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História Trust me - Espairecer


Escrita por: LauraEllyse

Notas do Autor


OEEEEEEEEEEEEEEEEE, OLHA EU A ESSA HORA DA MADRUGADA POSTANDO CAPITULO HIHIHIIIIIII...

Capítulo 83 - Espairecer


Isaac só não ficou mais nervoso porque podia ouvir o movimento dentro da casa assim que tocou a campainha. Malia e seu pai estavam ali, por sorte ainda estavam acordados. O Sr. Tate parecia estar sentado no sofá, assistindo TV. O garoto ouviu quando se levantou e andou um pouco pela casa até finalmente chegar à porta. Quando a abriu, não tinha uma expressão nada amigável.

- Posso ajudar? - grunhiu, rabugento. - São dez horas da noite.

Okay, Isaac. - se motivou. - É agora, seja o mais gay possível.

Abriu um sorriso exagerado.

- Hellow! - menos, Isaac, menos. - Sr. Tate, não é?! Meu nome é Isaac, sou amigo da Malia. Ela está pronta?

- Pronta? - o homem franziu as sobrancelhas.

Antes que pudesse fazer mais perguntas, Malia apareceu ao seu lado na porta. Vestia roupas que pareciam literalmente feitas para a neve, botas de cano alto, e tinha o cabelo despenteado. Também não parecia nada feliz. Na verdade, Isaac não conseguia se lembrar de nenhuma vez que a vira feliz.

Ela realmente é parente do Derek.

- Ah... Alec? - a coiote olhou para os lados, procurando por mais pessoas. - O que você está fazendo aqui?

Alec?

- Como assim "o que eu estou fazendo aqui", sua louca? - Deus, eu me odeio nesse momento. - Você esqueceu? Miga, o Scott está nos esperando!

- Eu achei que era amanhã. - a garota cruzou os braços, confusa.

O beta resistiu à tentação de dar um tapa na própria cara, tamanha era a sua frustração. Se tinha uma coisa que ele não tinha paciência, era gente sonsa.

Nota para si mesmo: ficar oito anos na floresta não faz bem para suas habilidades sociais ou lógicas.

Por sorte, Isaac não precisou pensar em nada para dizer, o Sr. Tate foi mais rápido:

- Espera, vocês vão sair? Malia, é quase meia-noite!

A morena fez uma careta para o pai.

- São dez horas.

- Já são dez horas? - o loiro fingiu surpresa. - Oh my God, estamos atrasados! Ah, culpa minha. Desculpa, era pra eu ter vindo te buscar bem antes.

- Ah, é? - o Sr. Tate cruzou os braços, cético. - E por que não veio?

- Eu... - merda. - Eu estava... no hospital.

- No hospital?

- Aham. Sabe como é, estou com uns... - gesticulou a área da barriga. - problemas intestinais ultimamente. Mas sabe como são os hospitais, né? Você espera três horas pra ser atendido só pra eles te darem uma receita. - revirou os olhos.

- Aham... - ele ainda não parecia convencido.

- É, então... - engoliu em seco. Estava ficando sem coisas para dizer. - Por isso que eu, hã, demorei tanto... tempo.

- Certo... - se voltou para a garota. - Quando foi que você o conheceu?

Isaac a lançou um olhar, daquele tipo que é uma comunicação silenciosa. Era um olhar que dizia: "por favor, concorde com tudo o que eu disser e venha comigo". Malia não pareceu entender muito bem, a beta apenas franziu as sobrancelhas e encarou o loiro como se ele fosse um idiota esquisito.

- Há pouco tempo. Eu... - ela fez uma pausa antes de continuar. Oh, Deus, ela ia estragar tudo. Isaac superestimou suas habilidades ao pensar que ela entenderia que devia mentir. Ótimo, tinha mexido na caixa de maquiagem de Melissa para nada. - Eu... encontrei ele e uns amigos em uma lanchonete. Começamos a conversar.

Wow. - Isaac levantou as sobrancelhas, verdadeiramente impressionado. - Ela sabe mentir! Oito anos na floresta, como será que ela aprendeu?

- Eu encontrei eles lá. - ela continuou. - Eu estava lá pra... ah... comer... comida... de lanchonete. Sabe, cozida e rosquinhas, também.

É, falei cedo demais.

- Foram eles e os amigos que você foi encontrar hoje?

- Aham! - Isaac resolveu responder, quem sabe o que é que Malia ia dizer. Forçou um sorriso, e se assegurou de que todos os movimentos fossem exagerados. - A gente só se conhece há uns dias, e olha, foi uma verdadeira obra do destino, Sr. Tate. Bem que o meu horóscopo falou que eu ia conhecer alguém novo! A gente se conectou num nível superior. Aí o Scott, - colocou a mão no peito de forma dramática. - meu tudo, deu a ideia de fazermos uma festa do pijama!

Deus, que nojo de mim mesmo.

Resista, Isaac, resista.

- Vai ser uma coisa bem casual. - continuou, apesar de sentir a garganta seca com a tensão. - Só uns filmes, uns lanchinhos, jogar conversa fora. Sabe, coisas pra gente se conectar.

- O que vocês vão assistir? - Sr. Tate perguntou, parecia temer a resposta.

É, eu fui gay demais, e agora ele deve achar que vamos assistir pornô, ou alguma coisa assim.

- Disney, é claro! - o loiro forçou uma risadinha, tentando lembrar nomes de filmes da Disney. - Ah... Pequena Sereia... Rei Leão... A... Princesa... Encantada... e seus amigos.

- Aham, - ele pareceu aliviado, mas ainda suspeitoso. - e começa a meia-noite?

- Dez horas. - Malia corrigiu, em voz baixa.

- Claro, meu bem. - revirou os olhos exageradamente. - Toda festa do pijama começa de madrugada. Não somos como a Vanessa e as amigas dela, pffff... aquelas nerds.

Nossa senhora, do que eu estou falando? Será que não dá só pra sair correndo? Mas que cara chato.

- Já que já é tão tarde, - o mais velho cruzou os braços. - vocês não querem deixar pra fazer isso um outro dia?

Era só o que faltava. - Isaac comprimiu os lábios. - Um pack de Alphas, um demônio japonês, assassinos profissionais, e agora, um pai super protetor. Ele é o pior de todos.

- Querido, bobagem! - fingiu uma risada. - Ainda temos a noite toda! Que horas você acha que a diversão começa? - suas bochechas queimaram com a vergonha que sentia de si mesmo. - Sabe como é. Nós, jovens, só começamos os rolês a essa hora. Haha... ah... é. Nossa... nossa geração não precisa dormir.

O mais velho franziu a testa, parecia fatigado com a presença do loiro. Bom, o garoto não podia culpá-lo.

- Hã... está bem... - Sr. Tate olhou desconfiado da filha para o loiro, então de volta para Malia. - Você... não me contou isso.

Malia ficou parada. Isaac podia quase ver as engrenagens em seu cérebro trabalhando.

Por favor, entenda a situação. Por favor, entenda a situação. Por favor, entenda a situação...

- Eu esqueci. - foi o que acabou dizendo. - E, também, eu não preciso te contar tudo.

- Malia, a gente já conversou sobre isso...

- Eu me virei muito bem até agora.

- Isso não quer dizer que...

- Olha, eu vou com ele. Tchau, pai.

Então ela simplesmente atravessou a porta, indo na direção de Isaac. O loiro aproveitou a oportunidade e começou a dar passos apressados para trás, incentivando a garota a fazer o mesmo. Se não fossem agora, o mais velho poderia entender o quão frágil aquela mentira era e tudo estaria arruinado. O beta não tinha ido até ali e feito aquela cena para nada.

- Malia!

- Tchau, pai!

- Espera. - abriu os braços, indignado. - Você só vai indo?

- Sim, foi o que eu acabei de dizer. - Malia o olhou como se fosse um idiota, sem entender o porquê da pergunta.

- Mas você não vai levar roupas, ou...

- Não, não precisa. - Isaac a puxou pelo braço. Quanto mais rápido saíssem dali, melhor. - Eu empresto alguma coisa! Eu tenho, hã, vestidos. - exagerado demais, Isaac, para.

- Você está com o seu celular?

- Sim! - a morena tirou o aparelho do bolso da calça e lhe mostrou.

- Vocês vão a pé? - eles continuaram andando para trás na calçada. - É meia noite! Deixa que eu...

- Não, meu carro está logo ali na esquina! - o beta ia tropeçando nas próprias palavras, já que tinha que ir inventando enquanto fugiam. Cada frase ele falava com um volume mais alto, já que iam se afastando cada vez mais, deixando o mais velho sozinho em sua casa, extremamente confuso. - Eu estacionei ali porque... porque... eu tenho TOC, só consigo estacionar em frente de casas vermelhas! Ter doenças mentais é uma coisa bastante séria! Temos que cuidar de nossa saúde mental, não acha?! Okay, estamos indo, tchau Sr. Tate! - finalmente virou de costas para ele, incentivando Malia a fazer o mesmo.

- Que horas você volta amanhã?! Malia?!

A garota não respondeu, só apertou o passo. Um grande aroma de raiva e conflito vinha dela. Quando Isaac falou com ela, era quase um sussurro:

- Não anda tão rápido, não é pra parecer que estamos correndo.

- Quer dizer que não é pra parecer que você me fez fugir de casa?

- Você é mais esperta do que eu pensei.

- O quê?

- Tá, talvez nem tanto.

- Quer me dizer o que está acontecendo?

- O que você acha que está acontecendo? Coisas de lobisomem.

- Eu não acredito que falou com o meu pai! Ele não precisava ser envolvido nisso.

- Ah, não? Qual seria o plano, então? Você ia sair escondida?

- Dãh.

- E se ele acordasse no meio da noite pra beber água, visse que você não estava lá e chamasse a polícia? O que ia fazer?

- Ele não ia chamar a polícia.

- Você desapareceu por oito anos. É claro que ele ia chamar a polícia.

Isaac suspirou aliviado quando finalmente viraram a esquina, saindo do campo de visão do Sr. Tate.

- Ele não está nos seguindo, né? - aguçou sua audição. - Não, ele voltou pra casa. É, até que não fizemos um péssimo trabalho mentindo. - continuou andando, sinalizando com a mão que devia ser seguido.

- Cadê o seu carro?

- Que carro? Ah! Não, não, não tenho carro. Vamos a pé.

- Então por que disse que tinha um?

- Porque seu pai não ia nos deixar ir andando.

- Por que não?

- Sério? Você realmente não entende isso? - suspirou, vendo a expressão aborrecida de Malia. - São quase onze horas, é perigoso andar na rua sozinho.

- Eu não estou sozinha.

- É, mas eu não conto.

- Por que não?

- Meu Deus, não é possível que você seja tão ingênua. Ele não me conhece. Eu precisei fazer toda aquela cena pra ele te deixar sair.

- Você fez uma cena?

- Claro! Sabe, eu fiquei agindo estranho, sendo exagerado, falando do meu horoscopo. Eu não sou assim.

- Eu não sei, não te conheço.

- Bom, prazer. Não sou daquele jeito.

-Então por que...

- Olha, eu pensei bastante nisso. Imaginei que seu pai ia ser um daqueles caras que manteve os pensamentos preconceituosos, mas achou jeitos alternativos de executá-los numa tentativa de se adequar às novas gerações. Então, além de ser super protetor porque você sumiu por oito anos, ele também não ia te deixar sair com um cara no meio da noite. Agora, se for um gay, não representa nenhum "perigo" para a filhinha dele. E ele pode até ser homofóbico, mas não pode declarar abertamente, então eu meio que confundi a cabeça dele com o que seria politicamente correto fazer naquela situação. Entendeu?

- Não.

- É claro que não, eu estou tentando explicar complexos comportamentos sociais para um coiote. Ah... - pensou um pouco. - Eu fingi ser super gay pra confundir seu pai, pra ele te deixar sair, porque um cara gay não vai querer te pegar.

- Você fingiu?

- Ah... tá, eu não fingi. Mas eu agi de acordo com os esteriótipos ofensivos que a geração do seu pai pensa.

- Agiu de acordo com o quê? - ela estava começando a se estressar.

- Esterio... ah, tá. Você não vai entender. Eu agi como o seu pai acha que gays são. Então, tipo, bem mais gay do que eu sou normalmente.

- Por isso o cachecol?

Isaac franziu as sobrancelhas, indignado. Espalmou as mãos sobre o tecido em seu pescoço, como se o protegesse.

- Não! - sua voz subiu algumas oitavas. - Por isso o batom! O cachecol não é gay.

- Ah, tá. - revirou os olhos. Suas mãos se fecharam em punhos e ela parou no lugar. - Olha, eu vou pra casa.

- O quê?! - Isaac abriu os abraços, numa pose desconformada.

- Você estava até agora me explicando como você enganou o meu pai, e ainda me fez mentir pra ele!

- Hey, hey, eu não te fiz fazer nada.

- Apareceu na minha casa no meio da noite! O que é que eu devia dizer? "Ah, pai, esse é o namorado idiota do Alpha idiota que ia me fazer me transformar de novo, mas ele não conseguiu, então chamou o seu amigo idiota, e agora o namorado idiota dele vai me ajudar."

- Vejo que o quanto gostamos um do outro é recíproco. - ela rosnou, fazendo-o aumentar a distância entre os dois. - Sendo sincero, eu coloquei zero confiança em você. Achei mesmo que você ia simplesmente falar tudo isso sem pensar.

- O que estava fazendo na minha casa? Como sabia que...

- Como eu sabia onde era a sua casa? Será que você esqueceu que foi o meu pack que te salvou?

- É, belo salvamento. Da próxima vez, deixem a pessoa em perigo, vai estar bem melhor sem vocês.

- Você não diria isso se soubesse quantas pessoas a gente realmente salva diariamente.

- Para! - seu tom de voz aumentou consideravelmente. - Para onde estamos indo? O que está fazendo aqui?

- Olha, eu só quero ajudar o Scott, okay?

- Ajudar ele?

- É, eu não te conheço o suficiente para me importar em te ajudar. Mas eu amo o Scott, quero ajudar ele, e ele quer ajudar você.

- O quê?

- Informação demais, né? Oito anos na floresta não faz bem para o raciocínio lógico.

- Como você vai ajudar ele?

- Ajudando você.

- Mas...

- Olha, será que dá pra gente continuar andando? Eu vou explicar tudo.

A beta pensou por um momento, então bufou, frustrada. Deu um passo para o lado, abrindo caminho para o outro continuar. Quando Isaac seguiu em frente, ela acompanhou.

- Para onde estamos indo?

- Confia em mim, vai ajudar.

- Eu não confio em você.

- Tá, não precisa confiar. Mas acredite quando eu digo que vai ajudar.

- Eu estou cansada de vocês falando isso. Scott, Stiles, aquele outro cara. Todos disseram que iam me ajudar a transformar, mas eu ainda estou aqui.

- E eu estou cansado de te ouvir reclamando.

- Como é que é?

- Você me ouviu. Pelo amor de Deus, desliga um pouco, sai do seu pedestal. Se não quiséssemos ajudar, não estaríamos perdendo nosso tempo.

- Parece que eu estou perdendo meu tempo com vocês. - então ela parou no lugar, de novo.

Isaac parou também, suspirando. Deus, por que aquilo tinha que ser tão difícil? Por que pessoas boas tinham que passar por aquilo?

- Olha. - se virou para a garota. - Eu não gosto de você.

- Também não.

- Ótimo. Então você concorda que não faz sentido eu ter tido todo o trabalho de descobrir onde você mora, vir até aqui pra te chamar, fazer toda aquela cena com o seu pai, e te levar a pé para um lugar que eu acho que pode te ajudar. Não faz sentido eu ter feito tudo isso por você, certo? Só de falar já me deu preguiça.

- Mas você veio mesmo assim.

- Mas eu vim mesmo assim. Lembra o porquê?

- Scott.

- Exatamente. O Scott é a pessoa mais pura e boa desse mundo. E você lembra o que ele quer?

- Me ajudar.

- Isso mesmo. E sabe quem realmente ama o Scott?

- Para de falar comigo como se eu fosse idiota!

- Então para de agir... - respirou fundo, tentando manter a calma. - Scott quer te ajudar, eu amo o Scott. Então eu vou te ajudar, por causa dele. Mas eu não gosto de você. E já me arrependi de ter vindo, mas aqui estou. Então, será que dá pra você colaborar?

- Onde você tá me levando?

- Onde eu vou quando tenho muita coisa na cabeça.

- Ah, tá. - grunhiu. - E o que é que você tem pra se preocupar?

- O quê? Você acha que é a única pessoa no mundo que tem problemas?

- Você matou sua família inteira, por acaso?

- Uau, oito anos sozinha na floresta e você esquece que existem outras pessoas além de você.

- Você não sabe se esse lugar vai me ajudar, meus problemas são bem maiores que os seus.

- Que tal a gente ir descobrir?

- Eu posso estar perdendo tempo aqui.

- Ah, sério? O que mais você tem lá fazer hoje?

- Eu tenho que treinar. 

O loiro cruzou os braços, sentindo seus batimentos cardíacos pulsarem em seus ouvidos, aquela garota tornava tudo tão difícil. Observou-a tirar algo redondo do bolso da calça, o objeto era familiar.

- O cara me deu pra treinar. - Malia explicou, mostrando o triskele no amuleto. - O... o cara fortão, olhos bonitos, cabelo escuro, não lembro o nome dele. O namorado do Stiles.

- É, eu sei quem é. O nome dele é Derek. Ele te deu isso aí?

- Você sabe o que é?

- Alpha, beta e ômega. Te ajuda a concentrar.

- O que você acha que vai me ajudar mais? Esse lugar aí, ou isso aqui? - ao contrário do que o beta esperava, o tom dela não era arrogante e debochado, era uma pergunta genuína.

Isaac esfregou os olhos. É, Malia era a pessoa mais irritante que já havia conhecido, mas não era justo ficar aborrecido com ela, a garota não tinha culpa de não ter empatia ou habilidades sociais. O loiro tinha que achar um jeito de ficar acima daqueles empecilhos e tratá-la da melhor maneira possível.

Eu sou um ótimo namorado.

- Escuta, - falou o mais calmo que pôde. - eu tenho bastante experiência com humanos. Convivo com muitos diariamente. E eu mesmo sou um humano. Então acredite quando eu digo que exercícios de concentração não vão te ajudar agora, porque é extremamente difícil para humanos se concentrarem quando estão com a cabeça cheia. Aliás, é difícil fazer qualquer coisa. Então anda, me ajuda a te ajudar.

A coiote precisou de alguns instantes para pensar, então assentiu. Isaac sinalizou para que voltassem a andar, e então seguiram caminho.

- Eu não entendo. - ela bufou.

- Não entende o quê?

- Por que é que o Scott quer me ajudar?

- Ah, não se sinta especial. Scott quer ajudar todo mundo.

- Por quê?

- Porque ele é bom demais pra esse mundo.

- Não me parece inteligente.

- Talvez isso seja um pouco autodestrutivo, mas a gente não olha por esse lado. - por alguns metros, andaram em silêncio. - Sabe, todos no nosso pack são assim. Prontos para ajudar quem precisar, e pra proteger um ao outro. Com eles, você pode ter certeza de que nunca vai estar sozinho.

Isaac não olhou para a garota, com medo de que sua expressão indicasse que a propaganda que fizera havia sido cafona demais. Bom, ele tinha que fazer ela querer ficar de algum jeito, certo?

- Todos? - foi sua resposta. - Até você?

- Hey, eu estou aqui, não estou?

- É, mas você não quer me ajudar de verdade.

- Tá, mas eu não sou um bom exemplo de pessoa. O resto do pack sim, eles são diferentes.

- Então por que deixam você ficar com eles?

O loiro piscou. Não estava esperando por essa.

- Eu transo muito bem. - deu de ombros. - E eu sou lindo.

Malia assentiu, claramente não entendendo o vício do garoto de desviar de perguntas importantes usando humor.

- Estou brincando. - Isaac bufou. - Eles não me "deixam" ficar com eles, não é assim. Somos todos amigos, confiamos uns nos outros.

- Há quanto tempo vocês se conhecem?

- Ah, depende. - atravessou a rua, guiando a garota para que virassem a esquina. - Scott e Stiles se conhecem a vida toda. O resto de nós... não sei. Menos de um ano.

- Uau, vocês confiam rápido.

- Quando se tem crises de vida ou morte todos os dias, parece que faz mais tempo. Não sei o que te dizer. Quando te salvam, ou vice-versa, você só... se conecta com a pessoa.

- Eu não me sinto conectada com vocês.

- É, mas você disse que não tínhamos te salvado, lembra?

Ela sorriu de lado, assentindo. Não disseram mais nada depois daquilo, e Isaac não sentiu que havia alguma necessidade. Malia não podia ser tão ingênua ao ponto de não entender o que eles queriam, certo? O único jeito de ser mais óbvio seria escrever "seja do pack" na testa.

Resolveu dar-lhe tempo para pensar. Podia sentir que ela estava bem mais relaxada agora. Isaac não sabia se os outros haviam falado com ela sobre o pack, mas imaginou que sim, porque a impressão que tinha era de que ela queria estar com eles, mas havia alguma coisa a segurando.

Viraram outra esquina. Estavam andando a pelo menos meia hora, se não fossem lobisomens, estariam cansados demais para o plano funcionar.

- Ainda estamos muito longe? - Malia bufou. - Você devia ter chamado um táxi, sei lá.

- E você tem dinheiro sobrando, por acaso? Além disso, - sorriu de lado. - estamos perto. Concentra a audição, já dá pra ouvir daqui.

Ela fez uma careta, então deu de ombros.

- Ouvir o quê?

- A música.

Andaram mais alguns quarteirões até que Malia pudesse ver do que estava falando. Isaac não sabia descrever o lugar, Sinema. Tinha música, bebidas pra comprar, noites temáticas, aquelas pulseirinhas e bastões luminosos de rave, era uma boate, certo?

- Por aqui. - instruiu a garota a seguir pela fundos. Deram a volta na propriedade até encontrarem a porta de trás.

- Nós vamos invadir? - a coiote cruzou os braços.

- Claro que não, não sou um criminoso. - pegou o telefone no bolso, mandando uma massagem para Nathan. - É só esperar.

Depois de dois minutos, a porta se abriu, e lá estava Nate, assim como tinham combinado.

O menor sorriu abertamente, abrindo os braços. Usava uma camiseta laranja e calça simples, roupas que com certeza não combinavam com um lugar como aquele. Se o tio de Nathan não fosse o proprietário, ele nunca teria conseguido o emprego. Os únicos que conseguiam trabalhar ali eram pessoas atraentes que aceitavam se vestir sugestivamente todas as noites para atiçar clientes.

- Isy! - apressou alguns passos para frente até abraçado o loiro, dando alguns pulinhos de felicidade.

- Hey, Nate. - Isaac não conteve o sorriso ao abraçá-lo de volta.

- Cara, - se separou do outro. - quando você me mandou mensagem, eu nem acreditei. - colocou as mãos na cintura, sem parar de sorrir.

- Por que não? Assim você me ofende.

- Você nunca veio antes! Eu já tinha até desistido de você.

- É como o amor da sua vida uma vez disse: nunca diga nunca.

- Vai se ferrar, Isy. - riu.

- Pode fingir o quanto quiser, mas eu sei que embaixo de todo esse exterior de garoto gay, tem um interior de um garotinho ainda mais gay que ama o Justin Bieber e faria tudo por ele.

- Eu tinha doze anos.

- Isso não é desculpa.

- Eu nunca devia ter te contado isso.

- Não me culpe pelos seus erros.

- Okay, eu estou muito me arrependendo de ter te convidado.

- O que está acontecendo? - Malia os interrompeu, parecendo irritada.

- Hey, eu não te conheço. - Nathan acenou, simpático como sempre. - Meu nome é Nathan.

Eles ficaram esperando a garota se apresentar, quando não o fez, Isaac limpou a garganta.

- Essa é a Malia. Conheci ela faz pouco tempo. A vida dela está uma merda nesse momento, imaginei que ela precisava disso.

- Ah, - Nate piscou. - então não é pra você?

- Não, eu tô bem, cara. Eu te diria se não estivesse.

- Graças a Deus. - colocou a mão no peito, suspirando. - Eu achei que você e o Scott tinham brigado, sei lá. Estava preocupado, mas como você não disse nada, eu também...

- Relaxa. Quando a minha vida estiver tão ferrada quanto a dela, - apontou a garota. - eu venho passar a noite.

- Okay, então. - abriu caminho. - Bem vindos ao Sinema! Anda, vamos entrar.

Isaac deu passos para frente e indicou com a cabeça para que a garota o seguisse. Malia hesitou no primeiro momento, mas concordou, ainda desconfiada.

- Isy, - Nate disse antes que entrassem. - você está de batom?

- Aham. - deu de ombros.

- Ficou ótimo em você!

A parte de trás não tinha nada de especial, só um corredor vazio que guiava até o salão, onde todas as pessoas estavam.

- Ali - Nathan apontou para a parede, onde havia vários asmáticos pequenos, como os da escola. - é onde os funcionários guardam as coisas. Acho melhor vocês deixarem as blusas no meu.

- Por quê? - Isaac perguntou.

- Está brincando? Vocês vão morrer de calor! Acredite, é um forno lá no meio das pessoas.

Faz sentido. - o beta retirou a jaqueta que usava, assim como seu cachecol. Sentiu um pouco de frio, mas confiava no amigo.

- Malia? - se virou para a morena. - Não vai tirar?

- Eu não confio nele. - ela cruzou os braços. - Essa é minha blusa.

Nathan piscou, sem saber qual reação deveria ter.

- Desculpa?

- Só um segundo. - Isaac puxou a coiote para o lado, falando com ela e particular. - O que foi agora?

- Não vou dar minha blusa pra ele! - ela soava como se estivesse realmente ofendida.

- Malia, você vai ficar com calor, e depois vai ter que ficar carregando...

- É minha blusa!

- Puta que... tá bom, como quiser.

Se voltou para o amigo, entregando-lhe sua jaqueta e cachecol, agora dobrados.

- Ela vai ficar com a dela. - explicou.

- É o seu funeral. - deu de ombros, dando meia volta para levar as roupas até o armário.

- Ele acabou de me ameaçar? - Malia cerrou os punhos.

- Não! - o loiro segurou seu braço. - Não, não foi uma ameaça. Deixa de ser louca.

- Bom, - Nathan voltou sua atenção para os dois. - vocês também tem que usar isso aqui. - pegou suas pulseirinhas de papel amarelas do bolso. - Sabe, pra fingir que vocês pagaram pela entrada.

Assim que os dois estavam com as pulseiras, estavam prontos. Isaac observava as emoções e reações de Malia. Uma mistura de medo, curiosidade, adrenalina e desconfiança. Deus, esperava tanto que aquilo desse certo.

Seguiram pelo corredor, até a pista de dança. Isaac nunca estivera em lugares como aquele. Tinha tanta gente. Pessoas pulando, dançando e esbarrando umas nas outras com alegria e bastante energia, ao som de algum remix. Alguns estavam bastante bêbados, mas a maioria só estava se divertindo.

Isaac lançou um último olhar a Nathan antes de entrar na multidão. 

É claro que Malia não o seguiu. Ficou junto à parede, de braços cruzados, olhando com estranheza para todo o lugar. O loiro tentou chamá-la para se juntar a ele, mas aquilo era muito novo para ela. A garota parecia assustada e irritada ao mesmo tempo. Parecia se perguntar porque diabos estava em um lugar como aquele. 

O beta torceu silenciosamente para que ela não desse meia volta e fosse embora. Tentou dançar junto com as outras pessoas, agir naturalmente. Talvez se Malia o visse ali, ela também fosse.

Ela não confia em mim o suficiente para isso. - bufou, frustrado. Mesmo assim, continuou dançando. Era difícil fazer aquilo e vigiar discretamente alguém, mas fez o melhor que pôde. Malia não se moveu por vários momentos. Observou a todos ali com a expressão fechada, como um animal pronto para atacar qualquer um que chegasse perto.

Uma eternidade pareceu se passar até ela se desencostar da parede. Seus passos foram lentos, muito lentos. Estava sempre examinando todo o seu redor, como se qualquer um pudesse fazer alguma coisa a qualquer momento. 

Eventualmente, ela chegou à pista. Passou pelas pessoas de forma rude, olhando para cada uma como se fossem idiotas. Então finalmente chegou até Isaac.

- Por que isso vai me ajudar? - se não fossem lobisomens, com certeza não estariam se comunicando tão facilmente com aquela música alta.

- Você nem tentou! - o loiro rebateu.

- Tentar o quê?

- Fazer pão, o que você acha?

- Quê?

- Malia, dança!

- Isso é idiota.

- Como você sabe? Já fez isso antes?

- Isso não vai me ajudar?

- Como você sabe?

A garota bufou, claramente estressada. Ela começou a se mover de um lado para o outro, completamente rígida e com raiva. Seria cômico se Isaac não estivesse igualmente irritado.

- Viu? - estava mexendo os braços para cima e para baixo agora. - Não está ajudando!

- É claro que não! Você tem que fazer direito!

- Fazer o que direito? Pular de um lado para o outro?

- Malia, - respirou fundo, se concentrando. - o objetivo é parar de pensar. Todos os seus problemas: seu pai, a transformação, as coisas de humanos que você não entende. Para de pensar. Não importa se você não é um coiote agora. Não importa o que vai acontecer amanhã. Nada importa. Você está aqui, a música é ótima e alta para caramba, e você está se divertindo, entendeu?

- Isso é idiota. - cruzou os braços.

- Tenta, só tenta. Respira fundo, e esquece de tudo. Nada tem problema. Não existe nada ruim. Só dança.

É claro que Malia revirou os olhos e bufou, expressando sua indignação. Mas, surpreendentemente, aceitou a proposta. Fechou os olhos e respirou fundo. Uma, duas, três vezes. Começou a se mexer, mais levemente dessa vez, mais solta.

Lentamente, foi achando um ritmo. Foi se acostumando, e se deixando levar. 

Quando finalmente o fez, foi como se algo acendesse dentro dela.

A garota parecia ter um dom natural para dançar. Seu corpo se movia tão livremente, como se esperasse anos por um momento como aquele. Entregue, parecia flutuar. Ela ria, se divertindo como uma criança.

A noite passou como um transe. Cada música tinha uma batida diferente, e um tipo distinto de euforia. Quando ficava mais calmo, Isaac observava Malia. Olhos fechados, fios de seu longo cabelo castanho grudados na testa, cabeça para algum lado, todo o seu corpo parecia responder à harmonia de sons.

O loiro não sabia o porquê, mas ali, naquele momento, a coiote quebrou uma barreira dentro dele. É claro que ele se importava antes, mas agora era  definitivo. Tinha alguma coisa ali, algo de especial acontecia diante de seus olhos. Malia finalmente se libertava de seus próprios limites. Ela podia não ter nenhuma habilidade de se conectar com as pessoas, mas dava para ver que havia alguma coisa ali, algo que pelo qual valia a pena lutar. Malia merecia outra chance.

Horas se passaram. Eventualmente, a garota tirou o casado, devido ao calor, mas o carregou nos braços como se não fosse um problema. Foram poucas as músicas em que pararam para descansar e tomar água, e não conversaram nesses momentos, não precisavam.

Isaac achava engraçado como a garota não se importava com ninguém ao redor. Não que ele tivesse vergonha de dançar, mas nunca seria como ela. Malia não tinha nenhum limite, era a pessoa mais livre naquela pista. Se movia como quisesse, sentia cem por cento de cada batida. Às vezes, até cantava junto alguns versos da música que se repetiam. Cantava alto, sem preocupação nenhuma. Dançava por toda a pista, e não em um lugar só, como todas as outras pessoas. 

Com o tempo, a multidão foi gradualmente diminuindo, até só ter uma dúzia de pessoas. As cinco horas da manhã, o DJ parou de tocar.

Malia olhou para Isaac inconformada, como uma criança que perdeu o brinquedo. O loiro apenas encolheu os ombros, lhe lançando um olhar de fazer o quê? 

- Vocês querem carona? - Nathan ofereceu, pegando a blusa do amigo de seu armário.

- Não precisa. - Isaac respondeu. - A gente vai com o carro dela. Valeu por deixar a gente entrar.

- Ainda nem acredito que você veio.

Saíram pelos fundos. Nathan se despediu uma última vez antes de entrar em seu carro e ir para casa. O ar do lado de fora era muito frio. Os dois adolescentes imediatamente colocaram suas blusas de novo, mesmo que estivessem encharcados de suor.

- Bom, - disse o loiro. - pra onde agora? Casa do Scott?

- Não precisamos ir ainda. - os olhos de Malia ainda estavam cheios de adrenalina.

- Ah, não? E vamos onde? Não tem nada aberto às cinco e meia da manhã.

Ela pareceu pensar um pouco, olhando em volta.

Isaac suspirou. Estava cansado. E com fome. Quando chegasse em casa, ainda teria que explicar tudo para Scott e provavelmente teria que acompanhar seja lá o que fosse acontecer com a coiote, então não descansaria por um bom tempo. Mas teriam que pelo menos esperá-lo tomar um banho antes de fazerem qualquer coisa, estava nojento.

De repente, Malia não estava mais ali. Num movimento rápido, a garota se agachara no chão e pulara numa altura sobrenatural. Isaac ergueu o olhar, procurando-a, para encontrá-la no telhado plano de concreto do Sinema.

- Sobe aqui. - chamou, então andou para trás, desaparecendo de seu campo de visão.

O loiro piscou, precisou de alguns segundos para processar o que havia acontecido. Malia simplesmente se abaixara e saltara cinco metros no ar, pousando no topo de um prédio.

Claro, claro. Ele conseguia também. Quer dizer, os dois eram lobisomens, certo? Eles tinham o mesmo nível de habilidades. Isaac devia até mesmo saber saltar melhor, já que ele controlava os poderes melhor.

Se abaixou, apoiando ambas as mãos no piso. Imediatamente, uma súbita preguiça tomou conta de seu corpo. Deus, estava tão cansado, queria deitar-se no chão sujo e não se mover por horas.

Respirou fundo, tomando coragem. O salto não foi perfeito, não pousou com os dois pés diretamente no teto igual Malia, mas pelo menos conseguiu agarrar a beirada e puxar o corpo para cima.

A garota estava sentada no chão, com as pernas cruzadas, encarando no céu. Não havia estrelas nem nada, o céu estava de uma cor única, mas não tão escuro. Dava para perceber que faltava pouco para o amanhecer.

- Então, - Isaac colocou as mãos na cintura, parando em pé ao seu lado. - Foi tão ruim quanto você esperava?

Contrariando tudo o que havia dito e feito até aquele momento, ela abriu um sorriso grande, energético, que tomava conta de todo seu rosto.

- Foi incrível! - colocou as mãos nos lados da cabeça. - Meus ouvidos estão zunindo até agora!

- Ah, é. - cutucou os próprios ouvidos. - Já que isso passa, não se preocupe.

- Eu quero ir de novo. Eles fazem isso todos os dias?

- Ah... mais ou menos, eles tem uma programação. Mas, da próxima vez, compra a entrada. Nathan não pode ficar deixando as pessoas entrarem de graça toda vez.

Ela apenas assentiu. Isaac ficou esperando algo mais surgir daquela conversa, quando viu que estava errado, se sentou ao lado da garota, cruzando as pernas e apoiando os cotovelos nas coxas.

Era sereno ali em cima. Não era um lugar tão alto, não podiam ver muito da cidade, mas era uma visão legal. Os únicos sons eram grilos e um ou outro carro ao longe. Bem diferente comparado ao resto da noite. Isaac tinha que admitir, havia sido uma ótima noite.

Estranho. - pensou. Se divertira na companhia de Malia. Até havia considerado que poderia acontecer, mas não acreditava muito. A garota não era tão chata quando não estava falando.

- Você mentiu pra mim. - foi ela quem quebrou o silêncio.

Ah, ótimo. Agora ela está falando de novo.

- É, - assentiu, mesmo sem saber especificamente do que estava falando. - algumas vezes.

- Aquele garoto disse que você nunca veio aqui antes.

- Eu não. Mas Nathan é um dos meus melhores amigos, e ele sempre me disse pra vir aqui quando estivesse cheio de problemas. De acordo com ele, passar a noite aqui é extremamente terapêutico.

- Por que não me disse?

- Eu não sabia se ia dar certo, achei que você acreditaria mais se eu soubesse.

- Você sempre faz isso? Mentir pras pessoas pra conseguir o que quer?

- Wow, falando assim você me faz parecer ruim. Te ajudou, não ajudou?

- É, eu suponho que sim. - voltou seu olhar para o céu. - Não me sentia tão relaxada desde que me transformei.

- Aposto que você não se divertia assim na floresta também.

- Nem um pouco. Nós não fazemos essas coisas sem propósito lá.

- Não foi sem propósito!

- Claro que foi. Passamos a noite inteira pulando, qual o propósito disso?

- Relaxar! - abriu os braços. - Ou, pelo menos, ficar tão cansado que você não tem energia o suficiente para se preocupar com todas as coisas que estavam na sua cabeça.

- É. - Malia deu de ombros. - Funciona.

- Não sei se é um jeito saudável de lidar com os problemas, mas é um modo.  - fez uma pausa. - Mas também, se esconder na forma de um coiote não é um jeito nada saudável.

- Eu estava me perguntando quando você ia começar a falar disso.

- Olha... Scott e os outros não te falaram, mas... escuta, se eles quisessem te transformar de volta, já teriam feito isso faz tempo. Eles estão tentando...

- Estão tentando me convencer a continuar sendo humana. - voltou o olhar aborrecido para o loiro. - Eu sei. Não sou idiota.

- Você sabe? - Isaac franziu as sobrancelhas. - Nossa, por essa eu não esperava.

- É claro que eu sei, Scott e Stiles são péssimos fingindo.

- E por que não disse nada? Quer dizer, por que continuou andando com a gente mesmo sabendo que estávamos te enrolando?

Alguma coisa mudou nos olhos da garota. Sua expressão caiu, suas sobrancelhas abaixaram, assim como o canto de seus lábios. Seu rosto se voltou para o chão. Quando falou de novo, soava tensa.

- Eu queria ver se iriam conseguir. Queria ver se conseguiriam me convencer.

Houve um momento de silêncio.

- Você... - Isaac começou. - Você não quer voltar a ser um coiote.

- Eu não sei. Tem... coisas boas e ruins para considerar.

- As coisas ruins incluem viver na imundice da floresta e ter que lutar pela própria vida todos os dias?

- Claro que não. - suspirou. - Ruim vai ser deixar meu pai.

- Oh. - o loiro assentiu. - Faz sentido. Vai destruir ele se você for embora de novo.

- Eu sei. Eu também sinto falta dele. Sinto falta de todos eles.

- É, mas não dá pra trazer sua mãe e irmão de volta, então você devia se apegar a quem está vivo.

- Irmã.

- Quê?

- Era minha irmã, não meu irmão.

- Ah, tá. Isso, irmã.

- Eu sei que eu não devia pensar nelas, mas... - bufou. - A casa ainda está igual. Meu pai não tirou nenhuma das fotos, ou as coisas da mamãe, o quarto da minha irmã está intacto. Meu quarto estava intacto. Ver aquilo todos os dias... - sua voz morreu.

- É uma bosta.

- É uma bosta. E ainda tem o meu pai. Quer dizer, eu amo ele e sinto falta de como a gente era, mas ele não me deixa em paz.

- Como assim?

- Ele sempre quer saber onde eu estou, quando vou voltar pra casa, como estou me sentindo, se estou com fome, se quero alguma coisa, como se eu fosse criança! - pegou o celular em seu bolso. - Ele me mandou um monte de mensagens! Eu falei, que estava na sua casa, depois não respondi mais. Isso é tão irritante.

- Em defesa dele, você sumiu por oito anos.

- É, eu sobrevivi oito anos, não preciso que ele fique em cima de mim desse jeito.

- Vai ver ele só está tentando falar com você. Ele sente sua falta.

- Então por que ele não vem e fala comigo ao invés de ficar tentando me controlar?

- Porque seres humanos são complicados. - sorriu de lado. - Ele não sabe como falar com você. Por que é que você não fala com ele?

- Porque eu não sei como falar com ele.

- Viu? É complicado. Parabéns, você é humana.

Estranhamente, aquilo arrancou uma pequena risada da garota. Então ficou triste, os olhos fixados no celular em suas mãos. Isaac franziu as sobrancelhas, nunca sabia qual reação iria conseguir dela.

- Às vezes... - ela limpou a garganta. - Às vezes eu me sinto feliz por ser humana de novo. Mas... eu não sei fazer isso.

- É, dá pra perceber. Mas a gente pode te dar umas dicas de como viver em sociedade.

- Não isso. Quer dizer, também, mas... eu me sinto ruim. Toda vez que eu olho pro meu pai, ou para as coisas da minha mãe e irmã, eu me sinto muito ruim. Me dá dor de estômago, parece que eu vou vomitar, e... me dá dor de cabeça.

- Fica difícil de respirar? Você... começa a pensar em um monte de coisas e não consegue mais parar?

A garota não disse nada, apenas assentiu devagar.

- Isso se chama ansiedade. É bem comum.

- Ansiedade?

- É, é tipo... uma preocupação constante. É uma sensação que não te deixa fazer mais nada além de ficar pensando e pensando, e, de repente, sua cabeça está cheia de paranoias e você nem sabe mais o que é real. É uma merda. Todos experimentamos isso, principalmente a gente.

- Como assim?

- Nós. Pessoas que passaram por situações difíceis. Por isso nos mantemos juntos.

Se passou um tempo até Malia voltar a falar:

- Qual foi a coisa difícil que aconteceu com você?

O corpo do garoto enrijeceu. Definitivamente não estava esperando uma pergunta como aquela, não vinda dela. A coiote não tinha feito praticamente nenhuma pergunta pessoal até aquele momento, ela nunca hesitara em demonstrar sua falta de interesse nele.

"- Você não sabe se esse lugar vai me ajudar, meus problemas são bem maiores que os seus."

Será que ela ainda pensava assim? Será que estava só curiosa? Não era possível que se importasse agora, era?

Isaac rangeu o maxilar, se arrependendo de ter criado aquela situação. Malia estava contando todas aquelas coisas para ele, coisas verdadeiras, medos profundos. Ele não podia simplesmente evitar a pergunta, tinha que retribuir a vulnerabilidade dela de alguma forma, certo?

- Eu... - engoliu em seco. - Meu... meu pai bebia bastante. E ele era... violento.

- Não entendi.

- Ele... bom, ele costumava me espancar e me trancar em um freezer.

- Você matou ele?

- Wow! - franziu as sobrancelhas e arregalou os olhos ao mesmo tempo. - Não! Claro que não, essa foi a primeira coisa que veio na sua cabeça?

- É o que eu faria. - deu de ombros.

- Não, não é. Acredite.

- Claro que é. Se ele te batia...

- Não é tão simples, Malia! - respirou fundo, tentando se acalmar. - Nada é simples. Ele era meu pai, eu amava ele.

- E daí? Ele era horrível.

- É, mas você ainda ama o seu pai, mesmo ele sendo um pé no saco que não te deixa em paz. 

Ela ia rebater, mas desistiu no último segundo. Apenas assentiu.

- Ansiedade é uma merda. - bufou, parecendo tão cansada.

Isaac riu.

- Aham.

- É uma das coisas boas sobre voltar a ser um coiote. Eu não teria que olhar para o meu pai todo dia e me sentir assim, às vezes eu acho que não dá pra viver com isso. Mas aquele cara grandão, Daryl...

- Derek.

- É. Ele também matou a família inteira, e ele está bem agora. Então dá pra viver com isso.

O loiro piscou, os olhos arregalados em um leve estado de choque. Não conseguia não se impressionar com a facilidade com a qual ela tratava assuntos como aquele. Era assim que as pessoas se sentiam quando ele era sincero demais?

- Ah... - limpou a garganta. - Como é que é?

- Você não sabe? O Derek matou a família dele igual eu. Matou mais gente que eu, na verdade.

- Não. - balançou a cabeça, inconformado. - Não, Malia, nenhum de vocês matou ninguém.

- Matamos sim.

- Não, tá, mas... - suspirou. - Você... você não pode simplesmente falar assim! Quer dizer... meu Deus, por que isso é tão difícil? Olha, não foi culpa de vocês.

- Claro que...

- Não, não foi. Derek confiou na pessoa errada, e você não sabia se controlar. Nenhum de vocês queria que acontecesse, foi um acidente. Foi horrível, mas você não pode se culpar pelo que aconteceu.

- Você não sabe.

- Não sei o quê?

- Você não sabe o que aconteceu!

- Deixa eu adivinhar: Você estava se sentindo irritada o dia todo. Vocês estavam no carro, provavelmente brigaram por alguma coisa idiota, e você perdeu o controle.

Alguns segundos se passaram.

- Como você sabe?

- É a mesma coisa para todos nós. Nos dias de lua cheia, qualquer coisa nos irrita ao máximo, e durante a noite, podemos matar qualquer um que vermos pela frente. Qualquer um. Não quer dizer que você odiava elas, ou qualquer coisa assim, você só perdeu o controle. 

- Já aconteceu com você?

- Eu nunca cheguei a machucar ninguém de verdade. Nas minhas primeiras luas cheias, Derek me ajudou. Teve vezes que ele precisou me segurar. Depois aprendi a controlar.

- E o Scott?

- Mesma coisa, mas ele quase matou o Stiles várias vezes.

- Como vocês controlam?

- Você acha uma âncora, uma coisa que te conecte com a sua forma humana.

- O que você faz?

- Antes eu pensava no meu pai.

- O quê?!

- É, eu sei, eu sei. Mas eu amava ele.

- Mas ele...

- É, eu sei. Bastante idiota, né?

- Aham.

Isaac riu. Finalmente encontrara alguém tão sincero quanto ele, talvez até mais.

- É, humanos são idiotas.

- Qual a sua âncora agora?

- O Scott.

- É só isso? Pensar em alguém que você gosta?

- É simples, mas não quer dizer que é fácil.

- Você acha que eu consigo fazer isso?

- Fique humana pelas próximas luas cheias e a gente descobre. Scott vai ficar super feliz quando você entrar para o pack.

- E o resto do pack?

- Ah, eles são legais. Tem a Lydia, ela é uma banshee. Ela... ela ouve coisas. Tem a Kira, ela é uma kitsune. O Liam... ele tem tantos problemas de raiva quanto você. Aí tem o Derek, Stiles e eu.

- Aham... - assentiu devagar. - Tá... se... se eu ficar humana, o que eu vou fazer?

- Como assim?

- Vou ter que ir para a escola com vocês?

- Oh. - pensou um pouco. - É, acho que dá pra fazer você entrar em setembro. Eu não sei como funciona, a gente dá um jeito.

- Eu lembro que eu não gostava da escola.

- É, ninguém gosta, o sistema é falho. Mas você aceita, eventualmente.

- Eu acho que eu vou fazer isso.

- O quê? Aceitar?

- É. - deu de ombros. - Eu acho que... acho que vou ficar humana.

Isaac não respondeu, apenas sorriu. 

Não acredito que eu consegui.

O vento era gelado. No horizonte, o sol começava a se levantar, pintando o céu e as nuvens que pareciam caminhar em sua direção de tons marcantes de roxo, rosa e laranja. Era hipnotizante, admirável. Trazia um sentimento carregado de esperança, um novo começo. Um novo dia, novas possibilidades. 

- Uau. - Malia arfou, observando a cena a sua frente com olhos admirados. - Isso é lindo.

- Pra caramba.

- Eu nunca vi isso antes.

- Você nunca olhou pra cima na floresta?

- Eu enxergava cores diferente. E também, eu dormia de dia, então não me interessava.

- Coiotes são noturnos? Então por que diabos você foi nos acordar tão cedo esses dias?

- Não consigo dormir. E meu pai está me obrigando a dormir a noite, então eu estou sempre cansada. Não consigo me acostumar.

- Uma dica: Não acorde as pessoas às oito da manhã, é muito provável que te xinguem. - pegou o celular em seu bolso. - Agora são seis e meia. O que você diz de ir para a casa do Scott acordar ele?

- Ele não vai nos xingar?

- Ah, não. Ele é bom demais pra isso. Anda, vamos. Eu tenho que esfregar na cara dele que te convenci a ficar.

Então se levantaram. O vento frio continuava a soprar, forçando os adolescentes a se encolher enquanto se apressavam até a borda do telhado. Antes de pular até o chão, Malia sorriu para Isaac.

- Obrigada. - dobrou os joelhos, se preparando. - A propósito, você fica bem de batom. - então saltou, pousando com as duas mãos no chão.

O loiro riu levemente. Estava cansado, mas a noite havia valido a pena. Não pensou que o resultado seria tão bom. Não só convencera a garota a ser parte do pack, mas fizera com que se importasse, e acabou se apegando a ela também. Não tinham começado bem, mas talvez pudessem se tornar amigos agora. E, quem sabe, Malia podia ser uma ótima adição ao pack.

Olhou para aquele lindo nascer do sol uma última vez. Então, enfim, saltou também.


Notas Finais


Eu sei, eu sei o que vocês vão falar: como assim um capitulo só do isaac e malia?
EU SEI EU SEI SHIIIIII CALMA CALMA, PRONTO PRONTO
sinceramente, to até com medo do feedback desse cap shuahsuahsuashaushau ai, eu gostei, pensei bastante em como seria a dinamica da malia nos primeiros encontros dela com o resto do pessoal, e eu acho mesmo que ela e o isaac iam se concectar se tivessem se conhecido na série, pq sejamos sinceros, eles sao IGUALZINHOS. É quase como se a série não quisesse ficar sem a energia do isaac e tivesse colocado a malia no lugar quando ele saiu. Os dois são pura tacação de fodase, e eh maravilhoso suahsuahsauhsuahsuahs
Claro, a malia eh um tanto pior, pq neh, mas acho que dá pra fazer uma dinamica interessante
E AGORA ELA EH OFICIALMENTE PARTE DO PACK, OLHA SO
ESTARÁ CONOSCO NA QUINTA E SEXTA TEMPORADA
HA!
comentem! me digam o que acharam! :3
PS.: vao se acostumando, que a gente tbm vai ver mais do nathan daqui pra frente :3 ELE NN TA SÓ JOGADO AI PRA FAZER CIUME NO SCOTT NN HSAUHSUAHSUAHSUAHS
ATÉ!


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