mais os meus remédios, então se eu começar a dançar do nada, eu tenho uma desculpa completamente plausív...

- Não tem mais seus remédios? - ela franziu as sobrancelhas por um momento. - Ah, faz sentido. Você não pode tomar mais.

- Exatamente. Eu... - ele se interrompeu. - Espera, como assim eu não posso tomar mais?

Lydia pareceu confusa. Ela não teve tempo de explicar. Um barulho de moto interrompeu os dois. Stiles se virou para a janela, vendo a Scott estacionar a moto ao lado de seu jipe. Isaac estava logo atrás do Alpha, abraçando seu corpo para se segurar. Stiles não pôde deixar de imaginar uma cena de filme romântico com aqueles dois.

Que horror. - tremeu levemente. - Por que você faz isso comigo, cérebro?

- Chegaram. - disse Lydia. - Vamos falar com eles.

***

O nervosismo de Stiles diminuiu nem um pouco depois Scott e Isaac chegaram. Mas aumentou de novo quando Kira chegou, trazendo Liam com ela.

Os quatro esperaram em silêncio dentro da casa escura enquanto Kira estacionava o carro e trazia Liam para dentro. O pé de Stiles batia no chão num ritmo quase frenético. Ele alternava o olhar entre a porta e a mala que havia trazido. A mala estava meio que escondida atrás do sofá. Dentro dela, estavam as correntes que Stiles havia usado no ano anterior para prender Scott nas suas primeiras luas cheias.

Stiles suspirou. Aquilo parecia fazer tanto tempo.

Seu coração acelerou quando a porta se abriu. Respirou fundo.

Kira e Liam entraram na sala. A Kitsune garantiu que ele entrasse primeiro, assim ela poderia fechar a porta atrás dele. 

Liam arregalou os olhos para os quatro adolescentes parados na sala, encarando-o. Stiles acenou, se sentindo mais confiante com todos os seus amigos ali. 

O calouro se virou para Kira, com um olhar traído. Stiles pôde ver que Kira se sentiu mal.

- Desculpa. - ela deu de ombros, devolvendo-lhe  aquele típico olhar de mãe que dizia: "isso é melhor pra você.".

- O que diabos é isso? - Liam bufou, não perguntando para alguém em particular.

- Pense nisso com uma intervenção. - foi Stiles quem respondeu. - Você tem um problema, Liam.

Scott deu um passo para frente.

- E nós somos os únicos que podemos ajudar.

***

Havia acabado de anoitecer quando Derek chegou na delegacia. 

Respirou fundo antes de descer de seu carro e entrar. Ele ia trabalhar com o xerife. O pai de Stiles. O pai de seu namorado. Tecnicamente seu sogro. Nada demais.

Se ele fizesse algo errado, o xerife nunca mais iria esquecer. E se ele dissesse algo? Oh, Deus, se o xerife se irritasse por alguma coisa, podia prende-lo por pedofilia.

Derek balançou a cabeça. Aquilo nunca aconteceria. Ele estava aprendendo a ser paranoico com Stiles.

Quando finalmente entrou na delegacia, John o esperava no balcão da recepção. O mais velho sinalizou para Derek o seguisse, e os dois andaram até o escritório do xerife.

Derek o explicou mais uma vez tudo o que havia acontecido: ele chegou em casa e encontrou Peter no chão, quase morto, com um pequeno machado enterrado em seu peito. Depois de queimar a ferida para se livrar do veneno de wolfsbane, Derek encontrou aquele aparelho, um tipo de gravador - que mais parecia um celular. -, acoplado com um teclado pequeno. Ele era preso à amarras, que foram feitas especialmente para se encaixarem no braço do assassino. Aquilo funcionava, Derek havia testado. Era só prender as amarras em seu pulso, digitar uma frase no teclado, e o gravador a falava com uma voz mecânica quase fantasmagórica.

O beta podia perceber que o policial parecia mais tenso e estressado com aquele caso. Não que Derek tivesse convivido com o homem tempo o suficiente para saber como ele lidava com os outros casos, mas Derek era bom el ler emoções. Tinha algo a mais o incomodando naquele caso. 

- Eu ainda não entendo como esse cara não tem boca.  - disse o xerife, enquanto pegava o aparelho em suas mãos. - Como ele consegue comer?

Derek piscou.

- Oh, Peter não teve a chance de perguntar. Ele estava lutando com um machado preso em seu peito.

Apesar da seriedade da situação, o xerife sorriu.

- Está aprendendo sarcasmo com Stiles? - ele disse, os olhos ainda focados no objeto do assassino sem boca em suas mãos.

- Oh. - Derek controlou sua própria vontade de sorrir. - Desculpe, senhor, mas seu filho é uma má influência.

- Eu sei, eu sei. Acredite. - o homem suspirou, parecendo cansado. - De qualquer forma, quem anda por ai com um machado?

O oficial Parrish escolheu aquele momento para entrar no escritório, escutando a última frase de seu chefe.

- Eu costumava carregar um para a remoção de explosivos no Afeganistão. - ele disse, dando de ombros.

Derek o olhou, impressionado. Parrish parecia muito novo para ter estado em uma zona de guerra como o Afeganistão. Mas daí, a guerra não esperava ninguém. O beta se dividiu em sentimentos de admiração e pena pelo oficial.

- É do exército. - Parrish continuou. - Isso daí também. - apontou para o aparelho estranho nas mãos do xerife.

- Sabe para que ele é usado? - perguntou Derek.

O oficial franziu as sobrancelhas, pegando o objeto e o observando mais de perto.

- Parece que foi modificado. - se aproximou.

Derek e o xerife trocaram olhares. John assentiu para o beta, como se dissesse que eles podiam confiar em Parrish. Então ele andou até a porta do escritório e a fechou.

- Mostre para nós.

***

- Lobisomem? - Liam repetiu, apontando para Scott.

Scott assentiu. O calouro então se virou para Isaac.

- Lobisomem beta? - apontou para Lydia. - Banshee? - e então para Kira. - Raposa?

- Kitsune. - ela corrigiu. - Mas raposa também serve.

- É claro. - Liam balançou a cabeça.- E você?

Stiles foi pego de surpresa.

- Eu? Ah... - colocou as mãos em sua cintura. - Por um tempo, eu fui possuído por um espírito maligno. Ele... era muito mau.

- Aham. - cruzou os braços. - E o que você é agora?

- Humano. - Stiles deu de ombros.

Isaac não pôde conter uma pequena risada.

- Na medida do possível. - murmurou.

- Cala a boca, Isaac. - Stiles bufou.

- Isso é para mim? - Liam apontou para algo no chão. Stiles se virou, vendo que a mala com as correntes não estava tão escondidas quando ele pensava. E ela estava aberta.

Isso é muito cena de terror. - pensou. - Pobre Liam.

- Aham. - foi Isaac quem respondeu. - É pra quando você surtar.

- Surtar, claro. - havia sarcasmo e raiva em cada palavra de Liam. - Porque eu sou um lobisomem.

- Assim como eu. - o loiro brilhou seus olhos amarelos para o mais novo, que deu um passo para trás.

- Como você fez isso? - sua voz vacilou por um momento.

- Você vai aprender. - Scott deu um passo para frente. - Mas, primeiro, você tem que passar pela lua cheia.

- A lua já está cheia.

- E você está começando a sentir alguma coisa, não está?

- Eu sinto que estou cercado por um bando de doidos psicóticos. Vocês são completamente pirados! - se virou para Isaac. Agora, ele estava gritando. - Eu não sei como você fez o lance com os olhos, e eu não me importo! Eu vou sair daqui agora! E se algum de vocês tentar me impedir, eu juro por Deus que eu vou...

De repente ele se interrompeu. Suas palavras raivosas se tornaram grunhidos em sua garganta. Colocou as mãos em sua cabeça, agarrando seus cabelos enquanto gritava com uma expressão de dor.

- Liam? - Scott foi até ele, preocupado. - O que foi?

- Você não está ouvindo isso? - respondeu o calouro, com uma voz estrangulada.

Stiles demorou para entender o que estava acontecendo. Do lado de fora da casa, luzes de faróis de carros surgiram, junto com o barulho de motores e buzinas. Tinha mais gente ali, e não eram poucas.

- Você contou a alguém sobre essa festa? - Lydia perguntou.

Liam se ajoelhou no chão, ainda com uma expressão de dor, mas agora, respirando pesadamente.

- Meu amigo Mason. - conseguiu responder. Se virou para Kira, que havia andado até a janela para ver a situação do lado de fora. - Você disse que era uma festa!

- E quem Mason convidou? - Stiles previu uma futura dor de cabeça.

- Todo mundo. - foi Kira quem respondeu.

Liam grunhiu. Stiles percebeu que as garras do garoto haviam aparecido. Ainda ajoelhado no chão, Liam se inclinou para frente, gritando enquanto fincava suas novas garras no chão.

- O piso! - Lydia exclamou. - Tirem ele do piso!

O garoto rugiu. Seus olhos já estavam amarelos. Scott correu até ele, se abaixando ao seu lado.

- Temos que leva-lo para a casa dos barcos agora!

Isaac e Kira foram ajuda-lo. Os três levantaram Liam do chão e o arrastaram para o outro lado da sala.

- E o que a gente faz com as hordas de adolescentes que estão do outro lado da porta? - Lydia abriu os braços, exasperada.

- Lydia, - Stiles foi até ela, enquanto os outros quatro saíram da sala com Liam. - Quem faz as melhores festas de Beacon Hills?

- O quê? - franziu as sobrancelhas. - Eu, é claro!

- Certo!. Então faça uma festa!

Lydia bufou.

- Você vem comigo! - ela agarrou a manga do suéter azul de Stiles e o puxou, andando com ele até a porta. Stiles viu a garota respirar fundo antes de abrir-la.

Wow. - foi a primeira coisa que ele pensou. Realmente havia uma horda de adolescentes do outro lado da porta. Stiles não sabia quem aquele tal de Mason era, mas, aparentemente, ele conhecia muitas pessoas. Tipo, muitas pessoas mesmo.

- Hey! - um garoto de pele morena se aproximou deles.

Ele com certeza era do primeiro ano. Estava uma camisa, o que Stiles achou elegante demais para uma festa como aquela. Mas daí, não era para ter uma festa ali, então Stiles não podia estabelecer uma vestimenta apropriada para a ocasião. Ele deu de ombros, aceitando que o garoto estava bem vestido.

- Ah... - o calouro continuou. - Estamos no lugar certo?

- Para a festa? - o garoto ao lado perguntou.

Lydia forçou um sorrido.

- Com certeza.


Notas Finais


gente, eu sei q esse cap foi pequeno, mas ele ia ficar estranho se terminasse em qualquer outro momento, nn ia encaixar hauhauhauha
comentem! me digam o que achara :3


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