Entorpecendo
(Drown my will to fly, here in the darkness I know myself.
Can't breakfree until I let it go. let me go.)..
Bonnie desceu pelas paredes com uma destreza ninja. Lá de cima Marceline impressionada a observava enquanto partia dirigindo uma lambreta. Que tipo de garota era aquela? Marcy não conseguia deixar de se perguntar…Finn e Jake deixaram claro que elas já se conheciam, mas Marceline não se lembrava… Não conseguia ter uma lembrança sequer com a garota. Disseram também que ela era a herdeira rica de alguma coisa muito importante, mas Marceline não conheciam herdeiras importantes que andassem de lambreta e invadiam quartos escalando paredes… Se bem que Marceline também era herdeira de alguma coisa, e achava isso um tremendo saco.
Continuou a olhar para a rua, mas Bonnie já havia desaparecido de vista. Voltando o olhar para dentro do quarto, respirou fundo. O coração ainda doía, mas estava menos apertado no peito... Estava decidida: Iria arrumar aquela bagunça.
Muitos minutos mais tarde, a lua já estava alta, seu quarto estava o mais arrumado que conseguira, não ouvia som algum de seu pai ou de Crisbela, apenas de seu estômago que roncava. Definitivamente precisava comer alguma coisa. Olhou outra vez para a rua, que estava deserta, e enfim considerou realmente escapar janela a fora, não iria ser uma prisioneira em seu próprio quarto nem sequer um momento a mais. Trocou de roupa, colocando um jeans preto rasgado, uma camiseta confortável e uma jaqueta; e enfiando o baixo dentro da capa, não queria arriscar perder mais alguma coisa, colocou-o nas costas e pôs-se a pensar como desceria. Era questão de honra agora. Até a princesinha desceu, por quê eu não conseguiria? Amarrando vários panos, roupas e cobertor, fez uma corda e lançou-a para fora. Iria descer assim: como uma personagem de desenho animado. Riu-se de si mesma ao sussurrar:
_ Como uma criminosa escapando da prisão.
A queda não foi tão suave quanto o planejado, mas lá estava Marceline fora de casa. Olhou para cima sem remorso e partiu para a lanchonete mais próxima.
A pouco mais de 100 metros Marceline já conseguia sentir o cheiro da carne na chapa, do queijo derretido suculento, do tomate fresquinho, seus sentidos estavam mais aguçados que nunca, e seu olfato nunca pareceu tão bom. Empurrando a porta com um desespero contido ela entra no estabelecimento e se senta largada à uma mesa qualquer. O atendente logo veio com cardápio e caneta em mãos:
_ Boa noite moça, qual o pedido?
Encarando o cardápio respondeu sem levantar o olhar:
_ O número 3 com tomate em dobro, por favor. E um suco de groselha.
_ Anotado. Mais alguma coi… Marceline? - O atendente a encarava fascinado.
_ E-eu? - Confusa a garota o encarava de volta em desconhecimento.
_ Rainha Vampira. Nossa, você é incrível.
_ S-sou? - Desconfortável ela responde.
_ Sim! - Ele diz gesticulando empolgadíssimo. _ E aquele seu último show, foi demais.
Show?
_ Obrigada - Ela responde ainda mais confusa. O estômago clama de fome.
_ Oh… Desculpe. Seu pedido sairá em um instante. - Ele diz se afastando depressa.
Sentada, com os cotovelos na mesa e as mãos no queixo apoiando a cabeça, se perguntava de onde aquele rapaz havia surgido. Com certeza ele devia estar falando dos seus vídeos na internet… Ele devia estar insultando-a agora, mas tom dele não era de ironia. Ele devia odiá-la, certo? Porque todos a odeiam, não é?
Enquanto encarava seu reflexo na janela de vidro ao seu lado e se perdia em pensamentos nada amigáveis Marceline é surpreendida pelo rapaz munido do seu pedido.
_ Um número 3 saindo no capricho. - Disse e sorriu orgulhoso. _ Pedi que não economizassem no tomate.
_ Obrigada. - Ela responde surpresa, já abrindo um sachê de ketchup.
_ Não precisa agradecer. - Disse e foi se afastando educadamente para atender outra mesa.
_ Ei… - Marceline o interrompe.
_ Sim? Posso ajudá-la? - Ele responde prestativo.
_ Meu… O show da Rainha Vampira, onde você disse mesmo que o viu?
_ Ah sim, o show? Na festa do Jake essa semana.
Festa do Jake…? Como? Por mais que Marceline se forçasse a se lembrar, nada lhe vinha à mente. Sabia que havia ido a festa, mas os acontecimentos que ocorreram acabaram se tornando um mistério para ela. Não havia escolha, quando acabasse de comer iria a casa de Finn e Jake.
_ Vamos Jake! Bmo já está preparado com o jogo, e dessa vez você irá perder, cara.
_ Espera só eu acabar de preparar a calda dessas panquecas. Café da manhã no jantar. Café da manhã no jantar.
_ Ah cara. Isso aqui está uma bagunça. - Finn diz apontando para um canto específico na cozinha.
_ Leva esses sacos de lixo lá para fora. - Jake instrui ignorando o comentário sobre a bagunça.
_ Tá. - Com os sacos de lixo em mãos, Finn dá de cara com Marceline parada a sua porta, quieta como uma alma penada.
_ Oi Finn.
_ POR GLOB! Marcy que susto.
_ Foi mal. - Ela ri sem graça.
_ Tudo bem - Ele deposita os sacos nas latas. - Está tudo bem? Conseguiu recuperar seu celular?
_ Sim, eu consegui sim.
_ Certo…
_ Preciso perguntar algo para você e Jake…Pode parecer meio estranho
_ Claro. O que quiser.
_ FINN! Vem logo cara, que demora! - Jake berra da cozinha.
_ ESTOU INDO! MARCINHA ESTÁ AQUI. - Finn berra de volta.
_ ENTÃO CHAMA ELA PARA ENTRAR!
_ VAMOS… Entrar Marcy. Jake está preparando panquecas pro jantar. Já devem estar quase prontas.
_ E aí Marcy vampira. - Jake surge diante dela no hall de entrada com uma colher de madeira em mãos, usando um avental e chapéu de cozinheiro. _ Vem jantar com a gente.
_ Valeu Jake, acabei de comer… Na verdade vim até aqui perguntar uma coisa.
_ Pode falar. - Jake diz enquanto indica o caminho da sala para se acomodarem.
_ Aquele dia na sua festa…
_ Dia irado inclusive. - Jake diz nostálgico.
_ Sim… certo. Mas por que tão irado? O…
_ Todas as festas de Jake com o Rei da Festa são iradas… - Finn a interrompe contemplativo.
_ Tá…- Ela se ajeita no sofá _ Mas o que eu quero saber é o que exatamente eu fiz?
Jake e Finn se entreolham, não tão discretos a ponto de Marceline não perceber.
_ O que você fez?
_ Sim Jake. O que eu fiz? - O tom dela era quase angustiado.
_ Você tocou Marcy. Você é uma louca estrela do rock.
_ Eu? Toquei?
_ Sim. - Jake respondeu dando de ombros. _ Tocou como você sempre toca.
_ Caras… E o que exatamente eu toquei?
_ Como assim Marcy? Tocou com este mesmo instrumento ai que estava nas suas costas.
_ Foi mais que irado.
Toquei com meu baixo em uma festa… e as pessoas adoraram? Mas como? E por que eu não me lembro?
Atônita a garota se levanta e começa a caminhar até a porta…
_ Obrigada. Estou indo.
_ Por nada Marcy… pra isso que servem os amigos. - Finn responde simpático. _ E alias, recuperou seu celular?
Meu celular? Ah… Verdade.
_ Recuperei sim. Valeu. - Ela responde e sai porta a fora.
Marceline continua a caminhar pelas ruas… Não sabia bem para onde ir, o plano inicial era apenas pular a janela e comer alguma coisa. Pensou em ir a casa do avô, ele sempre a acolhia com seu afeto paternal… Mas já devia estar tarde, e ele como idoso poderia estar dormindo. Pegou o celular do bolso para conferir as horas e reparou que não havia tocado nele desde que o recuperara. Haviam várias notificações. A notificação em algo lhe chamou a atenção, um link que não lembrava de ter postado, o título grotesco, até mesmo para ela: “Rainha vampira ao vivo e o sacrifício humano”. Uma onda fria percorreu-lhe a espinha. O que é isso?
Clicou no link e esperou carregar. Constatando que realmente fora ela quem upou durante a madrugada. Ao começar o vídeo quase completamente escuro e totalmente barulhento um vulto rosa lhe chamou a atenção. Bonnibel?
Poderia ela saber de alguma coisa? Sem pensar duas vezes já começava a digitar o número da garota de cabelos chiclete que estava salvo nos registros de chamada.
Antes do segundo toque uma voz mansa, porém preocupada atendia do outro lado:
_ Alô? Marceline é você?
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.