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História Um amor de contrato - Não posso te perder


Escrita por: AndyeGW

Notas do Autor


Oi, pessoal!!! Animada com todas as reclamações que recebi durante esses dias. Prova que gostaram do capítulo ao ponto de virem me xingar KKKKKK Detalhe que eu nem lembrava da coisa do 1º de abril, então caiu como uma luva KKKK
Bagunças à parte, obrigada por cada comentário. São gestos de carinho que eu recebo com toda gratidão. Amo vocês.
Agora,vamos lá parar de enrolação <3

Capítulo 19 - Não posso te perder


Hermione olhou para tudo aquilo e se perguntou quando, em sua vida de meses atrás, seria capaz de organizar algo daquele tipo. 

Havia conversado muito com Rony nas últimas semanas, sobre muitos assuntos pertinentes aos dois, a Rose, e também, sobre aquele dia. 

O homem queria algo grande, em um salão, com decoração exuberante e uma exagerada lista de convidados com pessoas que ela nem mesmo sabia quem eram.

Ela, todavia, preferiu optar pelo básico, algo mais próximo ao que eram acostumadas. Uma decoração simples, alguns poucos garçons - que ela já achava exagerado, sucos, salgados, doces... algo mais comum, fiel à realidade que viviam até pouco tempo atrás. 

Não queria que Rose se deslumbrasse demais, apesar de tudo. Por mais que as coisas tenham melhorado em questões financeiras, aquela não seria a vida delas dali a pouco mais de um ano. Ele não colocou objeções.

A imponente mesa de jantar cedeu o seu ar requintado para uma toalha ridícula que imitava a pelagem de uma vaca rosa. Rony, muito solícito aos caprichos da menina, resolveu dar vida aos contínuos sonhos de Rose. Ela, sabendo o quanto ele se sentia bem por proporcionar aquilo, aceitou de bom grado.

O chão em volta da mesa estava coberto por grama sintética. Mais para o canto, ao lado da caixa de presentes que tinha um pato amarelo de tamanho exagerado colado em sua frente, havia um banco rústico, pequeno, onde era possível fotografar crianças e adultos com seus respectivos filhos.

Galinhas, cavalos, porcos, ovelhas, cães e gatos de pelúcia disputavam com Rose a atenção das pessoas presentes, mas era lógico que a pequena era a princesa que atraia a atenção de todos naquela tarde de domingo.

Em um vestido azul piscina, de seda, com tule brilhante sobre a saia e uma faixa na cintura formando um laço em suas costas, ela parecia outra, não em sua essência, mas em sua aparência. Estava feliz naquele vestido de princesa escolhido por ela mesma.

Brincava pela sala com alguns dos colegas da escola. Ao todo, Hermione conseguia contar sete crianças do tamanho dela. Seus pais, no geral, pessoas muito finas, os acompanhavam e se deliciavam com o cardápio que Rony escolheu minunciosamente.

Havia ainda alguns empresários, que ela soube depois serem representantes dos acionistas - fingir serem um casal apaixonado era necessário, por isso Rony, de tempos em tempos, se aproximava dela com carinho, perguntava se ela se sentia bem, oferecia alimentos e suco. Tudo de forma a agradar a quem olhasse.

Mais para o canto, para onde ela se direcionava agora, Harry, Gina, seus pais e os pais de Rony estavam sentados em volta de uma mesa. Não gostava muito daquela sensação, sentia-se constantemente mentindo para si própria. Mentia sobre a sua vida e sobre o seu futuro.

— Só agora, com esse monte de gente reunida, que eu percebi o quanto essa casa é grande — Gina comentou assim que ela se sentou com eles. Haviam cadeiras e pequenas mesas de centro que serviam como apoio para os convidados.

— É tudo bem estranho, não posso negar — a anfitriã respondeu sentando-se entre o pai e a amiga — Mas a Rose está encantada com tudo isso. Sabia que foi ela quem escolheu o vestido?

— Ela tem um excelente gosto para a moda — Molly Weasley comentou em meio a um sorriso e um gole de seu suco.

— E está bem maior do que da última vez que a vimos — foi a vez de Arthur observar.

— Essa minha neta é muito linda — Jonathan comentou também, esperando que Isabel falasse algo, mas ela permaneceu em silêncio, contemplando o ambiente.

— E como está se sentindo entrando no último trimestre de gestação, querida? — Molly direcionou-se à Hermione e Isabel pareceu acordar de seu transe.

— Cansada — ela sorriu — Os pés e pernas estão começando a inchar. Estou no meio do sétimo mês e as pressões do parto se aproximam.

— Não me imagino assim — Gina comentou para si mesma — É muito estranho. 

— Por que diz isso, Gina? — Molly a interrogou com carinho.

— Não sei, sabe... Essa ideia de ser responsável por alguém que vai depender de você pra sempre... Essa coisa de se ver mudar todos os dias, os enjoos, as tonturas, vômitos... a dor do parto.

— Mas é incrível ter um filho, Gina — Hermione continuou com aquele ar maternal, parecia sonhar — Claro que cada pessoa é diferente e o meu ideal talvez não seja o seu, mas olhar o rostinho, sentir o cheirinho, receber um abraço... essas sensações são incríveis… Não há nada igual.

— Não duvido, mas ainda não estou preparada pra isso. Nem sei se estarei preparada um dia...

— Não se sente incomodado com isso, Harry? — Arthur perguntou, curioso.

— Não mesmo! Priorizamos muito o nosso individualismo, mesmo que sejamos um casal. Se tivermos de ter um filho ou se tivermos de decidir algo assim, tão importante, faremos em conjunto e de forma que não seja ruim para nenhum dos dois.

— Vocês, jovens, são tão diferentes — Molly comentou novamente e sorriu — Na sua idade eu já tinha sofrido alguns abortos espontâneos. Naquela época as coisas não eram tão fáceis como hoje, mas consegui o meu milagre, aquele ruivo bonitão ali — ela indicou Rony, que estava distraído com as crianças, Gina percebeu Hermione o olhar de forma diferente também, com carinho? — e ele me proporcionou o segundo momento mais importante da minha vida, que é esse — a mão foi até a mão de Hermione — sou uma mulher feliz e completa. Obrigada por fazer parte das nossas vidas, Hermione.

— Não sei o que dizer, senhora — ela ficou claramente encabulada. Não sabia até onde daquela fala era verdade ou atuação.

— Você chegou de paraquedas em nossas vidas, nós nem sabíamos nada sobre vocês — é, ela está fingindo pelos meus pais — Mas você se tornou essencial em nossas vidas, e percebo o quanto o Rony está diferente depois de você…

— Diferente…? — ela se sentiu curiosa.

— Sim… — Molly sorriu e a mão pousou sobre a barriga de Hermione, com carinho — Coisas que só a paternidade explica e que, talvez, só uma mãe perceba.

— Imagino que vocês devem ser muito felizes com Hermione… Já é o segundo netinho chegando e ela, sem dúvidas, é uma mãe incrível! 

Arthur havia se direcionado diretamente à Isabel e ela, encurralada, precisou responder.

— Sim, claro... Eu fico feliz que Hermione, finalmente, tenha colocado um pouco de juízo na cabeça.

— Isabel... — Jonathan falou baixo, a esposa sempre tão áspera.

— Mas eu sou feliz, sim... — a senhora continuou, repetindo para o marido — Embora, talvez, nem mesmo a Hermione acredite — os olhares de mãe e filha se cruzaram — Eu amo minha neta, mesmo que ela não tenha tido tanta sorte em sua vida, mas eu quero o seu bem, assim como o desse bebê... Sei que posso ser rude e muito dura às vezes...

— Sempre — Gina comentou consigo, mas todos ouviram. Harry a beliscou.

— E falei muitas coisas para a minha filha que eu poderia ter suprimido, mas eu as amo, e se fiz algo exagerado aos olhos de todos, foi tentando proteger a Hermione...

— Eu sei, mamãe — Hermione olhava para a senhora com carinho, o olhar foi retribuído, a mais nova se sentindo preenchida de alegria e ânimo com aquelas palavras.

— Eu te entendo — Molly continuou — Quando se trata de nossos filhos, somos capazes de tudo...

— Vamos lá, cantar parabéns! — Rony interrompeu a conversa e todos se direcionaram à mesa.

Horas depois, Rose, sentada sobre o tapete da biblioteca, desembrulhava, sob os olhares de Rony e Hermione, os presentes que havia ganhado naquela tarde. 

De tempos em tempos ela olhava para os dois e soltava “eu tô muito feliz”. Depois dessas falas, Hermione encontrava os olhos de Rony e o agradecia em silêncio.

— Gostou dos presentes? — Rony perguntou quando o último pacote foi aberto.

— Demais! — ela sorriu, se levantou e foi até os dois, dando um abraço em cada um.

— E como ficou o balanço dessa noite? — o rapaz continuou e ela não pareceu entender a pergunta. Ele riu — O que você ganhou de bom?

— Ah… Ganhei essa coisa de contar — ela mostrou uma máquina caixa de brinquedo.

— É uma máquina registradora, Rose — Hermione explicou — Daquelas que tem no supermercado.

— Ah... — ela olhou atentamente para o brinquedo.

— Deve ter sido o vovô Arthur... ele me deu um também, quando eu era criança — Rony completou a informação e ela riu.

— Tem essas duas bonecas, esse gatinho de pelúcia, esse negócio de médico...

— É um kit de profissões. Provavelmente foi a tia Gina — Hermione explicou mais uma vez.

— Sim... eu disse pra ela que queria ser veterinária pra cuidar de todos os bichos do mundo!

— Ótimo! — Rony concordou animado — Já havia pensando em comprar uma chácara… agora vou ter minha veterinária particular.

— De verdade? — os olhos de Rose brilharam de animação — Com um monte de bicho de verdade?

— Sim — Rony sorria — Mais pra frente vemos isso…

— Sim, sim, sim…

— Continue… e os presentes?

— Bem… tem essas coisas de montar, esse quebra-cabeça, essa boneca que podia ser meu irmãozinho, se fosse menininho, esses livros de histórias, que eu sei que foi a mamãe quem deu — Hermione sorriu, descoberta — e essas roupas e esses sapatos...

— Ganhou um montão de coisa — Rony comentou novamente.

— Sim... Acho que nunca tinha ganhado tanta coisa — a menina falou em êxtase, olhando para “o balanço da noite” espalhado sobre o tapete..

— Mas ainda falta um… — Rony falou e ela procurou na pilha de presentes.

— Não, tio Rony. Eu abri todos — ela continuou, observando os brinquedos atentamente.

— Está faltando o meu presente — Rony continuou e ela o olhou com estranhamento.

— Mas você já me deu a festa toda... não precisa me dar brinquedo.

— O meu presente não é brinquedo, Rose...

— Não? — ela pareceu curiosa e se levantou indo até ele.

— O meu presente está neste envelope — ele mostrou o envelope à menina que olhou para a mãe, confusa, percebendo que ela tinha lágrimas nos olhos.

— Por que você está chorando, mamãe? — preocupou-se, ignorando o envelope.

— É de alegria por você, meu amor… A  mamãe não está triste, não mesmo! Estou feliz porque tenho a filha mais maravilhosa do mundo e porque ela está crescendo muito rápido…

— Não dói nada? — ela a interrogou, incerta.

— Não. Vá, veja seu presente com o Rony.

— O que é isso? — ela perguntou voltando-se para Rony, ainda aflita por ver a mãe conter o choro, recebendo o envelope, o abrindo e retirando dele um papel todo escrito — Eu ainda não sei ler direito, aí não sei o que é, mas pera... “C” e “er” “cer” “ti” “d” “ão”. “Certidão”. O que é? — ela olhava de um para o outro, a mãe enxugando os olhos com os dedos, Rony muito vermelho, parecendo um tomate.

— Lembra quando a gente fez café da manhã pra sua mamãe e você disse que queria que eu fosse seu papai? — ela afirmou com a cabeça e continuou olhando fixamente para ele — Sua mãe e eu conversamos e nós resolvemos fazer isso ser verdade... — ela continuava olhando fixamente, parecia não entender o que ele falava — Esse papel, meu amor, é sua nova certidão de nascimento... esse papel faz de mim o seu papai de verdade — ela olhou para a mãe, confusa.

— Sim, Rose — a voz de Hermione estava embargada, as lágrimas já rolavam por seu rosto — Esse documento faz de você filha do Rony, de verdade, igual o seu irmãozinho Hugo. Agora o Rony também é o seu papai...

— De verdade? — os olhos da menina se arregalaram de um para o outro e eles afirmaram com as cabeças — Eu posso chamar o tio Rony de papai? — perguntou à mãe.

— Claro que pode — ela não conseguia conter as lágrimas — Se você quiser chamar o tio Rony assim, você pode, meu amor!

— E ele vai poder ir pra festa dos pais da escola?

—  Vai, sim!

— E quando me perguntarem quem é o meu pai, eu posso dizer que é ele? — Hermione afirmou com a cabeça e, mesmo Rose, em sua inocência, parecia, agora, entender a real proporção daquele presente — Obrigada, mamãe! — ela abraçou a mãe e Hermione sentiu a filha tremer; a pequena também estava emocionada.

— Eu posso mesmo...? — ela se virou para Rony, tão indefesa e inocente. Ele jamais poderia negar a ela e a si mesmo aquele sentimento.

— Pode! Claro que pode, se você quiser... — ele também chorava agora.

— Você é mesmo o meu papai?

— Sou, sim, minha pequena. Eu sou o seu papai…

— Papai! — Rose jogou-se nos braços de Rony e os sorrisos se misturavam com o choro dos três.

Hermione não conseguia mais se controlar. Havia um bom tempo que ela parecia ter perdido o controle da sua vida, das suas escolhas. 

Observou a filha abraçando Rony com tanto carinho e ser retribuída da mesma forma e se sentiu estúpida por ter sido contra tal sentimento de início. 

Sua filha tinha um pai, um bom pai, que a amava e que cuidava dela com todo empenho. Um pai de verdade, que a aceitou do jeito que ela é. 

Hermione sabia que aquele era o melhor presente que ela poderia dar para Rose em sua vida.

*Duas semanas depois*

Rony dormia profundamente. Aquela tranquilidade crescente em seu peito nos últimos meses fazia com que até os seus sonhos fossem mais claros e límpidos. Sonhava algo que não seria capaz de lembrar ao acordar, mas que sentia ser bom.

De repente, no meio daquele sonho claro e reconfortante, começou a ouvir um choro forte e desesperado. 

Em seu sono, procurou encontrar a fonte daquele barulho que incomodava a sua tranquilidade, mas, ao contrário do que desejava em seu inconsciente, foi completamente despertado ao ouvir o seu nome tão nitidamente.

Sobressaltou-se e sentou-se sobre a cama, tamanho o susto que teve. Estava desperto, mas completamente desnorteado, como se tivesse sido arrancado da paz. 

Antes que o seu corpo pudesse relaxar de volta ao deitar sobre os edredons, ouviu o lamento nitidamente, vindo do quarto de Hermione. Choro

— Rony...!

— Hermione?

Levantou-se num impulso. Não calçou os pés e, muito menos, se lembrou do roupão, mas adentrou no quarto dela com rompante, parando por breves instantes ao contemplar a cena que apagou por completo seus sonhos de paz ainda tão recentes.

Hermione estava deitada de lado, os braços agarravam a barriga, a cama desarrumada tinha manchas de sangue espalhadas por ela. Ela chorava intensamente, ainda mais depois de vê-lo entrar.

— O bebê, Rony... Eu não sei o que está acontecendo. Está doendo muito... — ela falava descontrolada, em meio às lágrimas.

— Calma, Hermione... Calma, eu estou aqui. Tudo vai ficar bem — falou, mas sequer sabia o que fazer. Entrou em desespero, mas manteve-se calmo por ela.

— Meu bebê, Rony... Meu bebê... — mais lágrimas e a aflição tomou conta de todo o seu corpo.

Correu em direção ao quarto, pegou o celular e ligou para os pais. Os senhores, prontamente, chegaram minutos depois. O tempo foi suficiente para que Rony ligasse para a drª Scott e organizasse algumas roupas para os dois em uma bolsa qualquer.

— Rose está dormindo... Quando ela acordar, digam que precisei ir ao médico com a mamãe.

— O que ela tem, querido? — Molly sonorizou a dúvida de todos. Arthur mantinha o semblante fechado, preocupado. Parecia tenso demais para falar.

— Não sei... Muitas dores, cólicas... Disse que parecem contrações, mas ainda não está no tempo dele nascer. Tem muito, sangue na cama... Eu já liguei para a médica dela. Estamos indo agora.

— Nos mantenha informados... 

— Eu ligo assim que souber de algo...

Ele correu em direção ao quarto. Havia trocado de roupa, mas o desespero continuava o mesmo em sua face. 

— Você consegue levantar? — perguntou ao lado dela que contraiu o rosto com as dores ao tentar se mover — Eu sei que está doendo, mas eu vou te erguer. Por favor, me desculpe...

— Meu bebê, Rony... Meu bebê... — eram as únicas palavras que saiam dos seus lábios, os olhos estavam banhados. Rony nem mesmo sabia se ela o ouvia.

Colocou os braços sob o corpo dela e impulsionou. Sentiu, no mesmo instante, que ela havia aumentado de peso desde a última, e única vez, que fizera aquilo por ela, mas não exitou.

Houve um gemido forte e intenso de dor. Rony se desesperou e seus olhos começaram a marejar. Não sabia o que estava acontecendo e não sabia o que fazer. Queria poder fazer o sofrimento de Hermione acabar. Apressou-se.

— Mãe, tem uma bolsa com roupas em cima da minha cama — falou rapidamente enquanto atravessava a sala, o pai ajudando ao abrir a porta — Traga no carro, por favor!

Em segundos Rony havia sentado Hermione, sob novos e intensos gemidos de dor, colocado o cinto e jogado a bolsa no banco de trás do carro. Conectou o fone de ouvidos ao receber uma ligação.

— Alô! 

— Ronald, como ela está?

— Do mesmo jeito. Muita dor, cólicas e sangrando muito.

— Já está a caminho?

— Sim. Chego em 10 minutos.

— Ótimo! Já estou com tudo preparado para ela.

~/~

Rony permanecia sentado em um dos bancos da sala de espera. Fazia aproximadamente quarenta minutos que haviam chegado e que ninguém o procurava. 

A cabeça apoiada nas mãos, os cotovelos sobre as coxas, as lágrimas escondidas por trás das suas palmas. Sentia uma dor profunda dentro do peito. Não sabia o que acontecia, não sabia o que fazer ou como agir.

— Ronald? — ele levantou-se prontamente. Era a Dr.ª Scott — Pensei que tivesse dormindo — ela ignorou as lágrimas que ele secava com o dorso das mãos.

— Como poderia? — perguntou aflito — O que ela tem?

— O que eu imaginava — ela começou — Hermione desenvolveu uma infecção e isso quase adiantou o parto.

— É grave? 

— Sim. O bom é que todos os procedimentos necessários foram realizados com bastante antecedência. Parabéns por sua agilidade. Você salvou a vida da sua esposa e a do seu filho.

Rony sentou-se, praticamente caindo sobre o banco. Sentiu as pernas desfalecem sob o peso do seu corpo. 

O coração começou a apertar novamente e as lágrimas brotaram com intensidade, incontroláveis. Todo o seu corpo doía.

— Tudo está estabilizado agora, Ronald — a médica sentou-se ao seu lado, a mão nas costas do rapaz o confortava — Mas ela precisa ficar uns dias em observação.

— Ela vai ficar bem, de verdade? — a voz saiu embargada, rouca, desesperada. 

— Vai, sim — drª Scott sorriu amigável — Hermione teve uma infecção renal, aparentemente assintomática. Esse tipo de infecção sem sintomas é mais comum no início da gestação, mas não é impossível nos outros períodos — Rony permaneceu calado, ouvindo tudo com atenção, as lágrimas insistentes lavando o rosto — As bactérias presentes na infecção liberam toxinas no organismo da mãe, especificamente no trato urinário, e elas provocam contrações uterinas, adiantando o trabalho de parto.

"Neste momento, Hermione está sedada. Ela estava muito nervosa e optamos por isso. Também estamos administrando medicamentos para que as contrações sejam contidas e o quadro não se torne em algo mais grave."

— Mais grave? — assustou-se novamente.

— Sim, infelizmente. O bebê está com 31 semanas e precisa ser estabilizado. Se ela continuar com as contrações, podemos entrar no quadro de ruptura de bolsa, o que vai colocar o bebê em risco devido à perda de líquido amniótico.

"Como você foi muito rápido em trazê-la, estamos confiantes de que não iremos chegar em tal quadro. Hugo ainda não está com os pulmões completamente desenvolvidos... Isso seria muito arriscado, porque, na melhor das hipóteses, ele ficaria dias ou semanas na incubadora.

"Hermione também seria afetada com tudo isso porque, se não for corretamente tratada, a infecção pode levar a complicações durante e no pós-parto. Porém, como te falei, sua agilidade nos ajudou muito — Rony respirou aliviado, mas ainda havia muitas lágrimas — Estou sendo sincera com você porque você precisa saber com o quê estamos lidando.

— Claro — ele afirmou com movimentos intensos de cabeça também.

— Agora estamos entrando em um quadro de estabilidade, mas Hermione precisará tomar remédios até o parto, assim como terá de ficar em repouso absoluto quando voltar para casa.

Rony acenou mais uma vez, os olhos foram enxutos novamente com o dorso das mãos. O corpo ainda tremia, mas ele começava a acreditar que tudo melhoraria.

Por um breve momento, se viu pensando em todo o seu desespero diante daquela situação. 

Pensou no medo que sentiu ao ver Hermione sobre a cama, naquela situação. Teve medo de perdê-la.

— Precisamos ficar de olho nos dois, tudo bem? — a Dr.ª Scott interrompeu aquele momento de reflexão.

— Sim... — ele respondeu como se estivesse preso em outro plano.

— Por agora, você pode ficar com ela no quarto. Como te falei, ela está sedada e não vai interagir com você. Vou pedir para uma das enfermeiras providenciar uma coberta para você. Tem uma poltrona ao lado dela que se torna quase uma cama... Você precisa descansar um pouco. Imagino que sua mente está bem abalada com tudo isso...

— Sim... Um pouco — ele respondeu, sua voz foi estranha para ele. A verdade é que ele estava muito abalado.

— Caso precise, me procure e eu te dou um calmante. Ficarei para o plantão. 

— Certo... Muito obrigado, Dr.ª Scott.

— Não agradeça. Estou fazendo o meu trabalho e... Bem, tenho um carinho especial por Hermione. Ela é uma guerreira e eu a admiro.

"Também fico muito feliz e tranquila por saber que ela encontrou alguém que a ama tanto assim... Que cuida dela. Eu que te agradeço por mudar a vida dela…"

Rony se sentia desnorteado. Tudo parecia gelatinoso sob os seus pés e ouvir aquele comentário fez com que ele se sentisse estranho. 

Sorriu para a Dr.ª Scott, que se levantou e seguiu pelo corredor. 

Ao vê-la desaparecer por trás das portas do hospital, Rony apoiou mais uma vez a cabeça com as mãos. 

“Fico muito feliz e tranquila por saber que ela encontrou alguém que a ama tanto assim...”.

Ligou para os pais e pediu que eles avisassem o que correu aos pais de Hermione, antes de seguir para o quarto onde ela permanecia em observação e lá, ao entrar, sentiu mais uma vez o coração apertar, a sensação de que uma mão congelada o esmagava.

Hermione, inconsciente, naquelas habituais batas hospitalares, tinha um tubo de soro que ia para o dorso da sua mão. 

No outro braço, prendedores em dois de seus dedos verificavam seus batimentos e, talvez, a pressão arterial. 

Havia também uma bolsa de sangue e ele segurou o choro. A única coisa que queria era tirá-la dali e levá-la para casa o mais rápido possível.

“Fico muito feliz e tranquila por saber que ela encontrou alguém que a ama tanto assim...”.

Aproximou-se com cuidado. Temia acordá-la e trazer à tona todo o desespero de uma mãe que sente que pode perder o seu filho a qualquer momento. 

Ele mesmo não queria pensar naquilo. Hugo precisava estar estabilizado para continuar vivendo e ele sentia que não tinha estabilidade alguma ao vê-la assim.

Hermione dormia profundamente. Estava relaxada, não havia mais aquele semblante dolorido e desesperado de instantes atrás. A respiração estava tranquila e ele percebeu a barriga dela mover brevemente. 

Hugo?

Aproximou-se um pouco mais e percebeu que nunca havia sentido os movimentos do filho. 

Mais uma vez, e ele se espantou com o movimento, a barriga de Hermione se deslocava sob a roupa do hospital.

Será que está tudo bem?

Era estranho, mas ele não temeu por aquele movimento. Sabia - graças às aulas de pais - que as crianças se moviam muito no último trimestre. O espaço estava cada vez menor para elas e era normal que se sentissem incomodadas.

Sem conseguir se controlar, ele pousou a mão sobre a barriga de Hermione e sentiu o corpo arrepiar com aquele contato. 

Houve um grande movimento - seria reconhecimento entre pai e filho? - em resposta ao seu toque e os seus olhos, mais uma vez, se encheram de lágrimas. Estava chorando demais e não se envergonhava disso, não ali.

Meu filho...

Continuou vivenciando aquele momento e seus olhos vagavam dos movimentos do filho para o rosto de Hermione. 

O peito confundido entre a alegria e a tristeza. A mão deslizando sobre a barriga com carinho e demasiado zelo. As lágrimas caindo mais uma vez.

— Hugo, é o papai...  — mais um movimento intenso na barriga de Hermione; mais lágrimas caindo dos seus olhos — Me perdoe por nunca ter me aproximado assim, de você. 

"Eu acho que tive medo… Medo de várias coisas... Mas eu estou com muito mais medo agora, meu filho... 

"Sua mamãe quase te perdeu e eu não sei muito bem o que está acontecendo aí dentro, mas eu preciso que você seja forte, tão forte quanto a sua mamãe é, e se recupere logo, por completo.

“Você precisa ficar estabilizado, como a Dr.ª Scott falou. Precisa ficar bem pra que a mamãe fique bem também... Eu não quero te perder, meu bebê... Mas... o papai está com muito, muito medo de que aconteça algo com a sua mamãe... — as lágrimas caiam intensamente, os movimentos da barriga pareciam mais contidos, como se o bebê o ouvisse.

"Você precisa ficar bem pra que sua mamãe fique bem também, pra que possamos ir pra casa, pra que eu não tenha medo porque... porque eu... eu só vou ficar bem se ela estiver bem... porque... ‘Fico muito feliz e tranquila por saber que ela encontrou alguém que a ama tanto assim…’ eu me apaixonei por sua mãe…”.


Notas Finais


Os comentários são sempre importantes. Conto com vocês. Beijos no coração!


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