História .turbulence - Turbulência

2.: Mesmo que briguemos muito... Eu te amo
[,mas nós não podemos continuar assim]

O QUE PODÍAMOS FAZER? ÉRAMOS UM CASAL ENROLADO e complicado, fadado a dar errado. Ou pelo menos, era assim que eu pensava a princípio. Você sempre deu tanto por nós, que às vezes me fazia sentir como um inútil, apenas um fardo para você. Aliás, mesmo mudando o corte de cabelo e vestindo roupas mais estilosas, você não deixava de ser Jeon Jungkook. Bonito, atlético, inteligente, atraindo todas as pessoas com sua força gravitacional.

Eu te juro, Jungkook, não era meus planos me apaixonar por você. Era apenas tentar magoá-lo, fazer com que parasse com suas investidas, com que desistisse, mas, olhando para nosso passado agora, percebo que todas minhas tentativas disso foram em vãs. E elas continuariam sendo mesmo que houvessem sido direcionadas contra mim.

A primeira percepção delas começa com posto de gasolina. 

Eu não havia me arrumado para nosso primeiro encontro, até porque considerava isso coisa para menininhas. Arrumar-se, ficar ansioso. A minha ansiedade é para ver o que você faria, que atitudes iria tomar. Tentaria me beijar? Me agradar?

Você me buscou na minha casa, por insistência. Olhando por agora percebendo que eu realmente estava tentando te proteger. Morava num dos bairros mais pobres da cidade, consequentemente, mais perigosos. A frente da minha casa? Um jardim morto, paredes pichadas. Dentro dela, um pai alcoólatra caído na cama e juntando moscas. Você estava nervoso quando abri a porta. E bonito, muito. Eu te encarei por alguns segundos, e sei bem que pensei que você estar na porta da minha casa te trazia mais um perigoso. Eu. Naquele momento te desejei apenas para uma foda. Porém, já sabia, Jeon Jungkook não é homem para apenas uma foda.

- Oi, Yoongi - Você murmurou. Nervoso, mas não tímido. Não com medo. Deu um sorriso fraco, ainda bonito. - Queria te trazer outra flor, mas pensei e...

- Percebeu que não sou uma garota? - Interrompi-o e arqueei uma sobrancelha. Ele sorriu.

- Não sei ao menos se você ficou com a outra.

Ah, eu fiquei Jungkook. Até que todas suas pétalas caíssem. Mas não por vontade própria. Por algo a mais.

Pensei que pegaríamos um ônibus, mas havia um táxi bem na encosta do passeio, nos esperando. Fechei a porta nas minhas costas com força e caminhamos lado a lado. Você agiu como um cavaleiro para uma moça, abrindo a porta para mim. Desnecessário, é claro. Tanto que o motorista estranhou seu ato, e eu ri internamente.

A minha surpresa foi quando ele parou o carro no posto de gasolina. pensei que fosse abastecê-lo, mas não. Era para nós. Descemos ali, você o pagou e o homem foi embora, nos deixando num posto de gasolina vazio, com uma lojinha 24 horas. Talvez o fato de você marcar nosso encontro para às 11 horas da noite fizesse mais sentido agora. Sim, isso te deu mais alguns pontos, meu bem.

Você acenou com a cabeça para que eu te seguisse para a loja de conveniência.

- O que você vai querer? - Perguntou quando me sentei. Café forte. nada de açúcar. Nada de comer. Você fez os pedidos antes de sentar na minha frente. Encarou-me em silêncio por bons segundos. Encarei-te de volta, mas acho que o brilho refletido em nossos olhos era cada um por uma coisa. Os meus eram de curiosidade.

- Chamou-me para ficar em silêncio?

- Estou te apreciando. Nunca vi alguém mais bonito que você - Jungkook, sempre direto. Começou me surpreendendo, mas com o tempo, esse simples detalhes seu começou a arrancar bochechas coradas de mim e sorrisos contentes. - Seu nariz é delicado, seus lábios finos, sua pele é tão branca que te imagina corado, mas acho que seria mais fácil vê-lo vermelho por ter realizado um treino pesado.

- Sou sedentário.

- Contaram-me que você já foi do time do basquete. Era um bom jogador.

- Pesquisou sobre a minha vida?

- É o que fazemos quando nos interessamos por alguém.

O pedido chegou. Um copo de café para mim; um sanduíche, batatas-fritas e refrigerante para si. Um lado da mesa vazio e o outro cheio.

- Por que parou de jogar basquete? - Perguntou-me. 

- Não é do seu interesse.

- Se não fosse em não perguntava - Jungkook era tão direto que chegava a me estressar. Parecia sempre disposta a me contrariar, a me responder sem qualquer hesitação. - Mas caso seja algo pessoal, não precisa me contar - eu fiquei em silêncio. Não o contaria de qualquer forma. - Vou levar como algo pessoal então.

- Eu também tenho uma pergunta para você - me inclinei na mesa. Ele parecia mais atento com essa minha simples frase. - Por que você se interessou por mim? 

- Destino - sorriu, parecendo contente com a própria resposta. Revirei os olhos e tomei um gole do meu café. Havia um batata-frita na minha direção quando olhei pra frente. Arqueei uma sobrancelha para si.

- Coma.

- Não tenho fome.

- Sendo assim - deu de ombros e comeu a batata. 

Deixamos o estabelecimento assim que Jungkook terminou de comer. Ele havia conversado mais sozinho, pois eu não era de muitas respostas. Além do mais, ele tinha a mania de apenas me observar. Escorou na parede esperando o táxi, que já havia chamado pelo celular. Já era quase meia-noite. Puxei meu cigarro e isqueiro e me apoiei no poste. Jungkook se aproximou e parou na minha frente com as mãos no bolso. Eu o encarei e soltei a fumaça. Novamente, ele não fez careta alguma, apenas se aproximou ainda mais de mim, ficando a poucos centímetros. Mantive a mão com o cigarro baixo e meu olhar no seu. Nessa época, Jungkook ainda era mais baixo do que a mim, mas não muito. 

Apoiou uma das mãos no poste e continuou a me encarar.

Eu olhei para o farol alto do carro que se aproximava. Quando olhei novamente para a direção de Jungkook, seus lábios estavam nos meus.

Lento. Seu beijo era calmo. De alguma forma fazia adrenalina correr por todo meu corpo como combustível.  

Eu o retribuí no mesmo momento. Deixei que envolvesse minha cintura. Seus lábios eram bons, com gosto de menta.

De alguma forma, perdi minha lucidez nos seus lábios.

||...turbulence...||

Segunda-feira. Eu odiava segundas, odiava escola. Jeon Jungkook não deveria saber disso, já que pareceu no lugar que eu sempre estava, onde ele havia me dado a rosa, de repente, selando meus lábios animado e com um sorriso. Vestia camisa solta e bermuda.

Ele ignorou meu olhar irritado e foi direto para meu cigarro. O pegou e amassou a pontinha.

- Você deveria parar de fumar e ir assistir o meu ensaio - disse e se apoiou aos lados do banco onde eu estava sentado, me encarando a poucos centímetros de distância.

Jungkook estava visivelmente mais soltou comigo. Havia sorrido para mim no corredor enquanto tinha os olhares de todas as garotas em si, e agora, havia chegado me beijando, como se fosse íntimos. 

- Não quero ficar junto aquelas garotas amontoadas para te ver ensaiar. Não gosto de muitas pessoas.

- O ensaio é fechado. Só nós que ensaiamos. Você entra como convidado.

Encará-lo bem na minha frente me fez perceber que ele não me deixaria ficar sem ir. 

- Tudo bem - quis me levantar para ir, mas ele continuou na minha frente. Encontrei seus olhos. Ele me beijou, mas dessa vez foi pego de surpresa o suficiente para nem retribuí-lo nos curtos segundos.

Eu o segui pelos corredores vazios da escola para a sala de ensaio. Havia outros quatorze alunos ali. Eles me encararam por um segundo, e vi comentarem entre si. Dei um sorriso de canto e sentei contra a parede, apoiando as mãos nos joelhos dobrados. Jungkook seguiu para perto de seus colegas. Eles já haviam se aquecido, e começaram a dançar. Não perdi meu tempo analisando como cada um deles dançava. Jungkook era visivelmente superior a todos e seus movimentos me faziam perder o olhar em seu corpo.

Certamente, meu desejo por si foi primeiro carnal, depois se alastrou para além de qualquer coisa visível.

- Min Yoongi - um garoto que eu não conhecia me chamou e pediu que eu fosse até eles. Jungkook estava com a camisa suada, a franja caída e os fios colando em sua testa molhada. Ele olhou para o garoto, suspeito. - Quero usar você para a dança - entregaram-no uma cadeira, que ele colocou no meio da sala.

- Eu não danço - respondi.

- Você não precisa - sorriu, e facilmente identifiquei o tipo de sorriso. Por vezes dava um daquele. O que ele tramava?

Sentei na cadeira posta ali. Os outros dançarinos se enfileiraram no canto. Uma música começou a tocar.

Olhei desinteressado para seus passos de dança, que provavelmente deveria ser uma tentativa de serem sensuais. Apoiou uma mão ao lado da minha cadeira e me encarou de perto, antes de sentar no meu colo e começar a dançar em cima de mim. Esse cara não é gay, posso ver na forma que anda, que dança.

Jungkook o puxa pela camisa de cima de mim. Ah, entendo. Eles eram inimigos. Era uma provocação a Jungkook.

- Você está maluco!? - Jungkook perguntou e tudo que o garoto fez foi rir. 

- Acho que metade dessa sala está me devendo o dinheiro por achar que ele era hétero!

- Yoongi, vem - seu tom era nervoso e ele saiu pisando firme para fora da sala, tanto que cheguei a compará-lo a uma mulher com ciúmes. Levantei e caminhei atrás de si calmamente, fechando a porta ao sair. Vi Jungkook entrar no banheiro masculino no final do corredor. Encostei-me na pia do banheiro e encarei o garoto nervoso e sexy. Ele realmente ficava sexy nervoso.

Jungkook me encarou.

- Por que você não o tirou do seu colo, Yoongi?

- Porque não era obrigado.

- Não? Nós...

- Nós não temos nada, Jungkook. Não sou seu namorado.

Ele me encarou, parecia decepcionado. Mas era Jeon Jungkook. Ele era firme. Não abaixou seu olhar. Apenas virou as costas para mim e encostou a cabeça na parede.

- Por que aquele garoto não gosta de você? - Questionei enquanto retirava meu cigarro do bolso.

- Ele era o líder antes de eu entrar.

- Ele era o melhor?

- Vai me dizer que não percebeu como ele dança? - Seu tom era irônico, e sinceramente? Depois de ver Jungkook dançar, o que ele havia feito não era nada.

- Não - suguei meu cigarro. Ele se virou para mim e me observou. Suspirou.

- Já te falei para não fumar - ignorei. Ele caminhou até mim e tomou o cigarro de entre meus dedos. Apagou-o e me prendeu contra a pia dos dois lados. Encarei seu rosto com traços delicados por bons segundos. - Aceita namorar comigo?

- Por que eu namoraria com você? - Eu não brincava quando dizia que Jungkook era direto. Não sabia como em menos de uma semana que conversava comigo tinha coragem de querer algo assim. Eu não gostava de si, não tinha porque querer namorar consigo. Tinha sido minha forte atração sexual por si, que me fazia querer agarrá-lo ali mesmo, e havia algo dentro de mim dizendo que eu deveria fazê-lo. Mas era apenas isso.

- Eu posso fazer você gostar de mim.

- E se você não conseguir?

- Eu vou.

Confiante. Encarei-o. Gostava de seu olhar. Gostava de que não hesitasse. Gostava do seu beijo e da sua dança. Não sabia se aquilo era suficiente. 

Jungkook começou a beijar meu queixo e subir para meus lábios e deslizar os seus macios pelo meu maxilar.

- Tudo bem. As decisões são suas.

- Não - negou veemente. - São suas.

Era como se naquela época eu já soubesse que nada relacionado a Jeon Jungkook estava sob meu controle.

De alguma forma, no dia seguinte acordei na cama de Jungkook. Sua mão em meu abdômen, me abraçando contra seu corpo.

Quando tentei me levantar, primeiro foi o braço de Jungkook me impedindo, depois, a dor que se alastrou pelo meu corpo nu.

Eu desisti e apenas esperei que ele acordasse, observando-o dormir.