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História Um clichê ambulante- firstprince - Parte 16- Henry


Escrita por: EvannaLaRue

Notas do Autor


hey pessoal, como estão? espero que bem!
aqui está mais um cap da fic, espero que gostem!

Capítulo 16 - Parte 16- Henry


Parte 16- Henry

A noite está particularmente fria. Não era para ser assim, porque estamos em Paris e não estamos nem perto do inverno. Mesmo assim, estou com frio. Eu me pergunto se estou sentindo um frio normal ou aquele que vem acompanhando as crises — não sei como distingui-los ainda. 

— Você tá com frio? — Eu pergunto a Alex. 

Ele está sentado na cama, lendo um livro. Acho que pensou que eu estivesse dormindo, porque seu corpo parece se assustar com a minha voz. 

— Não. — Ele diz, já se levantando. — Posso fechar a janela. 

Espero que ele feche a janela e depois que deite ao meu lado, colocando outro cobertor em cima de mim. Eu me viro na cama para encará-lo. 

— Você tá bem? — Eu pergunto, porque ele ainda parece tenso. 

— Sim. Só preocupado com você. 

— Me desculpa. 

— Por favor, não pede desculpa. Não tem nada pra se desculpar. — Ele diz, parecendo não saber se volta a ler o livro ou se o deixa de lado. Eu pego o livro da sua mão e coloco na mesa de cabeceira. 

Não sei que horas são, mas acho que ainda é madrugada. Faz apenas poucas horas que Bea saiu do hospital. Ela disse que ficaria no quarto com Pez e queria descansar um pouco. Pensei em dizer que ficaria com ela, mas acho que ela devia estar cansada de olhar para mim. Às vezes eu simplesmente não consigo entender os limites, principalmente quando estou atordoado pelos remédios. 

— Acho que tenho sim. Você só queria transar e está servindo de babá pra um homem todo fodido da cabeça. — Eu digo. 

Alex franze a testa, pequenos vincos perfeitos entre seus olhos. Ele vai ser ainda mais bonito quando ficar mais velho, percebo. Quero ver isso acontecer, mas não sei se consigo me imaginar ao seu lado por tanto tempo. 

— Não estou servindo de babá. — Alex diz. — Estou…  preocupado com alguém que eu gosto muito e que já passou por muita merda na vida. 

— Você não sabe disso. — Eu digo, baixinho. É a verdade, não? Alex não sabe o que aconteceu comigo, eu nunca tive coragem de contar. 

— Sei sim. Mesmo que você não tenha me dito. Você deixa escapar coisas e eu vou guardando tudo pra tentar te entender. 

— Você vai guardando? 

— Aham. — Alex diz, sorrindo um pouco. — Guardo cada mínimo detalhe sobre você. 

— Por que? — Eu pergunto, mais porque quero continuar ouvindo a voz dele do que por querer realmente saber o motivo. 

— Porque tudo sobre você é importante demais. 

Eu levanto os olhos, encarando os olhos de Alex. Ele ainda está com um pouco de maquiagem no rosto e há uma pequena marca de chupão próximo ao seu mamilo. Passo meus dedos ali e vejo a pele dele se arrepiando. 

— Eu não entendo você. — Eu digo. 

Alex se aproxima mais de mim, colocando o corpo embaixo dos lençóis, muito próximo. 

— O que você não entende? — Ele pergunta. 

Desço minha mão que estava no seu peito, fazendo um carinho na trilha até seu umbigo. Alex fecha os olhos minimamente e coloca a mão na minha cintura. 

— Não entendo porquê você ainda não desistiu de mim. 

— Não mesmo? — Alex diz. Seu olhar é tão intenso que eu não conseguiria me desvencilhar dele mesmo que quisesse muito. Nego com a cabeça, esperando que ele me dê uma resposta, alguma coisa com a qual eu possa lidar nesse momento. Algo que faça com que eu não me sinta um inútil completo. Alex sorri um pouco e aperta minha cintura com mais força. — Porque sou apaixonado por você, baby. 

Eu fecho os olhos. De repente a intensidade do seu olhar parece ser uma luz forte demais para eu conseguir lidar nesse momento. Percebo que é tarde demais para impedir que as lágrimas saiam dos meus olhos. 

— Não chora. Por favor, eu to falando a verdade. — Ele diz. 

— Eu sei. Mas é horrível mesmo assim. — Eu digo. 

— Por que? É tão horrível assim que eu esteja apaixonado por você, Henry? 

Permaneço em silêncio, porque não sei bem como explicar. É horrível que ele esteja apaixonado por mim? Bom, sim. Pelas razões óbvias de eu ser um fodido da cabeça. Mas também porque essas palavras me machucam. 

Lembro de Ethan dizendo-as para mim, no meio do corredor da escola. Um cochicho fraco, como se fosse um segredo. Como se todo mundo não reparasse no modo como ele me olhava e no modo como eu o olhava. Lembro de Nathan dizendo isso no meio do sexo, no meio de um orgasmo particularmente forte. Ele não quis dizer aquilo de verdade e nós dois sabíamos disso. Eu deixei que suas palavras passassem por mim, como uma brisa gostosa que não machuca. 

Mas então… Rafael. Ele foi a última pessoa que me disse isso. Lembro como se fosse ontem da última vez que ouvi essas palavras saindo da sua boca. Do modo como ele segurava meu pulso com força, deixando marcas. Do seu olhar irritado. Do modo como ele fez a paixão se transformar em algo ruim e doloroso. E do sexo depois disso, do fato de que sua paixão era um como um furacão que ia e voltava deixando partes de mim espalhadas. 

— Não fala isso. — Eu peço. — Só não… só não fala com essas palavras. 

— Quem foi a última pessoa que te disse isso? — Ele pergunta. Não é curiosidade. Ele simplesmente precisa saber. E acho que eu preciso que ele saiba também. 

— Rafael. — Eu digo e Alex permanece em silêncio. 

Não sei o que dizer. Queria poder arrancar todas as lembranças de Rafael de dentro de mim. E, ao mesmo tempo, queria poder simplesmente ligar para ele e conversar sobre todas as coisas que deram tremendamente errado entre nós. Queria poder colocar um ponto final nisso tudo. 

— Você é a pessoa mais gentil que eu conheço. — Alex diz baixinho, depois de algum tempo. Quando abro os olhos, ele ainda está me encarando. E eu o amo tanto que fica difícil respirar. Tenho certeza que não conseguiria resistir se alguma coisa acontecesse com ele. Esse pensamento me acalma. Consigo respirar se eu pensar que, se ele se for, eu vou logo atrás, não vou ter que conviver com a sua ausência por muito tempo. 

— Eu amo sua risada e todas as vezes que você segura ela, como se estivesse guardando um segredo. — Ele continua. — Eu amo os seus segredos. Tento decifrá-los todos os dias e nunca perde a graça. Mas eu amo quando você se abre pra mim, quando me diz o que quer, quando me diz exatamente o que fazer. Quando você me deixa ler suas histórias e fica olhando para um ponto qualquer no chão porque não quer ver minhas reações. Porque tem medo de se entregar, mas… mas você faz mesmo assim. Caramba, você é corajoso pra caralho, entende? E eu odeio quando você pensa que é um covarde ou impotente. Qualquer pessoa no seu lugar já teria desistido. Mas você continua aqui. E você continua tentando e… continua a me deixar entrar. E eu sou o cara mais sortudo do mundo por isso. Mesmo que eu não possa te dizer aquelas palavras, posso te mostrar de outro jeito. Posso só… te mostrar o quanto eu me sinto abençoado por ter você na minha vida. 

— Você é…  — Eu sussurro. Quero dizer algo bom, fazer uma declaração como Alex merece. Mas não consigo. As palavras estão presas na minha garganta com todas as outras que eu deixei de dizer. 

— Eu sei. — Alex diz, como se lesse meus pensamentos. Ele segura minha mão e beija a palma. E então o pulso e a ponta dos meus dedos. — Eu sei. Eu sei. 

— Eu preciso te falar. — Eu digo, interrompendo a aproximação de Alex. Acho que ele entende a seriedade do momento e se afasta de novo, prestando atenção. — Olha, eu realmente preciso te contar o que aconteceu. Tudo.

Alex passa as mãos pelo meu rosto. Não é um toque delicado. É firme, é tudo que eu preciso agora. 

— Não precisa. Se isso não vai te fazer bem você não precisa me falar nada. 

— Eu sei que você não vai me pressionar. Só que eu quero fazer isso direito. 

Ele arqueia uma das sobrancelhas. 

— Esse é seu jeito esquisito de me pedir em namoro? 

Eu bufo, mas estou sorrindo um pouco.

— Não, esse é meu jeito esquisito de te mostrar que você deveria se afastar de mim. 

Alex revira os olhos. 

— De novo isso? Já disse que não vou a lugar nenhum. Não sem você. 

Eu respiro fundo, tentando ganhar tempo. 

— Certo. Então. Bom. Então vou te contar todas as merdas que já passei. E se mesmo assim você quiser continuar comigo… eu não vou te impedir. 

— Não vou a lugar algum. — Alex diz, mas se senta na cama e espera que eu comece a falar, como uma criança ouvindo atentamente um conto de fadas. 

Queria ter uma história mais feliz para contar para ele. Infelizmente, não tenho. Então começo do começo: a primeira vez que percebi como era fácil sair da vida de uma pessoa. Falo sobre como conheci Ethan e sobre o fato de que nunca fomos realmente amigos porque eu o beijei logo no primeiro dia que nos conhecemos. Conto a Alex todas as partes boas: o modo como ele foi meu melhor amigo, meu primeiro beijo, meu primeiro sexo, meu primeiro tanta coisa. E depois conto como tudo terminou. O beijo molhado no aeroporto, a promessa vaga de que iríamos nos ver um dia. 

— Estou com um pouco de ciúmes. — Alex diz, quando termino essa parte. 

Eu balanço a cabeça, negando. 

— Eu não penso tanto nele desde… bom, faz tempo. Esse não foi o problema, eu consegui superar ele. O problema é que eu prometi que nunca mais sentiria aquilo de novo. O modo como foi simples me abandonar, entende? O jeito como eu continuei procurando por ele depois que ele foi embora. Eu só não queria sentir aquilo nunca mais. 

Alex concorda com a cabeça e espera que eu continue. As próximas partes da história avançam muito rápido porque não quero que as emoções tomem conta de mim antes que eu chegue ao fim. Conto sobre meu pai, sobre o câncer, sobre a cama de hospital. E então sobre a minha mãe, a depressão que parece estar sugando ela aos poucos. Quando conto sobre Bea, sinto que estou por um fio. Alex se aproxima de mim e coloca as mãos nas minhas, entrelaçando nossos dedos. 

— Não precisa me falar se estiver te machucando. Podemos ir aos poucos. — Ele diz. 

Mas agora que comecei não consigo parar. Continuo deixando que a torrente de palavras saia pela minha boca. Falo sobre a época de Bea com as drogas e sobre a reabilitação depois disso, sobre as recaídas e todas as vezes em que precisei cuidar dela. Não estou com raiva dela, é claro. Estou com medo de que qualquer uma dessas coisas aconteça de novo. 

Nathan é o próximo. Conto a Alex sobre como ele era, desde a aparência física até o jeito. Porque quero que Alex o conheça, mesmo sabendo que isso é impossível. 

— Ele parecia incrível. — Alex diz, mesmo assim. 

Eu concordo. Falo sobre o curto namoro e a amizade duradoura. Nathan foi meu melhor amigo e depois da morte dele foi quase impossível deixar que Pez tomasse seu lugar. Mas aconteceu e, por um tempo, tudo parecia bem. 

— Eu tinha que lidar com o luto por Nathan, mas… eu pensei que tivesse chegado no fim. Pensei que as coisas se ajeitariam depois disso. Eu tinha Bea e Pez comigo. E minha mãe não parecia tão ruim. Eu pensei que estivesse tudo bem. 

— Rafael? — Alex diz, tão baixo que quase não escuto. 

— Rafael. — Eu concordo. — No começo foi perfeito. Nathan disse que nos daríamos bem e esse foi o único motivo pra eu ter aceitado sair com ele. Desde Nathan eu… bom, eu não queria relacionamentos. Tentei com Nathan e não deu certo e depois disso eu só ficava com os garotos por uma noite e pronto. E estava bem assim. 

— Você não queria se apaixonar? — Alex pergunta, curioso. 

Dou de ombros. 

— Naquele momento eu só queria que as coisas ficassem bem. Não maravilhosas, nem perfeitas. Só… bem. Em paz. Se isso envolvesse uma paixão ou não, eu não me importava. Mas não via como ter paz com uma paixão pelo meio. Seria só mais uma pessoa que me destruiria quando fosse embora. E não to falando isso porque eu sou um carente quase patológico, mas por tudo que eu passei. Por todas as pessoas que foram embora. Então eu não estava interessado em relacionamentos. 

— Mas o Rafael mudou isso. — Alex diz. 

— É. Ele mudou. — Eu concordo. Não perco tempo falando sobre a aparência ou o jeito dele, porque fico mal lembrando dos detalhes. Mas algumas coisas sobre ele precisam ser ditas e não tento me segurar. — Rafael era o homem mais lindo que conheci até então e ele… ele se importava. Não sei explicar. Ele se importava muito com tudo, com todas as causas do mundo, com todos os problemas de todo mundo. Se alguém precisasse de alguma coisa, ele estaria ali para ajudar. 

— Hm. — Alex diz, me incitando a continuar quando dou uma pausa talvez longa demais. 

— Talvez tenha sido isso que fez com que eu me apaixonasse. O fato de que ele se importava muito com tudo, mas comigo… comigo ele se importava mais. Quando eu estava por perto, eu era o centro do seu mundo. Eu era tudo pra ele. Mais do que causas ambientais ou causas lgbt+ ou qualquer outro assunto que ele estivesse interessado no momento. 

— Você se sentia importante. — Alex diz, tentando entender. Estou com vergonha, então não olho para ele. Ao invés, deito na cama e passo a encarar o teto. Alex continua sentado na cama e eu agradeço por isso. 

— É. Acho que sim. — Digo. — Eu sentia que tinha me encontrado. Que ele era uma espécie de presente depois de tudo que eu passei. 

— Mas…? 

— Eu não sei quando as coisas começaram a ficar estranhas. Em um momento éramos esse casal perfeito que transava de forma completamente apaixonada 24h por dia e não conseguia parar de se tocar nem por um minuto e no outro… no outro éramos só sexo e conversas sem sentido. Colocar outro homem na nossa cama nas noites de sábado passaram a ser uma desculpa para não ter que lidar com as conversas depois do sexo. 

Fico um tempo em silêncio, esperando que Alex absorva minhas palavras. Não tenho a reputação que tenho hoje a toa e quero que Alex saiba disso. Eu tive minha cota de noites de sexo intensas, mesmo no período em que namorava com Rafael. 

— Certo. — Alex diz, e não consigo decifrar sua voz. 

— Eu sabia que as coisas estavam erradas. Não por transar com vários caras, mas sim porque Rafael e eu estávamos usando isso para não ter que lidar com as merdas entre nós. Só que… não sei, acho que eu não queria dar o braço a torcer. Eu queria tentar. Talvez isso tenha irritado Rafael, ou talvez ele realmente estivesse apaixonado por mim. A questão é que ele não queria que eu fosse e eu não queria ir. Então continuamos juntos, mesmo sabendo que as coisas estavam saindo do nosso controle. 

— O que aconteceu? — Alex diz, parecendo interessado de um jeito superficial. Talvez eu o tenha assustado, afinal. Mas não vou parar agora. 

— Eu ainda não consigo definir essa parte da nossa história. Muitas coisas que eu acho que sei na verdade foram coisas que Bea e Pez me contaram. Mas não consigo me lembrar de tudo do meu ponto de vista, é difícil me prender aos detalhes. 

— Ou você preferiu esquecer. — Alex diz, a voz um pouco mais suave. Não sei o que pensar a respeito então tento não pensar. 

— É. Talvez seja mais fácil assim. — Eu concordo. — O que eu sei é que o modo como Rafael me via foi mudando. Eu não era mais o centro do seu mundo, não era mais a coisa mais importante pra ele. Com o tempo, ele foi me vendo como… como eu sou de verdade, acho. Ele começou a se irritar com o modo como eu me vestia e com as coisas que eu me interessava. Ele chegou a queimar um dos meus cadernos de poesia. 

Escuto Alex prendendo a respiração. 

— Eu… 

— Eu não lembro. — Eu o interrompo. — Só sei porque Bea e Pez me contaram. Mas com o tempo ele começou a gostar cada vez menos de mim, ao mesmo tempo que não conseguia se afastar. Ele não se importava que outros caras me tocassem, desde que ele estivesse na cama comigo e desde que eu não conversasse com esses outros caras. Ele também não saia mais, não conversava mais com os amigos direito. Seu mundo era o quarto em que a gente vivia enfurnado, seja o meu ou o dele. E com o tempo meu mundo passou a ser aquilo também. 

Alex fica em silêncio e eu espero que ele diga alguma coisa, mas ele não diz. Quero olhar seu rosto, mas não consigo, então continuo encarando o teto. 

— Eu não sei quando deixei de amá-lo. Não sei se eu deixei mesmo de amá-lo. Não consigo pensar com clareza quando o assunto é ele. — Eu digo e sei que essas palavras devem machucar Alex. Mas é a verdade, e Alex merece a verdade. — Era tudo muito intenso com ele, muito urgente. Quando ele queria fazer amor, fazia com toda paixão do mundo. E quando queria brigar, gritava pra que o mundo inteiro escutasse. Acho que no fim ele me amava tanto quanto me odiava. 

— Isso não é uma coisa boa. — Alex diz. 

— Não, não é. — Eu concordo. 

— O que aconteceu? No fim? 

Finalmente me levanto da cama e encaro os olhos de Alex. Ele não parece com medo, mas não está feliz, nem curioso. Acho que ele só quer que isso acabe logo. 

— A coisa com o quadro. — Eu digo. — Foi uma medida desesperada, eu acho. Era uma piada particular entre nós, porque os garotos do campus diziam que me conquistariam para conseguir chegar ao quadro. Nunca entendi a graça disso, mas Rafael gostava da ideia de ter comigo uma coisa que ninguém mais tinha. E então uma noite, depois de uma briga feia, eu o acordei de madrugada e disse que deveríamos fazer isso. Roubar a merda do quadro. Eu queria uma conclusão, acho. Queria que ele percebesse que deveria ir ou ficar, mas se ficasse nunca mais brigaríamos como na noite passada. Ou então eu queria… não sei, uma distração, talvez. Algo que nós dois faríamos juntos, como no começo. 

— Não deu muito certo. — Alex chuta. 

— No começo deu. — Digo. — Nós planejamos cada detalhe do roubo. Como faríamos para entrar, como abririamos a janela, o horário, o álibi. Eu me sentia em um filme. E, por alguns poucos dias, estávamos realmente bem. Era só eu, ele e aquele maldito quadro. 

— Vocês conseguiram. — Alex diz. 

— Bom. Sim. Mas foi quando tudo começou a dar terrivelmente errado. Eu queria jogar o quadro num lago ou destruí-lo. Rafael queria um grande evento. Queria que queimassem o quadro em praça pública e esse tipo de coisa. Só que, se fizéssemos isso, estaríamos correndo um grande risco. Eu poderia ser expulso. Rafael voltaria para os Estados Unidos. Eu disse coisas horríveis a ele, sei disso. E ele me disse coisas piores ainda. No final, percebemos que não havia muita coisa para salvar do relacionamento. O quadro estava no quarto de Rafael quando a polícia o encontrou. Ele voltou para os Estados Unidos e eu nunca admiti a participação no roubo. Eu não sinto como se tivesse que admitir coisa alguma, na verdade. Se ele tivesse feito como eu disse, nunca teríamos sido pegos. 

Alex arregala levemente os olhos. Percebo que ele não esperava esse tipo de reação de mim. 

— Você se arrepende? — Ele pergunta e não é a pergunta que eu estou esperando. 

— Não. Quando o quadro foi encontrado não fazia sentido eu me confessar. Não mudaria nada na situação de Rafael. — Eu digo. — Mas eu me arrependo de não ter tentado com mais afinco. 

— Tentado o que? Salvar o quadro? — Alex pergunta. A pergunta real fica implícita, como se fosse um oceano de distância entre nós. 

Respiro fundo antes de responder, tentando manter os sentimentos afastados de mim, tentando me manter firme. 

— Eu me arrependo de não ter convencido ele a destruir o quadro ou então destruído o quadro eu mesmo. E me arrependo de não ter tentado manter nosso relacionamento.

O rosto de Alex é uma máscara de decepção. Odeio decepcioná-lo dessa forma, mas tento focar nas emoções dele para que eu não tenha que lidar com as minhas. Eu me odeio tanto nesse momento que só queria poder sair do meu corpo por alguns segundos. 

— Por que? — Ele diz, finalmente. 

— Porque eu acho que se eu tivesse tentado com mais afinco, Rafael não estaria morto. 

Alex abre a boca, o rosto dele substitui a decepção pelo choque. Ele passa a mão no rosto, como se tentasse afastar uma coisa ruim. Sinto como se eu fosse essa coisa ruim.


Notas Finais


eeee?? me digam que foram surpreendidos por esse final pf! kkkkk
enfim, espero que gostem da continuação
beijos, beijos


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