Simon parou em frente ao apartamento de Magnus e sorriu. Esperava encontrar o feiticeiro em casa, pois não havia avisado de sua vinda para que Raphael não soubesse daquela visita.
Ele tocou o interfone e ouviu aquela típica saudação segundos depois “Quem ousa perturbar o descanso do alto feiticeiro do Brooklyn?”.
- Sou eu, Magnus, o Simon.
- Ah, Simon, pode entrar.
Ele ouviu a porta ser destrancada e entrou no prédio, subindo por aquelas escadas que com certeza já estiveram em melhor estado décadas atrás.
Quando chegou à porta do apartamento, Magnus o esperava vestindo uma túnica bordô com detalhes dourados e uma calça de seda azul cobalto. Suas unhas estavam próximas a uma tonalidade ameixa e combinavam com as pantufas confortáveis que ele usava.
Simon soltou uma lufada de ar e relaxou os ombros, mal conseguia vestir algo que combinasse e Magnus sempre estava tão produzido, ele realmente não precisava estar na moda, ele era a moda.
- Uau, Magnus, como você consegue estar sempre tão... – ele procurou a palavra mais adequada.
- Estonteante? É natural pra mim.
Simon riu por alguns segundos e se aproximou dele, abraçando-o.
Eles entraram e então Magnus se sentou confortavelmente em um dos sofás da sala. Presidente Miau pulou instantaneamente em seu colo e ele começou a fazer cafuné no gato.
- Aceita um drink?
- Não, obrigado. Na verdade estou aqui porque gostaria de conversar sobre o Raphael.
- Ah, o Raphael. Sabia que uma hora ou outra você iria me procurar para conversar sobre ele. O que aquele malandrinho anda aprontando?
- Nada, é só que percebi que vocês se conhecem há bastante tempo e agora que nós... – ele parou e tentou recomeçar, mas foi interrompido.
- Agora que estão juntos, você acha que saber um pouco sobre o passado dele pode fazê-lo entender melhor a personalidade daquele líder aparentemente inflexível e mandão.
- Como você sabe que estamos juntos?
- Eu tenho séculos de existência, minha criança, antes mesmo de você perceber que a falta que sentia dele era amor, eu já sabia. – Magnus pegou uma taça de champanhe que estava em uma mesinha de cabeceira e deu um gole – Assim como sei que ele te ama profundamente, o Raphael é muito intenso e determinado, se escolheu você então será para toda a vida.
Simon sorriu.
- Fico feliz em saber disso. Mas me conte mais detalhes. Como vocês se conheceram?
Magnus encarou Simon, sabia que Raphael não estava ciente daquilo e imaginou qual seria sua reação quando descobrisse, mas também sabia que ele o perdoaria.
- Foi em 1953. Eu estava sob os efeitos de um calor escaldante e um romance de Raymond Chandler e decidi experimentar a experiência de ser detetive. Escolhi bem meu traje, pintei em minha janela MAGNUS BANE, DETETIVE PARTICULAR em letras grandes e pretas e antes que pudesse respirar direito a mãe de Raphael apareceu me pedindo ajuda, pedindo que encontrasse seu filho perdido.
Ele deu uma pausa e depois continuou, aguçando a curiosidade de Simon
- Havia um vampiro atacando a vila em que Guadalupe Santiago morava, pelo relato dela ele capturava as crianças das redondezas e Raphael, junto com alguns outros garotos maiores, formou um grupo para acabar com ele. Eles descobriram que a criatura vivia no Hotel Dumort e foram atrás dele na inocência de fazê-lo pagar pelas mortes que causou.
Simon parecia angustiado. Seu rosto não era mais divertido e brincalhão como sempre, agora parecia ter sido atravessado por uma faixada de dor e preocupação. Magnus se perguntou se deveria contar a história com detalhes julgando pela expressão dele e decidiu encurtar as coisas.
- O fato é que fui até o hotel atrás dele mas já era tarde, Raphael já havia sido transformado e quando o vi pela primeira vez, não estava agindo de uma forma muito civilizada. Consegui convencê-lo a sair daquele lugar comigo depois que lhe contei que fui procurado por sua mãe e que podia ajudá-lo a se controlar e voltar a vê-la. Nossa, foi muito difícil no começo, apesar de ser um garoto de uns 15 anos ele tinha uma personalidade forte e bem divergente da minha. Éramos contrários em relação a tudo, desde os gostos mais simples. Mas o que mais me impressionava era o quão duro trabalhava para voltar a ver sua mãe.
- Como assim? Em quê ele trabalhava? – Simon perguntou curioso.
- Sua mãe o havia dado um crucifixo e ele praticava carregá-lo no pescoço por quanto tempo conseguisse suportar a dor daquele gesto, precisava conseguir usá-lo por um bom período de tempo para quando a reencontrasse estar usando o presente. Apesar de durão o Raphael sempre se importou muito com as pessoas que amava, nunca cogitou se machucar por elas e faria o que fosse preciso para vê-las bem. Com o tempo e a prática ele também conseguiu voltar a falar “Deus”, o que a maioria dos vampiros não pode fazer.
- Uau – Simon finalmente falou – Ao que parece eu realmente não conheço a força do Raphael. Agora entendo um pouco mais o lado amargurado dele, imagino o quão difícil foi enfrentar tudo isso e anos depois ainda ver sua mãe morrer.
- Ele também tinha irmãos – completou Magnus – Raphael me ensinou muita coisa. Ver a forma como ele lutou contra seus instintos para ficar perto de sua família foi um aprendizado e tanto, não há nada que não possamos fazer sem esforço e trabalho duro.
- Mas e a mãe dele? – Simon ainda parecia curioso – O aceitou como vampiro?
- Bem, eu a informei que ele não era o mesmo, mas camuflei um pouco a situação. Eu disse que o encontrei quase morto devido a drenagem feita pelo vampiro, e que o tornei igual a mim para salvá-lo, ela sabia que eu era um feiticeiro. Mas achei melhor assim, parecia ser mais aceitável aos olhos daquela mulher lidar com um “fazedor de magia” o que com um sugador de sangue.
- Entendi. Nossa, Magnus, você é incrível! Você o salvou de tantas formas diferentes, e tudo pelo quê?
- Pela felicidade de ver um filho de volta aos braços da mãe, eu não quis o pagamento que ela me ofereceu.
Simon sorriu. Não tinha palavras para expressar a admiração que nutria por aquele homem em sua frente naquele momento, então apenas se levantou e o abraçou forte. Magnus fez o mesmo.
- Obrigado por tudo!
Magnus ergueu uma sobrancelha.
- Mas já está indo? Nem tomamos um drinque ainda!
- Eu adoraria ficar um pouco mais, só que ainda vou encontrar a Clary antes de voltar para o hotel, mas a nossa conversa me ajudou muito a entender o lado sombrio do Raphael, obrigado por ter me contado, e principalmente por tudo o que fez por ele!
Magnus sorriu.
- O que eu posso fazer, eu sou incrível!
- É sim.
Simon deu um beijo na bochecha dele e saiu correndo, deixando-o com a boca aberta de surpresa.
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