1. Spirit Fanfics >
  2. Tudo que há é poesia >
  3. Silêncio

História Tudo que há é poesia - Silêncio


Escrita por: realisse

Notas do Autor


Desculpa a demora para postar, estou resolvendo a matrícula da faculdade e acabei esquecendo das minhas fics 😅

Espero que gostem deste capítulo!

Capítulo 12 - Silêncio


No dia seguinte, Kyungsoo apareceu na casa de Baekhyun por volta das dez da manhã, recebendo um abraço forte e um ‘feliz ano novo’ da mãe do garoto. Ele subiu as escadas sabendo que Baekhyun ainda estaria em seu mais profundo sono, de qualquer forma, abrindo e entrando no quarto do outro. Kyungsoo só precisava de alguém para conversar.

O quarto de Baekhyun estava majoritariamente escuro, mas alguns feixes de luz guiaram Kyungsoo até a cama no centro do cômodo. Baekhyun dormia de maneira excêntrica, uma perna debaixo da cobertas enquanto a outra permanecia por cima. O rosto do garoto estava de lado, boca levemente aberta ao mesmo tempo que ele abraçava uma almofada velha. Baekhyun dormia somente com uma camisa cinza de mangas compridas e com uma cueca preta, cabelos bagunçados sobre seus olhos.

Kyungsoo sorriu involuntariamente, sentando-se na beirada da cama.

Baekhyun abriu seus olhos com dificuldade ao sentir algo se sentando ao seu lado na cama, aos poucos focando seus olhos em Kyungsoo.

“Soo?” Ele perguntou confuso. “Que horas são?”

“10:17, Baek.” Kyungsoo respondeu após checar o horário no relógio sobre o criado de Baekhyun.

“Tão cedo?” Baekhyun perguntou, sonolência em sua voz rouca. “O que você tá fazendo aqui tão cedo, Soo?”

“Eu preciso conversar com você.” Kyungsoo simplesmente disse, afagando os cabelos já bagunçados do amigo, cada mecha apontando para uma direção.

“Como você conseguiu acordar esse horário depois de ontem?” Ele inquiriu, seus olhos já fechados novamente.

“Eu nem sequer dormi, Baek.” Foi a resposta de Kyungsoo, fazendo Baekhyun franzir suas sobrancelhas em confusão, os olhos ainda fechados.

“Deita aqui do meu lado.” Baekhyun convidou, batendo levemente sobre o colchão. Kyungsoo o obedeceu, deitando-se sobre a cama quente e encarando o rosto sereno e sonolento de Baekhyun. Quando ele tinha certeza que Baekhyun já dormia novamente, o garoto aproximou-se, abraçando o corpo de Kyungsoo e enterrando seu rosto em seu peito. Ele acrescentou enquanto alisava suas costas de forma reconfortante: “Eu sugiro que a gente converse depois de mais algumas horas de sono.”

E Baekhyun adormeceu logo depois, sua respiração tornando-se uniforme enquanto seus braços ainda abraçavam o corpo do outro. Kyungsoo mantinha seus olhos abertos no escuro do quarto, massageando os cabelos do amigo em um gesto repetitivo e natural.

E para a surpresa de Kyungsoo, aos poucos, o sono foi tomando conta de seu corpo. Talvez fosse o calor que Baekhyun irradiasse ou talvez sua respiração constante o ninasse, mas Kyungsoo sentia-se em casa nos braços do amigo, caindo no sono rapidamente. Diferentemente das últimas horas, Kyungsoo dormiu sem pensamentos conflitantes em sua cabeça.

Os dois garotos acordaram por volta de quatro horas depois, Baekhyun abrindo seus olhos primeiro e estranhando a presença de Kyungsoo em sua cama. Aos poucos, ele se lembrou com vaga nitidez que, de fato, o amigo havia chegado mais cedo, dormindo ao seu lado após uma noite em claro. Kyungsoo abriu seus olhos com calma pouco tempo depois, sentindo o movimento irregular ao seu lado.

Seus olhos encontraram os de Baekhyun e ele sorriu sonolento. As míseras quatro horas foram capazes de deixá-lo mais relaxado, organizando o caos ainda instalado em sua mente.

“Que horas são, Baek?” Ele perguntou, esfregando seus olhos.

“Hum... 14:42.” Baekhyun respondeu, bocejando longamente logo depois.

Kyungsoo bocejou também, espreguiçando-se sobre a cama. Ele saiu de sua posição e sentou-se sobre a bagunça de colchas na cama do outro, trocando olhares com Baekhyun. Eles ficaram em silêncio por alguns segundos, sentindo a tensão no quarto, já que Kyungsoo simplesmente não aparecia em sua casa ‘para conversar’. Mas Baekhyun sorriu e então Kyungsoo sentiu-se melhor.

“Você quer comer algo?” Baekhyun perguntou, e Kyungsoo assentiu.

Os dois saíram do quarto e rumaram para a cozinha, Edgar confortável nos braços de Kyungsoo. A cozinha estava vazia, e Kyungsoo sentou-se perto da bancada enquanto Baekhyun preparava um café da manhã atrasado e Edgar enroscava sua calda em seu tornozelo.

“Então...” Baekhyun começou, atenção focada na frigideira e ovos a sua frente. “O que você queria falar sobre?”

“Eu beijei o Jongin.” Kyungsoo disse e, em um segundo, Baekhyun o olhava com olhos arregalados, suas mãos congeladas na tarefa que antes tinha sua total atenção.

“Como assim?” Baekhyun perguntou. “Eu achei que você não queria-“

“Os ovos, Baek.” Kyungsoo avisou, e Baekhyun ainda atordoado voltou seus olhos para o fogão. “Eu não queria, eu achei que não queria, mas aconteceu. E, Baek, eu tô’ tão confuso.”

Baekhyun apagou o fogão e retirou os ovos da frigideira, colocando-os em um prato com torradas. Ele pousou o prato sobre a bancada e sentou-se na frente do amigo, tomando um gole de café, seus olhos questionadores em Kyungsoo.

“Quer me explicar direito?” Baekhyun perguntou, largando a caneca e mordendo um pedaço de torrada.

“Nós estávamos no banheiro sozinhos, porque ele estava passando mal.” Kyungsoo explicou, bicando o café de sua própria caneca. “E a gente estava conversando e era tudo tão casual e seguro. E, do nada, a gente estava se beijando!”

Baekhyun suprimiu um pequeno riso, e Kyungsoo suspirou, confuso sobre toda aquela situação envolvendo ele e Jongin. Ele engoliu uma colherada de ovos mexidos antes de continuar.

“Eu não sei...” Ele disse, descansando seu rosto em suas mãos. “Eu gosto dele, mas provavelmente não do jeito que ele quer. E você sabe que eu não quero um relacionamento, mas eu também não quero decepcionar ele por causa de um beijo bêbado no meio de-“

“Calma, Soo.” Baekhyun o interrompeu, apertando de leve a mão do outro. “O Jongin não é um idiota e mesmo que ele sinta algo a mais por você, só porque vocês se beijaram não quer dizer que você já está em um relacionamento. Ou machucando Jongin.”

Kyungsoo sorriu em gratidão em sua direção, os olhos de Baekhyun gentis e compreensivos.

“E bom...” Baekhyun recomeçou. “Eu acho que você deve levar as coisas de forma leve, sabe? E tente ser honesto com ele, se algo acontecer.”

“Você fala como se existisse um mocinho e um vilão.” Kyungsoo falou sorrindo e sentindo-se mais leve depois de conversar sobre o que lhe causava preocupação.

Baekhyun riu e levou uma torrada aos seus lábios, comendo com calma. Kyungsoo observou o amigo em silêncio, comendo enquanto outros pensamentos visitam sua mente. Baekhyun sentia os olhos do outro sobre si, mas recusava-se a encontrá-los, de repente, lembrando-se da noite anterior e de mangas arregaçadas e de cortes antigos.

“E você?” Kyungsoo começou, tom leve. “Você estava super drogrado, para começar. E depois beijando um cara que eu nunca vi na vida.”

“Uh, eu nem me lembro do rosto dele.” Baekhyun grunhiu, bagunçando seus cabelos.

“Deixa eu te lembrar.” Kyungsoo sorriu, bicando seu café. “Ele era loiro, eu acho? Não muito alto, só um pouco mais alto que você. Bom, isso é o que eu me lembro.”

“Não é como se eu fosse ver esse cara de novo na minha vida.” Baekhyun deu de ombros. Kyungsoo olhou por trás de seu ombro, verificando se continuavam sozinhos.

“Eu estava achando que você ia conseguir o Chanyeol.” Kyungsoo disse, arrependendo-se logo depois. O sorriso habitual de Baekhyun tornara-se amargo em um segundo, dando de ombros de novo, desta vez mais resignadamente.

“Chanyeol estava com a Joohyun.” Ele respondeu.

“Oh.” Kyungsoo suspirou, não sabendo o que dizer. “Eu não vi, eu não estava sabendo.”

“Tá tudo ok, Soo.” Baekhyun disse, mas Kyungsoo sabia que o sorriso em seu rosto era forçado.

Eles caíram em um silêncio desconfortável então, Baekhyun saindo de seu lugar e colocando sua caneca na pia. Ele voltou para perto da bancada e ficou de pé ali, inseguro sobre o que dizer.

“Você quer comer mais alguma coisa, Soo?” Ele perguntou, desviando a atenção do prévio assunto.

“Não, valeu, Baek.” Kyungsoo respondeu, saindo de seu lugar também.

“Subir?” Baekhyun sugeriu, colocando o resto das vasilhas na pia.

Os dois garotos subiram as escadas em silêncio, acomodando-se na cama de Baekhyun mais uma vez. Eles se sentavam frente a frente, Baekhyun encarando seu colo e esperando por alguma palavra repressora de Kyungsoo.

“Olha, eu escrevi um poema outro dia.” Baekhyun saiu de sua posição, pegando um post-it amarelo sobre seu criado e entregando-o a Kyungsoo que leu as palavras com calma.

 

 

Surto.

Insulto

Um surdo.

O sulco

Do insulto

Surte

Na surdez.

 

O silêncio

Cessa-me.

 

 

Kyungsoo releu o poema mais uma vez, entregando o post-it a Baekhyun novamente, que parecia analisar sua própria obra. Kyungsoo reuniu coragem para falar, mesmo sabendo que aquilo seria difícil para o outro.

“O surdo é Chanyeol?” Ele perguntou, e sua voz ressoou pelo quarto antes silencioso.

“O surdo é o mundo.” Baekhyun simplesmente respondeu.

“Baek, os cortes...” Kyungsoo começou, tentando gentilmente alcançar o braço esquerdo do amigo.

Mas Baekhyun o afastou com brutalidade, sua mão direita segurando seu antebraço com força, como se Kyungsoo quisesse roubar algo seu. Ou mostrar um segredo horrível para o mundo.

“Baek, o que aconteceu?” Ele tentou de novo.

Baekhyun demorou para responder, aos poucos afrouxando sua mão ao redor de seu braço. Ele encontrou os olhos de Kyungsoo e havia pura preocupação ali, e Baekhyun sentiu-se amado, mas ao mesmo tempo culpado. Tão culpado.

“Já tem bastante tempo, eles só estão demorando para cicatrizar.” Baekhyun limpou sua garganta, forçando-se a continuar. “Foi só uma vez, Soo, eu juro. E eu não quero voltar a tomar remédios, eu não sou mais doente. Eu tô bem, eu vou ficar bem...”

Baekhyun fungou, lembrando-se do porque de ter feito tais cortes, lembrando-se das palavras relapsas de sua família. Daquele sentimento que ele não sentia há anos, aquela invisibilidade e aquele vazio existencial.

Os braços de Kyungsoo logo estavam em volta de seu corpo, abraçando-o com força e relembrando Baekhyun que ele também era material, era alguém. Baekhyun chorou mais contra o peito do amigo, tentando suprimir suas fungadas e soluços.

“Tá’ tudo ok, Baek.” Kyungsoo murmurou. “Você tá’ bem, eu estou aqui com você.”

Kyungsoo afastou-se minimamente, limpando com seus polegares as lágrimas que escorriam pelo rosto belo de Baekhyun. Ele tentava suprimir sua própria fraqueza na frente do outro, mas Baekhyun foi rápido em perceber o líquido em seus olhos, limpando-os da mesma maneira que Kyungsoo fazia.

“Posso olhar?” Kyungsoo perguntou em um sussurro, segurando de leve as mãos de Baekhyun em seu rosto.

Baekhyun assentiu fracamente, e Kyungsoo deslizou a manga da camisa cinza com lentidão, nunca desviando seus olhos do rosto de Baekhyun.

Sua respiração ficou presa em sua garganta quando ele finalmente viu todos os cortes no antebraço do outro. De fato, eles já estavam cicatrizando e Kyungsoo era capaz de perceber que só tinham sido feitos cortes superficiais. Mas ainda assim a dor em seu peito não diminuíra, sabendo que Baekhyun agora passava pelas mesmas coisas que sofrera no passado.

Ele traçou algum deles com a ponta de seus dedos, sentindo Baekhyun congelar ao seu lado com o ato. Ele cobriu o braço de volta, deixando o tecido macio cair sobre o braço do outro novamente.

“Não é como antes.” Baekhyun disse.

Assim, os dois se deitaram sobre a cama, mantendo contato visual e olhando fundo nos olhos do outro. Havia pouco espaço entre seus rostos, e o ar dividido entre eles eram quente e viciado. Era bom estar abraçado a Kyungsoo naquele inverno inconstante.

“Eu preciso te contar algo, Soo?” Baekhyun começou após momentos de silêncio, tentando engolir o nó em sua garganta e expulsar as palavras para fora. Não importava quantas vezes ele fazia aquilo, Baekhyun sempre sentia-se incerto e medroso.

“Você pode me contar o que quiser.” Kyungsoo respondeu, alisando seu braço por cima da blusa.

“Eu descobri que eu sou gênero fluido.” Baekhyun cuspiu para fora o mais rápido possível, escondendo seu rosto no peito de Kyungsoo.

“É por isso que você se cortou?” Foi a pergunta do outro, e Baekhyun voltou a olhar para ele. “Porque se foi, Baek, não faz o menor sentido... Isso é o que você é, então-“

“Não, Soo.” Baekhyun sorriu brevemente. “Não foi por isso. Foi... Foi minha família. Eles falaram umas coisas e aconteceu.”

“Você contou para eles?” Kyungsoo inquiriu assustado.

“Não!” Baekhyun prontamente respondeu, assustado pela ideia. “Foi uma coincidência, eles estavam falando sobre como era impossível e uma mentira ser não-binário. E eu estava frágil demais naquele momento.”

Kyungsoo assentiu em silêncio, absorvendo a quantidade de informações que Baekhyun lhe entregava. Baekhyun observava o amigo com certa apreensão, mordendo seu lábio inferior, ainda sem saber o que Kyungsoo achava sobre sua fluidez.

“Tudo ok por você?” Baekhyun perguntou baixo.

“O quê? Você ser gênero fluido?” Kyungsoo devolveu, e Baekhyun assentiu timidamente. “Claro que sim, seu idiota! Que tipo de amigo você pensa que eu sou? Porque existiria um problema?”

“Desculpa, desculpa!” Baekhyun protestou, risadas sendo libertas enquanto ele desviava dos golpes sem força de Kyungsoo.

“Você é ridículo, Baek.” Kyungsoo disse, ficando quieto após seu pequeno surto.

“Obrigado.” Baekhyun falou, e ambos sabiam pelo o quê Baekhyun realmente agradecia. Ele pousou um pequeno beijo na bochecha de Kyungsoo, voltando a se deitar ao seu lado. “Eu te amo, Soo.”

“Eu também te amo.” Kyungsoo sorriu, lábios formando aquele coração disforme e único. E Baekhyun sorriu de volta, sorriso retangular.

“Quer assistir um filme?” Baekhyun sugeriu após alguns minutos de silêncio e observação do seu teto.

“Aham.”

“Ok, vou pegar meu notebook.” Baekhyun fez menção de levantar-se, mas pausou quando viu que Kyungsoo também se levantava.

“Não.” O garoto discordou. “Vamos ao cinema.”

Os dois acabaram indo em um pequeno cinema no centro da cidade, assistindo uma comédia italiana enquanto entupiam-se de pipoca e chocolate. Baekhyun riu tanto com Kyungsoo, ignorando os estereótipos e as piadas baratas, que suas bochechas chegaram a doer.

Mais tarde, eles tomaram café em uma cafeteria bucólica e próxima do cinema, o sol se pondo e Fleet Foxes tocando levemente pelos alto falantes do lugar enquanto Kyungsoo contava sobre as novas músicas que praticava.

Baekhyun sentia que, apesar de tudo, ele era capaz de aproveitar o início do novo ano.

~*~

Baekhyun lia Se um viajante numa noite de inverno de Ítalo Calvino quando o leve e familiar bater na porta desviou sua atenção das palavras. Sem esperar por uma resposta, a cabeça de Hyoyeon apareceu na pequena fresta que ela abrira na porta, sorrindo para Baekhyun enquanto seus olhos pousavam-se no livro em suas mãos.

“Estou interrompendo sua leitura?” Ela perguntou.

“Não.” Ele respondeu, fechando o livro e deixando-o de lado. “Pode entrar.”

Hyoyeon fez o pedido, sentando-se sobre a cama. Baekhyun tomou um gole do já morno chocolate quente, pousando a caneca de volta em seu criado. No entanto, antes que ele pudesse perguntar a Hyoyeon o motivo da visita, a garota o respondeu.

“Eu e Baekbeom estamos indo embora nessa tarde.”

“Assim tão cedo?” Baekhyun perguntou, tentando não deixar tão palpável seu descontentamento.

“É, vida adulta.” Hyoyeon riu de leve. “Eu sinto falta de quando eu estava na faculdade.”

“Vou fazer questão de aproveitar bem.” Baekhyun disse sorrindo.

Hyoyeon sorriu de volta, pegando seu celular no bolso de trás de seu jeans. Ela olhou para a tela preta do celular, e Baekhyun a observou até que ela conseguiu dizer o que queria.

“Baekhyun...” Ela começou. “Mesmo que eu não esteja aqui eu quero continuar conversando com você. E eu acho que você não tem meu número.”

“Ah, claro.” Baekhyun ainda um pouco atordoado pegou seu celular e o desboqueou, entregando-o a Hyoyeon.

A garota fez o mesmo, e Baekhyun gravou seu número com praticidade e rapidez, devolvendo o celular a Hyoyeon e pegando o seu de volta. Hyoyeon sorriu para ele e recomeçou.

“Eu quero que você conte comigo, ok? Mesmo eu estando bem longe.”

Baekhyun olhou fundo nos olhos belos de Hyoyeon e percebeu compreensão e aceitação neles. O garoto rapidamente aproximou-se dela e envolveu seus braços ao redor de seu corpo, enterrando seu rosto na curva entre o pescoço e ombro. Hyoyeon tinha um cheiro cítrico e floral, algo estritamente primaveril ou veranesco que era capaz de esquentar aquele inverno. Quando a garota retribuiu seu abraço, Baekhyun sentiu todo seu corpo um pouco mais quente.

“Obrigado por me aceitar.” Baekhyun simplesmente disse, sentindo o aperto de Hyoyeon ficar mais forte ao redor de sua cintura. Nada mais era necessário, os dois sabiam o que aquilo significava.

“Não precisa me agradecer.” Hyoyeon sussurrou de volta.

Eles se afastaram, e Baekhyun sorriu para ela, já sentindo a falta de Hyoyeon em seu peito.

“Sem querer atrapalhar seu relacionamento, mas...” Baekhyun riu nasalmente antes de continuar. “porque você está namorando meu irmão?”

Hyoyeon riu genuinamente com a pergunta.

“Se eu pudesse eu namorava você, Baekhyun.” Ela disse. “Nossas idades são bem diferentes e, mesmo sem saber quem Chanyeol é, eu sei que não tem outro espaço aqui para outra pessoa.” Ela provocou e cutucou o peito de Baekhyun, onde seu coração supostamente está. “Ou para uma mulher.”

“Como você...?” Baekhyun perguntou assustado e confuso.

“Acidentalmente.” Hyoyeon levantou seus braços, mostrando inocência. “Eu estava indo para a cozinha e ouvi você conversando com o Kyungsoo, mas eu percebi que vocês precisavam de privacidade, então voltei o mais rápido possível. Desculpa.”

“Não precisa se desculpar.” Baekhyun falou, aliviando-se com a explicação da outra. “É só que...”

“E você não precisa se preocupar.” Hyoyeon pousou uma mão sobre seu ombro, apertando de leve. “E se esse Chanyeol ainda não está com você, ele é um idiota.”

Baekhyun riu com o comentário, balançando sua cabeça em divertimento e pouca confiança nas palavras de Hyoyeon.

“É verdade.” Ela reafirmou. “E quanto ao Baekbeom, ele não é tão ruim quanto parece. Eu só acho que ele precisa se desprender um pouco dessa imagem de filho perfeito imposta para ele.”

“Assim espero.” Baekhyun concordou, pensando em uma nova perspectiva sobre o irmão mais velho.

“Merda, a gente já devia estar indo para o aeroporto.” Hyoyeon disse, checando seu relógio de pulso e pulando da cama.

Como se para provar o ponto de Hyoyeon, os dois ouviram Baekbeom chamar o nome da namorada do andar de baixo. A dupla desceu as escadas com pressa, ajudando a guardar as malas no porta-malas do carro o mais rápido possível.

Baekhyun decidiu ir até o aeroporto com o casal e seus pais, sua mãe reclamando entre minutos da saudade que já sentia.

“Não se preocupe, mãe.” Baekbeom a reconfortou do banco da frente. “A gente vai voltar para o aniversário do Baekhyun.”

“Ah, isso é ótimo!” A mulher suspirou aliviada. “Você também, Hyoyeon?”

“Acredito que sim.” Hyoyeon respondeu.

“Fique sabendo que você é sempre bem-vinda em nossa casa.”

Baekhyun, que observava os postes de luz apagados pelo caminho, sorriu de leve contra o vidro da janela. Seu aniversário raramente fora uma grande data para ele, mas agora Baekhyun esperava tal dia com certa ansiedade.

O voo de Hyoyeon e Baekbeom ainda demorava algumas horas para sair, e Baekhyun matou aquele tempo tomando café na cafeteria do aeroporto com Hyoyeon. Eles conversavam sobre trivialidades entre goles de café e mordidas em muffins, e Baekhyun sentia-se em paz perto dela.

“Eu terminei Lolita.” Ela anunciou.

“Já?” Baekhyun perguntou. “Isso foi rápido.”

“Eu não consegui evitar...” Ela deu de ombros. “Era bom demais.”

“Eu te entendo.” Baekhyun sorriu.

“Enfim, o que você estava lendo quando eu fui conversar com você?” Hyoyeon inquiriu curiosa.

“Se um viajante numa noite de inverno.” Baekhyun respondeu. “É basicamente a história de um Leitor que conhece uma Leitora. E eles acabam se conhecendo por causa de um erro de edição em um dos livros que eles liam e, bom, a história se desenrola daí.”

Hyoyeon assentiu, levando sua xícara aos seus lábios.

“Eu sei que parece meio idiota, mas na verdade é um ótimo livro.” Baekhyun continuou. “Se eu pudesse eu me casava com o Calvino. Ele escreve muito bem.”

“Não parece idiota, parece diferente.” Ela respondeu.

“Primeira chamada para o voo 032.” Uma voz feminina ressoou pelos alto falantes do aeroporto.

“Uh, esse é o meu.” Hyoyeon sorriu incerta, levantando-se da mesa.

Baekhyun se levantou também, jogando algumas notas sobre a mesa. Quando Hyoyeon estava prestes a entrar na sala de voo, Baekhyun a abraçou com força, sentindo mais uma vez o aroma único do perfume da garota.

“Eu vou sentir sua falta.” Ele murmurou contra o casaco de Hyoyeon. “Quem vai brigar comigo por chegar tarde em casa?”

Hyoyeon riu perto de sua orelha com o comentário, e Baekhyun a abraçou com mais força, como se aquilo fosse mantê-la ali por mais tempo. Hyoyeon afastou-se primeiro, olhando para o rosto de Baekhyun e afastando os fios que caíam sobre seus olhos.

“Eu também vou sentir sua falta.” Hyoyeon disse.

“Estaremos de volta em um piscar de olhos, irmãozinho.” Baekbeom então o abraçou, bagunçando seus cabelos em um gesto fraternal.

“Estarei esperando vocês.” Baekhyun respondeu.

Assim, o casal terminou suas despedidas e seguiu por um corredor de mãos dadas, acenando para trás quando estavam prestes a virar para a direita. Baekhyun acenou de volta, sorriso ainda estampado em seu rosto juvenil.

O resto das férias de inverno de Baekhyun se passaram em um silêncio confortável. O garoto permanecia em seu quarto na maior parte do tempo, assistindo filmes em seu notebook e lendo livros e escrevendo rascunhos de poesia. Baekhyun preparava a maioria de suas refeições, comendo-as na cozinha vazia ou em seu próprio quarto, evitando os xingamentos de sua mãe sobre estar sujando o cômodo.

Alguns dias, Baekhyun andava de bicicleta até uma cafeteria próxima, headphones bloqueando o mundo exterior. Ele gostava de sentir o vento frio contra seu corpo agasalhado, esquentando-o de novo com bebidas quentes e diferentes tipos de por do sol.

Baekhyun sorria quando trocava mensagens com Hyoyeon, mostrando para ela como ele ainda não conseguia passar delineador como ela. A prática leva à perfeição, Baekhyun foi a resposta dela. Ele voltou a tirar fotos com sua antes esquecida câmera instantânea, gastando seu dinheiro com novos filmes para ela e tirando fotos bobas e prosaicas.

Seus cortes terminaram de cicatrizar, e Baekhyun alisava seu braço esquerdo sempre que ele tomava banhos de banheira, a água quente embaçando espelhos e enrugando a ponta de seus dedos. Ele ainda evitava espelhos e seu próprio corpo, escondendo-se em moletons confortáveis e distraindo-se com várias atividades.

Baekhyun evitava pensar em Chanyeol. Às vezes, o garoto aparecia em sua cabeça, mas Baekhyun se esforçava para apagá-lo, empurrando-o para um canto esquecido de sua mente. Mas Chanyeol sempre saía de lá.

Ele tentou voltar a tocar piano. Em uma tarde, ele sentou-se em frente ao piano velho na sala e deixou seus dedos longos deslizarem sobre as teclas. E mesmo com os pequenos erros, Baekhyun continuava tocando, deixando a música lavar seu corpo e sua alma. E ele cantava baixinho, sua voz perdendo-se no ambiente. E sua mãe pousava uma xícara de chá quente sobre o piano.

E Baekhyun conseguia sorrir.


Notas Finais


Ficou pequeno se comparado aos outros capítulos, mas espero que tenham gostado! Até o futuro! 🤗


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...