História Um amor imprevisto: De Hogwarts para a vida - Superação

- Você é Hermione Granger? – A garota perguntou trêmula, visivelmente nervosa. Parecia mais jovem que Hermione. A castanha daria no máximo, uns 25 anos para ela.

- Sim, posso ajuda-la? – Respondeu de forma simpática, embora ainda estivesse passando um pouco mal do susto.

Em resposta à pergunta, a moça simplesmente começou a chorar desenfreadamente. Tentando acalma-la e segurar o próprio estômago, Hermione a convidou para entrar e se sentar no sofá. Pegou um copo de água e deu pra moça beber e se acalmar.

- Você é a Linda, não é? – Hermione iniciou assunto. – Era namorada de Rony.

- Ele falou de mim pra você? – Perguntou surpresa.

- Confesso que pouco, mas falou que estava saindo com uma pessoa. Imagino que seja você.

- Me desculpe te procurar assim, mas eu não sabia o que fazer.

- Esse filho.... É... Essa criança.... – Hermione tentou perguntar, olhando a já grande barriga da moça.

- Sim, é do Rony! – Linda respondeu, percebendo que Hermione queria perguntar sobre a criança, mas estava sem jeito.

- Céus! – A castanha falou soltando o ar. – Como o Rony não falou isso com a gente?

- Não foi culpa dele! Eu não permiti! – Ela se apressou em explicar. – Eu não estava pronta pra ser mãe. Foi um acidente. Eu estava decidida em interromper a gravidez, mas me senti culpada de tomar a decisão sem comunicar ao Rony. Ele ficou absurdamente feliz com a ideia de ser pai!

- Ele te pediu pra não abortar?

- Ele me deixou livre... Disse que assumiria a criança e seria um pai presente. Mas que entendia que a escolha era minha, principalmente porque eu que passaria a maior parte do tempo com a criança. Você sabe.... Por causa do trabalho dele...

- Sim, faz sentido.... – Hermione concordou, atônita.

- Eu pedi pra ele três meses de prazo pra pensar em tudo. Por que é o tempo que ainda era seguro fazer o aborto. Não queria que ele contasse pra ninguém antes que tivéssemos certeza que ficaríamos com a criança.

- Ele chegou a saber da sua decisão? – Hermione perguntou, torcendo internamente para que sim, que ele tivesse tido aquela felicidade antes de ir embora.

- Sim, pouco depois da briga que tiveram....

- Você soube da briga? – Mais uma vez Hermione era surpreendida.

- Eu sei de toda história de vocês. A gente começou a conversar por sua causa, na verdade....

- Como é?

- Eu estava em um bar com minhas amigas e ele estava bebendo com uns colegas do serviço. Mas estava claro que ele tava na fossa... – A moça riu sutilmente, relembrando da situação que narrava. – Eu achei ele bem bonito, sabe... Forte. Diferente. E com a ajuda de algumas doses de tequila, me aproximei. Ficamos conversando por horas sobre o motivo que ele estava com aquela cara de sofrimento. No caso, você era a razão. Ele realmente te amava.

Hermione sentiu o rosto queimar. Não sabia que Rony gostava tanto dela a esse ponto. Se perguntou o que tinha acontecido na época para ele ir beber pensando nela. Mas não quis perguntar. Linda continuou a história:

- Era pra ser só uma noite de sexo, mas eu meio que... Me apaixonei. E ele foi um príncipe, continuou saindo comigo.... Me fazia eu me sentir...

- Uma princesa. – Hermione completou, com um sorriso melancólico no rosto. – Ele gostou de você, de verdade. Pode não ter virado amor, mas só porque o tempo não permitiu. Ele estava pronto para assumi-la para a família....

Linda voltou a chorar ouvindo aquilo e foi abraçada por Hermione. Quando estava mais calma, voltou a falar:

- Foi pouco antes da morte de Rony que eu decidi ficar com o bebê. Eu já estava entrando no terceiro mês quando ele faleceu....

- Então está no sexto agora?

- Começando o sexto. Mas... Hermione... eu... – Ela estava aflita, como se precisasse falar algo sério, mas não conseguia. Hermione segurou em suas mãos, dando forças, e deu um sorriso encorajador.

- Pode falar comigo. Não precisa ter medo.

- Eu não quero essa criança. – Ela falou finalmente, sem ter coragem de olhar nos olhos de Hermione.

- Não quer? Mas você acabou de falar....

- Eu nunca quis.... Eu aceitei pelo Ron, porque seríamos uma família. Mas agora ele se foi...  Eu não estou pronta pra ter um filho sozinha....

- Linda.. Você não estará sozinha... Nós jamais vamos deixa-la sozinha... Molly, Arthur, os irmãos de Rony... Eu... A gente vai amar essa criança e dar todo o apoio que você precisa! – Hermione falou docemente, tentando confortar a jovem, ao mesmo tempo em que já se sentia animada com a ideia de ter uma criança em sua vida. Ainda mais um filho de Rony.

- Ela não terá um pai... – A mulher falou chorosa. – Como eu não tive...

- Ela? – Hermione perguntou, sentindo seu peito se encher de alegria. – É uma menininha?

- Sim... Uma menina. – A moça esboçou um sorriso. - Ron ficaria tão feliz por isso...

- Imagino, ele sempre quis ter uma menininha... – Hermione retribuiu o sorriso. - Oh Linda, você não tem ideia da alegria que está trazendo pra nossas vidas...

- Eu quero que ela tenha tudo, Hermione. Um pai também, não é justo ela crescer sem isso...

- Ela terá um pai, ela saberá de tudo o que Rony foi e fez. E Arthur e os meninos farão bem o papel de pai pra ela... Não se preocupe com isso.

- Eu pensei em deixa-la para adoção... Mas algo me disse que eu deveria conversar com você antes. Rony sempre disse que você sabia exatamente o que dizer.

- Oh, por favor, não faça isso! Eu fico feliz por você ter confiado em mim, mesmo sem me conhecer diretamente. Nós todos estamos passando por um momento difícil, mas saiba que vamos estar sempre presente. Em tudo o que você e a neném precisarem. Eu... Eu acabei de conhecê-la e já não posso lidar com a ideia de não ter essa bebezinha em minha vida.

- Obrigada... Eu... me sinto mais segura com isso.

- Uma filha de Rony, céus! – Hermione exclamou, ainda absorbendo a notícia, e deu uma risada alegre. – Uma menininha!

- Eu não sei como contar pra família de Ron... – A moça falou timidamente.

- Se você quiser, podemos fazer isso juntas. Ou eu posso conversar com eles antes...

- Eu prefiro que converse com eles antes, se não se importar.

- De forma alguma... Mas e você? Me conte um pouco sobre sua vida, você agora faz parte da nossa família. Quero conhece-la melhor.

            Então Linda contou um pouco de sua história. Era filha única, criada apenas por sua mãe. Seu pai abandonara a mãe quando Linda era ainda bebê. Nunca soube muito sobre o homem, ou teve qualquer tipo de contato. A mãe faleceu quando ela tinha apenas 18 anos e tinha acabado de entrar na universidade. Não tinha parentes, mas, por sorte da garota, a mãe tinha uma condição financeira estável devido a uma carreira profissional bem-sucedida, o que permitiu que a garota terminasse a faculdade sem dividas. É formada em administração e trabalha em uma empresa de sucesso que tem sede em Londres. Mora com algumas amigas da época da faculdade. Seu sonho sempre foi ser uma profissional reconhecida. A vida toda sonhou com isso, em grande parte pelo exemplo da mãe. Planejava crescer na empresa, conhecer um cara legal e aí sim, casar. Mas filhos nunca esteve em seu planejamento de vida. Por isso estava tão assustada. Se viu grávida e logo depois, sozinha.

            Hermione ficou impressionada com algumas conquistas profissionais da mulher. Tinha apenas 26 anos e já rodara o mundo pela empresa. Falava 4 línguas diferentes, era PHD dentro de sua área. Deu para entender porque ela estava tão surtada com a ideia de ser mãe. De fato, a maternidade atrapalharia sua carreira nesse momento. Mas ao mesmo tempo, a menina era nova e com certeza Molly e Arthur não se importariam de cuidar da criança quando necessário. Assim como ela e Gina também não se importariam. O caminho seria apenas um pouco mais sinuoso, mas ainda assim, a menina poderia continuar a crescer profissionalmente como sempre quis.

As duas mulheres passaram o restante do dia conversando sobre suas vidas, sonhos profissionais e pessoais. Conversaram sobre Rony e Hermione contou como todos da Toca eram agradáveis e acolhedores. O que fez com que Linda ficasse mais tranquila. Combinaram que Hermione conversaria com todos da Toca, e aí entraria em contato com Linda para um almoço com os Weasley. Depois que a menina foi embora, Hermione ficou pensativa sobre tudo o que se passara naquele dia. A carta de Rony, a visita de Linda, a vinda de um bebê na família... E pela primeira vez em três meses, sentiu esperança.

No final daquele dia, Draco foi para o apartamento de Hermione. Ele estava dormindo praticamente todos os dias com a pequena desde a morte de Rony. Era ele quem a abraçava todos os dias na hora de dormir, quem fazia comida pra ela. Quem ouvia seus choros e afagava seus cabelos na hora da dor. E justamente por estar todos os dias com ela, que foi o primeiro a saber da notícia.

- Uma menininha? – Ele perguntou chocado, enquanto preparava o jantar na cozinha. – Rony deixou uma menininha? Hermione, isso é fantástico!

- Sim, eu também achei. Vamos ter um pedacinho de Rony com a gente.... – Hermione respondeu do sofá, onde estava sentada.

- E ela quer vocês por perto? – Ele perguntou, cauteloso.

- Ela precisa da gente por perto.. Ela falou isso com todas as letras...

- Ela é confiável? Porque, meu amor... Eu já lidei com muitos casos parecidos... Então, desculpe ser o advogado do diabo, mas não quero que tenha esperanças e ela mude de ideia depois... Se ela viaja todo o mundo, ela pode querer levar a criança com ela em algum momento. – Draco argumentou e percebeu como Hermione ficou pensativa. – Me desculpe, não queria desanimar você... É só que a gente não conhece essa mulher. Ela pode mudar de ideia...

- Não, tudo bem... Você está certo... Eu estava tão animada, que nem pensei nisso... Mas algo me diz que ela não vai fazer isso. Draco, eu nunca senti isso antes. Essa alegria no meu peito...

- Parece até que é você quem está grávida.... – Draco brincou. E Hermione fez uma careta e logo franziu a testa.

- Pra isso teríamos que fazer sexo... – Ela soltou sem graça, olhando as próprias mãos.

- Ei.. Não fique assim... Eu sei que você anda sem vontade... A gente vai ficar a vida toda juntos... Só quero que durma comigo, quando sentir que quer. – Draco falou, desligando a trempe do fogão e se aproximando de Hermione.

- E se eu já estiver com vontade? – Ela falou, vendo o homem se aproximar lentamente dela.

- O que quer dizer, senhorita Granger? – Ele falou esboçando um sorriso, quase a alcançando no sofá.

- Que talvez, o dia de hoje, tenha mudado algo em mim... E talvez, só talvez.. eu esteja com um certo desconforto aqui embaixo... – Hermione falou sedutoramente, encarando os lábios de Draco que se aproximavam dela. Porém, quando ele se debruçou no sofá para beijá-la, Hermione se afastou bruscamente. – Ai, Draco.. desculpe...seu cheiro!

            A mulher saiu correndo em direção do banheiro, deixando um Malfoy confuso pra trás. Draco cheirou o próprio corpo, tentando sentir o cheiro que perturbou Hermione, mas só sentia o aroma da manteiga que usou para cozinhar os legumes que estava preparando. Preocupado, seguiu até o banheiro e viu Hermione terminando de limpar a boca após vomitar.

- Já chega, Hermione. Nós vamos pro hospital, agora!

- Não precisa Draco. Eu to o dia quase todo sem comer... Comi só uns biscoitos que Molly fez, talvez tenha exagerado. E são um pouco pesadas, pura nata. E toda essa história de Ron... da carta, do bebê... É só isso.

- Eu não sei, eu não estou gostando disso. – Ele falou visivelmente preocupado. O loiro temia que Hermione estivesse com algo sério. - Você anda mais branca que o normal. Com olheiras profundas...

- Oh, muito obrigada! Minha autoestima agradece! – Ela falou fingindo revolta.

- Você sabe que eu não estou falando por mal... Só me preocupo.

- Eu sei, meu amor, mas não precisa. Durante a semana vou à Toca contar a novidade para todos. Depois disso, ai procuro um médico. Prometo!

            Não é surpresa para ninguém saber que a notícia foi mais do que bem aceita pelos Weasley. Molly ficou tão feliz, que queria pegar o carro com Arthur e ir encontrar com Linda no exato momento que soube da gravidez. Os gêmeos ficaram empolgados, pensando que teriam mais sobrinhos para mimar e ensinar travessuras. Gui e Carlinhos ficaram emocionados. Percy, que estava ouvindo a novidade por ligação de vídeo, quase deixou o celular cair. Harry não conseguia falar, ele só chorava enquanto tentava esconder o rosto com as mãos. E Gina, Gina estava silenciosa. Parecia em choque. Estranhando o comportamento da amiga, Hermione se aproximou e perguntou relativamente baixo.

- Gina, está tudo bem?

- Está... É só que... Eu estou surpresa... – Gina falou abismada.

- Eu sei, eu também fiquei...

- Mi... Não é só pelo fato de Linda estar grávida...

- Aconteceu alguma coisa. – Hermione afirmou, vendo a expressão da amiga.

- Sim... Aconteceu. – Gina falou e pegou a mão de Hermione e levou até o ventre. No mesmo instante, Hermione puxou o ar com o susto que levara, levando a mão livre até a boca para silenciar o barulho que fizera. Todos olharam curiosos para as duas amigas e presenciaram Gina de pé, vermelha como um pimentão e Hermione com cara surpresa, segurando o ventre da Weasley caçula.

- O que está acontecendo aqui? – Harry perguntou confuso, quebrando o silêncio que havia se instaurado.

- Harry não sabe? – Hermione perguntou, ainda segurando a barriga de Gina, já com os olhos marejados. Gina fez que não com a cabeça, já sentindo as lágrimas escorrerem.

- O que eu não sei? – Harry perguntou se aproximando. Estava confuso, mas o brilho que surgia em seu olhar já mostrava que ele sabia do que se tratava.

- Você só pode estar de brincadeira comigo... – Fred falou divertido, já sacando toda a situação e todos riram.

- Ginny está grávida também??? – Molly perguntou emocionada para confirmar.

- Estou! Eu descobri antes de ontem...

- Caralho! -  Harry soltou sem perceber. – Eu vou ser pai...

            A algazarra ficou completa. Molly seria avó de novo, duplamente! Todos ficaram agitados, fizeram planos pro futuro. Os meninos brincaram que iam capar Harry. Por um breve momento, a costumeira alegria da Toca estava de volta. E Hermione se sentia muito contente com aquilo. Gina contou que estava desconfiando e que fez o exame logo que saiu da casa de Hermione quando a visitou. E quando a amiga convocou a reunião, pensou que poderia aproveitar a oportunidade para contar a todos. Como de fato fez. A família combinou de fazer um almoço no domingo para conhecer Linda, que foi confirmado pela moça na mesma noite, quando Hermione ligou pra ela. Na verdade, Molly fez a pequena ligar no exato momento que estavam planejando o almoço, e por ligação de vídeo! Linda estava um pimentão durante toda a chamada, mas dava pra ver nos olhos da garota como estava feliz com aquela recepção calorosa da família que agora seria sua.

            O almoço foi surpreendentemente leve. A princípio, Linda estava constrangida. Não saia de perto de Hermione. Era curioso como a garota havia se apegado a castanha, como se fosse uma irmã mais velha. Sempre olhava para Hermione antes de responder qualquer coisa. Esperava palavras de incentivo ou aprovação antes de aceitar qualquer alimento ou gentileza. Era até engraçado de ver. Para alguém tão bem-sucedida profissionalmente, na esfera social, Linda era um bicho do mato. Estavam presentes toda a família Weasley, exceto Percy, por morar longe. Harry, claro, Hermione, Draco, Sirius, Luna e Neville. O casal de amigos também ficara muito feliz com a notícia de que Gina estava grávida e Rony havia deixado uma herdeira.

            Conversavam, riam, contavam casos de Rony para Linda. Aos poucos, ela foi se soltando e perguntando mais sobre ele, sobre a família. No final do dia, todos já estavam encostando a cabeça na barriga da moça para ouvir a bebê, sentindo os chutes da criança e fazendo planejamento sobre o futuro da menina que ainda nem havia nascido. Foi durante uma dessas conversas, que Hermione ficou um pouco preocupada com Linda. Em algum momento, alguém perguntou se a criança já tinha nome. E a resposta foi negativa. “Ok, escolher nomes é uma tarefa difícil”, pensou Hermione. Mas a medida que todas as respostas de Linda eram negativas para perguntas como “Já fez enxoval?”, “já tem o quartinho da bebê”, “Está fazendo acompanhamento pré-natal?”, a castanha percebeu que a relutância de Linda em ter um filho era mais séria do que ela pensara. Chegou a conversar sobre isso com Draco mais tarde, quando já estavam na cama, e o loiro afirmou que também observou isso, e que talvez, eles realmente devessem pensar com calma sobre toda a situação. E, talvez, além conversar com Gina sobre isso para preparar a família por possíveis desgastes, pensar na possibilidade de sugerir Linda de fazer algum acompanhamento psicológico.

- E se ela resolver dar a nenem para adoção, Draco? – Hermione perguntou preocupada.

- Molly pode pedir a guarda... Ou qualquer um dos Weasley... Não se preocupe com isso. Seria o menor dos problemas, legalmente falando.

- Molly e Arthur não tem condições de criar uma criança... Não tem idade pra isso.. E nem financeiro. Eles estão confortáveis financeiramente hoje, mas porque os meninos todos já se sustentam. Uma criança é dispendioso...

- Você está sofrendo por antecipação, Mi. A neném ainda nem nasceu.

- Eu sei... é só ansiedade. Eu fiquei preocupada hoje... – Hermione falou e se ajeitou em Draco, abraçando a cintura do rapaz. - Adoro quando você me chama de Mi... É tão raro, e eu gosto tanto.

- Embora a senhorita não esteja merecendo. – Ele respondeu sério, a abraçando de volta.

- Oh, porque não? – Ela levantou o rosto que estava apoiado no peito dele para olhá-lo.

- Você falou que ia ao médico, mas não foi. Amanhã já é segunda, a semana começa de novo... – Estava estampado no rosto de Draco como ele estava preocupado.

- E por falar nisso, você mora aqui em casa agora? – Hermione falou brincalhona, tentando mudar o rumo daquela conversa.

- Não desvie do assunto! – Draco falou um pouco chateado. – E se dependesse de mim, sim, eu ficava aqui definitivo.

- Draco, meu amor, presta a atenção em mim. – Hermione falou calmamente, se levantando e se sentando de frente pra ele. Ela pegou as mãos do namorado e falou: - Eu não tenho palavras pra agradecer tudo o que você fez por mim... Aqui na minha casa, na Toca, por Harry, na Black Riddle. Se fosse outro chefe, eu já teria perdido o meu emprego! Mas você sabe que eventualmente você vai ter que voltar pra sua casa, não sabe? Eu já estou melhor... E também, acho que você poderia passar uns dias na mansão. Essa coisa toda do Voldemort, a morte da sua tia... E de quebra, ela descobrir que Sirius está vivo. Ela não deve estar bem...

- Eu sei... Ela não está... – Draco concordou, ainda melancólico, se endireitando na cama para ficar com as costas encostada na cabeceira. - A coisa do Sirius, acho que afetou menos ela. Eles quase não tinham contato... Não um contato como família mesmo. Mas ela gostava muito da minha tia. Mesmo depois de tudo...

- Então.. Pode ficar tranquilo.. Amanhã vou marcar o médico, faço os exames pra te mostrar que estou bem e tudo fica certo. Ai você vai cuidar da sua mãe um pouco. E também... eu estava querendo voltar definitivo para o escritório.

- Tem certeza que está bem mesmo pra isso? Você pode ficar mais tempo afastada...

- Eu tenho sim! Eu não sei, mas saber da Linda, da neném de Rony, me deu uma força a mais pra voltar a trabalhar! Essa semana eu quero colocar algumas coisas da minha vida no lugar. Visitar meus pais, a Gina. Ir ao médico... E semana que vem volto com tudo. O que acha?

- Acho que é uma ótima ideia! Eu só te peço uma coisa... – Ele falou, ainda um pouco chateado.

- Diga!

- Quando marcar o médico, eu posso ir junto?

- Porque isso? – Hermione perguntou sem entender, vendo que algo incomodava Draco.

- Eu... Tenho medo de que seja algo grave...

- Draco... De onde tirou isso?

- Por cauda da sua mãe... Tenho medo que esteja com a mesma coisa.

- Meu amor, eu não estou com câncer!

- Como pode saber? Os médicos falam que existe o fator genético!

- Porque eu não estou sentindo nenhuma dor! Não estou com os mesmos sintomas! Eu tenho certeza que é só uma anemia. Eu não tenho comido direito... É só isso! Nada que uma alimentação saudável e algumas vitaminas não melhore!

- Eu ainda prefiro estar com você...

- Bom... Se faz tanta questão... Você vai comigo... Mas é sério, não precisa se preocupar.

* * *

            Como planejado, Hermione tirou a semana para colocar a vida nos eixos. Fez uma belíssima faxina em seu apartamento. Marcou um médico para deixar Draco mais tranquilo. Passou um dia inteiro com Gina, criando pastas de decoração de quarto infantil no Pinterest. Visitou seus pais, contou toda a história de Rony, o que os deixou felizes. Eles adoravam o ruivo e também sofreram muito com a partida do rapaz. Voltou a praticar exercícios, passou a se alimentar melhor. Cortou o cabelo. Estava, enfim, voltando a sentir aquele frescor de viver! Ainda naquela semana, Linda entrou em contato com ela para almoçarem juntas, o que Hermione adorou. Estavam ficando cada dia mais próximas. Mas foi enquanto almoçavam que Hermione teve uma queda de pressão que a fez cair e bater a cabeça em uma quina da mesa do restaurante. Embora ela tenha recuperado a consciência ainda no local, Linda achou mais seguro leva-la até um hospital e chamar Draco para acompanhar.

Para Draco, com toda certeza, aquele fora um dos piores momentos da sua vida. A ligação de Linda dizendo que estava indo com Hermione para o hospital quase o matara de susto. Quando chegou no lugar, seu coração apertou ao ver Hermione deitada em uma maca, com um corte na testa. Conversou brevemente com Linda, que lhe explicou, agora com mais calma, o que havia acontecido.

- Eu falei que você não estava bem... – Draco repreendeu Hermione, sentando em uma cadeira ao lado da maca.

- Foi só uma queda de pressão, Draco. Estou melhor... – A castanha falou, se ajeitando na cama de hospital, de forma que ficasse quase sentada.

- Olha sua testa, teve que receber ponto?

- Por sorte não... Não foi profundo...

- O que os médicos disseram?

- Nada por enquanto. Veio só uma enfermeira. Colheu um pouco de sangue, mediram minha pressão, fizeram o curativo. Estou esperando o resultado do exame de sangue.

- Linda, eles só fizeram isso mesmo? Não falaram mais nada? – Draco perguntou para a garota, fazendo-a rir e Hermione revirar os olhos. Antes que ela pudesse responder, a cortina do biombo em que Hermione se encontrava se abriu, revelando uma médica mais velha e muito pequena.

- Então você é a bela adormecida do dia? – A senhora perguntou divertida.

- Sinto muito... Acho que fiquei um bom tempo sem comer... – Hermione falou constrangida.

- Não se preocupe, é muito comum em casos assim. – A médica respondeu simpática. Olhou para Draco e abriu um sorriso. – Você que é o pai do bebê?

- Não, não! Eu sou o namorado dela. – Draco respondeu fazendo um carinho na mão de Hermione e a médica pareceu confusa.

- Oh, sinto muito. Pensei que fosse o pai... Vocês jovens as vezes me confundem. – A médica falou de forma engraçada e o trio não entendeu ao que ela se referia. – Bom, vocês podem ficar bem tranquilos, a senhorita... – Ela conferiu no papel que estava lendo. – Granger está bem. Foi só uma queda de pressão mesmo. Os exames mostraram que está um pouco anêmica, então, vou prescrever algumas vitaminas e recomendo procurar seu médico para confirmar se o bebê está bem.

A médica falou e Hermione e seus dois acompanhantes continuaram com a mesma expressão confusa olhando para a mulher.

- Como assim se o bebê está bem? – Hermione perguntou primeiro. Linda não passou mal, apenas eu.

- Oh, estou falando do seu bebê. – A médica respondeu enquanto escrevia em sua caderneta. Ela levantou o rosto e viu três rostos em choque. Linda tinha as mãos na boca. Hermione os olhos arregalados e Draco... Bom, parecia que alguém havia congelado suas expressões. Ele estava simplesmente travado. Percebendo o mal-entendido, a doutora rompeu o silêncio. – Vocês não sabiam?

- Que eu vou ser mãe? Não, eu não sabia! – Hermione respondeu, voltando a si e já entrando em pânico.

- Céus, esse hospital cada dia me surpreende mais. – A médica falou com uma risada divertida. – Imagino que ele seja o pai mesmo, no fim das contas. – Ela falou apontando para um Draco ainda em choque.

- Eu acho melhor a gente deixar eles sozinhos... – Linda falou um pouco constrangida, chamando a atenção da médica.

- Oh sim, sim! – A doutora concordou. – Senhorita Granger, essa é a sua receita. Vou liberar sua saída na recepção. É só passar lá e assinar a liberação quando... Bom, quando recuperarem do choque! Ai.. ai... Meus parabéns ao casal!

            Dessa forma a médica saiu acompanhada de Linda: deixando uma Hermione e um Draco perplexos para trás. A pequena advogada ainda estava sentada na cama, com as costas encostada na cabeceira e Draco sentado em uma cadeira ao lado dela. Os dois encaravam o tecido do biombo por onde a médica e Linda saíram, sem terem coragem de dizer qualquer palavra que fosse.

            Sentindo seu coração acelerado, Hermione levou as mãos ao rosto, esfregando aquela região, como se o ato fosse fazê-la acordar de um sonho estranho. Foi com os olhos fechados que ela sentiu algo em sua barriga. Olhou pra baixo e viu Draco debruçado de forma desajeitada na cama, com a cabeça encostada no ventre de Hermione.

- O que você está fazendo? – Ela perguntou um pouco sem jeito. Ele virou o rosto pra ela, ainda mantendo a cabeça encostada no ventre da castanha, e deu um sorriso. Mas não um sorriso qualquer. Aquele sorriso. O sorriso que ele dava apenas quando estava extremamente feliz. Que ela o vira dar apenas quando estava com sua família e com ela. Aquele que lhe arrancava suspiros! E então ela  soube que tudo ia ficar bem. Sorriu de volta e viu os olhos de Draco marejarem.

- E eu achando que você estava doente... – Ele falou, colocando uma mão na barriga de Hermione, fazendo um pequeno carinho com o polegar. – E você só estava carregando o outro amor da minha vida.

            As lagrimas desceram sem permissão do rosto de Hermione. Estava se sentindo amada, sortuda, abençoada pelos deuses. Como Draco podia ser tão perfeito? Como, mesmo diante de uma notícia repentina como aquela, ela podia estar tão calma? Como, um simples sorriso, um simples olhar, um simples carinho, podia lhe deixar tão segura?. Sentiu os lábios de Draco em seu ventre e fez um carinho em seu cabelo.

- A gente vai ter um neném... – Ela falou com a voz trêmula.

- A gente vai ter um neném... – Ele repetiu, também em lágrimas, mas mantendo o sorriso no rosto.