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História Tweet Me - Planos Infalíveis


Escrita por: JustBeNanda

Notas do Autor


OLÁAAA! Apareci mais cedo hoje, rá! Sentiram a minha falta? Porque eu senti muito a falta de vocês. Em compensação a não ter postado nada semana passada, o capítulo de hoje é bem mais longo que o habitual.

310 FAVORITOS, AAAAAA! Vocês são sensacionais! Muito obrigada por todo o apoio ♡

Ok, vamos ao capítulo. Espero que gostem.

Boa leitura ♡

Capítulo 20 - Planos Infalíveis


Fanfic / Fanfiction Tweet Me - Planos Infalíveis

 

 

 

 

Na manhã seguinte, enquanto estou descendo as escadas de casa, preciso lembrar a mim mesma constantemente de que é para o meu próprio bem. Não dá para se esconder para sempre. Além disso, seria ridículo da minha parte esperar que alguma coisa mude sendo que passei o dia inteiro trancada no quarto. A situação não é uma das melhores agora, assim como o clima que deve se instalar assim que eu colocar os pés no último degrau, mas, bem... Poderia ser pior.

Ao menos, é o que eu penso, até me deparar com a cena mais incomum desde que me mudei temporariamente para cá: seis garotos, todos sentados à sala de estar, em silêncio absoluto. A maioria deles evita olhar para qualquer coisa que se movimente, o que inclui a minha pessoa. Não, não poderia ser pior.

— O que houve? Até parece que alguém morreu... — Cruzo os braços e me aproximo.

O fato de ninguém responder me leva a cogitar o pior.

— Ah, céus. Alguém morreu?

— É óbvio que não — Jungkook responde, se levantando. — Querem saber? Eu cansei disso. Se o planejamento para hoje é ficar repensando todas as coisas erradas as quais fizemos na festa de ontem, eu tô fora. Prefiro ensaiar.

— A questão não é essa, Jungkook. Você sabe que não podemos deixar tudo do jeito que está. O que pensa que nosso manager vai dizer quando descobrir que o Yoongi saiu de madrugada e não voltou mais? — Jimin questiona, irritado.

Como é?!

— Nós podemos esperar para ver. Yoongi não nos deixaria numa saia justa dessa...

— Jungkook, nós não fazemos ideia de onde ele esteja. Ele não se importou em deixar uma mensagem, um bilhete, nada. Não acha meio estranho para uma pessoa que não pretende deixar os amigos em uma situação complicada?

— Eu não entendo. Por que ele desapareceria assim? — Namjoon pergunta.

Subitamente, todos olham para mim como se eu fosse uma suspeita em um interrogatório.

— Julie e Yoongi brigaram ontem à noite...  — Jungkook diz, pensativo. — E se... Julie, você pode ligar e falar com ele, não pode? Temos quarenta e cinco minutos até o ensaio. Talvez, se você convencê-lo a voltar, nós possamos chegar com ele ao estúdio de dança a tempo.

— A-ah, Kookie... Não é bem assim que funciona... — Umedeço os lábios. — Yoongi não quer falar comigo. As chances de ele atender a um telefonema meu são as mesmas de um elefante aprender a andar de monociclo.

Jungkook pragueja baixo, dando início a mais uma onda de silêncio na sala. Em pouco tempo, porém, Taehyung se pronuncia:

— Estamos sendo irracionais. Quer dizer, nós convivemos com o Yoongi há, no mínimo, cinco anos. O vemos todos os dias, passamos cada uma das vinte e quatro horas diárias com ele. Sabemos o mínimo de como a cabeça dele funciona e de como ele costuma lidar com os problemas. A resposta é: se isolando. — Meu irmão suspira. — É o que está fazendo agora. Yoongi precisa de um tempo sozinho para colocar a cabeça no lugar e, então, quando decidir o que quer fazer, ele vai voltar. Nós não precisamos nos preocupar tanto.

— Como você tem tanta certeza disso? — Namjoon pergunta.

— Eu faço exatamente a mesma coisa que ele. — Taehyung dá de ombros. — Yoongi é mais velho que muitos aqui, ele deve saber o que está fazendo. Tenho certeza de que vai ficar tudo bem se o deixarmos quieto por algumas horas.

— O problema, Taehyung, — começa Hoseok — é que temos ensaio de dança daqui a pouco, e todos vão querer saber por que diabos o Yoongi não deu a graça de sua presença. O que vamos dizer? Que o Yoongi está matando os ensaios de dança porque está doente? Que ele não quis ir?

Todos fazem silêncio por um momento.

— Eu assumo a culpa — me pronuncio. — Nada mais justo que sofrer as consequências dos meus próprios atos.

Namjoon ri, sem ânimo nenhum.

— Você não pode assumir a culpa por ele, Julie. Você não faz parte do grupo. As regras sempre foram claras: se um integrante do grupo erra, todos são punidos.

— Pessoal, o tempo está passando... — Seokjin comenta. — Temos que tomar uma decisão logo. O que vamos fazer?

— Obviamente, não vamos contar aos nossos superiores o que aconteceu. — Jimin bufa.

— Está sugerindo que contemos mentiras ao manager? — Hoseok arregala os olhos.

— Alguém tem uma ideia melhor?

Silêncio na sala. Os garotos parecem tão pensativos que os imagino como personagens de um episódio especial de Pinky Dinky Doo.

— Ok. Se ninguém tem objeções a fazer, eu vou dizer o que penso — O Park diz, com um brilho estranho de determinação nos olhos. — Esse é o plano...

 

 

[...]

 

 

Se você acha que ficar ansiosa perto de outras pessoas é ruim, experimente ficar ansiosa e sozinha. Os sentimentos são mil vezes mais intensos, os pensamentos são mil vezes mais cruéis e cada segundo se torna mil vezes mais demorado.

No momento em que recebo uma mensagem de Taehyung, vejo-me tão enfiada no sofá que quase passo a fazer parte dele, comendo lámen e chorando o suficiente para encher um poço cartesiano na África, tudo por causa dos filmes de romance os quais passo a tarde toda assistindo. Em condições normais, é óbvio que eu não estaria assuando o nariz feito uma loser só por causa de um filme. No entanto, no momento, estou tão sensível que sinto como se eu fosse uma criança que tem alergia a gatos e “10 coisas que eu odeio em você” fosse o próprio gato, o mais fofo e felpudo que puder imaginar. Sim, filmes e gatos não parecem ter nada em comum, mas faz todo o sentido: eu sei que, na situação a qual me encontro, filmes de romance vão acabar comigo. E mesmo assim eu continuo assistindo.

Tomo o celular em mãos e clico na notificação do aplicativo de mensagens.

Leãozinho: Ju, voltaremos para casa tarde hoje. Aulas extras de técnica vocal.

Nada novo sobre o Yoongi.

Se cuida. Bjs.

Enfio os dedos entre os cabelos, prestes a arrancá-los de verdade. Sou tomada por uma corrente de raiva repentina; não consigo entender como Suga pôde tomar uma atitude tão extrema. Fugir de casa soa como a atitude de um adolescente mimado, e é exatamente o que Min Yoongi não é.

Me obrigo, então, a tomar uma atitude: decido ligar para Yoongi, sabendo o que dizer ou não, nem que seja só para dá-lo o prazer de desligar na minha cara. Primeiro, porque, depois da conversa de hoje de manhã, eu me sinto, em partes, responsável pelo ocorrido. Segundo, porque eu não aguento mais ver as protagonistas dos filmes fazerem os romances delas andarem e ver o meu romance se despedaçando enquanto eu assisto de camarote.

Desbloqueio o celular; minhas mãos suam e meu coração golpeia as costelas rapidamente enquanto tento me concentrar. É só uma ligação. Nada demais.

Ok. Clico no contato de Yoongi e prendo a respiração.

Um...

Dois...

Três! Chamando. A linha toca muitas vezes. Ninguém atende.

Tento de novo. Nada.

E mais uma vez, e mais outra. Nada mesmo.

Então, dividida entre a irritação e a preocupação, decido gravar um recado na caixa postal.

— Escuta, Yoongi. Eu sei que você provavelmente está ignorando minhas ligações porque não quer falar comigo. Mas, se você estiver ouvindo isso... — Procuro o tom de voz mais assustador que consigo fazer. — Saiba que eu vou arranjar um jeito de me vingar se você não voltar agora mesmo.

Desligo o telefone. Tomo mais algum tempo para pensar e ligo de novo, quando já tenho um plano de vingança rápido e eficaz preparado.

— Oi, Yoongi, você sabe quem é. Dá pra voltar para casa logo? Se você não voltar, vou invadir o Clube de Esportes e furar todas as bolas de basquete com um alicate de jardim. Você não quer que eu faça isso, quer?

Mais uma vez, desligo. Repasso meu plano de vingança na cabeça e percebo quão otária eu devo soar ameaçando furar bolas de basquete com um objeto pontiagudo. Com certeza, Julie, ele deve estar tremendo de medo.

Passo longos minutos encarando o celular, como se, caso eu tirasse os olhos dele por um segundo, fosse perder uma ligação. Mas Yoongi não liga, então eu sigo meus instintos e ligo novamente; agora, prometo a mim mesma, é a última vez.

— Yoongi... — Respiro fundo. — Eu odeio você. Por que, entre todas as vinganças possíveis que você poderia fazer, escolheu exatamente essa? Se me deixar preocupada era o seu objetivo, parabéns, você conseguiu.

E, pela primeira vez em tempos, sufoco as palavras que se formam sem querer em minha garganta. Amo você. Fico tão chocada com a rapidez com que a frase se forma que preciso fazer uma pausa para controlar meu próprio coração. Ao invés disso, digo:

— Volta logo. Se cuida.

 

 

[...]

 

 

— Eu ainda não entendi o que estou fazendo aqui.

Eu nunca pronunciei uma sentença tão ingênua e sincera como essa. A real questão aqui é que, após meu longo dia de drama e sofrimento, eu me encontro em uma van lotada de trogloditas – sete ao todo, para ser exata –, sendo conduzida até sabe-se-lá-onde, para uma suposta “reunião de urgência”.

Quando recebi a ligação de Jungkook avisando que eu tinha vinte minutos para me arrumar para a tal reunião, não passou pela minha cabeça que fosse coisa séria. É claro que o dia não poderia ser mais anormal; Min Yoongi, meu pseudo-namorado, acaba de desaparecer sem deixar rastros, além de que até agora eu não tenho nem ideia de que mentira cabeluda os meninos do Bangtan possam ter contado para proteger o amigo ao decorrer do dia. Mesmo assim, eu não imaginei que fosse uma reunião de verdade, no prédio da BigHit, com presença do ilustre diretor da empresa – como era mesmo o nome dele? – e tudo mais.

Por isso, tenho lá minhas dúvidas de que, talvez, só talvez, não tenha sido a melhor ideia do mundo ter me vestido como se fôssemos a um show de rock clássico, enquanto todos os outros parecem prontos para um concerto de Mozart. Ao mesmo tempo, meu coração bate muito mais rápido do que deveria e minhas mãos suam como se eu estivesse em uma visita turística ao deserto do Atacama.

E por que tudo isso? Por que eu sinto como se estivesse caminhando para a guilhotina? É simples: não seria menos pior se eu fosse o tema principal da reunião urgente BigHitiana. Está bem óbvio que estou prestes a vivenciar a pior cena de humilhação da minha vida, e tudo porque eu e Yoongi brigamos e ele teve o fabuloso plano de fugir de casa sem pensar nas consequências.

É isso. Eu vou ser torturada até confessar onde Yoongi foi parar, e olha que eu juro que o entregaria caso tivesse uma pista sequer de onde ele está, o que não é o caso. E, depois de ser psicologicamente arrasada, serei morta e desmembrada. Quase consigo imaginar o Sr. Hitman Bang jogando os meus restos mortais no fundo do rio Han, para que a polícia nunca descubra que a BigHit matou a irmã de um dos garotos do Bangtan só porque ela chateou o compositor de ouro deles. Certo, agora todos conseguem compreender o meu nervosismo?

— Eu também não sei o que você faz aqui, mas o diretor te chamou para a reunião, e não vou ser eu que vou ousar desobedecê-lo — Taehyung diz e abraça o próprio corpo, formando uma proteção imaginária em volta de si. A forma com que meu irmão pronuncia as palavras, lenta e cuidadosamente, faz parecer que...

Espera, essa é nova! Eu conheço essa atitude de algum lugar. Taehyung tem medo do diretor da BigHit?

— O que é esse tom estranho na sua voz, Taehyung? Seria... medo? — Acabo soltando um riso contido e nervoso, devo constar, porque eu também não estou lá tão relaxada em relação ao diretor.

— Não! — ele responde, mais rápido do que consigo calcular. — Mas é óbvio que eu não tenho medo. Rá! Que absurdo.

— Ah, é? Se não é medo, por que você “não ousa” desobedecer ao tal do Sr. Bang Shin Hung?

— É Bang Shi Hyuk, macaquinha — corrige, cerrando os olhos. — Eu não desobedeço porque sei que daria merda. E também porque Bang PD-nim não é... Bem, como posso dizer isso sem denegrir a imagem dele? — Tae leva a mão ao queixo. — Ele não é gente com quem se brinque.

— Entendido, capitão. Não vou mexer com ele.

O fundo do rio Han agradece.

— Escolha sábia, Ju. Escolha muito sábia.

Basta uma olhada pela janela para que eu perca o fôlego. É a BigHit. Estamos em frente ao prédio da BigHit, prestes a comparecer a uma reunião de urgência cujo assunto principal eu já desconfio, minutos antes da minha própria morte.

Ok, Julie, respire. Ninguém vai matar você durante a reunião. Tenho certeza de que você está se martirizando à toa. É só continuar respirando.

Logo, já descemos da van e estamos adentrando o nem tão alto assim prédio da BigHit. As paredes externas são feitas de mármore escuro, e as laterais da empresa estão cobertas por arbustos e árvores que lembram pinheiros de Natal. Ao me lembrar de que a reunião aconteceria em alguns minutos, sinto um arrepio e acabo, por impulso, agarrando a mão de Taehyung.

— Ei. — Ele ri. — O que foi?

— Estou prestes a desmaiar de nervosismo.

— Por causa da conversa que tivemos no carro? Eu exagerei. O diretor não é tão assustador quanto parece.

— Não é isso. — Aperto mais o braço de Tae. — Acha que a reunião é para tratar da situação com o Yoongi?

— Não sei. — Ele aperta minha mão. — Mas, se essa for a pauta de hoje, não se preocupe. Eu estou aqui. Não pretendo sair do seu lado tão cedo.

Não posso conter um sorriso nervoso.

— Obrigada, Tae. Você é um anj-

— Ei! Senhorita!

Olho para trás e paro de andar quando estamos perto do elevador. A secretária da empresa, uma senhora que parece estar na casa dos cinquenta anos e que possui um coque tão pomposo que parece estar coberto por uma camada generosa de cola líquida, está me encarando como se fôssemos inimigas de infância. Ela me olha dos pés a cabeça antes de continuar:

— Senhorita, posso saber quem é você? — A entonação que ela usa para falar é estranha. Uma a cada duas palavras parece objeto de destaque na frase, o que me deixa bastante incomodada e um pouco confusa.

— Sou a irmã mais nova do Taehyung. Julie Kim, muito prazer. — Me esforço para colocar um sorriso gentil na cara. Não tenho certeza se consigo.

— Cadastro. — Ela olha para a tela do computador e ajeita os óculos na ponta do nariz.

— Perdão?

— Cadastro, moça. Não posso te deixar entrar sem fazer o cadastro.

Era só o que me faltava. Olho para Taehyung em dúvida e percebo que ele me fita de volta.

— Vocês devem estar atrasados para a reunião, então... Vou fazer o cadastro e me encontro com vocês lá em cima, sim?

— Tudo bem, eu acho — diz meu irmão, um pouco contrariado. — Terceiro andar, sala dez. É a primeira porta à esquerda.

— Perfeito.

Solto sua mão e caminho até o balcão de mármore branco. Sem querer, suspiro alto e a secretária do coque colado lança-me um olhar cortante por cima dos óculos.

— Certo. Do que você precisa para fazer o cadastro? — pergunto.

O telefone toca e é prontamente atendido pela secretária, que faz um gesto grosseiro para que eu fique em silêncio.

— BigHit Entertainment — ela diz, puxando um pouco o fio do telefone. — No que posso ajudar?

E a conversa que se segue no telefone é tão longa que sinto a necessidade de me apoiar no balcão, com zero vontade de viver. Quase dez minutos depois, segundo minha contagem mental, a senhora decide finalmente desligar e eu a observo em expectativa. Ela digita algo no computador como se bater nas teclas com força fosse agilizar o processo.

— O sistema está fora de ar. Vou ter que chamar o técnico.

— O quê?! Não, a senhora não entende. Tem uma reunião de urgência acontecendo lá em cima, e eu deveria estar naquela sala neste exato momento. Não tem como, sei lá, a senhora anotar os meus dados em uma folha de papel e...

— Não dá para fazer o cadastro — corta ela, sem paciência. — Sem cadastro, você não entra.

— Mas, por favor...

— Senhorita. — Ela respira fundo, sem nem desviar os olhos da tela do computador. — Eu não posso fazer nada sem que o técnico dê um jeito nisso. O sistema não funciona. Sinto muito.

Seu pedido de desculpa me convence tanto quanto as propagandas de pílulas para idosos que passam na televisão. Por isso, e por estar muitíssimo irritada com sua maneira de ignorar a expressão de maníaca que faço para ela, apoio os cotovelos no balcão. Afundo o rosto entre as mãos enquanto prendo um grito de frustração na garganta.

Um homem baixo, vestido de preto e que carrega em volta do pescoço uma câmera profissional cuja lente é mais espessa que a minha mão aberta, para ao meu lado. Ele tira o suporte que prende a câmera ao pescoço e a coloca em cima da mesa, junto a um envelope grande de papel pardo.

— Boa tarde, Bora. Pode tomar conta disso aqui para mim? — Ele aponta para a câmera. A senhora apenas o olha por cima dos óculos, assim como fez comigo. — A câmera é emprestada de uma amiga, eu preciso tomar muito cuidado com ela. Vou ao banheiro.

Sra. Coque Colado – que eu suspeito se chamar Bora – não diz nada e nem se move para mudar a câmera de lugar. Faço tanto esforço para não revirar os olhos que suspeito que meus globos oculares estejam tremendo. Ela se levanta, exibindo o terninho marfim e a saia da mesma cor, e dá a volta no balcão. Memórias de Yura surgem em minha cabeça automaticamente conforme escuto os saltos de Bora golpeando o piso frio.

— Aonde você vai? — pergunto, um tanto quanto indignada.

— Chamar o técnico. — Seca. Ela indica uma poltrona perto de uma janela grande com a mão. Analisando bem, o ambiente se assemelha à sala de espera de um consultório médico, mas sem a parte da mesa com as revistas e da televisão a cabo. — Sente-se e tome um café, senhorita Kim. Voltarei logo.

Não posso contestar. No segundo seguinte, Bora já desapareceu pela porta de vidro lateral. Bufo alto e procuro um lugar para descontar a irritação. Chuto o balcão de leve, rasgo alguns folhetos que encontro na mesinha ao lado da poltrona, mas nada parece adiantar. Passo mais alguns minutos jogada na poltrona, enquanto minha perna balança de inquietação e nada da secretária aparecer. Quando um homem de terno e óculos de grau entra na sala, percebo-me murmurando:

— BigHit, não é? BigShit combinaria mais. — Cruzo os braços, afundando-me mais no assento.

O senhor de terno olha diretamente para mim, sério, e eu abaixo a cabeça. Não consigo parar de falar.

— Como um diretor consegue contratar uma secretária tão ranzinza? Aposto que nem sabe que ela trata os visitantes assim. Sr. Bang Estúpido Man. — Tomo um segundo para rir da sugestão. — Bang Idiota Man.

No mesmo instante, Bora entra na sala e se senta na cadeira giratória, concentrando-se no computador. Me levanto da poltrona com pressa.

— E então?

— Voltou ao normal. Vamos fazer o cadastro — ela diz, entediada.

— Ah, graças aos céus. — Corro até o balcão e jogo meus braços por cima do mármore, apoiando os cotovelos.

O grande problema, no entanto, é que, no segundo em que apoio os cotovelos no balcão, ouço um baque alto. Devido ao susto, olho para trás e...

A câmera. Profissional. Está. No chão. Com a lente gigantesca e tudo.

Eu não faço ideia do que fazer. De repente, minhas bochechas queimam e eu me abaixo, pegando o material do chão como se fosse um colar de diamantes. Coloco a câmera em cima do balcão com a velocidade da luz e, chocada demais para fazer qualquer coisa, desvio o olhar para o senhor de terno ao meu lado.

— Caramba, você não pode contar para ninguém que eu derrubei isso. — Arregalo os olhos para a secretária. — E nem você. Por favor. Eu faço qualquer coisa.

Bora mede o olhar entre mim e o senhor algumas vezes, antes de voltar a encarar a tela do computador. Ela respira fundo, coloca um sorriso no rosto e, de repente, se transfigura em uma versão completamente distinta da Bora de minutos atrás. Franzo as sobrancelhas quando ela pega a câmera e a coloca por trás do balcão, em cima da mesa onde trabalha. Seus olhos brilham como se ela fosse uma workaholic e o chefe tivesse acabado de pedi-la para fazer hora extra.

— Senhor Bang, boa tarde! Em que posso ajudar?

Perco a noção de meus próprios movimentos e meu coração quase sai pela boca.

Senhor... Bang?

Como em Senhor Bang Shi Hyuk, Hitman Bang, o diretor da Bighit e dono desse prédio inteiro?

Engulo em seco e não ouso virar o rosto para encarar o homem novamente. Burra, burra, burra! Você é burra, Julie! Por que não consegue sequer manter a boca fechada na hora certa?

— Eu preciso dos documentos que deixei aqui ontem à noite, sobre o novo programa de televisão do Bangtan. A reunião já deveria ter começado. — Ele está sério, com a cara fechada, e me pergunto por quanto tempo mais conseguirei prender a respiração perto dele.

— Claro. Aqui está. — Bora sorri gentilmente e estende uma pasta preta para Bang Shi Hyuk. Ele a toma e vira o corpo em minha direção.

Sr. Bang olha fixamente para mim e eu não consigo evitar o contato visual, principalmente porque sei que, caso eu não queira ser expulsa do prédio, devo-lhe explicações. Sendo assim, respiro fundo e arrumo a postura, numa tentativa falha de demonstrar profissionalismo.

— Sr. Bang... Muito prazer. Sou Julie Kim, a irmã mais nova de Kim Taehyung. — Dou um sorriso amarelo. Ele não move um músculo. Prossigo: — Eu devo deixar claro que, seja lá o que você tenha ouvido, não foi bem o que eu quis dizer.

Sua expressão séria continua lá, e parece que Bang faz um regime de palavras, pois nem se esforça para abrir a boca. Continuo, então, com cara de tonta, não sabendo como salvar a mim mesma de uma situação tão constrangedora como essa. Ninguém me ensinou isso na escola.

— Quer dizer... Foi o que eu quis dizer na hora, mas eu me arrependo. De verdade. Se o senhor não me expulsar da reunião, eu prometo que nunca mais chamo sua empresa de... — BigShit, penso. — Nomes pejorativos e nada verdadeiros. Nada verdadeiros mesmo.

Sr. Bang dá um passo a frente, eu dou um passo atrás e vejo-o colocando uma mão no meu ombro. Espero pelo pior: que ele exploda comigo, me xinge de uma maneira bem sofisticada e que chame seus dez seguranças particulares para me tirarem à força do prédio.

No entanto, o que realmente acontece me deixa surpresa. Um sorriso de canto aparece nos lábios de Bang, seguido por uma risada tímida, curta, dando início a uma alta, espalhafatosa gargalhada. Estou chocada demais para fazer qualquer coisa, então continuo encarando-o, com a respiração acelerada.

Após alguns segundos, ele enxuga as lágrimas dos cantos dos olhos e diz, risonho:

— Senhorita Kim... Agora eu entendo por que Yura fez questão de colocar você no programa. Você é hilária. — Bate de leve nas minhas costas. — Os fãs vão adorar.

Mas eu não consigo entender uma sílaba sequer do que ele diz. Programa? De que programa ele está falando? Além disso, Yura fez questão de me incluir em algo? Soa estranho demais para mim.

— Obrigada, eu acho.

— Está subindo para a reunião? — pergunta ele, caminhando em direção ao elevador.

— Preciso... fazer o cadastro primeiro. — Aponto para Bora, que ainda me encara por cima dos óculos. Sr. Bang entra no elevador e segura a pasta com os tais documentos contra o peito.

— Certo. Nos encontramos lá, então.

 

 

[...]

 

 

A sala de reuniões nada mais é que um cômodo retangular, com uma enorme mesa – semelhante às mesas de banquetes de castelos medievais – no centro, onde se encontram todas as pessoas de cargos importantes na BigHit. Vasculho a sala procurando por meu irmão ou qualquer conhecido, e os encontro longe, do outro lado da mesa. Existe apenas uma cadeira vazia na mesa, ao lado de Jungkook. Meu melhor amigo me encara com uma expressão divertida no rosto.

— Com licença — digo a Yura e a Sr. Bang, que preparam uma apresentação em PowerPoint no telão. Respiro fundo e praticamente corro até onde os garotos estão. Me sento e seguro o braço de Jungkook com força, para conter a vergonha pelo que aconteceu há pouco tempo na recepção.

— Você está vermelha que nem um pimentão — Jungkook se aproxima para sussurrar em meu ouvido. — O que houve?

— Eu acabo de cometer a pior gafe da minha vida. Você já pode enterrar a minha sanidade mental e o meu bom senso, porque eu não tenho mais nenhum dos dois.

Jungkook solta uma risadinha discreta.

— O que foi? Derrubou a máquina de café do corredor em alguém?

— Pior. — Pressiono os lábios para não soltar um muxoxo decepcionado. — Te conto depois.

Lee Yura toma seu posto em frente ao telão, com as mãos cruzadas em frente ao corpo. Como sempre, ela está impecável: cabelos brilhantes e lisos, saltos vermelhos e uma saia lápis preta que a deixa parecida com uma secretária sexy hollywoodiana. Ela sorri atraentemente e distribui olhares pela mesa toda antes de começar:

— Boa tarde a todos. Meu nome é Lee Yura, eu sou a produtora e a responsável pelo assunto o qual iremos tratar nessa reunião: o novo reality show do BTS. Agradeço a todos pela presença.

Antes que Yura termine de falar, um burburinho toma conta da sala por conta da notícia inédita. Então quer dizer que, depois de mais de um mês procurando uma ideia boa, finalmente decidiram algo sobre o tal reality show dos meninos?

— Há algum tempo, contratamos Yura com a finalidade de iniciar a gravação de um programa, uma espécie de reality show que fosse capaz de atrair público para o nosso grupo idol principal, Bangtan Boys — Sr. Bang diz. — Com a ajuda de alguns dos integrantes do grupo e com o grande empenho de Yura, chegamos a uma opção viável e de possível de sucesso.

Ele faz um sinal com a cabeça para Yura e se senta na própria cadeira, abrindo espaço para a produtora.

— Com essa finalidade, foi criado o Mission: School Rush. O programa consistirá em uma simulação de colégio, onde os garotos têm que completar missões que interligam questões de lógica e habilidade física às matérias usuais de ensino. O público alvo é o jovem, e as gravações serão realizadas em uma escola em Incheon que está temporariamente fechada.

Yura muda os slides e mostra fotos do set de gravação. As salas de aula do local não são tão grandes assim, mas o colégio tem uma quadra e bibliotecas dignos dos filmes de High School Musical.

— Por conta disso, os garotos e uma equipe de filmagem serão enviados a Incheon, onde ficarão hospedados por pouco mais de uma semana para gravação dos episódios do Mission. Um dos membros do BTS, Min Yoongi, se ofereceu ontem à noite para viajar para lá um dia antes e cuidar de assuntos pendentes, e, como a ideia principal do programa foi dele, achamos que nada seria mais justo do que deixa-lo ir. — Yura olha para mim e sorri, educada.

Entretanto, a esse ponto, não estou mais prestando atenção no restante da explicação sobre o programa. Minha mente focaliza em “Min Yoongi”, e no fato de ele não ter fugido de casa por conta de uma briga idiota, e sim ter ido, com a autorização da empresa, para Incheon, cuidar de assuntos verdadeiramente importantes. Repasso tudo o que fiz e o que pensei de ontem para hoje; sobre Yoongi ser um ingrato, cretino e um cafasjeste e sobre eu odiá-lo por isso. Sobre os recados na caixa eletrônica e furar bolas de basquete com alicates de jardim.

Céus, eu sou tão babaca que mal consigo acreditar.

Mas, se Yoongi não esteve fugindo de casa esse tempo todo, significa que ele também não está fugindo de mim. Durante o dia todo, Suga deve ter corrido de um lado para o outro e, mesmo assim, eu o culpei por não atender meus telefonemas.

Yoongi não está me evitando. Nós estamos bem. Vamos conversar e perceber, no final, que a situação foi um mal entendido.

Consigo respirar calmamente pela primeira vez no dia, tão aliviada e leve que, sem querer, dou risada. Felizmente, não é alta o suficiente para chamar a atenção de todos, mas Jungkook percebe. Ele sorri de volta, primeiro inocentemente e, logo depois, com um pingo de malícia. Abaixo a cabeça, envergonhada.

— Por fim — volto a focar na explicação de Yura —, devemos tratar de assuntos como a participação de Julie, a irmã de Taehyung, no programa logo após essa reunião. Como já mencionado, nossa equipe de Mission: School Rush viajará amanhã cedo a Incheon, e as gravações dos vinte episódios do programa se iniciarão assim que possível. No mais, organizaremos novas reuniões em caso de alteração de planos. Obrigada pela atenção. — A Lee faz uma pequena reverência.

A sala toda se dispersa com o fim da apresentação, organizando folhas em pastas de couro e conversando baixo, a maioria sobre a mais recente novidade tratada na reunião. Os garotos se levantam de suas cadeiras e andamos juntos para o lado de fora da sala, no corredor.

— Quer dizer, então, que passamos o dia todo evitando qualquer um que pudesse fazer perguntas sobre o Yoongi sendo que, na verdade, todos eles já sabiam? — Namjoon questiona.

— É o que parece — diz Seokjin. — Foi um erro da parte deles não nos contar sobre Yoongi antes. Nos preocupamos à toa.

— Nós pensamos que vocês soubessem — se intromete Yura, saindo da sala de reunião sozinha, com algumas pastas nos braços.  — Ninguém disse nada durante os ensaios, então imaginamos que Yoongi tivesse comentado com vocês.

— Ele não contou nada — respondo.

— Bem, peço desculpas por isso. — Ela dá de ombros. — Agora vocês já sabem.

Entramos no elevador; eu, Yura, Jungkook, Hoseok e Taehyung. Os outros três rapazes escolhem esperar pelo próximo elevador por conta do limite de pessoas. Assim que descemos no térreo, Jungkook franze as sobrancelhas.

— Aquela não é a crush do Hoseok? — ele pergunta, olhando para longe.

Olho para a recepção e encontro Yoon Jae, vestida em um sobretudo preto, com as mãos apoiadas no balcão de mármore.

— Eu não tenho crush — defende-se Hoseok.

— Tá. Crush, peguete, tanto faz. — Kookie suspira.

— Jungkook, eu vou quebrar a sua cara.

Enquanto isso, saio sorrateiramente e me aproximo da garota, parando ao seu lado.

— Oi, Jae.

— Julie, oi! Que mundo pequeno. — Ela sorri. — O que estão fazendo aqui?

— Taehyung trabalha para a BigHit. Viemos para uma reunião.

— Ah... Impressionante. — Ela abaixa a cabeça, parecendo evitar o assunto.

— E você? Também trabalha aqui?

— Não, não, eu estou de passagem. Vim buscar uma câmera que emprestei a um amigo mais cedo.

Bora, a senhora chata do cadastro, aparece entre as portas de vidro laterais e entrega a câmera da lente gigante nas mãos de Yoon Jae. A mesma câmera que eu derrubei no chão mais cedo. Arregalo os olhos sem querer.

— Caramba, essa câmera é sua? — pergunto, em estado de choque.

— É. Eu sou fotógrafa.

Passa pela minha cabeça que, se eu não disser nada, ela nunca vai descobrir que derrubei a câmera caríssima dela no chão. O problema é que a minha consciência pesa, provavelmente, mais que os músculos de Jungkook – acredite, é muita coisa – e, por isso, eu sei que preciso falar. Umedeço os lábios e esfrego uma mão na outra.

— Yoon Jae... Sabe... Talvez eu tenha feito uma grande besteira hoje.

Ela coloca a câmera no pescoço.

— O que foi?

— Eu, bem... Quer dizer, eu... — Encolho os ombros. — Eu derrubei sua câmera no chão.

— Você o quê?!

— Juro que foi sem querer! — me desespero. — Seu amigo veio e colocou a câmera em cima do balcão, e eu acabei me precipitando e...

— Kim, sua maluca, eu mataria você se a câmera tivesse quebrado! Ah, meu Deus!

— Me desculpa. Não foi proposital — digo, envergonhada.

Yoon Jae respira fundo e passa a mão pelo rosto, logo voltando a me encarar.

— Desculpa pelo surto — ela diz. — Acidentes acontecem. Eu só... Existem fotos muito importantes nessa câmera, Julie, e eu estaria ferrada se as perdesse. Acontece que eu fui tonta o bastante para não fazer backup de nada. — Yoon Jae liga a câmera e acessa a galeria rapidamente. — Tudo bem, o importante é que não quebrou, certo?

Assinto com a cabeça.

— Tenho que ir. Tô atrasada para uma festa. — Ela revira os olhos, como se “festa” fosse sinônimo de “entrevista de emprego para asilo”.

— Ei, ei! Vai embora sem me cumprimentar? — Hoseok se aproxima, um pouco afobado.

— Não tinha te visto aqui. — Ela sorri e enlaça o pescoço dele em um abraço. J-Hope a abraça de volta, tirando-a do chão. — Tá livre amanhã?

— Não. — Ele a solta e força uma careta. — Viajo para Incheon cedinho e só volto daqui a uma semana.

— Sério? Que pena. — Yoon Jae suspira. — Bem... A gente se vê por aí, então.

— Eu espero que sim — diz Hoseok; os olhinhos brilhando como duas pedrinhas de cristal. Bato em seu peito com força.

— Tá babando.

E, incrivelmente, o rapaz ainda tem a cara-de-pau de levar os dedos aos cantos da boca, checando minhas palavras.

— Não tô.

— Mas foi quase. Mané. — Eu sorrio.

Ando rapidamente para perto de Jungkook, me preparando para um relato detalhado sobre dias de sofrimento envolvendo “10 coisas que eu odeio em você”, senhoras cinquentonas com cabelo colado e empresas cujos nomes podem ser facilmente difamados.

 

 

 

 

 


Notas Finais


Espero que vocês tenham rido um pouco durante esse capítulo, porque eu me diverti muito escrevendo.

Gostaram? Se sim, poooor favorzinho, não se esqueçam de deixar um comentário nesse capítulo. Vocês não têm noção do quanto isso me motiva a continuar escrevendo ♡

Muito obrigada a quem leu até aqui e, vocês já sabem, a gente se vê na segunda que vem! Au revoir ♡

→ Outras fanfics escritas por mim:
Blooming Destiny (Oneshot Jimin) → https://www.spiritfanfiction.com/historia/blooming-destiny-oneshot-jimin-11853064
Friday Talk (Oneshot Taehyung) → https://www.spiritfanfiction.com/historia/friday-talk-oneshot-taehyung-12204862


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