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História Tudo Por Acaso - Recesso de inverno


Escrita por: bravenlarke

Notas do Autor


Olá pessoas lindas! Adivinhem quem tá postando um capítulo novo (e grande) sem nem demorar um mês? A própria que vos fala! Tá, eu sei que faltam três dias pra dar um mês desde a última vez que apareci aqui, mas enfim, tá valendo KKKKKKKKK Tô de volta, queridos! Fiquei bem satisfeita com esse capítulo e acho que vocês vão ficar também. A música de hoje é Anymore Of This, da Mindy Smith. Mais lentinha e fofinha.
Vejo vocês nas notas finais.
Boa leitura! <3

Capítulo 24 - Recesso de inverno


Raven abriu a porta do quarto pela manhã. Tinha olheiras debaixo dos olhos e o cabelo preso em um rabo de cavalo mal feito. Sua expressão escancarava o mau humor que sentia, como se o estresse da semana de provas ainda não tivesse passado para ela, apesar de ter terminado quatro dias atrás. As pálpebras semicerradas diziam que ainda não tinha acordado totalmente. — Clarke, você tem algum absorvente pra me dar? Eu acordei com uma surpresa maravilhosa na minha calça hoje, então... — Ela parou de falar ao notar que mais alguém estava presente no seu quarto, além da colega de sempre. — Ah, oi, Lexa. Você chegou cedo dessa vez.

— Ei, Raven. — Lexa a cumprimentou. Clarke não mostrou nenhum sinal de tê-la ouvido, com o olhar focado na tela do notebook e as mãos apressadas ao digitar no teclado. — Desculpe. Vamos apresentar nosso trabalho hoje, quis vir para decorar a minha parte logo.

— Entendi... — A morena escorou na porta do armário e cruzou os braços. — E quantos pontos vale esse trabalho?

— 20 pontos. — Lexa respondeu.

— Isso tudo? Não é possível. O professor deve ter deixado a data de entrega pra depois do recesso, não? — A outra mexeu sua cabeça, de cima para baixo. — Se esse é o caso, por que precisam se apresentar agora? Vocês esqueceram que vamos ter uns 15 dias de férias, mais ou menos? — Ela perguntou, com tom debochado.

— Não. — Clarke retrucou, tirando uma bolsinha de sua mochila e arremessando-a em alta velocidade para Raven. Por pouco, ela conseguiu pegá-la no ar. — Mas é melhor terminar isso de uma vez. Não vamos ficar preocupadas em fazer esse trabalho durante o recesso, nem ter que lidar com nada no último segundo.

— Minha nossa, quanta responsabilidade. — As palavras da amiga transbordaram de sarcasmo, mas Clarke não se importou. Deu de ombros e mostrou um sorriso meio convencido.

A realidade era que não estava sendo completamente sincera, já que esse não era seu único motivo. Além de querer uma folga das obrigações da universidade nas próximas semanas, ela também tinha planejado se livrar de toda atividade que tomasse seu tempo e atrapalhasse sua possível saída com Bellamy. Ainda não haviam decidido uma data específica, por isso, ela gostaria de estar disponível a qualquer instante que ele pudesse chamá-la. Era um pouco desesperado da sua parte, ela sabia, mas não dava importância a esse detalhe mais. As conversas que tiveram nos últimos dias a deixaram tão animada, com tantas indiretas aqui e ali, que mal podia esperar pelo dia que realmente saíssem juntos.

Com o decorrer dos minutos, Clarke e Lexa revisaram todo o material para que soubessem o que iam discursar na hora da apresentação. Raven as abandonou e só voltou ao quarto quando já era o momento de se arrumarem para a aula. Faltavam dez minutos para as sete.

— Pronto, acabamos! — A loira jogou os braços para cima, esticando-os, com um sorriso de orelha a orelha estampado. — Ainda bem, um trabalho a menos pra esse recesso. Eu não conseguiria fazer isso sem você, Lexa. Você é um anjo que salvou minha vida, sua linda! — Ela se levantou e lascou um beijo forte na bochecha da outra. — Agora, vamos lá tirar um total, o que me diz?

... — Lexa balbuciou, com os olhos arregalados de leve e a boca aberta. Um suave rubor surgia em seu rosto. Engoliu em seco e formou um sorriso amável para a amiga. — Claro, vamos. Vou pegar meus pertences e te encontro na entrada do dormitório. — Ela foi-se para longe às pressas. Clarke voltou-se para o armário e começou a trocar de roupa ao lado da colega de quarto, que arrumava seu cabelo no espelho.

— Coitada. — Raven murmurou para si mesma.

Hm? Falou alguma coisa?

— Impressão sua.

Usando um casaco forrado, um cachecol e duas meias por dentro de seus tênis, Clarke caminhou até o prédio de Humanas com Lexa. A brisa fresca e agradável que tinha visitado o campus há dois dias havia desaparecido rapidamente, abrindo espaço para uma frente fria detestável. Todos pareciam estar de acordo com essa mudança de clima, menos ela que, em especial, odiava essa friagem. Parecia até um boneco de madeira andando, com as articulações travadas por causa do tempo gélido.

Em sua sala, apenas sete pessoas apareceram, contando com o professor. Essa pequena contagem era esperada, já que faltava somente um dia para que o recesso de inverno começasse, por fim. A maior parte dos estudantes tinham até viajado para suas casas de uma vez, desejando aproveitarem mais tempo com suas famílias. Sem alguma exceção, os alunos presentes pareciam desinteressados com o que diziam na apresentação. Três deles dormiam em cima das carteiras, usando suas mochilas como travesseiro. Aquilo, em si, era uma benção, pois não teriam que lidar com as dúvidas cabeludas de ninguém. Assim que terminaram, o professor comentou de suas anotações acerca do assunto tratado e receberam a bela nota de 19 pontos.

O resto da aula passou em um piscar de olhos. Após poucos minutos, as duas estavam de volta à entrada, conversando sobre como tinham se saído bem.

— É um alívio pensar que não vou mais me preocupar com esse trabalho. Quem diria que montar uma apresentação podia ser tão cansativo. — Lexa disse, enquanto deixava sua cabeça pender para trás, movendo o pescoço para os lados e esticando os braços. — Agora, posso ficar aquecida debaixo do meu cobertor, relaxada. Quer dizer, por alguns dias, não é? Depois, começa tudo de novo.

— Nem fala. Vamos focar só na parte positiva, por favor. cansada de olhar pros meus livros, e olha que eu amo ler. — A morena soltou uma risadinha.

— E aí, decidiu o que vai fazer no recesso? Se vai viajar, fazer algumas trilhas, ir ao cinema...

, não sei se você já percebeu, mas eu sou uma pessoa extremamente caseira. Prefiro o conforto da minha casa do que qualquer outro lugar nesse frio dos infernos, muito obrigada.

— Bom, você tem o meu número. Pode me chamar sempre que der vontade ou quando estiver entediada dentro de casa. — Lexa inclinou o rosto e olhou-a de cima a baixo, com um sorriso charmoso à vista. Clarke tinha se esquecido o quanto ela era boa e suave ao flertar. Ficou sem graça e fitou o chão, sem saber como respondê-la, até que a outra continuou a falar, alertando-a. — A luz do seu celular está piscando.

Era de uma mensagem de Octavia, enviada às 11:53.

"Hello, pessoa! Tudo bem? Só quero te dizer que você tá convidada pra uma reunião entre amigos que vai acontecer no refeitório, agora mesmo. Já que a maioria de nós vai viajar daqui a pouco, vem pra dar um tchauzinho! Te espero, hein? Ps. Se não vier, não precisa nem olhar na minha cara no ano que vem."

Clarke revirou os olhos e guardou o celular no bolso da jaqueta novamente, com uma leve curva no canto dos lábios. Surpreendia-se, de vez em quando, com a delicadeza de Octavia.

— Eu vou para casa hoje, e você? — Lexa persistiu na conversa.

— Só amanhã. Vou voltar com a minha mãe e ela tem que ficar aqui até o último dia de funcionamento, infelizmente. Mas, hm, quanto ao que falamos antes, pode deixar que vou te chamar, sim. Ainda tenho que encontrar um jeito de te agradecer por ter feito esse trabalho comigo tão depressa. Deve ter sido chato pra você, me desculpa.

— Que isso, não precisa se desculpar. Eu quis fazer ele com você, de verdade. E, que nem você falou, é um trabalho a menos pra esse recesso. — Ela deu de ombros, contente.

— Ainda assim, muito obrigada.

— Não há de quê. — A morena silenciou-se por um instante, virando seu olhar. — Meu pai vem me buscar às 15 horas, ou seja, tenho um tempo livre por enquanto. Quer fazer alguma coisa comigo? Podemos assistir um filme ou dar uma passeada, se quiser.

— Lexa, foi mal. — Clarke começou, sincera. — Octavia acabou de me chamar pra ir até o refeitório e vai me matar se eu não for. Juro que, se você tivesse me chamado primeiro, eu iria com você. Sério, sinto muito.

— Está tudo bem, vou me esforçar para ter um timing melhor da próxima vez. Acho que ficamos por aqui, então. — Ela sorriu, um pouco constrangida. — Um feliz Natal para você, Clarke. — Lexa a envolveu em um abraço carinhoso.

— Feliz Natal pra você, também. Te vejo antes do ano que vem, se possível.

— Estou contando com isso. Até mais.

A garota iniciou sua caminhada refletindo sobre a despedida com a colega, enquanto Lexa andava até o dormitório. Estava um tanto abismada: aquele semestre tinha se passado tão veloz ao seu ver. Mal podia acreditar que já era 23 de dezembro; o tempo parecia ter voado.

Quando adentrou o refeitório, a primeira que viu foi a decoração natalina, espalhada por todos os lados. Pequenas árvores enfeitadas encontravam-se nos cantos do salão; com guirlandas, folhas e galhos dispersos pelas paredes. Uma mensagem de "Boas festas!" estava dependurada no teto próxima a entrada. Não bastasse isso, a comida que vinha da cozinha também tinha o cheiro típico dessa comemoração. Pato assado, costela, peixe e purê de batatas apresentavam-se como prato principal, acompanhados por chocolate quente, biscoito e torta de maçã como sobremesa. Ela não poderia fazer uma desfeita com as cozinheiras, é claro, portanto, decidiu que colocaria um pouco de tudo no seu prato.

Após ter enchido sua bandeja, ela avistou a mesa em que seus amigos conversavam alegremente. Octavia, Harper, Fox, Monty, Miller, Jasper e Maya sentavam-se em uma mesa, levemente apertados, e Raven em outra, próxima ao grupo. A garota tomou um lugar vago perto da colega de quarto enquanto cumprimentava cada um.

sumida, hein? Achamos que nem viria hoje, de tanto que estudou esses dias. — Fox comentou, antes de tomar um gole de seu refrigerante.

— Ah, dá uma folga pra ela. Ouvi dizer que os professores de Relações Internacionais cobraram a leitura e o resumo de seis livros como trabalho. — Jasper disse entre garfadas.

— É, quase isso. — Clarke deu de ombros. Não queria falar muito, e sim aproveitar do copo de chocolate que estava fumegando a sua frente.

— Olha, não chamei vocês aqui pra falar de prova! Se fosse pra falar disso, eu ia conversar com os meus colegas de sala. Nada das palavras "teste", "estudos", "professores" e "notas" nessa mesa. — Octavia quase gritou para o grupo.

Ih, alguém foi mal... — Harper sussurrou em alto tom e desviou seu olhar quando a amiga a encarou com uma carranca brava.

— Continuando, eu quero saber dos planos de vocês, ou melhor, dos nossos planos! Isso que é importante. O que cada um vai fazer no recesso? Vamos ter tempo pra nos encontrar, bater um papo, dar uns rolês por aí ou não?

— Eu não posso. — Fox começou. — Vou passar o Natal e mais alguns dias no interior, com os meus avós. Faz muito tempo que eu não visito eles, então, é possível que eu demore mais que o previsto pra voltar pra cá.

— Eu, Miller, Jasper e Maya vamos visitar Pine Mount, uma cidade vizinha, bem pequena, que fica linda no inverno. É cheio de espetáculos na rua nessa época do ano também. — Monty falou em seguida. — As atividades são mais voltadas pra casais, mas qualquer um pode ir.

Urgh, passo. — Raven torceu o nariz. — Ainda não sei se vou voltar pra minha cidade nessas férias. Por enquanto, minha agenda aberta.

— Ótimo. Eu não me importo com o que vocês vão fazer nos últimos dias de dezembro, desde que...

— Se não se importa, por quê perguntou?

— Você decidiu tirar sarro de mim hoje ou o quê, Harper? — Octavia reclamou com as mãos na cintura, mas logo deixou a fala da outra de lado. — Vou avisando de uma vez pra que ninguém marque nada no final do ano. Vou dar uma festa de réveillon na minha casa e quero ver todos lá. Vai ter bebida, música animada e boa companhia, que sou eu, óbvio. Vou cobrar a presença de cada um, e ai de quem me der bolo nesse evento.

— Quer dizer que você mora sozinha agora? — A voz repentina de Bellamy surgiu no refeitório. O rapaz apareceu com uma bandeja na mão e colocou a mochila sobre a mesa mais vazia. — Porque não sabendo de festa nenhuma e eu também moro nessa tal casa.  Como você vai arranjar a bebida? Tem uma identidade falsa, por acaso?

— Tenho um namorado maior de idade, intrometido. — Octavia mostrou a língua. Ela continuou a discursar como se não tivesse sido interrompida, mas Clarke não pôde mais prestar nenhuma atenção às suas palavras. Os olhos da garota haviam fixado-se em Bellamy.

Sua jaqueta de couro preta clássica estava amarrada na cintura, deixando os braços firmes de fora em uma camiseta da mesma cor. Seu cabelo era a pura definição de rebeldia naquele momento. Era impressão da garota, ou Bellamy tinha se tornado mais encantador durante o período que não o viu? Ele notou que o encarava ao se sentar na sua frente e curvou os cantos dos lábios.

— Ei. Perdi o quê de importante?

— Nada de mais. Só a sua irmã bolando ideias malucas como sempre. — Ela sorriu. Era quase um alívio vê-lo pessoalmente, depois de dias falando com o próprio apenas por mensagens. Não demorou nem um minuto para que um clima diferente tomasse conta deles, fazendo-a lembrar de todas as indiretas que trocaram há pouco tempo. Estava presente em seus olhares um novo tipo de atração, uma ânsia pelo toque do outro, que a deixou com vontade de vivenciá-la sem a presença de espectadores. Percebeu que Bellamy também se sentia assim. O som estridente que vinha da boca de Octavia, no entanto, empurrou-os para fora do transe que compartilhavam.

— Não vamos sair daqui antes de ter decidido o que fazer durante o recesso. Vamos, gente, algo pra comemorar o fim das aulas! Não tem graça se não fizermos uma despedida bacana desse grupo.

— Que tal um amigo secreto? Compramos uma lembrancinha pra quem quer que tirarmos no sorteio. — Miller sugeriu. — Nem que seja um chinelo, sei lá.

— Com que dinheiro? Alôoo, somos todos universitários aqui, com uma dívida enorme pra pagar. — Fox cerrou as sobrancelhas e cruzou os braços. — Eu até curto a ideia, mas tinha que ser algo bem barato.

— Ah, eu ia gostar de ganhar alguma coisa. — Bellamy suspirou, falando baixo. Com habilidade, ele encostou seus dedos na mão da garota, de forma gentil. O gesto quase a fez pular do assento, mas ela conseguiu conter o susto. Ninguém pôde ver, pois a mochila tampava a interação dos dois. — Você já comprou meu presente? — Ela soltou o ar de sua boca, levemente indignada.

— Não sabia que você ia querer um presente meu.

— É claro que quero! Pensa bem no que você vai me dar, hein? Eu tenho altas expectativas. — Aquele sorriso malicioso típico do rapaz surgiu no seu rosto. Tudo que Clarke pôde pensar foi: droga. Costumava ser tão imune à expressão sedutora dele, mas agora... Tinha caído perfeitamente no seu jogo. Sua sorte era que dois podiam participar dessa brincadeira. Ela mexeu no cabelo e concentrou-se para ficar séria antes de falar.

— Tenho algumas ideias em mente. Posso te contar todas elas mais tarde, quando ficarmos a sós? — Ele arregalou os olhos por um breve instante e emitiu uma risadinha abafada. A reação, em si, era um sinal de vitória para a garota.

— Que lado seu é esse, Clarke? Fiquei impressionado agora.

— Você ainda não viu nada. — Ela levantou uma das sobrancelhas.

— Uau. Vou querer verificar isso depois, me lembra de te cobrar. — Bellamy abaixou os olhos momentaneamente e, quando voltou a encará-la, não havia mais uma sombra sequer de tentação em suas esferas escuras. Pelo contrário, havia naquela mirada uma doçura repentina que pegou a garota desprevenida. Como ele era capaz de mudar tão rápido? — E que frio é esse que você sentindo? Até de cachecol, que exagero.

— Você que é o exagerado. Usando uma camiseta nesse inverno, sério?

— Eu sinto calor demais. Não aguento ficar muito tempo com uma blusa de manga longa. — Ele desenhou com o polegar sobre sua mão, devagar. Seus dedos a esquentavam. — Como foi sua apresentação? O professor gostou do trabalho?

— Ah, é, Clarke. — Raven intrometeu-se na conversa dos dois, totalmente ignorante de que aquele diálogo era íntimo. — Que nota vocês tiraram? Eu espero que tenha sido total, porque foi muito difícil ter que acordar mais cedo, todos os dias, pra você e a Lexa revisarem. Aliás, por que não podiam fazer isso no quarto dela?

— A Anya, colega de quarto da Lexa, ia brigar com a gente. Ela odeia levantar de manhã nesse frio. — Clarke explicou-se.

— Olha, que bacana. Sabe quem mais odeia fazer isso? Eu! — Raven vociferou. — Sou uma santa por não ter jogado minha raiva em vocês duas. Mereço ser canonizada.

— Espera aí. — Bellamy se manifestou, com as sobrancelhas levemente cerradas. — A Lexa passou no seu quarto todos esses dias?

— Sim, ela é minha dupla nos trabalhos. — A garota falou, despreocupada. — Tiramos 19 em 20 pontos.

— Então, em todas as fotos que você me mandou, com aqueles livros abertos e o notebook na sua cama, ela tava por lá?

Tava. — Aquele pequeno interrogatório começou a deixá-la confusa. Por que isso interessava tanto para o rapaz? Ele acenou com a cabeça, desviou os olhos e lambeu os lábios. Seus dedos voltaram-se para debaixo da mesa, abandonando a mão fria de Clarke. — Algum problema com isso?

— Nenhum. — Ele forçou um sorriso. Antes que ela pudesse questionar sua atitude mais à fundo, o berro de Octavia lhe interrompeu novamente.

— Todos apoiam? Até vocês aí, com a conversinha paralela?

— Apoiam o quê? — Raven perguntou.

— O amigo secreto, querida! Presta atenção. Nessa época do ano, algumas lojas do shopping fazem promoção e as barras de chocolate ficam mais baratas. Nem que seja uma pequena de 3 dólares, dá pra comprar. Apoiam?

Os três concordaram com a ideia. Octavia passou uma folha branca pelas mesas, onde todos anotaram seus nomes e o sabor de chocolate preferido. Depois, ela arrancou os escritos, os dobrou em pequenos pedaços e sacudiu-os para que cada um os escolhesse. A conversa continuava solta pelo grupo, mas Clarke percebeu que Bellamy já não se mostrava tão alegre. Seu maxilar estava tenso e sua cabeça parecia estar nas nuvens, do jeito que fitava o chão.

Depois de um tempo, ela pôde pegar um dos papéis nas mãos da amiga. Em uma maravilhosa letra cursiva, ela leu as palavras "Maya, chocolate branco".

— Tudo bem, agora que todo mundo já tirou seu amigo secreto, temos que decidir quando e onde vamos fazer isso. — Octavia exclamou. Estava muito entusiasmada por liderar esse evento.

— Pode ser no nosso quarto, não? Eles vão trancar os outros prédios mais tarde. — Harper sugeriu. O restante dos amigos não pareceu se importar.

— E quanto ao horário? Eu e o Miller vamos embora às 19 horas, então, tem que ser mais cedo que isso. — Monty comentou. — Que tal às 17:30? Fica tarde pra alguém? — Todos negaram.

— Ótimo! Vamos pras compras agora! Ah, e alguém vai ter que me ajudar a achar um presente pro meu namorado, tá?avisando!

O pessoal se levantou das mesas com seus pertences e partiu para o estacionamento, onde se dividiu em dois grupos: Octavia, Harper, Fox e Clarke, que iam no carro de Bellamy, e Monty, Jasper, Maya e Raven, que iam no carro de Miller. Clarke se sentou no banco de trás, acompanhada por Harper e Fox, enquanto Octavia se sentou no banco da frente. Eles foram conversando sobre a tal festa de ano novo que a caçula Blake queria dar e se essa era uma boa ideia ou não. A loira não teve coragem de interferir no assunto, pois ainda estava bastante estranhada com a reação de Bellamy. Seus olhos até pareciam ignorá-la pelo espelho do retrovisor.

Ao chegarem no saguão principal do shopping, poucos minutos depois, os planos de cada começaram a mudar. Monty, Miller, Jasper e Maya queriam procurar por uma peça eletrônica, pois planejaram construir um segundo drone durante o recesso, já que o primeiro tinha se quebrado em pedaços. Bellamy, Harper e Fox conheciam bem a indecisão de Octavia ao escolher o que comprar, por isso, decidiram pegar seus chocolates de uma vez. Sobraram Clarke e Raven para acompanhar a outra na busca do presente perfeito para Lincoln, e elas não tinham o direito de reclamar, segundo a garota. Prometeram encontrar-se naquele mesmo lugar às 16:30, para irem embora em seguida.

As três passearam pelos corredores, oferecendo uma olhada rápida às vitrines mais próximas. Octavia não parava de mencionar o quanto estava ansiosa pela presença do namorado no Natal, pois acostumara-se a passar a data apenas com o irmão. Não era um tópico chato, mas o fato de que ela se repetia, várias e várias vezes, por causa de tanta animação irritava as amigas. Foi um alívio quando ela notou um quiosque de sorvete e quis experimentar algo sozinha, visto que as outras não queriam tomar nada gelado no frio que fazia.

— Finalmente. — Clarke brincou, quando estava apenas ao lado de Raven. — E você? Não ouvi onde vai comemorar amanhã.

— Ah, no meu apartamento, mesmo.

— Com os seus pais?

— Não. Minha mãe em uma clínica de reabilitação e eu não tenho pai. — A morena respondeu com uma voz monótona. Nem encarava a loira, de tanto tédio que aparentava sentir.

— Desculpa, eu não sabia. E sua mãe...

— É alcoólatra. Não precisa pedir desculpas, você não sabia. — Soltou um suspiro. — Ela não gosta de me ver, eu não gosto de ver ela, por isso é melhor ficar sozinha. Acho que vou maratonar um série qualquer nesse dia. Ainda não terminei de assistir a nova temporada de The Walking Dead.

— Você pode vir comigo pra minha casa, se quiser. Sempre tem espaço pra mais um. — Clarke disse após poucos segundos e surpreendeu-se quando a outra cerrou as sobrancelhas e cruzou os braços.

— Ah, não, para com isso. Você já me conhece bem demais pra me oferecer esse ato de caridade agora, fala sério.  

— Mas é você que vai fazer um ato de caridade se aceitar meu convite! É o primeiro Natal que passo sem o meu pai, entende. — Clarke respirou fundo. Ainda era estranho trazer esse assunto à tona em uma conversa casual. — Ele morreu no ano passado. — Engoliu em seco. — Minha mãe e eu ficamos muito mal, até brigamos por causa disso, então... Acho que vai ser bem esquisito comemorar essa data só com ela. Se você for, minha mãe vai te mimar e não vamos ter que lembrar como era quando meu pai ainda tava vivo. — Raven a encarou, reflexiva. Sua expressão não revelava nenhuma indicação de seus pensamentos. — Qual é a sua resposta?

— A Abigail não vai achar ruim, de verdade?

— De jeito nenhum. — A morena revirou os olhos, deixou os braços caírem e abriu um tímido sorriso.

bom, me convenceu. Eu passava o Natal com o Finn, normalmente, mas dadas as circunstâncias... Seria bom ter uma outra companhia.

— Vai por mim, você não vai se arrepender. Minha mãe não é uma top chef, mas cozinha bem e ama fazer uma ceia enorme. Só não mencione músicas natalinas pra ela e vamos ter um ótimo dia. — As duas deram uma risadinha. Raven abaixou o olhar por um instante, como se estivesse juntando coragem dentro de si para falar algo.

— Então, já que temos esse nível de intimidade uma com a outra, deixa eu te perguntar... O que você fazendo com o Bellamy e a Lexa?

— Como assim?

— Bem, na cara que os dois tão querendo você. E, pelo que ouvi da sua conversinha com o Bellamy no refeitório, você querendo ele também. — Clarke arregalou os olhos de leve, provocando um riso abafado de Raven. — Que foi? Eu tava do seu lado, esqueceu? E vocês não sabem sussurrar baixo o suficiente, sinto muito dizer. Agora, não é da minha conta se você quiser ficar com um, depois o outro, mas que é uma sacanagem, é. Eles gostam bastante de você.

— Não, espera aí, você confundindo tudo! — Clarke revelou um sorriso desconfortável. — Eu já falei pra Lexa que não quero um relacionamento sério. Ela me beijou uma vez e foi só isso, nem tocamos nesse assunto mais. Quanto ao Bellamy, eu chamei ele pra sair quando o recesso chegasse, ainda não sei no que vai dar. Não tem nada decidido entre a gente e você falando como se eles tivessem perdidamente apaixonados por mim! — A morena levantou uma das sobrancelhas.

— Você brincando comigo ou é ingênua assim mesmo? A Lexa pode até não ser direta, mas ela te manda sinal atrás de sinal, mostrando que não desistiu de você. É burrice acreditar que ela satisfeita só com a sua amizade. Além disso, não querendo ser chata, mas já sendo, eu sei de algumas coisas que você não sabe. E nem me peça pra te contar, porque eu não posso fazer isso! — Ela exclamou, vendo a expressão surpresa da outra. — Só quero entender o que você sente por eles.

— Pra quê? Você vai me falar o que sabe se eu te explicar? — Raven inclinou o rosto e cruzou os braços novamente, mostrando-se inflexível. — Chegamos em um impasse, então. Vamos deixar esse assunto de lado, porque não é a hora, nem o lugar certo, pra falar disso. — Clarke se virou de costas em um impulso de raiva, mas logo voltou-se para a amiga, cochichando: — Ah, e a Octavia não pode saber de nada dessa história, ouviu? Nem um terço dela.

— Eu não posso saber do quê? — Merda, a loira pensou de imediato. Octavia parou bem próxima delas, com um sorvete de baunilha nas mãos e os olhos bem abertos, curiosos para descobrir sobre o que segredavam. Clarke teria que mentir para se safar dessa, mesmo que o improviso não fosse seu forte.

— ...Que eu acho seu namorado um gato. — Ela pronunciou cada palavra mecanicamente, sem o menor pingo de convicção. Tinha certeza de que seria descoberta.

Hm, dã! — Octavia abriu um sorriso descontraído e levantou os ombros. — Qualquer pessoa que enxergue consegue ver que ele é um gato. Tá tudo bem, eu não me importo que você goste da aparência dele, desde que não comece a competir comigo. Agora, vamos fazer umas comprinhas?

Com mais alguns passos, elas entraram em uma loja de roupas e chegaram à seção masculina, onde procuraram por uma peça que combinasse com Lincoln entre os cabides. A Blake fez questão de que todas soubessem que o homem gostava de roupas sérias e sofisticadas.

— O., tava pensando... — Clarke começou, aproveitando o clima bom entre o trio. — Eu queria dar um presente pro Bellamy. Como um agradecimento pelo que rolou com o Murphy e todas as outras vezes que ele me ajudou, claro. O que você acha que eu posso dar pra ele? Um cinzeiro, talvez?

— Olha só pra você, até parece que caindo de amores pelo meu irmão! — Raven tossiu, disfarçando uma risadinha. — E não, um cinzeiro é uma péssima ideia. Eu aceito que ele fuma, mas não quero que ninguém incentive isso. — Ela pausou por demorados segundos, abruptamente se voltando para outra prateleira. Clarke achou que estivesse concentrada, avaliando a camisa em mãos, até que voltou a falar mais uma vez. Sussurrou para que apenas a outra pudesse escutá-la, mesmo que Raven estivesse mais distante. — É por minha causa que ele começou a fumar.

— Por que você diz isso?

— Porque eu sei o que ele passou. O Bell não teve ninguém pra quem ele pudesse reclamar de mim ou da minha mãe, então, ele tirou todo o estresse no cigarro. Minha mãe fez um escândalo quando pegou ele no flagra pela primeira vez, no ensino médio, mas depois passou a ignorar esse hábito. — Ela bufou, descontente. — Eu fiz o mesmo, mas devia ter feito diferente.

— Você ainda era uma criança, não teve a intenção de atrapalhar, O. Não precisa se sentir responsável por isso. — A garota não imaginava o que mais poderia falar. A situação familiar dos Blake parecia ter vindo de um mundo completamente distinto do seu, de tão complicada que era. Como não havia uma resposta perfeita para apagar a culpa que Octavia sentia, resolveu que seria melhor mudar de assunto. — Hmm, eu tive uma ideia. Ele gosta de usar relógios? Nunca vi um no punho dele.

— Não sei. Ele tinha um enquanto tava na escola, mas quebrou em uma briga. Desde então, nunca usou outro. — A morena respondeu, em um tom mais alegre.

— Será que ele ia gostar de um igual a esse? — Clarke mostrou o que tinha em seu braço direito. A tira era preta, com a armadura, os números e os ponteiros prateados. — É um modelo masculino, não muito pesado, nem grande.

— É lindo. Mas por que você usa um relógio masculino?

— Era do meu pai. Me ajuda a achar um parecido por aqui?

Após terem comprado a blusa de Lincoln, o relógio de Bellamy e o chocolate de quem tinham tirado no sorteio, elas se apressaram para chegar ao saguão principal, onde todos já estavam esperando. Novamente, eles se dividiram nos mesmos grupos ao entrarem nos carros e voltarem para o campus, onde cada um foi até seu respectivo dormitório para se arrumar. Todos retornariam para suas casas à noite, menos Clarke, e agora, Raven. Elas tomaram um banho quente e se trocaram antes de irem ao quarto de Octavia, um pouco depois das 17:30. Apenas as garotas se encontravam ali, os outros demoraram quase quinze minutos para aparecerem.

Já reunidos, eles se sentaram no chão, aproveitando o enorme tapete felpudo e as almofadas para ficarem mais confortáveis. Octavia e Harper ainda distribuíram alguns cobertores para os amigos, tamanho o frio que estava, mesmo com a janela fechada.

— Então, quem quer ser o primeiro? — A Blake perguntou e, como não havia ninguém mais entusiasmada que ela no recinto, decidiu dar início à brincadeira e ficou de pé. — Bom, o meu amigo secreto é um cara com quem não tive muita chance de conversar nesse semestre. Ele tem os olhos pretos, uma barba curta e curte usar touca, de vez em quando. Ah, e ele gosta bastante do Monty.

— Sou eu, claro. — Miller se pronunciou. Ele pegou seu presente e deu um leve abraço na outra. — Minha amiga secreta é uma garota bem inteligente. Tipo, o maior gênio que já vi nessa universidade, depois do meu namorado, óbvio. Qualquer máquina que você pensar, ela pode criar. Não sei porque ainda estudando aqui, porque ela consegue fazer de tudo.

Quase tudo. Um dia eu chego nesse nível, Miller. — Raven retrucou e agradeceu pelo chocolate. — Vamos lá, eu não conheço minha amiga secreta muito bem, mas sempre vejo ela andando de trança pelo campus. Tem o cabelo loiro, os olhos claros...

— Sou eu! — Harper exclamou, toda feliz. Pegou seu presente e abraçou Raven. — Olha, minha amiga secreta também é bem inteligente. Não é só a número um nos seus estudos, mas também é a primeira a ficar bêbada quando saímos juntas.

— Ah, fácil demais. É a Clarke, sem dúvida. — Octavia caçoou. Ainda que um pouco envergonhada pelo riso e a zombaria do pessoal, a garota agradeceu pela barra.

Ok, ok, todos sabemos que eu não sou a pessoa mais experiente com bebida, vamos continuar. A minha amiga secreta tem o cabelo preto, enroladinho, e ela é nova nesse grupo. Eu espero que ela fique com a gente por muito tempo, até quando descobrir o quanto somos estranhos.

— Sou eu! — Maya se levantou e abraçou a outra. — Awn, obrigada!

— Não se preocupe, Clarke. Ela já namorando o mais estranho entre nós, mesmo.

— Vai cagar, Monty. — Jasper reclamou, empurrando o garoto. Maya pigarreou para chamar atenção e dispersar a pequena briga que começava.

— Meu amigo secreto é muito inteligente, também. Várias mentes brilhantes por aqui, né? — Ela soltou uma curta risada. — Ele sabe de tudo sobre computadores e tecnologia, é um dos caras mais fofos dessa universidade e me devendo um prato de kimchi da próxima vez que for na Coréia do Sul, visitar os avós!

— Quem pode ser? Mais alguém com descendência coreana ou só eu? — Monty brincou, irônico, e se colocou de pé para pegar a barra e abraçar a garota. — Então, meu amigo secreto é um cara alto, estiloso e pode até ser considerado um galã desse campus, de tão popular que é.

— Mas eu já fui escolhido, amor. — Miller fingiu estar confuso, cruzando os braços e cerrando as sobrancelhas.

— O quê? Sou muito mais galã que você, nem vem. — Jasper continuou.

— Desculpa aí, gente, mas acho que esse elogio foi pra mim. — Bellamy abriu um sorriso convencido e deu de ombros, antes de pegar seu presente e agradecer ao outro. Octavia soltou um “eca”. — Pra começar, eu não converso tanto com meu amigo secreto, mas ele parece ser gente boa e inteligente também...

— Já entendi! Agora, sou eu! — Jasper o interrompeu, se levantou às pressas, pegou sua barra e abraçou o rapaz com força, deixando-o claramente desnorteado. — Tenho que confessar que te admiro demais, cara! Nossa, te acho muito legal! Me ensina seus segredos no ano que vem?

... Claro. — Bellamy bateu nas costas do colega, sem graça.

— Que vergonha alheia, Jasper. — Raven mexeu a cabeça de um lado para o outro. — Você tomou umas antes de vir pra cá?

— Ele não é bom com despedidas, gente. — Maya tentou defendê-lo, ainda que estivesse cobrindo metade de seu rosto com a mão para evitar aquela cena.

— Qual é a graça de uma reunião entre amigos quando você não paga um mico? — Jasper arrumou o cabelo enquanto desviava o olhar para os lados. — Enfim, vamos que o show não pode parar. Só faltam duas pessoas agora, certo? Se preparem que vai ser difícil adivinhar. — Falou, sarcástico. — A minha amiga secreta tem um cabelo longo e marrom, uma pele branquinha e os olhos escuros. — Fox soltou um gritinho de felicidade e abraçou o rapaz, pegando seu chocolate em seguida.

— Se não fosse pelo tom de pele e a cor dos olhos, seria você, amiga. — Ela disse para Octavia, entregando-lhe sua barra e a envolvendo com força. Harper cantou “marmelada!” por algum tempo, caçoando.

O grupo seguiu com a prosa, comentando sobre como deviam ter comprado algumas bebidas para terminar aquela noite realmente bem, além de desejarem boas festas um para o outro. Os verdadeiros votos de adeus começaram nesse instante, acompanhados por abraços demorados e lágrimas que escapavam sem querer. Até Clarke, que não era tão sentimental, tinha os olhos marejados. Apesar de conhecer a maioria dos colegas por pouco mais de um mês, era surpreendente o quanto tinha se apegado a cada um. Nunca pôde imaginar que, algum dia, encontraria uma turma tão calorosa e se sentiria incluída por ela; justamente Clarke, que sempre foi de ficar mais sozinha. Achou que tinha muita sorte por ter esbarrado naquelas pessoas. 

— Pessoal, faltam dez minutos pras 19 horas, tá? — Bellamy se pronunciou, após poucos minutos, com as diversas malas de Octavia em mãos. — Acabem com essa despedida logo e vamos, a estrada à noite é um perigo. Vou esperar vocês no estacionamento.

A loira, que aguardava o momento que todos se fossem para abordá-lo, não soube o que fazer. Não podia deixar Bellamy ir assim, sem dizer nada de especial. Não queria deixá-lo ir assim. No entanto, seria uma boa ideia ir atrás dele, mesmo quando o próprio se mostrou tão desconfortável ao seu lado pela tarde? Ele podia, muito bem, ainda estar chateado com ela. Enquanto refletia, encontrou o olhar de Raven, que a encarava, voltava-se para a porta e mais uma vez para ela, como se dissesse "o que você esperando?". Era o sinal de que precisava. Aproveitou a comoção dos amigos para sair despercebida.

— Bellamy! — Ele já estava ao fim da primeira escada quando o alcançou. Viu no seu rosto que não esperava ser seguido por ela. — Espera, vou te ajudar.

— Pode deixar, não precisa. — Bellamy fitou o chão, continuando a caminhada.

— Eu quero te ajudar. Posso? — Ela insistiu, agora, ao seu lado. Ele suspirou, percebendo que a garota não aceitaria "não" como resposta.

— Pega essa, mais leve.

Juntos, eles desceram os últimos degraus e andaram até o carro de Blake em silêncio. Um clima embaraçoso pairava sobre os dois, mas ela não entendia o porquê. A atitude do outro permanecia um mistério para ela. Colocaram tudo dentro do porta-malas e se encararam, sem palavras, no meio do campus deserto.

— Então... — Bellamy falou, sem encará-la.

Por um breve segundo, Clarke quis confessar que não ter nenhum envolvimento com Lexa, mas preferiu não falar disso. Pensou que esse podia ser o motivo de seu distanciamento inesperado, mas por que ele se importaria com tal fato, de qualquer maneira? Não era como se estivessem em um relacionamento sério ou exclusivo. Talvez o assustasse se começasse com essa abordagem. Resolveu, então, ser direta sobre o que queria contar. Respirou fundo antes de começar.

— Seu presente no meu quarto. — Bellamy cerrou as sobrancelhas e inclinou o rosto, visivelmente confuso.

— No seu quarto?

Uhum. Eu comprei ele hoje, guardado dentro do meu armário.

— Você o quê?! — As pálpebras dele se levantaram e uma risada incrédula escapou dos seus lábios. — Eu não falei sério quando disse que queria um presente seu. Tava... Pensando em outras coisas, na verdade. Menos materiais. — Ele passou a mão na nuca, um pouco encabulado.

— Eu sei. Mas achei que você merecia algo a mais, também. Só que tenho uma condição pra você.

— Qual é? — Bellamy parecia entretido com aquela história. Clarke achou que aquela era a segunda vitória que tinha com ele no dia.

— Vou te entregar apenas quando você me der o meu presente. Pode ser uma coisa pequena, desde que seja bem pensada. E fica tranquilo que eu não sou exigente. Funciona pra você? — Ele riu de forma sincera, chocado, virando-se de costas por um instante antes de voltar a encará-la. Ela teve medo de ter sua ideia rejeitada, mas acalmou-se ao ouvir a resposta do rapaz.

— Funciona, sim. Como vamos fazer essa troca? Nos encontramos em algum lugar, um dia desses?

— Esse é o plano. — Um sorriso confiante brotou no rosto da garota. Bellamy parou na sua frente, replicando a mesma expressão. Acertou em cheio quando supôs que ele gostaria de vê-la agindo assim, travessa.

— Que espertinha, você.

— Sempre fui.

Ele reduziu a distância entre os dois para poucos centímetros com passos lentos, fazendo Clarke se apoiar na traseira do carro, sem ter para onde fugir. Ela, entretanto, não se sentiu presa, nem pensava em sair da posição em que se encontrava. Pelo contrário, desejava estar ali naquele momento, fervorosamente. Ansiava pela intimidade com o outro.

Bellamy passou os olhos por todo seu rosto, absorvendo cada detalhe, com os lábios curvados enquanto o fazia. Ela enxergava com facilidade o carinho em suas esferas escuras. A mão do rapaz encostou em sua bochecha, levando para trás da orelha um fio de cabelo. Ela sentiu uma ternura inebriante em seu gesto. Fechou as pálpebras com o toque, mas logo as abriu novamente, inquieta por mais.

Já estavam tão próximos que podia sentir o hálito com cheiro de hortelã vindo de sua boca, e não era só isso. O aroma agradável que vinha de sua pele era quase palpável, de tão forte que a atingia.

O ritmo do coração acelerava, desesperado. A tentação de tê-lo bem ali era quase insuportável. Chegara a hora, finalmente, em que mataria sua curiosidade. Estava mais do que pronta para descobrir o sabor daquela boca e como ela se mexia. A outra mão de Bellamy passou por sua cintura e a garota estremeceu. Puxou-o para mais perto, abaixou as pálpebras mais uma vez e...

Ouviu os berros dos amigos ao longe. Os dois se afastaram quase no mesmo segundo.

— ...Eu não gosto de ser estraga-prazeres, mas acho melhor a gente deixar isso pra depois. — Bellamy falou.

— É, seria estranho se eles vissem essa cena. — Ainda mais quando não sabemos o que somos, Clarke continuou em sua mente. Ela imaginou que tinha uma expressão bem desapontada à vista, pois o rapaz deu uma breve risada e acariciou sua mão rapidamente, antes de colocá-la dentro do bolso da jaqueta.

— Não se preocupa. Vou manter o meu lado da promessa e te levar pra sair, um dia desses. Só nós dois, sem interrupções.

— E com meu presente, não esquece.

— Sim, senhora. — Eles trocaram um olhar confidencial, imaginando o que fariam quando a chance de se encontrarem a sós aparecesse, com sorrisos levemente perversos nos rostos. Um assobio alto, entretanto, acabou com o momento íntimo que dividiam.

Hm, interrompemos alguma coisa aqui? — Era Jasper, fingindo-se de inocente.

— Coitados, eles só queriam dar uns beijos em paz. — Monty insistiu, com a mão no peito e um olhar penoso, completamente irônico.

— A gente não queria nada, seus chatos. Vim fofocar um pouco com o Bellamy.

— Sobre o quê? Deve ser alguma coisa muito séria pra você não dividir com o resto do pessoal. — Raven falou, tentando soar séria.

— Se der, conto pra vocês depois. Por enquanto, é um segredo meu. — A maioria dos presentes fez um barulho de "ih", incitando a ideia que queriam esconder. Bellamy revirou os olhos e Clarke fez o possível para parecer brava.

Muuuuito suspeito. — Miller deixou os olhos semicerrados e os braços cruzados.

— Ah, dane-se. Nós vamos agora. Abraço pra quem fica! — Jasper gritou, gostando de ouvir seu eco pela universidade deserta.

Todos entraram nos carros, restando apenas Raven e Clarke de pé, observando eles irem embora. Antes de partir, porém, Bellamy conseguiu lançar uma piscadela para a loira, causando um sorriso involuntário dela. Por fim, quando os amigos já não se encontravam mais no campus e elas voltavam ao dormitório, Raven perguntou em tom de chacota:

— E aí, rolou um selinho, pelo menos? 

Ela ganhou um tapa no braço com seu comentário.


Notas Finais


Gente, me desculpa, fiz vocês de trouxas outra vez KKKKKKKKKK Todo mundo pedindo um beijo, vou lá e coloco outro "quase-beijo" nessa história. Tô dibrando geral mesmo, né? KKKKKK Não me ofendam, please, sou sensível.
Me digam o que acharam! Sempre gosto de saber o que gostaram mais no capítulo, o que esperam do próximo... Como já falei antes, um simples "continua" me deixa bem animada pra continuar essa história!
Enfim, por hoje é só, fofoletes. Um beijão, fiquem bem e até o próximo ❤️


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