História Um Ano Nem Tão Incrível Assim - Adeus

Por que as coisas são assim? Por que Deus coloca esses destinos pra nós? Sei que Ele é justo, e acredito nisso. Mas Ele me tirou duas coisas ao mesmo tempo e agora sofro por isso. Talvez eu tenha feito algo de errado e não me recordo. Agora, tudo o que me resta é medo. Medo de desistir sendo que daqui um tempinho posso ser a pessoa mais satisfeita e feliz do mundo. Tenho medo de meus pensamentos autodestrutivos e deprimentes. É difícil. Muito difícil.

Mas, agora, estou em uma pequena capela, conversando com o meu melhor amigo: Deus. Estou pedindo para que Ele me abençoe e que o casamento dos meus pais agora dê certo. Sim, hoje é o dia do casamento dos meus pais, uma data conhecida também pelo nome de Ano Novo. Um ótimo dia para se casar. Ano novo, vida nova, mudanças... A cerimônia foi bem linda e simples. Minha mãe estava com um belo vestido branco, na altura das canelas. Seus cabelos estavam soltos, com ondas leves como o mar, e sobre eles havia uma coroa de flores. As joias que me avô a deu, que eram da minha avó, estavam em suas orelhas, pulsos e no pescoço. Não, não estava algo chamativo demais. Ela parecia uma boneca enfeitada com pequenas e delicadas pedrinhas que facilmente se passariam despercebidas, se não fossem pelo valor emocional. Já Mauro estava com uma calça social branca, dobrada até a metade da canela, e uma blusa de botões com estampa floral. Eles estavam como se estivessem se casando no Hawai, só que estamos em Fernando de Noronha.

E eu? Bem, só estou com um vestidinho branco parecido com o da minha mãe, até porque entrei com Josh para entregarmos as alianças. 

Um pouquinho da cerimônia: em um caminho feito com pétalas de rosas vermelhas, minha mãe entrou com Mikael, irmão do meu pai. O que foi bem divertido porque causou certa confusão nos cinquenta convidados que estavam na parte do ''aceito''. Era para ela estar entrando com o meu avô, mas a vida não quis assim, então não pudemos fazer nada a não ser brincar com o fato de seu noivo ter um irmão gêmeo. E meu pai entrou com minha tia, o que foi bem engraçado porque entraram com os próprios padrinho e madrinha de casamento. Rafael entrou com as flores e Josh e eu com as alianças, como já dito. Eu estava vestida como a minha mãe e Josh como meu pai. Foi extraordinário vê-los embaixo daquele arco de flores e de mãos dadas com olhares apaixonados.

Depois da meia-noite, quando o padre disse ''Eu vos declaro marido e mulher'', todos comemoraram, abriram champanhe... Foi bem legal. Por um instante senti a felicidade vindo. Me faz feliz ver meus pais felizes e juntos de novo. Não que eu me lembre deles assim, até porque quando nasci eles não estavam mais juntos. Mas mesmo assim é uma sensação boa. Com certeza meu avô estaria aqui ao me lado, dentro dessa pequena igreja que há na praia, conversando com Deus também. Ele era um homem religioso. Só que, ao invés de o vovô estar aqui ao meu lado, gosto de pensar que ele está ao lado de Deus, escutando meus pensamentos também. 

- O que faz aqui, filha? - minha mãe chega de mansinho ao meu lado, só noto quando olho para o lado e a vejo sentada com os olhos fixados no mesmo lugar que os meus: uma imagem que, segundo a bíblia, de Jesus. 

- Conversando com meu melhor amigo e agradecendo. - respondo sem desviar o olhar de novo.

- Isso é bom. - ela diz. - Está contente com o jeito que as coisas estão indo? - depois de um tempo de silêncio ela fala

- Acho que posso dizer que sim. Sabe, sinto que a felicidade está chegando... E hoje ela está me espancando. Ver você feliz me faz feliz. - digo sorrindo. Minha mãe limpa pequenas lágrimas, que só agora que olho para ela vejo. Nos abraçamos e ficamos assim por uns instantes até que Mauro também chega.

- Como vão as duas mulheres da minha vida, depois da minha mãe? - ele se senta ao meu lado livre.

- Estamos bem. - minha mãe diz. Mauro nos abraça. Daí Josh chega e vira um abraço maravilhoso. Minha família reunida mais uma vez.

- Amo vocês. - Mauro cochicha. 

- Nós sabemos. - Josh faz graça.

- Reunião em família e  ninguém nos disse nada? Que belo irmão eu tenho, hein. - tio Mikael chega acompanhado da tia Maju e de Rafa. Nós os adicionamos no abraço. Família.

- Bem vindo à família Müller Gilbert, Josh! - Rafa se diverte e leva um cascudo carinhoso. Agora ninguém para esse trio, só a distância.

Depois de algumas gargalhadas, todos saíram e foram curtir sua madrugada de ano novo, me deixando ali com meu Amigo.

- Feliz Ano Novo. - droga. ''Posso levar Joseph para sua festa de casamento, pai?'', Josh pediu a Mauro uma semana antes de virem para Fernando de Noronha.

- Pra você também. - mais seca do que isso? Só o Saara sem cactos.

- Você está estonteante. Acho que nunca te vi de branco. - ele sorri nervoso. Dou um sorrisinho pra não deixá-lo tão mal. Sei que está sendo difícil pra ele também, mas quanto mais nos afastarmos melhor vai ser. Assim espero.

- Obrigada. Você também não está nada mal. - digo, ainda sem olhar para ele.

Joseph ficou ao meu lado por uns minutos, mas viu que nada mais iria acontecer e então foi para a farra. Fui comemorar o novo ano. O vi ficando com algumas garotas que estavam por perto. Não vou negar, fiquei com ciúmes. Mas também não vou mentir e dizer que não fiquei com ninguém. Meu relacionamento com Joseph acabou, tenho que seguir em frente e tirá-lo da cabeça o mais rápido possível. Já a minha ligação com ele ainda há um resquício que tenho que desfazer se eu realmente quiser seguir em frente.

No dia seguinte acordei exausta, só a alma porque meu corpo ainda estava dormindo. (N/A: não, ela não morreu huahauhau). Todos já tinham acordado e estavam na piscina do hotel. Me arrumei, coloquei um biquíni, um blusão e um óculos. Estou pronta para ''curtir'' o primeiro dia do ano. A branquidão de Rafa, Josh e Joseph na beira da piscina quase me deixa cega.

- Depois dizem que sou um leite azedo. Olhe para vocês! Quase fico cega. - brinco e todos riem.

É bem difícil ver Joseph dando em cima de outras meninas, mas aguento firme. Os garotos veem até mim mas não me interesso por nenhum deles. O único que me interessa está passando protetor solar em alguma garota por aí. Céus! Por que é tão difícil não pensar em Joseph por um segundo? Maldita adolescência!

- E é aqui que a gente se separa. - Rafa chega até mim. Eu estava apreciando a beleza do país da beira do mar, desisti da piscina pois havia alguém lá que me fazia mal. Quem será? Meu ex namorado. Rafa, tia Maju e tio Mikael vão para Home Sweet Home cuidar do negócios das duas famílias. Minha mãe, meu pai, eu e Josh vamos continuar no Brasil. Minha mãe tem a agência para cuidar e a empresa do papai se expandiu e agora tem uma cede no Brasil. Josh não tinha gostado tanto da ideia, mas assim que chegou em Fernando de Noronha a sua perspectiva mudou completamente.

- Sabe que essa separação é só fisicamente, né? E que, em todas as férias possíveis, vamos nos visitar. Mas não me ligue pelo telefone porque eu odeio quando você faz isso. - sorrio.

- Ok, vou tentar. Mas não se esqueça que teremos shows para fazer e o que não vai faltar é viagem de nós dois juntos. Bem, tchau, maninha. Boa sorte, feliz ano novo! Vai dar tudo certo. Torço por você! - ele se despede.

- Tchau. Feliz ano novo. E esse ano eu quero uma cunhada, hein! - brinco.

- Sou de todo mundo, querida. - seu senso de humor é maravilhoso. O vejo sumir, com as canelas para fora por causa da bermuda grande. Tenho dó dele porque não vai conseguir dormir! Suas costas estão mais vermelhas do que um pimentão.

- Bem, acho que é agora que não nos veremos mais, a não ser por foto. - Joseph chega ao meu lado, mas não se vira em minha direção. Fica ali, parado e olhando para o mar assim como eu.

- É.

- Trouxe isso pra você. - ele me entrega um pequeno buquê de flores, o que a minha mãe entrou em seu casamento, e um pequeno livro com fotos escrito ''Rasões pelas quais te odeio''. Dei uma folheada e eram fotos nossas, e cada uma tinha legendas como ''Porque você me fez feliz'', ''Porque me fez amar'', ''Porque me mostrou que o mundo só é bom ao sue lado'' e a última era ''Porque você me abandonou''. Ainda não acredito que ele gastou de seu tempo para fazer isso. Além de tempo, provavelmente gastou lágrimas também.

- Obrigada. Bem... Não tenho nada aqui comigo agora, então só posso te dar algo que também quero. - digo. Me viro pra ele e nosso lábios se encontram em um longo e desejado último beijo. - Adeus, Joseph.

- Creio que esse não será o fim. - eu também, mas temos que aceitar, querido. - Mas, adeus, Jade. - ele me dá mais um beijo, um pouco menos intenso. Queria muito que esse não fosse o fim. Quero gritar que o amo, que quero que ele volte para mim para que eu possa me assegurar em seus braços. Mas as coisas não são assim, não podem ser desde jeito.

Por fim, esse foi um ano nem tão incrível assim.

- Vamos?  Mauro chega até mim acompanhando de minha mãe. Faço que sim com a cabeça e então partimos para Bahia, nosso mais novo lar.

Adeus.