1. Spirit Fanfics >
  2. (Dramione) Um contrato entre nós >
  3. Draco

História (Dramione) Um contrato entre nós - Draco


Escrita por: DanielleCps

Notas do Autor


Oi gente!!
Capitulo 10 e vem muita coisa pela frente!
Espero que vocês gostem!

Capítulo 10 - Draco


Olho atento para a entrada do prédio de Hermione enquanto espero ela descer. Bato o olho de relance no computador de bordo do carro e vejo os -10ºC que fazem do lado externo, mas eu sinto calor. Kael fez questão de me lembrar, hoje pela manhã, instantes antes de sair do apartamento, que aquele era um sintoma que poderia levar a algo muito sério chamado paixão. Terminei aquela conversa de maneira agradável, perguntando se ele não tinha mais o que fazer que não fosse me atormentar e mandando, em algum momento, ele se foder. 

 

Uma pequena movimentação na porta do prédio me tira dos devaneios e vejo Hermione saindo, toda encolhida dentro de um enorme casaco que vai até perto do joelho, com uma mochila preta igualmente grande nas costas. Observo-a ajustar o capuz do enorme casaco sobre a cabeça e no meio do caminho ela para e volta. Vejo que a porta do prédio abre novamente e ela faz alguns gestos enquanto nega com a cabeça. Uma senhora surge e olha em minha direção e acena. 

 

O diálogo acontece em meio a olhares curiosos da mulher de cabelo branco que eu suspeito que seja a tal senhora que Hermione comentou comigo no dia anterior. Eu dou risada quando noto que ela tenta, de todas as maneiras se despedir enquanto luta com os flocos de neve que caem sobre seu casaco. 

 

Enfim vejo a porta se fecha e Hermione corre em direção ao carro. 


 

- Sra Pattinson. - é a primeira coisa que ela diz quando entra no carro esbaforida. - Ela queria saber se você tem um avô viúvo. 

- Você está falando sério? - vejo ela tirar o xale que estava protegendo seu rosto e pescoço contra o ar frio e um rosto corado me encara agora. 

- Claro que eu estou. - Hermione ri e eu observo enquanto aquele som que eu tanto gosto preenche o carro e me junto a ela. -  Ela acabou de me contar que está atrás de um marido e queria saber se você não tinha um avô para apresentar. Pediu para te falar que ela sabe fazer um ótimo chocolate quente e que ainda consegue enxergar, caso seja necessário costurar alguma cueca ou meia furada. 

- O único avô que eu tenho está casado com a madrasta do meu pai já tem alguns anos e acredito que ele não pretende se separar.

- Ao menos eu tentei. - Ela dá de ombros, rindo. - Quando eu cheguei aqui no prédio, foi a primeira coisa que ela me perguntou. Carine também já foi vítima dela. Eu tenho certeza que ela está ansiosa para encontrar você qualquer dia desses para fazer o interrogatório completo e detalhado. Mas mudando de assunto… - ela se vira para me observar, enquanto manobro o carro para sair da rua dela e retornar para a avenida que vai nos levar para a arena - O rinque não deveria estar em manutenção depois do jogo de ontem a noite?

- Bom, deveria. - eu respondo sem tirar os olhos da rua. A neve agora parecia cair em maior quantidade do que há alguns minutos. - Mas o Fredrik passa a máquina no gelo logo no primeiro horário e a manutenção pesada do estádio acontece só perto do meio-dia. Então, esse horário a arena fica vazia. 

- E você não deveria descansar hoje? - há um certo tom de recriminação na voz de Hermione que me arranca uma risada. 

- Talvez eu devesse, mas confesso que não consigo. - eu admito. - Sempre fico muito agitado no dia seguinte de um jogo. Então eu aproveito que não tem ninguém no rinque e vou patinar para colocar a minha cabeça no lugar.

 

Um silêncio confortável cai sobre nós enquanto dirijo pelas ruas completamente vazias da capital de Emerald. Apesar da claridade, o sol está completamente escondido através das nuvens de neve e reparo que não é mais possível distinguir o que é calçada e o que é asfalto perto do meio fio. 


 

- Estou curioso. - eu admito quando a olho de relance e vejo esfregando as mãos, uma na outra, num claro gesto de ansiedade. - O que tanto você trouxe nessa mochila enorme?

- Meus patins. - ela responde empolgada. - Por acaso eu mandei afiar a lâmina na semana passada, pois pretendia patinar no rinque da praça central esse fim de semana. 

- Estraguei seus planos então?

- Vou considerar que você melhorou, e muito, os meus planos. 

- E o taco? - eu abro o vidro, passando meu cartão de acesso na cancela do estacionamento privativo da arena. 

- Espero que você tenha um para me emprestar. 

- Trouxe meus tacos de estimação. - eu estaciono o carro na vaga mais próxima a porta de entrada. - E vou ser legal e te emprestar um deles. 

 

Deixo uma risada escapar quando ela sai do carro num pulo, assim que eu termino de estacionar na vaga. 


- É estranho. - Hermione diz olhando ao redor de nós, agora com sua enorme mochila nas costas.  

- Eu também acho bastante estranho, ainda mais depois de um jogo com lotação máxima. - dou a volta no carro e abro o porta mala para pegar as coisas. - Mas eu gosto desse silêncio. 

- Nunca patinei num lugar silencioso. - ela pega os tacos enquanto eu tiro minha mala e fecho a porta do carro. - Ou era no rinque de patinação da escola ou era num lago que tinha perto de casa. 

- Em casa tem um lago na parte de trás do terreno e eu costumava patinar ali quando era pequeno. 

- Meu Deus, como você é nojento! - ela dá risada e eu acompanho. Não há recriminação na sua voz, apenas a velha e boa tiração de sarro de um amigo para o outro. 

 

E eu noto que Hermione não tem nenhum interesse na minha posição ou no meu dinheiro. Ela parece simplesmente não se importar com nada disso e está ali porque, aparentemente, gosta da minha companhia, assim como eu gosto da dela. 

 

Nós entramos na parte lateral do rinque, onde os jogadores ficam esperando para entrar na partida. E como sempre faço, eu observo e sinto tudo. Está tudo completamente vazio e consigo ver algum lixo ainda na arquibancada e algumas coisas ainda estão fora do lugar, mas o gelo… o gelo está perfeito. Completamente liso, sem nenhum sulco. Há uma névoa fina que sobre o rinque e noto que, assim como eu, Hermione está completamente perdida em seus próprios pensamentos. 


- Obrigada pela oportunidade, Draco. - ela fala baixinho, como se tivesse medo de atrapalhar algo muito importante. - Acho que é um dos melhores dias da minha vida. 

- Sempre que quiser patinar, me avise. - eu pisco para ela e Hermione sorri de volta. 

 

Começamos a nos arrumar em silêncio e em poucos minutos percebo que Hermione se levantou. Ela está a poucos centímetros de mim e parece perdida enquanto observa o enorme rinque de patinação a nossa frente. 

 

E eu perco o fôlego. 

 

É difícil descrever, mas admito que me sinto um adolescente com os hormônios difíceis de serem controlados. Ela está usando um moletom preto longo que vai até a altura dos quadris e dali para baixo uma calça preta colada adere perfeitamente a cada curva de suas coxas bem definidas. 


- Podemos? - Eu a encaro e tenho certeza que ela não tem ideia do quanto mexeu comigo e com todo o resto do meu corpo. 

- Aproveite o gelo. 

- Mesmo?

- Com toda a certeza. - eu me inclino para frente, fingindo arrumar os meus patins que estão perfeitos em meus pés. - Estou terminando de me arrumar. 

 

Ela abre a portinhola que nos separa da pista de gelo e entra patinando firme. Suas passadas são rápidas e certeiras e em nenhum momento eu a vejo desequilibrar e titubear ao realizar alguma manobra para parar ou desviar de um obstáculo imaginário. 

 

Me forço a pegar os capacetes, os tacos e o disco que iremos usar para o nosso 1 a 1, mas confesso que não tenho coragem de entrar no rinque e acabar com esse momento tão absurdamente íntimo que ela está vivendo. 

 

E eu sei exatamente o que ela está sentindo naquele momento, porque eu sou assim. Porque estar no gelo sozinho beira o sagrado para mim, talvez seja o momento que eu estou mais perto do que eu realmente sou e não preciso me preocupar com etiquetas, títulos ou casamentos. Sou somente eu, meus patins e o gelo. 

 

Eu observo quando ela para, depois de alguns minutos patinando e me encara. Seu rosto está corado com o exercício e um sorriso puro dança em sua boca. Eu sou um filho da puta sortudo. 


- Vai ficar só olhando, Draco? 

- Definitivamente não. - eu mostro os equipamentos em minha mão e ela se aproxima para pegar. - Preparada para perder?

- Eu posso até perder, mas prometo que vou te dar trabalho. - Ela responde enquanto ajeita o cabelo para colocar o capacete. 

- Então o almoço vai ser por sua conta? - Eu entrego agora o par de luvas e o taco que eu havia separado para ela. Consigo escutar sua risada abafada através da abertura do capacete.  

- Primeiro você precisa ganhar, Malfoy. 

 

Observo ela terminar de se ajeitar e sair patinando com o taco em mãos. Coloco meu capacete, minhas luvas pego meu taco e o disco e enfim estou pronto para entrar no rinque. As primeiras passadas no gelo são sempre libertadoras e eu me sinto em casa, como se patinar fosse muito mais natural do que andar. 

 

Vou até o centro do rinque e coloco o disco bem no meio e espero que ela se aproxime. Ela me rodeia até parar a minha frente e me olhar com aqueles enormes olhos castanhos que, em apenas alguns poucos dias, foram capazes de conquistar minha confiança. 


- Pronto, Malfoy? - a voz dela chega aos meus ouvidos acompanhado de um sorriso cheio de palavras não ditas. 

- Mais do que pronto. 

 

Ela para a minha frente, o taco a esquerda do disc, enquanto o meu está a direita. Nós batemos os tacos em uníssono e eles se cruzam no ar por três vezes e quando vejo, ela jogou o disco pelo meio das minhas pernas e corre em direção ao gol. Uma risada escapa da minha boca e eu corro para defender o meu lado. 

 

Ela é rápida, mas eu sou muito maior e consigo interpretá-la com tranquilidade e inverto o jogo. 

 

Escuto seu grito de frustração quando roubo o disco e mudo a direção bruscamente indo ao gol dela. Sei que ela está atrás de mim, em passadas rápidas, mas também sei que ela não vai conseguir me alcançar. Nossa diferença de altura é muito grande e, por mais rápida que ela seja, minhas pernas cobrem uma área muito maior e tenho a vantagem de ser um jogador profissional. 

 

E o disco está no fundo do gol. 


- Exibido! - ela grita arrancando uma risada minha.

- Não seja uma má perdedora. - com o bastão eu puxo o disco e vou levando-o até o meio do rinque novamente. - Você que quis jogar contra mim. 

- Achei que era um cavalheiro. - ela pisca pra mim, me acompanhando. 

- Eu tenho certeza que você não esperava isso de mim dentro do rinque. - eu paro e ela se coloca a minha frente, com o taco a esquerda novamente. 

- Concordo com você, Malfoy. 

 

Ela bate o taco me chamando para o jogo. Arrumo minha viseira melhor e lá estamos nós batendo contra o gelo de maneira uníssona. E mais uma vez ela consegue pegar o disco antes de mim. Dou a volta em meu próprio eixo e patino para ficar a frente dela, ao invés de tentar roubar seu disco como da primeira vez. 

 

Estamos cara a cara. Eu patinando de costas e ela atacando sem dó, para tentar passar por mim e atirar o disco no gol. Ela acelera sem que eu perceba e simplesmente não consigo impedir uma colisão. 

 

E então ela está sobre mim. O capacete grudado e a expressão séria enquanto me observa com curiosidade. E eu me vejo desejando que não estivemos usando capacete. Eu posso sentir seu corpo inteiro sobre o meu e sinto um maldito arrepio que vai da minha coluna e percorre todo o meu corpo em questão de segundos. 


- Preciso te contar uma coisa. - sua voz é séria e vejo que ela me observa com a mesma intensidade que eu acredito estar olhando para ela. 

- Que você mentiu sobre ter jogado só quando era pequena? - eu preciso tirar ela de cima de mim antes que a minha situação comece a ficar realmente complicada. 

- Talvez eu tenha mentido, mas o que realmente importa é que eu fiz um gol. - ela sai de cima de mim rindo - Acho que podemos parar por aqui! 

 

Eu olho para o gol alguns metros de nós e vejo o disco lá dentro, próximo a rede. 


- Eu não acredito que você colidiu comigo de propósito. - Ela dá de ombros, agora de pé. Seus olhos ainda fixos e mim. - Mas espera aí, você mentiu sobre ter parado de jogar quando era criança?

- Cada um joga com o que tem, Malfoy. - ela tira o capacete e vejo que seu rosto está vermelho e muito suado com o exercício. - O importante é que eu fiz um gol e eu sei que você não facilitou pra mim. 

- Você não vai simplesmente sair sem me dar uma resposta. - tiro meu capacete e sinto as gotas de suor escorrerem pelo meu rosto. 

- Não tem muito o que mentir: Joguei sério até 16 anos. 

- Você disse que parou de jogar quando era criança! 

- Eu era uma criança com 16 anos de idade! - ela ri. - De qualquer maneira, sei que você não facilitou para mim. 

- E como você pode ter tanta certeza assim?

- Você é competitivo demais para isso. - Ela sorri e vai atrás do disco. - Mas tenho que admitir que não consigo uma próxima rodada. 

- Já quer parar? 

- Eu não estou em forma. - ela volta, trazendo o disco suavemente, segurando o capacete em uma das mãos. - Sinto que  meu coração vai sair pela boca. 

- Vamos terminar empatado então? 

- Bom, como eu estou pedindo arrego, a vitória é sua Draco. O almoço é por minha conta. 

- Como eu não aceito o empate, proponho um novo jogo na próxima semana e quanto ao almoço: Meio a meio, afinal foi um empate. O que você acha? 

- Vou precisar de pelo menos 1 mês para estar recuperada o suficiente para jogar outra vez. - ela ri. - Amanhã eu sequer vou conseguir me mexer. Sem contar que é bem provável que eu ganhe um enorme roxo nas pernas. 

- Roxos são cicatrizes de batalha. Sempre tenho alguns espalhados pelo corpo. 

- Ficaria surpresa se não tivesse. - ela ri.

- Você não me respondeu sobre o almoço. 

- Sobre o almoço: Eu topo meio a meio. 

 

Nós caímos num silêncio confortável enquanto patinamos lado a lado. Eu a observo enquanto brinca com o disco, está mergulhada em seus próprios pensamentos assim como eu estou enfiado até o talo nos meus. 

 

Dentro da minha cabeça toca um tic tac irritante que não me deixa esquecer que o tempo está acabando. Preciso tomar uma decisão logo antes que seja obrigado a me casar com Lady Pansy. E minha melhor chance ainda é a mulher que patina ao meu lado. 

 

Barulhos vindos da arquibancada chamam a nossa atenção e sei que a ilha de paz acabou. Dezenas de pessoas irão surgir nos próximos minutos para fazer a manutenção pesada do rinque e dos bancos ao redor. 


- Acho que precisamos sair daqui. - é ela quem me tira dos devaneios. - Tenho certeza que assim que perceberem que é você quem está patinando, eles vão tirar fotos e logo mais eu serei a “morena patinando ao lado de Draco Malfoy”

- Isso te incomoda? - nós seguimos para a lateral do rinque, em direção aos bancos onde estão nossas coisas. 

- Não estou acostumada a ser o centro das atenções, Draco. - vejo os ombros de Hermione subir e descer num movimento rápido. - E sinceramente? Não tenho nem noção de como é ter o rosto estampado em um site ou revista de fofoca. 

- Em 99% das vezes é bem desagradável. - eu admito. - Mas acho que nunca me importei realmente com eles. 

- Não te incomoda sair como bad boy e irresponsável nas revistas? - ela abre a portinhola e se joga no banco mais próximo, onde nossas coisas estão. 

- Não faz diferença o que eles pensam de mim. - dou ombro e me sento ao lado dela -  Eu sei muito bem o que eu faço da vida, Hermione. Tenho os meus valores, as minhas crenças e realmente não me importo com o que falam ou deixam de falar. 

 

Um silêncio incômodo cai sobre nós e eu noto que isso me deixa inquieto. Não estou acostumado a me importar com o que os outros acham, ainda mais com alguém que eu conheço a poucos dias. 

 

O barulho ao nosso redor aumenta e eu finalizo as coisas rapidamente e vejo que Hermione também. Estamos prontos. Coloco o capuz sobre a cabeça e jogo a enorme mala nos ombros e seguimos pelo mesmo caminho que viemos horas antes. 


- Eu te julguei mal. - a voz dela chega aos meus ouvidos quando entramos no estacionamento. - Você não é nada do que falam nas revistas e afins. 

- Não achei que você lesse esse tipo de coisa. - dou ombros. 

- Não sou imune a fofoca dos famosos. - Ela ri enquanto passa por mim, indo em direção ao porta-malas. 

- A maior parte do falam nessas porcarias são mentiras, mas não sou nenhum santo. - abro o porta mala e jogamos as coisas lá dentro ao mesmo tempo. - Agora mudando de assunto: Onde vamos almoçar?

- Conheço um restaurante tranquilo, num bairro próximo e que dificilmente vão te incomodar. 

- Agradeço por isso!

 

Nós entramos no carro e assim que saímos da arena ela vai me guiando pelos bairros. Minha cabeça está fervilhando e eu sei que não vou conseguir escapar e talvez seja a única oportunidade de tentar fazer a proposta para ela. 

 

Sinto minha ficha cair! Nós nos encontramos quantas vezes? 3, talvez 4? Aquele sentimento de pavor começa a dançar em todo o meu sistema nervoso. Eu sequer a conheço! Não sei quais são suas manias, quais são seus defeitos… e se ela, sei lá, cutucar o umbigo e cheirar? As inúmeras conversas que tive com Kael sobre o tema pesam muito mais do que qualquer outra coisa.

 

Enquanto estaciono o carro na frente do pequeno restaurante de fachada azul e branca, a ideia de hoje de manhã já não me parece tão correta. Aceitar o casamento arranjado por meus pais começa a sambar dentro da minha mente com muito mais força e penso que talvez fosse a melhor opção. Eu já conheço Lady Pansy e sei que ela é uma vaca de marca maior, mas ao menos eu sei quem é ela. Até arrisco a pensar que saberia lidar com os seus rompantes e crises, mas e Hermione? E mais uma vez a constatação do “Eu não sei nada”, cai sobre mim e a sensação de estar me precipitando vem a tona. 


- Você está bem? - Hermione me pergunta com a mão já na maçaneta. 

- Por que a pergunta?

- Você começou a chacoalhar a cabeça quando eu te perguntei se gostava de comida caseira. 

- Acho que um mosquito entrou no meu ouvido. - passo a mão em uma das minhas orelhas. - Mas quanto a sua pergunta: Eu gosto muito de comida caseira, não que seja algo comum na casa dos meus pais.

- Certeza que você vai aproveitar então! - sinto a empolgação na voz dela. - Espero que sua dieta permita um dia de lixo.

- Dia de lixo? - nós saímos ao mesmo tempo do carro e o ar gelado nos atinge. 

- De acordo com a Carine, ela tem um dia por mês para comer o que quiser sem que se sinta culpada. 

- Comer é algo que não faz com que eu me sinta culpado. 

 

O ambiente do pequeno restaurante era bastante aconchegante e estava completamente vazio. Olho o meu relógio e vejo que já passa do meio dia. 


- É sempre vazio? - eu murmuro logo atrás de Hermione. 

- As pessoas que veem aqui precisam almoçar até meio dia. - ela responde. - A maior parte almoça nas fábricas ao redor, então o horário é bem restrito. É bem provável que só volte a encher depois das 13 horas, quando os executivos conseguem um tempo para comer alguma coisa. - ela segue para o fundo do restaurante. 

- E como você sabe de tudo isso?

- Eu trabalhei aqui assim que cheguei na capital. - ela escolhe uma mesa em um dos cantos afastados do pequeno restaurante. 

 

Nos sentamos bem no canto e logo um senhor vem nos atender com um sorriso no rosto ao ver minha acompanhante. 


 

- Faz tempo que você não vem nos visitar, mocinha. - o estranho dá um beijo no topo da cabeça de Hermione que sorri e afaga o braço do homem. 

- A vida anda meio corrida, Oliver. 

- Vejo que trouxe alguém. - o homem coloca seus olhos castanhos sobre mim e sinto o reconhecimento chegando. 

- Oliver, esse é Draco. - eu estendo a minha mão em direção ao homem, que ainda parece muito surpreso com a minha presença. -  E bom, ele veio comer a melhor comida de Emerald. 

- Seja muito bem-vindo, Lorde Malfoy. 

- Sem formalidades por aqui, Oliver. - ele aperta minha mão com firmeza. - Só Draco, por favor. 

 

Hermione conversa com o homem por mais alguns minutos, me dando fôlego para pensar em como conversar com ela. A cada instante eu acho a proposta mais patética, mas ainda sim a única que poderia me salvar de um casamento arranjado por meus pais. 

Observo enquanto Hermione pergunta sobre os pratos do dia e deixo que ela escolha o que nós dois vamos comer. 

 

Observo enquanto Oliver se afasta com os nossos pedidos anotados em um pequeno bloquinho de papel. Estamos sozinhos mais uma vez. 


- Você parece um bocado estranho.

- Eu não sou a pessoa mais normal do mundo. - Forço uma risada e observo enquanto Hermione levanta uma das sobrancelhas. - As coisas não estão exatamente fáceis para o meu lado nos últimos tempos. 

- É o que dá colecionar desafetos, Draco. 

- Antes fosse desafetos, Hermione. - Eu coço meu rosto e sinto minha barba começar a despontar fazendo um som áspero. - Mas é algo um pouco mais complicado que envolve a minha carreira e a minha família. 

- Seus pais não me pareciam muito à vontade durante o jogo. Inclusive, te peço desculpas se arranjei algum tipo de problema com a sua namorada. - noto que Hermione tira uma sujeira imaginária da toalha branca que está sobre a mesa. 

- Minha namorada? 

- Eu achei que a mulher que estava junto com os seus pais fosse sua namorada ou qualquer coisa do tipo. 

- Pansy, definitivamente, não é minha namorada. - eu falo sério. - Mas ela tem sim relação com o meu problema. 

- Bom, se você não quiser contar, não precisa. 

- É bom poder conversar com alguém de fora do problema. - Eu suspiro e ela me observa com atenção. - Quão familiarizada você está com as regras e leis que regem a família real e a alta nobreza? 

- Bom, não é algo que temos na escola comum. O que sei foi mais por curiosidade ou através de alguma revista de fofoca. 

 

Oliver surge em meu campo de visão com uma enorme jarra de suco que possui uma intensa cor vermelha e observo que o rosto de Hermione se ilumina em um enorme sorriso. 


- O seu preferido, menina. - o homem coloca o recipiente no meio da mesa e dois copos. - Em alguns minutos eu trago a comida de vocês. 

- Ah Oliver! Você não existe! - Hermione serve os nossos copos e imediatamente dá um enorme gole, fechando os olhos. - O melhor suco de morango que existe. - ela diz, por fim. 

 

O homem balança a cabeça sorrindo e nos deixa a sós novamente. Eu, Hermione e a enorme jarra de suco de morango que, até onde eu percebi, não deve durar até os pratos chegarem. 


- Sou apaixonada por suco de morango. - ela admite após tomar quase meio copo de uma única vez. - Mas por que a sua pergunta a respeito do meu conhecimento sobre as leis que regem a monarquia como um todo? - ela pergunta retomando o assunto e eu agradeço mentalmente por isso, porque talvez, só talvez, eu estivesse perdendo um pouco da coragem. 

- Meu problema envolve nossas leis de maneira bem direta. Estou com 25 anos atualmente e a lei diz que eu posso assumir a cadeira da Câmara dos Lordes a partir dos 27 anos. 

- Mas isso é uma possibilidade e não uma obrigação. 

- Isso é verdade, mas meu pai quer passar a cadeira para mim assim que for possível. - tomo um gole generoso do suco de morango e tenho que admitir que foi o melhor que eu tomei até hoje. - Ao que tudo indica, ele e minha mãe querem se dedicar exclusivamente como membros seniores da Família Real. E quando eu assumir a cadeira, eu precisarei focar no novo ofício. 

- Então você vai precisar se aposentar do hóquei? - Sua expressão é de choque completo agora. 

- Sim, essa é uma das leis. Quando eu assumir o lugar do meu pai, não poderei ter qualquer outro ofício. 

- E não há nada que possa ser feito? 

- Infelizmente não. Os atuais monarcas não vão alterar uma lei que beira a criação de Emerald e tenho certeza que quando Kael assumir, ele também não vai alterar. Existe muita coisa envolvida.

- Mas o que você pensa em fazer?

- Quanto a isso eu não tenho muito para onde fugir, para ser bem sincero. - mexo o suco que está no meu copo, obrigando o líquido a ficar homogêneo novamente. - Acredito que tenho mais 6 meses dentro do rinque, se muito, 1 ano. Mas acredite que essa é, talvez, a parte que menos me incomode. 

- Não me diga que vai precisar fazer um pacto de sangue? - eu dou risada com o humor ácido dela.

- Acho que isso foi tirado em meados de 1700, se não estou enganado. 

- Verdade? 

- Não, mas não duvido que tenha existido em algum momento. 

- Você é péssimo, Malfoy. 

- Meu humor é refinado, você não entenderia. - Dou de ombros e arranco um sorriso dela. - Enfim, não há nenhum pacto de sangue envolvido. 

- Mas em algum momento você vai fazer parte dos membros seniores da família Real? 

- Sim, mas isso está bastante longe. Para eu entrar como um membro sênior, meu pai precisa falecer para eu assumir o título de Duque. Meu título atual é de Marquês de Eridani da casa de Malfoy, não que isso faça qualquer tipo de diferença. 

- Essa parte de sucessão eu conheço bem pouco, mas não é algo que vemos a fundo durante a escola comum. - observo quando Hermione apoia os braços na mesa, inclinando o corpo. Seus olhos brilham de pura curiosidade e eu luto para não me perder neles. 

- Eu só sei porque não tenho opção. - Dou ombros. - Meus pais me obrigaram a fazer Direito para entender nossas leis a fundo e como elas se aplicam a nobreza. Quando eu entrei na faculdade e comecei no hóquei, eu sabia que, em algum momento, eu teria que desistir para assumir as minhas responsabilidades. Sou só eu e Annelise. E ela, por ser mais nova e mulher, jamais poderia assumir o título do meu pai e a cadeira na Câmara dos Lordes. 

- Isso é bizarramente machista. - Hermione joga o corpo para trás, encostando no espaldar da cadeira. - Então, se Annelise fosse a mais velha e você o mais novo, de qualquer maneira, seria você a assumir o título?

- É isso aí. - confirmo com a cabeça. -  Mesmo que a ordem fosse invertida, eu continuaria sendo o herdeiro ao título de Duque de Malfoy. Nas duas opções, a minha irmã fica com o título de Lady Annelise da Casa de Malfoy. Quando ela casar, vai assumir o sobrenome do marido e por consequência o título dele também. Isso só não aconteceria caso Annelise fosse herdeira direta do trono. Aí sim ela poderia assumir como rainha. 

- Que babaquice. - Hermione cruza os braços, ainda me observando. 

- Eu concordo com você. Eu e Kael já conversamos muito sobre reformas nos títulos da nobreza e ele disse que é algo que quer fazer quando assumir o lugar do pai. 

- Posso te fazer uma pergunta? 

- Quantas você quiser. 

- Eles estão se casando por amor?

- Eles quem?

- Kael e Catherine. 

 

Era incrível como eu sentia o meu corpo arrepiar e minha boca amargar quando o nome de Catherine era trazido à tona. Era uma mistura de diversos sentimentos, entre eles estava o asco.

Tento deixar aquela sensação horrível de lado e foco no fato de que entramos no assunto que eu quero abordar com ela desde o começo. 


- Por amor. - eu admito, sentindo o gosto amargo na minha boca piorar. 

- E você não fica feliz por isso? Antigamente os casamentos eram somente um contrato entre famílias. 

- Isso acontece hoje em dia. E é muito mais comum do que você possa imaginar, Hermione. 

 

Ela ergue uma das sobrancelhas para mim. Sei que está me analisando e agora eu tenho a certeza de que tenho toda a atenção dela cravada em mim. 


- É isso que está te incomodando? - Hermione solta, por fim. - A possibilidade de um casamento arranjado? 

 

Eu me remexo desconfortável na cadeira e sinto que, repentinamente, estou consciente de cada movimento do meu corpo. Os olhos de Hermione continuam cravados em mim, um interesse genuíno estampado em seu rosto. 


- Não é uma possibilidade, Hermione. - Eu respondo, me recostando no espaldar da cadeira. 

- Espera ai. - ela pisca seus enormes olhos em compreensão. - Você está me contando, com a maior calma do mundo, que vai precisar se casar por um interesse familiar?

- Exatamente isso. 

 

Enquanto nos encaramos, Oliver aparece com nossos pratos fumegantes e os coloca em nossa frente. 


- Obrigado, Oliver. - Eu agradeço por nós dois, pois Hermione parece impactada demais com a notícia.

- E o que você pensa a fazer a respeito? - ela me pergunta ainda sem tocar nos talheres que agora repousam ao lado do prato.

 

O momento havia chego e, apesar de ter me preparado para ele nos últimos dias e considerado várias possibilidades e cenários, ali, na frente de Hermione eu me sentia ridículo com aquela proposta sem pé e nem cabeça. 

 

Pego meu garfo e minha faca e corto um suculento pedaço de frango e o coloco na boca, me dando um tempo para pensar no que iria dizer nos próximos minutos. 

 

Eu estou, nesse momento, apostando minhas fichas em uma mulher que eu conheço há apenas alguns dias. Minha aposta é com base em que? No levantamento da ficha dela e no achismo de que ela era uma boa pessoa e que toparia entrar nessa loucura comigo por que, talvez, visse vantagem na vida que eu poderia proporcionar, o que incluía cursar a faculdade sem se preocupar em juntar dinheiro. 

 

“Você não sabe nada sobre Hermione, Draco! A única coisa que você sabe vem de dúzia de folhas que falam sobre o passado de maneira completamente fria e impessoal! Ah, sem contar com a conversa de banheiro que você escutou ela tendo com a colega sobre não conseguir cursas a faculdade.” A voz de Kael martela na minha cabeça enquanto mastigo a carne com calma, muito mais do que seria necessário, para ser bem sincero “Eu não acho certo você sair de um casamento arranjado pelo seus pais e cair num casamento arranjado por você mesmo!” havia sido, com certeza, um dos melhores discursos de Kael, o futuro monarca de Emerald. Parabéns para ele, fico tranquilo em saber que ele não passaria vergonha em frente a uma platéia na ONU. 


 

- Nesse momento meus pais estão tentando acertar meu casamento com Lady Pansy. - Opto por não responder a pergunta dela diretamente. Minha oratória foi para o inferno. - Aquela que você conheceu ontem a noite. 

- Agora eu entendi porque você me disse que ela estava diretamente ligada ao seu problema. Você vai aceitar esse casamento?

- Não e é por isso que eu estou contando tudo isso a você.

 


Notas Finais


Eai, o que você achou? Acho que esse é um dos maiores capitulos que eu escrevi até agora, para ser sincera.
Foram mais de 5000 palavras escritas!
E claro, como vocês viram, é um capitulo super importante para a nossa história!

Querem um fato curioso? Meu namorado é um dos meus betas! Sim sim, ele é uma das pessoas que me socorre quando eu preciso saber se o que eu estou escrevendo faz sentido.

Ah, e não esqueça! Deixa aquele comentário para fazer uma escritora feliz!
Beijos e até o próximo!!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...