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História Trying not to love you - The blackest day


Escrita por: teamvauseman

Notas do Autor


boa tarde 💜 a vida é uma verdadeira montanha russa, certo? nunca sabemos ao certo o que vai acontecer, ou o que esperar, e isso faz com que surja dentro de nós um sentimento enorme de desespero. o que será que Laura fará?
seja o que for, não tem mais volta. espero que esteja gostando dos capítulos finais da fanfic e muito obrigada por nos acompanharem até aqui.
até breve e boa leitura 💜

Capítulo 54 - The blackest day


POV LAURA

            Eu e o silêncio.

            Foi tudo o que restou após Taylor entrar naquele avião com destino ao JFK em uma manhã de segunda feira fria e cinzenta.

        -Odeio segundas. -Murmurei para mim mesma enquanto jogava as chaves do carro dentro de uma cesta na bancada da cozinha.

            Não me esforcei em caminhar até o quarto, muito menos para trocar de roupa. De uma hora para outra, tudo parecia não fazer o menor sentido.

            “Eu vou te esperar”. Foi a última frase que presenciei os lábios de Taylor dizerem. Por mais que eu soubesse que aquilo era verdade, eu não conseguia bloquear a sensação de medo dentro de mim.

            Passei grande parte da noite anterior acordada, mesmo que meu corpo estivesse completamente exausto e ansiando por uma boa noite de sono. Eu observei Taylor dormir por longas horas desejando congelar o tempo ali, para que eu nunca pudesse sair do seu lado.

          Provavelmente eu estava prestes a cometer um erro, mas eu não sabia de fato o que era certo ou errado mais. Eu havia esperado praticamente a minha vida inteira para ter aquele momento. Eu precisava crescer profissionalmente, e como em Orange parecia não ter dado certo, aquela poderia ser a hora.

            Eu estava em minha casa por menos de uma hora e já estava sentindo falta de Taylor de uma forma exorbitante. Nosso final de semana havia sido incrível e eu sentia como se pudesse revivê-lo sempre nas minhas memórias. Após passar boa parte do tempo pensando, ainda não eram nem 9 da manhã, então eu acabei me rendendo ao sono.

 

         Acordei com um barulho leve vindo da direção da cozinha. Havia uma coberta em meu corpo e a cortina da sala estava fechada, diferentemente de quando eu havia chegado mais cedo.

            Olhei no relógio da sala e constatei que já se passava de meio dia.

            Levantei com dificuldade e deixei a coberta no sofá. Dei alguns passos em direção ao barulho, sem saber quem era de fato.

        -Taylor? -Perguntei, esfregando os olhos. Meu coração estava apertado, era como se toda aquela despedida tivesse sido apenas um sonho.

            -Não, desculpe. -Jodi falou enquanto caminhava até mim. -Eu não queria te assustar, você não respondeu minha mensagem, então resolvi vir até aqui. -Suspirei e assenti, me sentando no banco próximo a bancada da cozinha.

            -Tudo bem. -Falei, pegando uma maçã na cesta de frutas e dava uma mordida.

       -Como você está? -Ela perguntou enquanto parecia estar cozinhando algo. As vezes Jodi me acordava dessa maneira, cozinhando ou apenas caminhando lentamente pela casa.

            -É bem pior do que eu imaginei. -Dei mais uma mordida na maçã. -Taylor está arrasada, e não é pra menos.

            -Infelizmente as vezes temos que abrir mão de certas coisas para podermos começar outras. -Jodi colocou alguns legumes em uma grande panela. -Eu imagino que Taylor vá esperar você, ela te ama, mas não é justo, sabe? Você vai estar realizando algo lá, e ela vai estar aqui esperando pra viver o momento de vocês.

            -O que acha que eu deveria fazer? Terminar as coisas com Taylor? -Aquele pensamento era algo que me causava náuseas.

         -Eu sei que você jamais conseguiria fazer isso, Laura. Você a ama, e eu vejo isso sem precisar olhar para seu rosto. -Jodi estava com um sorriso nos lábios, e olhava fixamente para a panela enquanto cozinhava.           

            -Eu sou uma covarde. -Revirei os olhos e bufei. -Eu nunca pedi para Taylor ser oficialmente minha namorada, e agora estou prestes a ir para o outro lado do mundo.

            -Dá um tempo pra sua cabeça, ok? Não adianta se arrepender de coisas que você não pode mudar. O que resta é você tentar mudar a partir de hoje. -Jodi caminhou até o meu lado. -Eu estou com você, tá? Seja lá qual for sua decisão maluca.

            Passei mais algum tempo conversando com Jodi, e de certa forma eu me senti mais leve. Jodi cuidou de todo o almoço e eu a agradeci várias pela sopa maravilhosa que ela havia preparado.

            Na parte da tarde, Jodi me ajudou a arrumar a cozinha e logo depois nos deitamos no sofá para assistir algum filme.

            Mandei algumas mensagens para Taylor e ela apenas me avisou que já estava no set. Era por volta de 3pm quando a chamei para uma conversa de vídeo, para ser sincera eu devo ter tentado umas 10 vezes, mas Taylor não atendeu nenhuma.

           De certa forma aquilo me machucou. Eu sabia que ela estava gravando, mas era complicado imaginar que aquela seria nossa relação dali a algum tempo. Taylor estava se fechando e isso era o que eu mais temia. Eu não podia cobrar nada, aliás era eu quem estava partindo.

            Quando a noite caiu, Jodi me apressou para que eu me trocasse rapidamente. Passaríamos em uma confeitaria para pegar uma encomenda que ela havia feito para o aniversário de sua mãe. Não seria nada grande, mas eu fazia questão de estar com Jodi, eu precisava ocupar minha cabeça o máximo possível e ficar em casa sozinha não ajudaria nem um pouco nisso.

            Apenas as pessoas mais íntimas estavam na casa da mãe de Jodi. Eu já estava acostumada com eles e me sentia parte da família também. Era um jantar simples, então apenas comemos e logo após devoramos rapidamente o bolo que Jodi havia comprado, que por sinal estava muito bom.

         Não fiquei por mais de três horas com eles. Logo eu já estava em meu carro novamente a caminho de casa. O mais interessante de quando você tenta esquecer uma determinada situação, é a insistência de lembrar que aquilo não sairá tão cedo da sua mente e será doloroso por um bom tempo.

              E isso era o que estava acontecendo comigo durante todo o dia.

           Ao chegar em casa, caminhei até a cozinha e peguei uma taça de vinho e uma garrafa que eu havia começado a tomar na noite anterior.

           Coloquei a banheira para encher enquanto colocava vinho na taça e deixava próximo a ela. Caminhei de volta para o quarto em busca do meu celular que estava no meio das minhas coisas na cama.

            Nenhuma mensagem.

        Eu não estava surpresa, sabia que seria daquele jeito, pelo menos até que Taylor pudesse processar tudo que estava acontecendo. Despi-me no quarto mesmo e caminhei com o meu celular até o banheiro enquanto chamava Taylor para uma conferência de vídeo, e para minha surpresa, dessa vez ela havia atendido.

             -Hey. -Falei ao entrar na banheira completamente cheia. -Estou no mesmo lugar que estávamos ontem.

           Taylor parecia estar deitada em sua cama. Seu cabelo estava molhado e ela vestia um roupão branco de algodão. O sono e cansaço eram evidentes no seu rosto.

            -Hey. -Ela respondeu sem muita animação.

            -Sumiu o dia todo. Muito trabalho?

            -Sim, eu acabei de chegar. -Ela suspirou pesadamente. -Foi um dia bem corrido.

            -E não teve tempo de me mandar nenhuma mensagem sequer. -Eu olhei fixamente para tela enquanto ela parecia buscar uma fuga daquela situação.

            -Muito trabalho, como eu disse. -O tom dela parecia entediado e repetitivo agora.

            -Você não precisa tentar arrumar uma desculpa, eu ainda quero que sejamos sinceras uma com a outra.

           -Isso é muito difícil, Laura. Eu acho que isso me assusta. 

          -Eu entendo, Taylor. Eu não tenho direito de te pedir nada, eu estou causando isso. Só por favor, me diz que podemos aguentar. -Taylor fechou os olhos por alguns instantes antes de responder.

            -Sim, mas preciso de tempo até digerir tudo isso. -Ela se acomodou confortavelmente em sua cama e por longos minutos eu desejei estar ali, em seu apartamento, onde eu conseguia sentir perfeitamente que também era meu.

            Passei mais algum tempo conversando com Taylor, para ser mais exata nos falamos até que eu terminasse meu banho e me deitasse em minha cama.

            Taylor contou como havia sido o dia no set, as cenas que gravou e o que teria que gravar no dia seguinte. Ela sempre se empolgava quando começava a falar sobre Piper e suas cenas. Eu sabia exatamente o quão importante era para ela ser protagonista de uma série e todo seu empenho em fazer um ótimo papel, o que me deixava completamente orgulhosa.

            Demoramos algum tempo até nos despedirmos, ela estava com sono e minhas pálpebras já estavam começando a pesar. Quando desligamos a chamada, apenas sua foto restou no meu papel de parede, foi então que me permiti pela primeira vez naquele dia, chorar. Um choro leve, mas que pesava toneladas. Não emiti som, mas produzi uma enorme quantidade de lágrimas.

            Isso seria mais doloroso do que eu pensava.

 

POV TAYLOR

            -Bom dia, Schill. -A voz bem humorada de Uzo quase fez eu me sentir culpada por estar tão irritada naquela manhã.

            -Oi, Uzo. -Fiz o máximo para lhe dar um sorriso convincente e torci para que funcionasse.

            Eu tinha acabado de chegar no set, cansada, com sono e todo o peso dos problemas acumulados nas costas. Eu me lembrei vagamente da minha adolescência e de como eu me sentia quando ia para a escola de manhã; eu tinha a sensação de que o mundo ia acabar. Ali, a minha definição de "problemas" quando eu tinha 14 anos chegava a ser engraçado.

            Tomei algumas xícaras de café enquanto aguardava minhas cenas chegarem. Eu me sentei em um sofá com o roteiro das cenas do dia no colo, repassando-as.

            Eu havia contado no dia anterior para Natasha sobre Laura e ela ficou um pouco surpresa. Eu pedi para ela manter em segredo, afinal, Laura ainda iria conversar com Jenji e os outros produtores na série sobre sua situação em Orange. Mas depois da exclusão temporária dela da segunda temporada, sua saída era compreensível. Eu também não sabia se ficaria presa a um projeto onde me sentia descartável. 

             No set, Tasho era a única que sabia.

            Eu também havia contado a Alycia sobre isso, por telefone. Ela me deu apoio e até se ofereceu para passar alguns dias em Nova York, por mais que estivesse com a rotina super pesada em Los Angeles. Eu agradeci, mas sabia que aquilo era algo que eu tinha que enfrentar sozinha.

            Comecei a gravar apenas na parte da tarde, sem muito ânimo. Laura me mandou algumas mensagens dizendo que chegaria no meio da semana para ter a conversa com Jenji e eu me senti um pouco melhor, mesmo sabendo que isso significava que provavelmente tínhamos menos tempo do que eu havia esperado...

            Eu suspirei.

            -Corta! -A voz de Jenji me tirou dos meus pensamentos rapidamente. Eu olhei em volta, estávamos no meio de uma cena no refeitório e eu acabei me distraindo. -Taylor? Tudo bem? Precisa de um tempo? -Jenji se aproximou de mim e me perguntou num tom baixo. Ela forçou certa gentileza na voz mas sabia que já estava impaciente com o meu péssimo rendimento aquele dia.

            -Não, tudo bem. Desculpa. -Eu balancei a cabeça, tentando manter meus pensamentos em ordem. Estava tudo bem.

            -Mais tarde vamos conversar, ok? -Ela falou e eu assenti.

            Voltamos para a cena. Dessa vez, não deixei que nenhum pensamento de fora me fizesse errar novamente.

            Eu fiquei aliviada quando o dia de trabalho terminou, mas eu sabia que ainda tinha problemas pela frente.

            -Jenji? -Bati na sua porta.

            -Entra! -Eu abri e percebi que ela conversava com uma escritora da série. Assim que me viu, ela se virou e saiu, nos dando privacidade. -Pode se sentar.

            Eu me sentei, respirando fundo e tentando parecer interessada. Naquele momento, só queria a minha cama.

            -Do que se trata?

           -De Laura. A julgar pelo seu comportamento e o seu rosto. -Ela gesticulou para mim, que provavelmente estava acabada. Não me olhei no espelho naquele dia para checar. -Eu imagino que você já saiba.

            Fiquei um pouco surpresa. Não esperava que Laura já tivesse contado para ela.

            Me ajeitei na cadeira, não precisando mais fingir interesse.

            -Eu sei sim.

           -Então... É um problema, Taylor. Nós tínhamos escrito o final da segunda temporada com mais algumas cenas para que ela pudesse retornar à prisão na terceira temporada. Ainda não tinha comunicado pois estávamos dando os retoques finais.

            -Sabe, teria ajudado bastante se vocês tivessem dado essa confiança a ela antes de uma outra oportunidade surgir. -Eu falei sem pensar, um pouco irritada com aquela situação.

            -Como eu disse, coisas mudam. Não começamos a gravar com a temporada inteira pronta. Sempre mudamos alguma coisa de lugar.

            -Mas uma personagem importante merece segurança, não acha? Vocês só dão isso quando há o risco de perder a atriz?

        Jenji encostou na cadeira, me encarando profundamente. Ela cruzou os dedos, com as mãos apoiadas na mesa a sua frente.           

            -Enfim, eu te chamei para que pudesse saber que isso envolve você também. -Ela me jogou uma folha de papel com um roteiro, provavelmente do último episódio.

            Eu li rapidamente o que haviam criado. Piper seria a culpada pela volta de Alex na prisão.

            Eu ri sarcasticamente.

            -As vezes a vida imita a arte. -Falei baixo, mais para mim mesma do que para ela.

            -Acha que temos alguma chance de mantê-la aqui? -Jenji perguntou e eu dei de ombros.

            Eu não tinha expectativas ou esperanças, eu vi nos olhos de Laura o quanto ela estava decidida a ir.

            -Eu não sei, sinceramente. -Devolvi o roteiro para ela e a folha deslizou pela mesa de vidro até tocar em suas mãos, inquietas. -Vale a pena tentar. Ela marcou a reunião com vocês, não?

            -Sim, quinta. Eu vou apresentar isso a ela.

            -E se não acontecer?

            -Mudaremos só algumas coisas no final, já conversamos sobre isso. -Ela rabiscou algumas coisas no roteiro e me mostrou segundos depois.

            -Piper pensaria melhor e deixaria Alex fugir. -Eu falei, lendo o que ela havia mudado ali.

            Isso me fez pensar e também fez meu coração doer. Era a coisa certa a se fazer, na realidade e na ficção.

            Nos despedimos e eu saí dali, apressada em ir para a casa. Dirigi o mais rápido possível, avançando alguns sinais vermelhos.

           Cheguei em casa e uma sensação de alívio tomou conta do meu corpo. Durante todo o trajeto, cada segundo após aquela conversa com Jenji, eu tentava evitar que eu sentisse esperanças.

            Eu usei toda a minha força para que aquela mísera faísca de possibilidade não me fizesse criar expectativas de novo que Laura pudesse ficar        

            Mas, infelizmente, a mente domina a matéria.

            E antes que eu pudesse perceber, já estava torcendo que depois de quinta, ela já não precisasse mais ir embora.                 

 

            Quanto mais eu queria que o tempo passasse rápido, mais os dias demoravam a se renovar. Me peguei diversas vezes sentada na janela da sala após um longo dia de trabalho sem conseguir dormir, mesmo estando extremamente exausta. Os meus pensamentos simplesmente não paravam, a cada segundo eu ficava mais confusa e mais perdida sobre o que eu deveria sentir ou fazer.

            Se tornou uma pequena rotina; levantar da cama no meio da noite e me sentar na janela, observando o movimento da madrugada lá fora. Dentro de casa estava aquecido, mas era possível sentir o frio das ruas só de encostar no vidro e o ver ficar embaçado. Poucos carros percorriam as estradas e só algumas luzes dos prédios estavam acesas; o silêncio era absoluto.

            Certa hora eu suspirava pesadamente, observando o sol dar os seus primeiros indícios de que estava prestes a surgir, e minha mente finalmente cedia à exaustão. Eu me deitava no sofá e dormia poucas horas até ir trabalhar, e então aquilo se tornava um ciclo infinito.

            Felizmente, quinta feira havia chegado. Natasha e outras garotas estavam começando a ficar preocupadas comigo e as minhas olheiras que pareciam aumentar a cada dia mais, e eu insistia que tudo iria ficar bem, só precisava de um tempo.

            O olhar de reprovação de Natasha deixava bem óbvio que ela sabia que aquilo era uma possível mentira.

            Na quinta, a rotina finalmente mudou. Eu levantei cedo, arrumei a casa e tomei um banho rápido pela manhã. Laura chegaria em Nova York antes do meio dia e iria direto ao set para uma reunião com alguns diretores da série. Eu torcia para que a proposta de Jenji a fizesse pelo menos pensar a respeito, por mais que fosse injusto da minha parte desejar esse tipo de confusão para Laura, eu já havia desistido de tentar não ser egoísta. Eu queria que ela ficasse. Eu precisava.

            Tentei comer alguma coisa, mas eu sentia que meu estômago não aceitaria nada naquele momento. Desci e peguei meu carro, direto para o estúdio. Eu estava diferente naquela manhã, nervosa e um pouco animada. Mesmo se tudo desse errado, pelo menos eu iria vê-la em poucas horas.

            Felizmente eu só gravaria cenas na parte da tarde. Assisti Natasha atuar com Yael, uma cena tão emotiva que realmente prendeu minha atenção. A princípio, eu estava ali só para tentar distrair minha mente um pouco.

            Olhei no relógio tantas vezes que aquilo já estava ficando entediante. Quando, pela 15ª vez fui tirar meu celular do bolso, uma notificação fez o meu coração gelar.

            "já estou no set, peguei um táxi e por incrível que pareça, consegui chegar rápido. vou entrar na sala de reunião, mas logo te procuro."

            Eu suspirei, nervosa. Laura já estava ali, no mesmo lugar que eu.

            Finalmente eu conseguia sentir o meu coração bater no seu ritmo saudável de costume e eu me permiti pensar com clareza. Não parecia mais tão ruim assim sabendo que 6 horas de viagem não mais nos separavam.

            Desci até o andar de baixo, visando o meu camarim. Troquei minhas roupas e logo depois fui até a maquiagem, processo que não demorava mais do que 5 minutos. Por mais que eu só fosse gravar mais tarde, queria ficar pronta para não perder nenhum segundo livre com Laura.

            Algumas maquiadoras tentavam puxar assunto comigo ou me animar, mas aquele não era o momento. Eu só queria ficar sozinha e direcionar todos os meus pensamentos para a sala de reunião no andar acima.

            Eu já havia esperado tempo demais, então, não foi muito difícil aguardar aquelas 2 horas se passarem, deitada no sofá de couro do meu camarim. Eu havia me acostumado com o tédio e a procrastinação de simplesmente esperar o tempo passar; nada mais, nada menos.

            Eu estava perdida em pensamentos quando a porta do meu camarim se abriu. Eu me levantei na mesma hora, me sentando no sofá.

            Laura sorriu e caminhou até mim, praticamente me esmagando em um abraço demorado. O tempo não era mais nenhum problema para mim. Na verdade, ele era um amigo conhecido, e eu só queria que, ao contrário de todas as vezes anteriores, ele parasse e me permitisse ficar naquele abraço para sempre.

            -Essa foi a pior semana que eu já tive na vida. -Foi a primeira coisa que eu falei e ela acabou soltando uma risada.

            -Eu posso dizer o mesmo. -Laura suspirou, me soltando um pouco para me olhar nos olhos. Minhas mãos ainda estavam na cintura dela, se recusando a soltá-la. -Como você está? Não tem dormido?

            Eu balancei a cabeça negativamente. Ela me entregou uma xícara de café que estava em suas mãos.

            -Digamos que eu estava ocupada demais tendo pensamentos destrutivos para conseguir dormir. -Tomei um gole do café.

            -Taylor... -Ela me olhou um pouco decepcionada.

            -Tudo bem, isso vai melhorar. -Eu repeti a mesma mentira que contei tantas vezes aquela semana. -E você?

            -Um pouco ocupada demais lá em Los Angeles. Agora parece que vir para cá é a minha fuga.

            -Ah. -Eu não esperava exatamente aquela resposta.

            -Enfim, não vai me perguntar como foi lá em cima?

            -Estava esperando você dizer. -Eu forcei um sorriso, tentando soar casual.

        -Bem... -Ela respirou fundo, com um sorriso nos lábios. -Jenji disse que havia conversado com você sobre o final que escreveram, não é? Então, eu expliquei a minha situação para eles e a insegurança que eles me fizeram passar durante todo esse ano. Óbvio que entenderam, por isso se apressaram em me mostrar o roteiro que estavam trabalhando para a season finale. Seria uma abertura para eu voltar à prisão na terceira temporada, ou seja, eu voltaria a ser uma personagem regular na série. Eu só me pergunto se eles fizeram isso só porque descobriram que surgiu um outro projeto... Jesse ligou para eles pouco depois de me contar sobre a proposta.

            -Acho que é algo a longo prazo. Eles já estavam decididos a te colocar de volta na série, mas só apresentaram agora porque ficaram sem tempo.

            -Como sabe?

            -O roteiro já estava criado. Eles não teriam feito aquilo tão bem em poucas horas.      

            Ela assentiu.

            -Acho que você está certa. -Laura suspirou, os olhos perdidos em pensamentos. -Me ofereceram coisas novas também. Por incrível que pareça, agora fazem questão da minha permanência na série. -Ela revirou os olhos.

            Eu me encostei no sofá, observando seu rosto mudar de expressão diversas vezes. Acima de tudo, ela estava confusa. Por mais que isso soasse terrível, vê-la estar indecisa me deixava mais tranquila. Isso queria dizer que eu ainda tinha chance. 

             

            2 horas antes

            POV LAURA

            -Laura? -Jenji chamou em um tom mais alto do que o normal, e só então percebi por quanto tempo havia ficado encarando a taça de cristal com água em minha frente.

            Formal demais, pensei.

            Eu sabia que o comportamento de boa parte da produção havia mudado após Jesse entrar em contato e mostrar a proposta que eu havia recebido. Por um momento eu quis rir, quis debochar e fazer com que eles sentissem o que eu senti meses atrás quando fui “cortada” antes mesmo da série estrear. Era completamente irônico ver que tudo aquilo que fizeram não valeu de nada, e depois foram eles que imploraram para que eu ficasse.

            Mas a proposta era boa, eu devia confessar. Alex estaria presente em praticamente todos os episódios, pelo menos nos que eu havia visto o esboço. Mas eu ainda não estava convencida e totalmente atraída. Eu adorava Orange, a história, os personagens, e o meu desentendimento era apenas com a produção.

            Nada poderia ser bom por inteiro, certo?

            Errado.

            Percebi que sim, algo pode ser bom por inteiro, mesmo que exista coisas ruins, o bom pode prevalecer. Aprendi isso no dia em que conheci Taylor. Desde então, decidi que não aceitaria nada menos que isso para a minha vida.

            -Eu preciso pensar sobre isso tudo. -Eu finalmente respondi e Jenji olhou fixamente em meus olhos como quem quisesse devorar minha alma.

            -Pensar? -Ela se levantou da cadeira, pegando sua xícara de chá e caminhando até a janela. -Essa é uma ótima proposta, Laura. Você sabe o quanto gostam de Alex. -Jenji agora estava apelando para os fãs. -Você e Taylor têm uma harmonia que eu nunca vi antes. Vocês protagonizam um dos casais com mais química que eu já vi na minha carreira inteira. As vezes esqueço que é Alex e Piper, e só consigo ver o amor entre Taylor e Laura.

            -Ok, Jenji. Eu já entendi o quanto você quer que eu continue na série. -Falei de maneira sarcástica e Jenji revirou os olhos soltando uma risada no final.

            -Eu espero que tenha te convencido, senão vão acabar mandando o diretor para tentar isso.

            -Eu vou pensar, ok? Essa é a minha resposta por hoje. -Me levantei enquanto juntava algumas de minhas coisas. -Mas isso poderia ter sido evitado, Jenji. Vocês plantaram essa insegurança dentro de mim, e eu vivia aqui todos os dias pensando quando seria a hora em que vocês iriam me descartar por completo como fizeram sem saber como seria a aceitação.

            -Eu sei que foi precipitado. E apesar de tudo, entendo se você resolver ir. -Parecia que agora não era mais a Jenji diretora da série falando, e sim uma amiga.

            Não fiquei por mais muito tempo em sua sala. Eu já havia dito tudo que havia pra dizer, só sentia que precisava de alguns dias para por tudo no lugar. Muita coisa acontecendo em tão pouco tempo.

            Saí do camarim e fiquei feliz ao dar de cara com Natasha e Yael, elas estavam brigando pra ver quem comeria o último pedaço de bolo que produção havia preparado para todos que estavam gravando aquela manhã.

            -Acho que vou ter que fazer um bolo individual pras duas. -Falei brincando atraindo a atenção delas que soltaram um “Laaaura” em coro.

            Apesar de tudo, era um pouco doloroso vê-las caracterizadas enquanto eu continuava sendo Laura. Sentia até uma pontada de inveja.

            -Finalmente. -Yael falou enquanto me abraçava fortemente. Um abraço que fez eu pensar que ela sentia a minha falta ali tanto quanto eu.

       -Já estava ficando deprimida sem esses lindos olhos verdes para iluminar meu dia. -Natasha disse, gesticulando freneticamente.

       -Para a alegria total da nação americana, aqui estou eu novamente. -Falei enquanto servia dois copos de café.

      -Eu também queria ter alguém que viajasse de L.A. até Nova York e quando chegasse levasse café pra mim. -Tasho falou olhando para os copos de café em minhas mãos.

        -Como ela está? -Perguntei um pouco aflita. Nos últimos dias eu não havia falado muito com Taylor. Quando nos víamos por conferencia de vídeo, ela sempre estava com uma expressão de cansaço. Seus olhos estavam pesados, olheiras fundas, respiração pausada.

          -Ela precisa de você, Prepon. -Natasha foi direta e falou em um tom diferente dessa vez. -Aqui no set nos esforçamos pra fazê-la rir, descansar e até comer a comida ruim do buffet.

           -Eu acho que é uma questão de tempo... -Respirei fundo, sem saber direito o que dizer.          

            -Não quero que você se sinta culpada. -Yael alisou meu braço. -Mas toda ação tem uma reação, é a vida.

          Passei mais algum tempo conversando com as meninas e segui até o camarim de Taylor. Havíamos marcado de almoçar juntas, e tudo que eu precisava fazer era convencer Taylor a ir também.

            Ao chegar em seu camarim, foi inevitável não perceber o brilho surgindo em seus olhos. Suas olheiras estavam profundas e ela parecia abatida. Tudo que eu conseguia pensar era por quanto tempo ela havia ficado sem comer. Eu estava me sentindo a pior pessoa do mundo, diretamente e indiretamente tudo aquilo havia sido causado por mim. Eu ainda estava confusa e divida sobre o que eu realmente queria de fato fazer. Uma parte minha gritava desesperadamente para que eu ficasse, mas outra dizia que eu precisava pensar melhor em minha carreira, porque era o meu futuro e ninguém além de eu mesma poderia fazer aquilo por mim.

            Fiquei ali durante algum tempo conversando com Taylor sobre como havia sido aqueles dias e mesmo que fossem poucos, pareceu uma eternidade.

            -Quando você volta? -Ela estava sentada no sofá segurando o copo com café. Suas bochechas estavam levemente rosadas, e alguns fios do seu cabelo bagunçado estavam em seu rosto.

            -Não sei ainda. Jesse disse que o pessoal da Alemanha marcaria uma reunião em Boston ou NYC, que são os lugares onde eles têm sede. Já que estou aqui, talvez eu peça para que seja em NYC. -Sentei ao seu lado e Taylor recuou.

           -Então você está decidida? Pensei que a conversa com Jenji tinha sido boa. -Ela não olhava em meus olhos, e eu não a culpava por isso.

            -E foi, mas é tudo tão estranho, sabe? Eu já tinha aceitado que o meu futuro na série estava acabado, e agora isso mudou. Eu não sei o que pensar. -Respirei fundo enquanto parecia estar pensando melhor sobre aquilo. Talvez eu estivesse me precipitando demais em relação a tudo.

            -Ah... -Ela se limitou a dizer; eu segurei em seu rosto e o virei para mim.

            -Você não consegue me olhar? -Perguntei, segurando seu maxilar com uma só mão.

        -Eu estou tentando me acostumar a ouvir apenas a sua voz, sem você estar aqui de fato. -Os olhos de Taylor ficaram avermelhados nos instante em que ela terminou a sua frase. Eu senti meu coração se apertar.

            Mais uma vez eu sabia que não estava no direito de pedir nada, muito menos exigir. Era eu quem estava decidindo ir para o outro lado do mundo e isso significava arcar com a maneira que ela agiria comigo.

            Passei mais algum tempo no sofá com Taylor, ela deitou em meu colo certa hora e simplesmente apagou. Ela segurava em minha mão, e em nenhum momento eu soltei. Eu acabei cochilando também, e acordamos pouco antes do horário de almoço que combinamos. A convenci de ir almoçar comigo, Yael e Natasha como nos velhos tempos, e ela aceitou sem muito esforço.

            O restaurante era um japonês que ficava a algumas quadras do set. Não era o meu lugar preferido no mundo, mas eu resolvi abrir uma exceção pois era um dia especial.

            Após longas semanas era como se tudo estivesse voltado ao “normal”. Yael, Natasha, Taylor e eu sentadas em um restaurante fazendo o que sabíamos fazer de melhor quando estávamos juntas... Ser nós mesmas.

          O almoço havia sido agradável como era de se esperar. Taylor parecia estar mais feliz do que aquela manhã quando a encontrei deitada no pequeno sofá do camarim. Ela estava ousando sorrir, e aquilo era o que eu precisava para saber que hora ou outra, ela iria ficar bem.

           Durante a tarde, acompanhei algumas cenas suas. Mesmo que o mundo estivesse prestes a desabar, Taylor se manteve completamente focada na cena e em tudo que estava acontecendo. Ela errava poucas e acertava imensuráveis vezes. Entre uma cena ou outra, eu fazia questão de aplaudir por sua ótima atuação. Ela me orgulhava de uma maneira enorme.

            Após as gravações, algumas garotas nos chamaram para tomar um drink em um pub, mas eu sabia que aquilo seria demais para aquele dia tão turbulento, e então pedi para que deixassem para uma próxima vez.

        Dirigi o carro de Taylor em direção ao seu apartamento enquanto ela cochilava no banco do carona. Definitivamente precisávamos conversar sobre suas noites de sono, e eu não sairia de sua casa até que ela estivesse devidamente descansada.

            -Tay? -Chamei após abrir a porta do carona e a segurar pelos braços. Ela abriu os olhos calmamente se acostumando com a claridade do local.

            -Acho que dormi demais. -Ela sorriu enquanto reconhecia onde estava.

          Ajudei Taylor com suas coisas e caminhamos em direção ao seu apartamento. Eu estava ansiosa para entrar lá novamente, por tantos dias desejei estar em um lugar que eu me sentia em casa, ainda mais na presença de Taylor.

          Entramos e Taylor foi direto para o banho e eu decidi preparar algo para jantarmos. Aos poucos eu sentia como se nada estivesse mudado, e que era somente eu, Taylor e Nova York.

            Mas nada poderia ser feliz para sempre.

          Conforme os dias iam avançando, fiz o máximo de coisas possíveis que queria com Taylor. Conhecemos pontos de NY que ainda não tínhamos ido juntas e em um certo final de semana viajamos de carro até Connecticut. Eu não havia voltado a conversar com Jenji ou Jesse, mesmo que ambos tivessem tentado algumas vezes, eu decidi esquecer aquela confusão toda pelo menos durante algum tempo e foquei em Taylor e no nosso amor.

 

        Era uma terça feira chuvosa de novembro, e o relógio marcava 6 da noite. Eu estava sentada impaciente em meu apartamento. Muito cedo para beber? Talvez. Mas eu não nunca havia sido do tipo que obedecia a regras.

         A garrafa de whiskey já estava chegando na metade enquanto eu tentava me entreter com uma moeda em cima da mesa de vidro da sala. Eu balançava meus pés sem parar, numa tentativa frustrada de aliviar a ansiedade que me consumia.

           Meu celular vibrou logo após eu detonar o terceiro copo da bebida.

        “Onde você está? Os produtores já estão a caminho, o contrato já está pronto para ser assinado, e devo confessar, ele é incrível. Chegue logo, Jesse."

            Inspirei.

            Expirei.

           Enchi mais um copo com o líquido enquanto guardava algumas coisas no fundo da minha bolsa. Documentos, chaves, carteira, e antes que eu pudesse jogar o meu celular também, a tela acendeu mostrando a foto de Taylor tentando segurar a estrela do mar no meu papel de parede.

            De uma coisa eu estava certa...

            Não havia mais como me arrepender de minhas decisões agora.

 

 



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