História U Mad, Mikasa? (RivaMika) - Alnilam

Alnilam/ Epsilon Orionis

Constelação: Orion 

Magnitude Aparente: 1,70

Distância: 1340 anos-luz

Idade: 4 milhões de anos.

Chegar em casa e encontrar o lugar na penumbra já era um costume quando Kyiomi estava fora, agora era um pouco sufocante. Provável que voltasse para sua ditadura do miojo e em algum momento suas paredes estariam cobertas de números e fórmulas e leis básicas, um caleidoscópio de números coloridos formando pontes em suas paredes, costurando de volta cada expressão e cada nomenclatura que havia rasgado de seu corpo antes. 

Não importava Historia, Ymir ou qualquer outra, não importava o que disessem dela ou sobre como poderia ser terrivelmente sentimental com situações que nem deveriam ser levadas em consideração. Seu sangue estava quente, uma mistura quase homogênea entre sua alma e espírito.  Como o professor Krueger sempre dizia: não é possível fugir de quem se é por muito tempo, e ela não sabia exatamente em qual parte da casa cabia agora que o espaço era suficientemente grande para uma família inteira. 

Subiu as escadas e deixou o casaco atrás da porta, pensava que Kyiomi iria viajar apenas na semana que vem, mas urgências de primeiro grau exigiram sua presença em seu país o mais rápido possível. Encontrar sua rotina debaixo dos cobertores foi fácil, como cumprimentar um amigo de longa data que não se via há tempos. 

Ela deitou olhando para o teto e se viu como aqueles primeiros astrônomos que um dia resolveram contemplar os astros sem o auxílio de qualquer aparato, lunetas, telescópios, mentes curiosas matemáticas desbravando curiosamente a insípida luz que vinha do céu, aquele céu que diferente do que muitos imaginavam não era parado, acabado e nem imutável. O mistério pulsante e quase vicioso que faz uma pessoa retirar o olhar de si mesmo, o silêncio e a calma, uma constelação girando em torno de seus olhos.

Lembrou que sua avó havia comprado vinho do porto e saiu saltitando pelo quarto, desceu as escadas tentando prender os cabelos novamente, enfiou-se na geladeira e encheu um copo indo para a sala com a garrafa do lado. Sua avó dizia que era deselegante uma mulher beber diretamente da garrafa, Kyiomi às vezes não parecia uma pessoa, não, ela era uma esfingie disfarçada. 

Ligou a TV, estava passando uma novela irritante, deitou no sofá e encheu o copo novamente rindo da mocinha do drama. 

Pouco tempo depois, um filme começou, ela virou as últimas gotas na boca e já não sabia a hora, o dia, um sorriso irrompeu pela sua garganta e a garrafa rolou pelo chão vazia enquanto Mikasa rolava no sofá olhando de um lado para o outro como se houvesse um agouro estranho lhe perseguindo, saindo das paredes e voltando. Os seus passos ecoando nas escadas até o seu quarto no segundo andar, mas deixou a porta fechada quando desceu. 

Pegou o celular e enviou uma mensagem para sua avó: 

Quando vai voltar? Bebi todo seu vinho, quando vier traga um telescópio decente ou vou tatuar um na minha bunda... eu soube que as terminações nervosas se ligam no cóccix ou no cu mesmo... bjs, Aristarco. 

Puxou o plugue dos fones e a calça pelas pernas chutando para longe, soltou os cabelos, sua corrente sanguínea parecia um mar tenebroso, um rio profundo onde embarcações desapareceram por questões meteorológicas, seu próprio Mar do Diabo. Seus olhos pesavam e enxergava malmente pelas frestas dos cílios.

Estava tão cansada que seu corpo flutuou deixando-a entre o entorpecimento e uma visão distante, as pernas frouxas e os cabelos quase esbarrando o chão, o copo caiu de sua mão e ela dormiu no sofá de boca aberta, vendo aquela constelação descer do telhado e a consumir.

Estava muito frio para continuar dormindo na sala, Mikasa sabia que já era manhã, mas não fazia ideia de que horas deveria ser, de onde tirar disposição para levantar, e sua garganta seca estava áspera, um túnel rachado levando pontadas direto para as têmporas. Precisava de água. Seu celular não despertou e ainda não estava suficientemente claro para estar atrasada.

Foi para a cozinha e deixou a garrafa vazia perto da pia, sua cabeça girou em 360°, ela apoiou-se na e abriu a torneira lavando o rosto, as unhas medias arrastando na pele das bochechas. Pegou uma garrafa na geladeira e o copo de vidro ao mesmo tempo que o celular começou a labuta de seis alarmes programados em alternância de 10 minutos cada. 

Ela desativou cada um e começou a fechar as abas, achou estranho ter visto suas mensagens em aberto, havia algumas coisas estranhas no chat de Armin, não lembrava de ter digitado HAUSHAKALSH e logo abaixo, o chat do professor Ackerman.

O chat do professor Ackerman. 

Mikasa olhou novamente não acreditando em seus olhos, não poderia ter acontecido de novo. Estava muito cedo e seus neurônios não estavam funcionando bem, leu pela última vez e o copo caiu de sua mão.

Sua mensagem, que deveria ter sido enviada para a avó, foi enviada com sucesso para o professor Levi. 

E vizualizada. 

Do que adiantaria apagar agora? 

Olhou para a água que corria pelo ralo, as pernas tremendo no frio da cozinha, seus pés descalços na lajota. Imaginava o maldito sentado em seu sofá em algum lugar no mundo assistindo o noticiário, se é que ele assistia, quando recebeu a mensagem. Ele teria aberto o chat e levantado uma sobrancelha para sua aluna perturbada, ou ele teria simplesmente ignorado quando visse na barra de notificações que se tratava dela, ele poderia também nem ter lido, era capaz que não tivesse aquele número salvo. 

Bloqueou o aparelho e deixou na pia voltando a esfregar o rosto com mais força dessa vez, sua língua se tornava mais arenosa e tinha uma sensação estranha abaixo do diafragma. 

....

- Seu amigo te disse como vai ser a avaliação? 

Mikasa tirou a cabeça dos livros procurando o ser maligno que a tirou dos seus sonhos. 

- Que amigo, Annie? 

- O professor Levi. 

- Ah, por um paga todos. - disse séria enrolando os cabelos na ponta dos dedos para fazer um nó que iria lhe ferrar para soltar depois. 

- Sério isso? 

Ela engoliu a resposta vendo as outras se aproximando para o que seria a reunião das baratas vingadoras depois de tudo que houve.

- Nós vamos passar as falas lá fora. Quer vir, Mikasa? 

- Ela vem. - Annie a puxou pelo braço e as duas saíram ouvindo Historia falar coisas sobre o time estar completo de novo. 

A Ackerman sentou em um dos bancos no corredor, enxergou Eren e os idiotas se aproximando, deveriam estar em agonia depois que o motim deu em nada e agora teriam que apresentar um tema que provavelmente nem aprenderam direito. Planetas e Sistemas Planetários, ela lembrava de ter surtado ao ver o tema que eles tiraram no sorteio. Ela teria dado seu rim por isso. Teoria das Partículas era legal, Astrofísica poderia ser interessante de uma perspectiva menos preguiçosa, mas pelos poderes, ela queria um tema do outro campo. 

- Mikasa? 

- O que? 

- Sua vez.

Bóson de Higgs. Ela inspirou fundo e começou a falar pelos cotovelos como se tivesse passado a vida inteira estudando o assunto.

- Já chegou o disco voador! - Connie passou gritando pelos corredores.

Mikasa parou na metade da fala e levantou seguindo as meninas para dentro da sala. Procurou sua cadeira e desabou colocando o celular no silencioso, bastava olhar seu chat que a trava lhe subia pela garganta. 

Selecionou a conversa e deletou. 

O professor entrou na sala e ela abaixou a cabeça evitando contato visual, não era diferente de quando o chamou de anão filho da puta e ele simplesmente ignorou. Pelo menos ele não era vingativo, com ela pelo menos. E isso não tinha significado algum.

Encarou o homem mexendo em sua papelada, pegando seu caderno de capa preta grossa que parecia um modelo moderno de Death Note. Tinha as equipes e os nomes dos alunos anotados, mas como seria a apresentação do seminário dependia do seu humor. 

E Mikasa engoliu um suspiro ao ver que ele estava no modo Predador, selecionando os tópicos que cada pessoa iria falar. Ela cruzou os braços em seu assento e olhou para as cabeças das meninas, desejando profundamente que tivessem estudado mesmo ou antes do meio dia, cabeças iriam rolar. 

- Barata Vingadora. - ele chamou sua equipe com a mesma seriedade de sempre, nem sequer olhava para elas. 

Mikasa enfiou as mãos nos bolsos e percebeu Eren fazendo gesto de oral de sua cadeira, riu e virou-se para falar algo ao Floch que começou a rir como uma hiena.

- Podem começar. 

Elas se entreolharam e a disputa de quem iria se ferrar primeiro começou. Mikasa observava a apresentação e elas a observavam, trocando olhares com a turma e evitando olhar o professor. Estudaram, estava mais aliviada, mal olhavam no slide.

Quando chegou sua vez, a finalização, ela puxou o fôlego e lembrou da coisa do telescópio na bunda, terminações nervosas no cu, bjs Aristarco... pobre Aristarco. Encarando o professor que a olhava seriamente, Mikasa desviou o olhar e começou sua apresentação soltando as palavras como quem constrói um castelo na areia para o professor Levi vir chutar depois. 

Entendeu que ele não havia mudado a ordem de apresentação delas por ser necessário uma base maior de campos e partículas para se compreender a formação de massa no universo. Passsou pelos campos existentes e a diferenciação ao de Higgs, sua importância na formação e existência, a relação entre o bóson de Higgs e outras partículas, sobre como as partículas recebem massa ao se relacionarem com o campo.

Quando finalizou sua parte, virou-se para o professor esperando retaliação. 

Ele apenas balançou a cabeça e riscou alguma coisa no seu caderno. 

- Podem sentar. Próximo. 

Mikasa percebeu que seus joelhos estavam trêmulos e não havia força para sustentar toda sua constituição física. Ela veio atrás de Annie e quando sentou, ficou relembrando tudo que disse tentando encontrar qualquer erro; mas parece que tudo saiu de acordo com o plano. 

Quando o último terminou a apresentação, o professor levantou e citou nos nomes das equipes que deveriam permanecer, ela não sabia se queria ou não ser chamada, mas achou melhor aproveitar a fuga.

- Já se foi o Disco Voador... - Connie gritou quando dobraram o corredor.

- Cala a boca que ainda tem uma prova. 

Mikasa suspirou e virou-se para Historia que vinha falando algo ao seu lado.