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Rose
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Eu estava cansada. Não havia imaginado que voltar tão tarde da festa faria com que meu sono se estendesse. Sempre fui de acordar cedo, mas o dia havia sido longo. Levantei sem fazer ideia do horário, apenas olhei para o lado e vi que Bruna ainda dormia tranquila. Quem seria eu para acordá-la.
Desorientada, abri a porta do quarto, e me dirigi ao banheiro. Também não tive noção de quanto tempo demorei, mas quando ouvi um baque surdo no andar de baixo, abri a porta sem pensar em nada e encarei as escadas, tentando descobrir o que havia sido.
- Bom dia, Rose. - A voz suave de Scorpius me desejou, e me virei rapidamente, tossindo para evitar a voz rouca matinal.
- Bom dia, Scorp. - Um estalo em minha mente pareceu me despertar, quando por um momento, tentando parecer mais apresentável, notei que ainda estava de camisola. Arregalei os olhos ao mesmo tempo que ele soltou uma risada baixa, porém pude notar que seu rosto ficou avermelhado. - Então, eu acho que vou...
Apontei para qualquer lugar, porém antes de conseguir pensar em andar, a voz de James resmungando alguma coisa foi se aproximando, e o meu nervosismo não cabia em mim.
- Ele vai surtar se te ver assim perto de mim. Vem. - Foi tudo que consegui ouvir de seu sussurro apressado, antes de sentir sua mão agarrar a minha e ele me puxar para o quarto mais próximo; o que ele dividia com Alvo.
Assim que ele fechou a porta, o mais silenciosamente que conseguiu, eu olhei para trás e vi meu primo em seu sono pesado completamente apagado.
Quando virei meu corpo novamente, Scorpius estava se afastando da porta, e o choque que demos foi inevitável. Tentei ao máximo suprir o barulho que sairia da minha boca, enquanto a mão dele segurou minha cintura para me dar apoio. O movimento foi o suficiente para estremecer todo o meu corpo, e eu me perguntava como um ato tão simples conseguia me deixar daquele jeito.
- Você tá todo arrumado. - Falei baixo ao notar que ele estava cheiroso e vestia roupas que não eram constrangedoras como as que eu trajava.
- Digamos que sou adepto de banhos extremamente cedo. - Ele sorriu para mim, e aquela visão tão perto me derreteu por dentro. - Rose, eu queria fazer algo naquele dia.
- Fazer o quê? - Eu sabia que dia ele estava se referindo. Eu queria a mesma coisa. O seu corpo próximo ao meu só acelerava e confirmava as coisas.
- Posso te mostrar? - Ele pediu, colocando a outra mão diretamente em minha nuca e puxando meu rosto para perto.
Não consegui responder. Fechei os olhos e assenti levemente. Senti o seu calor mais próximo, e meu lábio inferior ser puxado levemente. O arrepio que me deu me atingiu em cheio, fazendo com que minha reação fosse subir minhas mãos para seus cabelos, ficando ainda mais perto.
Quando colei meus lábios ao dele, num ato não mais que singelo, o barulho de Alvo se revirando na cama fez com que eu me afastasse bruscamente, quase externando toda a minha frustração e o tremor que eu ainda sentia.
- Eu vou sair, acho que ele está acordando. - Cochichei rápido, já caminhando para a porta, sentindo meu rosto ficar quente.
- Rose. - Ele puxou meu braço, me fazendo fitá-lo. - Eu quero isso.
- Eu também. - Suspirei, tocando na maçaneta, não conseguindo esconder a tristeza.
- Eu vou fazer ser especial. Você merece que seja. - A palpitação que eu senti com suas palavras foram me dominando, e antes que eu voltasse para seus braços, abri a porta, e sorrindo, olhei pra ele.
- Vai ser, eu sei. - Sendo com ele para mim já seria especial de todas as formas. O sorriso que estava em meu rosto parecia não querer se desmanchar, e quando fechei a porta, encostei minha testa na mesma, tentando controlar a minha respiração.
Não havia mais como negar. Eu estava completamente apaixonada por Scorpius. Desde nosso primeiro contato, desde a primeira vez que sua mão tocou a minha e seu sorriso foi dirigido a mim. Scorpius conseguia ser meu amigo e tirar de mim as melhores risadas, os pensamentos mais profundos, e as ideias mais idiotas. Eu não conseguia encontrar nenhuma razão para não me permitir sentir tudo que me invadia sempre que estava com ele.
Caminhei para o meu quarto novamente, e Bruna estava na mesma posição. Ri baixo, indo em direção à proximidade da minha cama para procurar uma roupa. Quando encontrei, voltei ao banheiro para tomar banho e me livrar desse pijama que em menos de doze horas do dia já havia me feito passar vergonha. Lembrei do olhar de Scorpius sobre o meu corpo e senti-me corar novamente, porém com um sorriso reprimido que eu sabia que sairia em algum momento.
Levei mais tempo que o normal para sair do banho, aproveitando todos os meus segundos para refletir sobre o que havia acontecido e o que eu queria que acontecesse.
Eu queria seus lábios nos meus. Parecia tão certo, e ao mesmo tempo, libertador. A ideia de que estávamos tão próximos e que quase havíamos conseguido me deixava com vontade de deixar qualquer coisa e beijá-lo era imensa.
Entrei no quarto de novo, indo para a cama de Bruna e deitei num pequeno espaço ao seu lado.
- Acorda, imprestável. - Ri de seu resmungo quando cutuquei seu braço, e sua reclamação logo foi calada pelo seu movimento na cama, deitando-se virada para mim.
- Que foi? - Ela sussurrou, ainda de olhos fechados.
- Eu meio que beijei o Scorpius. - Seus olhos se abriram quase que instantaneamente, e sua expressão não era a de uma pessoa que havia acabado de acordar.
- Como assim, Rose Weasley? Como assim "meio"? - Ela se ajeitou novamente na cama, pronta para me escutar.
- Eu estava no banheiro, aí escutei um barulho. Era o James fazendo bagunça lá embaixo. Só que aí eu tava de pijama, e o Scorpius estava passando. Não me olha com essa cara, claro que eu fiquei com vergonha, mas foi exatamente na hora em que o James inventou de subir, e se ele nos visse naquela condição, ele ia pirar e gritar pra todo mundo ouvir. E aí, o Scorp pensou mais rápido e me puxou pra dentro do quarto. O Alvo tava dormindo, antes que você pergunte, mas a gente esbarrou, e meio que deu um selinho, mas como sempre, atrapalharam tudo. Acho que o Alvo estava acordando, e agora eu tô aqui. - Parei para respirar mais devagar, vendo que a expressão de Bruna aparentava sua dificuldade de entender tudo o que aconteceu, ainda sonolenta.
- Quanto tempo eu dormi? Como isso tudo aconteceu e o dia nem começou? - Não consegui evitar uma risada, e vi que ela relaxou na cama, tentando formular alguma frase coerente.
- Rosie, por mais que você tente dizer que não, você e eu sabemos que você sempre gostou dele. - Ela começou, e quando abri a boca para negar, ela continuou: - Você nunca fica nervosa perto de menino nenhum. Você é espontânea, independente e completamente viva. Mas perto dele, você sempre ficou tensa, perdia a fala, gesticulava muito. Você quer que ele tenha uma boa impressão, fica polida, e você sabe. De um tempo pra cá, você aprendeu a controlar tudo isso, mas que sempre foi assim, foi. Eu sempre tentei te dizer também, mas acabávamos em outro assunto e rindo que nem duas retardadas.
Sorri com sua constatação, agora completamente pensativa. Eu não possuía argumentos que fossem além de suas visões. Bruna me conhecia melhor que eu mesma, e eu sabia que eu tentar negar só confirmaria isso tudo.
- Eu gosto dele. De verdade. - Respirei fundo, remexendo na cama.
- Eu devo ter dormido muito mesmo, achei que não ia viver pra ouvir você falando isso. - Ela riu, e então eu puxei o travesseiro de sua cabeça e joguei em seu rosto. - Ai, Rose.
- E dormiu mesmo. Tá quase na hora do almoço. - Ela tirou rapidamente o travesseiro, me olhando horrorizada e levantando como um jato. Bruna sempre acordava cedo, era seu hábito mais forte. Correu até seu malão, pegando uma roupa e se despedindo:
- Tô indo tomar banho, te encontro lá embaixo! - E logo sua voz ficou abafada pela porta que foi fechada. Suspirei no mesmo local em que estava. Sem nada pra fazer além de ser consumida por meus pensamentos, saí do quarto, descendo as escadas em direção à cozinha.
Estranhamente, a porta se encontrava fechada. Franzi o cenho, indo abrir a porta, quando de repente minha mãe apareceu, com lágrimas nos olhos, e ao me encarar, sorriu orgulhosa.
- Meus filhos. Eu amo vocês. Tão lindos, tão esclarecidos... - Ela me abraçou, e pude ver que dentro da cozinha estavam meus pais e meus tios, e, o que era mais estranho, o meu irmão.
Quando viu que eu encarava a todos dentro do abraço de minha mãe, Hugo e tio Harry levantaram, indo para a saída da casa. Tia Gina também enxugava lágrimas com um sorriso no rosto.
- Bom dia, Rose. - Meu tio deu um beijo em minha testa, e Hugo deu o sorriso mais bonito que eu já havia visto. Seu semblante estava confiante, calmo, e diferentemente apaixonado. O que eu havia perdido?
- Bom dia. Pra onde vão? - Não resisti a fazer a pergunta, e vi uma risada de meu pai da cozinha, cantarolando um "curiosa".
- Você vai saber, Rosinha. - Hugo cutucou minha barriga, me fazendo rir e arquear as costas, para logo em seguida ele sumir de minhas vistas com meu tio.
- Mãe, o que eu perdi? - O olhar de Hermione permaneceu suave, e quando entrei na cozinha pude ver meus avós abraçados e sussurrando algo entre eles. - Por que tá todo mundo agindo tão estranho?
- Tivemos uma conversa com seu irmão, Rose. Uma conversa que todo mundo já estava esperando. - Meu avô começou, e eu só ficava mais confusa.
- Conversaram sobre sexo? - A pergunta foi mais rápida que eu, e logo tia Gina riu, balançando a cabeça.
- Se fosse preciso conversar sobre essas coisas com vocês, jovens. - Vovó comentou, se aproximando das cadeiras.
- Seu irmão e sua prima se gostam. - Tia Gina disse de maneira natural, e para mim aquilo não havia sido uma surpresa. Eu sempre desconfiei que os sentimentos de Hugo por Lily fosse além da amizade forte que os dois dividiam. Havia carinho, amor, e ternura no olhar que eles sempre dividiam, e essas coisas eu apenas via em casais apaixonados.
- Eu acho que eu também já esperava. - Eu sorri, e dei de ombros.
- Você não acha estranho, nem nada? - Minha mãe perguntou, e eu sabia que o leve temor em sua voz servia só para ela ter certeza de que estaria tudo bem.
- Claro que não, mãe, eu sei que essas não são escolhas e que eles se gostam de verdade. Deixá-los separados seria maldade. - Finalizei e o sorriso de minha mãe aumentou.
- Não foi fácil conversar sobre isso. Principalmente com o Harry, Rony, e os nervosos em potencial dos meus filhos. Afinal, temos umas pessoas bem ciumentas, hein? - Tia Gina revirou os olhos. - Mas eu não conhecia esse lado determinado e extremamente maduro do Hugo. Se ele fizer minha bebê feliz, eu não posso querer mais nada. Não poderia desejar pessoa melhor para ela.
- Não põe a culpa em mim, não, Gina. - Meu pai falou e uma discussão se iniciou.
Meu coração parecia acalentado. Meu irmão e Lily juntos era algo que com certeza os faria bem, e o apoio da família seria essencial para essa felicidade ser completa. Eu não podia expressar em palavras o quão sortuda eu me sentia por fazer parte de uma família tão especial, tão capaz de amar sem precedentes, sem limites, e sem qualquer tipo de restrição.
Me sentei na mesa, e a conversa que tivemos foi se estendendo até o cheiro da comida da minha avó atingir meus sentidos e fazer meu estômago revirar de fome.
Um pensamento me atingiu por um momento. Se tudo estava bem, e todos estavam de acordo com a situação, para onde tio Harry havia levado Hugo? Minha curiosidade ficou atiçada, mas nada eu poderia fazer se minha barriga não parasse de reclamar a cada segundo, então deixei os pensamentos de lado e me preocupei em arrumar algo para comer.
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