JOÃO PEDRO CORRIGIA as atividades de outra turma enquanto os alunos daquela sala copiavam exercícios do livro. Findadas as correções, o loiro ergueu-se e começou a caminhar pela sala, monitorando a produtividade dos alunos. Passando por perto das carteiras de León, Yann e André, ele, despretensiosamente, escutou a conversa deles.
- E quanto ao seu pretendente? - perguntou Yann.
- Aff! Nem me lembre daquele menino. Dá pra acreditar mesmo que ele cantou aquela música para mim? Que moleque idiota, aquele Thomaz.
João Pedro quedou paralisado. "O quê? Então é do León que meu irmão gosta?!"
- O que você fez acabou com ele - disse André.
- Foda-se - exclamou. - Ninguém mandou ele se apaixonar por mim.
João Pedro quis dar um murro no rosto daquele desgraçado. "Como se atreve a magoar meu irmãozinho?" Mas controlou a raiva. Não podia perder o emprego, afinal tinha de sustentar a si mesmo e ao irmão.
O docente aproximou-se de André, agachando-se a seu lado e achegando o rosto ao ouvido do garoto, que corou.
- André, você é amigo do León, não é?
- S-Sim, por quê?
- E esse Thomaz está apaixonado por ele, não está?
- Pelo que ele me contou, sim.
- Você sabe se ele, o León, é homófobo?
- Não, por quê?
- Por nada. E você, é?
- Jamais.
- Eu te garanto que o André não é preconceituoso - interveio Ingrid, que de longe avistou os dois conversando. - Inclusive, ele tem enorme simpatia por caras gays.
- Ingrid, cala a boca!
João se levantou com um suspiro, voltando para sua mesa e sentando-se com as mãos em frente ao rosto. "O que eu faço?"
- Sabe, André? Acho que o professor não é gay, ou não tá a fim de você, viu? Tenho quase certeza de que você vai ter de conquistá-lo. Você vai mandar rosas, chocolates, ursinhos para ele, não vai? Isso é tão fofo!
- Ingrid, eu já disse que meu negócio é mulher! Eu não sou gay.
- Não, imagina - replicou ironicamente. - É apenas uma bicha enrustida até o último fio de purpurina... Ops! De cabelo.
- Muito engraçada. Ha-ha-ha...
- Bem, turma, eu vou deixá-los sozinhos por um tempo - anunciou João Pedro. - Vou até a sala da primeira série entregar umas folhas importantes ao meu irmão Thomaz.
León baqueou. Yann olhou-o de soslaio. O professor os fitou por um instante e saiu da sala com um sorriso no rosto.
- O professor de Português é irmão do seu pretendente?! Caralho, mano!
- Tsc! E se ele ouviu o que eu disse sobre o irmão dele? Eu estou fodido, cara. Ele vai ficar de marcação comigo o resto do ano.
- Eu já sei o que você deve fazer...
A aula de Língua Portuguesa fora a terceira e ao término desta houve o lanche. Os alunos se dirigiram ao refeitório.
- Ei, Andrezito, olha quem está ali, sentado sozinho - Ingrid apontou para uma mesa no canto, onde o professor João Pedro lanchava. - Você devia ir lá, para fazer companhia ao amor da sua vida.
- Eu...
- Vai lá, por favorzinho. Faça isso por você.
Com um suspiro de rendição, André assentiu. O moreno levantou-se, o rosto enrubescido, e caminhou em direção à mesa. Como se todos tivessem desaparecido, ele sentia caminhar pela escuridão até o outro lado, até João Pedro. Engoliu em seco.
- Com... Com licença...
O mais velho ergueu o rosto.
- Ah, André. Diga.
- Será que eu... - virou o rosto e olhou para Ingrid, que fez sinal para que ele continuasse - posso me sentar com você?
- Hmm... Pode.
- Obrigado - e se sentou.
Os dois comeram calados por um tempo, até que André, nervoso por causa do silêncio, puxou assunto. Odiava aquele gelo entre os dois; mesmo sem saber o porquê, odiava. Ou talvez até soubesse o motivo, só não queria assumi-lo.
- Você não deveria estar na sala dos professores ou algo assim?
João assentiu.
- Então, o que faz aqui no refeitório?
- Ficar perto do meu objeto de trabalho ajuda-me a me ligar à profissão. Além disso, gosto de me sentir jovem.
- Você é jovem.
- Quantos anos você me dá? - João Pedro largou o garfo no prato.
- Sei lá... Uns vinte e dois?
- E por que vinte e dois?
- Não sei... Porque você é aparentemente jovem, mas também é maduro. É bonito, educado, responsável, inteligente...
- Você me acha bonito?
- Eu? Bom, só quis dizer que... Tipo, se você fosse mulher... Ou se eu fosse... Eu, bem...
- Trinta e um.
- O quê?
- Eu tenho trinta e um anos. Muito velho, não é?
- Eu não me importo com a sua idade. Isso não te faz melhor ou pior. - Abaixou o rosto. - Não é porque temos a diferença de quatorze anos que não podemos ficar juntos! - gritou. Corado, André bateu as mãos na mesa e exclamou: - Eu quero ficar com você, João Pedro!
Todos os alunos pararam.
- Ah! Que kawaii! - berrou Ingrid.
- Mano, você viu isso? - León se dirigiu a Yann. - Acho que está na moda virar gay.
- Ninguém "vira" homossexual. Ou você é, ou não é. Acontece que alguns demoram mais para se descobrir, e se aceitar - replicou o outro.
João Pedro ficou estático por um segundo, boquiaberto, sem fala. Súbito, começou a rir, mas não de forma debochada. O professor arrumou seu prato e os talheres, afastou a cadeira e se levantou. Pôs a mão sobre a cabeça de André e, sorrindo, falou:
- Você vai ficar comigo. Ao menos até o fim do ano letivo. Porque, depois, você irá para a faculdade e eu não serei mais seu professor, a menos que você reprove. - E riu mais uma vez, fintando o garoto que permanecia paralisado.
Quando o professor saiu do refeitório, Ingrid correu até André e o sacudiu, fazendo-o despertar do torpor.
- Migo, arrasou na declaração, mas... acho que ele não captou, não é?
- Eu fui muito estúpido.
- Não foi, não. Foi a coisa mais fofa que eu já vi acontecer, na vida real. Mas, acredite, ele só não percebeu os sinais dos seus sentimentos.
- Ou, talvez, ele não seja gay nem bi.
- Eu te garanto que é. Admito que vejo yaoi em tudo, mas meu gaydar é ótimo. O professor é gay, ou no mínimo bi. Vai na fé, meu amigo.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.