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História Um alguém especial - 5


Escrita por: FrancisClay

Notas do Autor


Olá meninas...enfim o capitulo tão aguardado por vcs...espero que gostem...Boa leitura

Capítulo 5 - 5


 

O hospital é exatamente o mesmo de que eu me lembrava, com exceção da pintura nova, muito mais moderna e clean. A fachada ficou com cara de clínica de estética e não de um lugar onde doentes morrem todos os dias. Isso é bom.

Meu pai está lindamente caracterizado de médico, com calças brancas de sarja, camisa polo branca, sapatênis branco e um jaleco asséptico que cheira a amaciante. Carrega sua inseparável maleta de couro caramelo, um presente que lhe dei em alguma data festiva.

Ele é super conhecido na cidade, tanto que não para de acenar para os lados, cumprimentando a todos pelo nome. Eu finjo que não estou ali, não quero socializar.

— Estou feliz que esteja de volta. Minha vida nunca foi a mesma sem você por perto. – ele diz e me arranca um sorriso triste. – Eu gostaria muito que não mudasse de ideia, não quero que vá embora novamente.

— Não acho que eu vá mudar de ideia, pai.

— Espero que goste do trabalho. Estamos precisando de alguma criatividade por aqui. E ninguém é melhor do que você nesse quesito. – ele levanta a minha bola e me sinto um must.

— Darei o meu melhor, prometo.

Na recepção do hospital, sou imediatamente apresentada as enfermeiras de plantão. Algumas eu reconheço, outras nunca vi mais gordas. O papo é breve e logo estou seguindo ao lado do meu velho pelo corredor principal.

Na administração, ganho um crachá com meu nome e a senha do wi-fi. Assino um contrato de prestação de serviços e agora conhecerei a minha sala de trabalho pelas próximas semanas.

Algo se remexe em meu estômago. Sinto as bochechas quentes e a nuca gelada. Estou levemente zonza, os braços formigam e as pernas estão molengas. Estranho, muito estranho. É como se eu estivesse caminhando por uma corda bamba, estendida sobre o alto de dois edifícios, sem qualquer proteção.

De volta ao corredor, não ouso olhar para os lados. Papai aponta as placas, explica cada ala do hospital, mas eu não estou ouvindo. Temo que na próxima curva, eu dê de cara com Clara ou pior: com minha arqui-inimiga, como bem nomeou Espírito.

— Você está bem, Nina? Está muito aérea hoje.

— Estou de boa. – confirmo com a cabeça. – Pai, onde fica a Dermatologia e a Traumatologia?

— No segundo andar. – ele revela. – Quer ir até lá?

— Não! – sibilo e logo assumo o controle da minha voz esganiçada. – E o CTI, onde fica? – pergunto, para que ele não suspeite de nada.

— Também no segundo andar, final do corredor.

— Ah, é. Eu tinha me esquecido.

— Sua sala é esta. – ele para em frente a uma porta sem identificação. – Aqui está a chave. Qualquer coisa, meu ramal é 221. Depois que fizer uma análise do material, vamos marcar uma reunião com o conselho administrativo. Temos algumas ideias, mas a decisão final é sua. Você tem carta branca.

— Valeu, pai.

— Almoçamos juntos?

— Aqui no hospital? – arqueio as sobrancelhas. – Aquela gororoba melhorou?

— Rango de primeira. O Chef da cozinha é amigo do Espírito.

— Nesse caso, está combinado.

 

                                                                            ≈≈≈

 

Minha sala é ampla e as paredes foram recém pintadas de um azul clarinho. Tem uma mesa larga com gavetas, uma estante repleta de livros de medicina e um quadro surrealista bem interessante. Há uma poltrona com uma mesa lateral e um tapete felpudo, da cor do sol.

O lugar é um tanto frio, mas nada que alguns porta-retratos não resolvam. A sala é clara, com direito a um janelão de vidro que dá visão para a rua e parte do estacionamento lateral. Gostei daqui, a atmosfera é boa e a vibração energética está leve.

Droga, estou pensando como a minha mãe.

Puxo a cadeira e os rodízios chiam sobre o piso laminado. Abro o notebook e me conecto a rede wi-fi. Na primeira gaveta, encontro as pastas que papai mencionou. Todos os materiais impressos do hospital estão ali.

Passo os olhos sobre o logotipo e algumas ideias começam a pipocar. Está claro que a logo está ultrapassada e precisa de um toque de modernidade, algo bem sutil.

Na segunda gaveta, encontro um calhamaço de folhas A4, canetas e lápis. Inicio um desenho à mão livre, gosto de criar no papel antes de levar a arte para o computador.

                                                                                   ≈≈≈

 

Entretida no trabalho, não percebo o tempo passar. Duas batidas surdas me arrancam do meu mundo criativo. Meu pai entreabre a porta e com um sorriso, aponta para o relógio de pulso. Caramba, mas já?! Fecho o notebook, pego a bolsa e o sigo para o restaurante.

Nem estou tensa. Como uma hacker extremamente eficiente, vasculhei os arquivos do hospital e encontrei o quadro de escalação dos médicos e funcionários. De acordo com o cronograma diário, Clara entrará no turno da noite e Samantha está num congresso no Rio de Janeiro. Foi o que bastou para eu respirar aliviada e almoçar com certa tranquilidade.

— Temos que ser rápidos, tenho uma reunião daqui a pouco. – meu pai checa o relógio de pulso.

        – Como está indo o trabalho? – ele questiona, fuçando no purê de batatas.

— Tive boas ideias, acho que gostará do resultado. Ah, e a sala é ótima para trabalhar.

— Fico feliz. – ele faz uma pausa enquanto mastiga. – E sua amiga Vanessa? Quando dará o ar da graça?

— Ela ainda não conseguiu as férias vencidas. Tem muito trabalho nessa época do ano. – explico.

— E você, como está? Mais calma depois daquele episódio deprimente em São Paulo?

— Quer saber? – deixo um sorriso lateral escapar. – Estou ótima e até pensando em ligar para aquele imbecil e pedir desculpas. – entrelaço os dedos acima da cabeça. Recosto e equilibro-me apenas nas pernas traseiras da cadeira, como fazia quando era criança. – Quero mudar a minha vida, esquecer de vez o que passou e as merdas que fiz.

Antes que meu pai responda, o impossível acontece. Clara entra no restaurante e não sei dizer o que houve, mas quando dou por mim, estou estatelada  no chão. Deus, mande um raio agora, por favor. Se não me matar, morrerei de vergonha de qualquer maneira. Me trucide!

Estou com as pálpebras cerradas no nível máximo, mas sinto milhões de olhos sobre mim, queimando-me. A cabeça lateja, insistentemente, e eu só penso em sumir daqui, evaporar.

Ouço a comoção, cadeiras sendo arrastadas, meu pai tocando meu braço, verificando minha cabeça. Eu quero saltar no tempo, por favor. Talvez ela não tenha visto, é provável que Clara nem esteja mais no restaurante. A quem estou querendo enganar?

Arrisco e abro os olhos, vagarosamente. Merda!

Clara está aqui, ao meu lado. Quando finalmente sustento os olhos abertos, ela pergunta se estou bem. Não respondo, a voz simplesmente não sai. Ela não questiona. Puxa algo do bolso do jaleco branco e leva luz para dentro dos meus olhos envergonhados. Checa as pupilas e eu prendo a respiração.

— Pensei que a era de desastres havia terminado. – meu pai me auxilia e ergo o tronco. – Mas veja pelo lado positivo: você continua cabeça dura. Só ganhou um galo gigantesco.

— Tô enjoada. – é a única coisa que sai da minha boca.

— Vamos fazer um raio-x, por garantia. – a voz de Clara me atira de volta ao passado. – Eu sabia que nosso encontro seria explosivo, mas nunca pensei em algo desse tipo, Marina. – ela está rindo e eu continuo querendo morrer.

— Olá para você também, Clara. – rosno e com ajuda do meu velho, estou de pé. Cambaleio e adivinhe só onde vou parar? Com a cara enfiada naqueles peitos malhados e cheirosos! Ah, Deus, socorro, será que essa situação tem como ficar mais embaraçosa ainda?

— Ei, calma lá. – Clara me ampara e por alguns segundos nossos olhares se cruzam. Caramba, quando Espírito disse que ela havia mudado muito, eu não esperava por isso.

Absolutamente ultrajante.

Como uma garota franzina e quatro olhos pode ter se transformado nessa mulher estonteante cheia de curvas e músculos bem torneados? Não é possível, tenho vontade de esfregar os olhos, como se assim pudesse enxergar outra realidade.

Um tanto ressentida – o porquê disso eu ainda não sei – tenho que encarar os fatos, por mais absurdos que se apresentem.

Forte, alta, cabelo maravilhoso, cheirosa, rosto angelical e um sorriso de comercial de pasta de dente, pra completar o cenário do meu desespero lábios fartos que seduzem como milk shake no deserto, olhos grandes, esverdeados, vibrantes, sem os tais óculos… ela está gostosa ao extremo! Meu Deus!!!!! Ela esta fenomenal. Afinal cadê a garota esquisita??? Para Marina, contenha-se. Não, mil vezes não!

Aquelas mãos enormes tocam meus braços e eu quero correr, mas meus pés estão grudados no chão. Minha voz sai trêmula quando eu a afasto, dizendo:

— Eu estou bem, não foi nada.

— Acho que deve dar uma olhada nisso. – meu pai aponta para a minha cabeça pulsante. – Clara, poderia acompanhá-la? Eu tenho uma reunião importante com o pessoal do convênio, preciso estar no centro em quinze minutos.

O quê????????? Não me deixe sozinha com ela!

— Já disse que estou bem. – bufo, exasperada.

— Não me contrarie, Marina. O médico aqui sou eu. – meu pai decreta e não estou a fim de entrar num embate desnecessário.

— Que saco! – reviro os olhos e entrego os pontos.

— Ótimo. – meu velho dá um beijo estalado em meu rosto e checa minhas pupilas uma última vez.

  – Qualquer coisa, estou no celular.

 

                                                             ≈≈≈

 

Isso não pode estar acontecendo.

Vestida toda de branco, com uma camiseta ajustada ao seu peito, que deixa entrever somente o necessário para loucas fantasias noturnas, Clara segue ao meu lado, guiando-me pelos corredores de médicos, enfermeiras e pacientes.

Eu queria dizer milhões de coisas, mas nada de útil me vem à cabeça. Aliás, melhor eu ficar calada ou é bem provável que eu confunda as palavras e revele o quanto estou aflita com essa aproximação.

Ela cumprimenta as pessoas conforme vamos passando e fico aliviada por não conseguirmos engatar qualquer conversa que seja. Talvez alguém lá em cima esteja complacente com a minha desgraça, amenizando a carga.

Mas isso não dura tempo o bastante.

O operador da máquina de raio-x ainda está em horário de almoço. A sala está vazia, com cheiro de limpeza e um silêncio constrangedor. Clara diz alguma coisa sobre pegar um avental de chumbo e eu apenas meneio a cabeça, em concordância.

— A mudança é definitiva? Quando seu pai me contou, resisti a acreditar. – e meu velho se mostra um tremendo fofoqueiro.

— A princípio sim. – dou de ombros, como se estar sozinha com ela não fosse nada demais. – Isso é mesmo necessário? – questiono, apontando para a máquina. Ela não responde e continua a conversa:

— O que houve, Nina? – Clara prende aquele troço pesado sobre meus ombros. – Pensei que estivesse feliz em São Paulo, soube que tinha sido promovida a Diretora de Criação. – ela faz uma pausa curta. – Não era o que queria?

— Clara, não estou a fim de falar sobre isso. – digo, injuriada.

— Desculpe.

Droga, fui ríspida e sem qualquer razão.

— Olhe, talvez um dia eu conte o que houve por lá. A princípio, quero esquecer, se é que você me entende.

— Perfeitamente. – ela umedece os lábios de forma sedutora e séria, acho que meu ar está tóxico. O corpo amolece, as pálpebras estremecem, mordo o canto da boca com desejo. Minha nossa, estou perdendo a sanidade.

Clara aponta para a maca gélida e asséptica. Tiro as sapatilhas e me deito, ajeitando a barra da saia. Em outras épocas, esse “ajeitando a saia” seria para revelar as pernas e não o contrário. Mas não sou mais tão biscate assim.

Enquanto ela mexe com destreza no equipamento, rememoro o que houve no passado para culminarmos nesse momento. Ela, noiva da minha arqui-inimiga e eu, sozinha, jogada às traças.

Minha história com Clara é complicada, como tudo na minha vida. O primeiro beijo eu já contei, agora a primeira transa realmente foi hilária. Mas nesse momento, melhor me ater aos fatos com roupas.

Éramos muito jovens e eu não estava a fim de compromisso. Clara era vamos dizer assim, uma ficante séria, quase uma namorada. Estávamos apaixonadas e eu não dava o braço a torcer.

Os anos passaram e num belo dia, ela chegou com uma aliança de compromisso e um pedido sincero de namoro. Caí do salto, chocada. Não esperava por isso, achei que ela tinha entendido o meu lado.

Hoje, numa autoanálise tosca da minha personalidade, posso afirmar com cem por cento de certeza que fiquei com medo desse envolvimento mais profundo. E outra: eu tinha passado na USP em São Paulo e nem cogitava a possibilidade de um namoro à distância.

Queria curtir a vida e viver intensamente. E aquela aliança representava uma prisão, um elo que eu não queria sustentar de jeito algum. Obviamente a briga foi feia e naquela noite, saí para a balada com algumas amigas.

Papo vai, cerveja vem, e eu acabei fazendo a maior burrada da minha vida.

Fiquei com o melhor amigo dela, o galinha mais cobiçado do pedaço. Sempre houve certa atração entre nós e, naquele dia, estávamos travados de tão bêbados. Não pensei nas consequências quando me atirei de cabeça nos braços do Guilherme.

E foi aí que minha história com galinhas filhos da mãe começou. Estou pagando o erro do meu passado, atraindo só tipos como esse para a minha vida. Mas poxa, já não paguei com juros e correção monetária?

Enfim, a vadia da Samantha viu a cena e correu para contar a Clara. Ela chegou na balada armada apenas com suas mãos grandes e seu corpo franzino. O olhar de ódio dela nunca me saiu da cabeça.

Não fiquei para ver a briga, mas me disseram que a Clara arrebentou a cara do melhor amigo. Quanto a mim, fui atrás daquela pilantra da Samantha e destruí seu nariz empinado com um soco que me quebrou dois ossos da mão.

Depois disso, nunca mais me encontrei com Clara… até o dia de hoje.


Notas Finais


Bom...por hoje é isso...bom fim de semana e ate o próximo capitulo...um bjo a todas.
Fuiiiiiiii


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