P.O.V Joseph
7 anos mais tarde
Desde aquele ano novo muita coisa aconteceu em minha vida. Me deparei com mulheres incríveis que pensei serem o grande amor da minha vida, viajei bastante, fiquei bem próximo de Rafael - pensei que ele guardava rancor de mim pelas coisas que ocorreram entre mim e sua irmã uns anos atrás, mas estava errado - e entrei na faculdade há uns aninhos. As coisas não têm sido fáceis. Meus pais são empreendedores de sucesso e vivem viajando, assim não tenho tanto o apoio deles na área que estou cursando: artes visuais. Ele queriam que eu entrasse para a empresa deles, falavam que eu não conseguiria sobreviver através da arte, mas discordo. Desde o dia em que Jade e eu pintamos para nos descontrair, soube que era aquilo que queria fazer. Depois que concluir esse curso, talvez eu faça algo parecido com Direito ou Psicologia.
Aqui, na faculdade, a parte mais movimentada, depois do refeitório, são os corredores. Nunca vi tanto universitário em um lugar só. É mais fácil você encontrar uma moeda de ouro do que não se esbarrar em alguém. Todos muito apressados para apresentar trabalhos, pra entregar o TCC, fazer cópias das folhas... É muita coisa pra minha cabeça. Faz 3 anos que estou na faculdade, estou no último semestre. Se tudo der certo esse ano pego o meu diploma.
- Ai! - me perdi em meus pensamentos e me esbarrei com brutalidade em alguém. Eu não disse que é muita coisa na minha cabeça?
- Desculpa! Se machucou? - falo imediatamente. Acho que essa é a frase que mais falo durante o dia.
- Não, não foi nada. - e essa é a coisa que mais escuto. - É que sou nova aqui, não estou acostumada. Fui transferida, a outra universidade era mais calma. - a moça fala com um sorriso, tirando as madeixas que haviam caído em seu rosto. Quando finalmente vejo sua face, fico surpreso. E a expressão dela não é diferente. Jade.
- Joseph? - ela pergunta, com um sorriso mas sem saber o que fazer ou dizer. O instinto dela faz com que me abrace, e faço o mesmo. Mesmo depois de tantos anos, é bom sentir seu toque de novo. A garota ainda está em estado de choque, e solto um riso meio abafado por causa da situação depois de sairmos do abraço.
- Sim, Joseph. - digo enfim.
- Você não mudou nada. A mesma cara de menino. Que saudade. - ela me dá um outro abraço. Como ela consegue agir com tanta naturalidade depois de tudo o que a gente viveu? Será que ela aprendeu a fingir tão bem durante esses últimos anos?
- Se estivesse com saudade, talvez teria me procurado. - minha fala soa quase como um sussurro, mas ela ouve, sei que ouve.
- Talvez eu tenha ido até você, mas vê-lo com outras garotas me fez pensar que já estava tudo bem. - ela rebate. - Você não tem ideia de quantas vezes eu saía dos hotéis de Home Sweet Home para ir até você. ''Joseph saiu com a namorada'', é o que seus pais sempre diziam quando eu batia na porta de sua casa, isso era quando não tinha ninguém lá. - ela tenta soar com desdém, mas percebo a dor em sua voz. Ambos soltamos um longo e doloroso suspiro.
- Engraçado que eu pensava que o tempo iria curar a dor do último beijo, acho que estava certo. - minto. O tempo não cicatrizou com precisão as cicatrizes. - Está reclamando de eu ter seguido em frente? O bacana, é que não fui o único. Suas redes sociais são lotadas de fotos com ''amigos''. - falo. Tudo o que tentei não sentir por quase dez anos vem a tona. Respira, inspira. Autocontrole ao conversar com uma mulher teimosa é tudo o que você precisa.
- Bem, vejo que vocês já se encontraram... E pelo visto não foi um reencontro de lembranças boas de tudo o que viveram juntos. - Rafa chega, abraçado com uma bela menina. Sam, seu nome, a primeira namorada dele. Pelo menos é a primeira com quem ele tem um relacionamento sério.
- Rafa! - Jade desvia sua atenção para o irmão. Ambos cumprimentamos Sam e Rafael.
- Eu não diria que está sendo ruim. - começo a falar.
- Ah, então vocês decidiram que tudo o que aconteceu foi algo que qualquer aluno da sexta série faria, pararam com o drama e resolveram voltar? - sua ironia sagaz me pega e fico sem resposta. Confesso que queria que fosse exatamente assim, mas não é. Rafael solta um suspiro de desdém e muda de assunto. - Então, maninha, o que faz por essas bandas?
- Fui transferida pra cá, por alguma rasão pela qual eu não faço a mínima ideia. - ela responde. - Curso de Ciências Musicais. Depois de receber meu diploma vou dar aula de música, e logo em seguida fazer uma faculdade de arte visuais, talvez. - acrescenta.
- Olá, querido. - ah, essa não. Beatris, a garota com quem estou saindo agora acaba de chegar, e me dá um beijo. Jade fica petrificada, atingida, eu diria. Desfaz a expressão de tristeza em um piscar de olhos e coloca um sorriso forçado no rosto.
- Rafa, Sam, vocês poderiam me mostrar onde é a minha sala? - ela disfarça muito bem. Rafael logo percebe que o ar está bem complicado para Jade respirar, muitos sentimentos juntos, e a leva dali.
- Olá, amor. - digo para que ela escute. Um jogo infantil, mas necessário. Suas bochechas ficam vermelhas e sai imediatamente.
Sabe, mesmo depois de tantos anos eu ainda não a superei. E isso é estranho. Já tenho 23 anos e me sinto como um adolescente perto dela. É como se eu não tivesse amadurecido para aceitar que acabou. Sinto falta dela nos meus braços e de poder protegê-la. Pensei que eu já havia a superado, mas foi só sentir seu toque de novo que percebo o quanto eu estava enganado. A distância me fez bem, consegui parar de pensar nela o dia todo, apesar de que de vez em quando vinha uns flashbacks, mas era passageiro. Bastou vê-la em minha frente de novo que tudo mudou. Aquela pequena discussão entre nós dois deixou evidente tudo o que ainda sentimos pelo outro, mas também mostra que somo imaturos e incapazes de admitir.
Droga.
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