Estava em meus aposentos terminando de me vestir apropriadamente para a batalha quando notei algo diferente, podia sentir magia aproximando-se, mas não distinguir sua origem. Parecia-me errado, como se eu não conhecesse sua essência e isto me trazia um estranho instinto de defesa. Olhei pela janela a fim de verificar os escudos mágicos em volta dos muros mágicos, e eles de fato continuavam intactos, mas de nada impediu que uma estranha luz azulada invadisse uma janela do castelo, justamente a janela pertencente ao meu antigo quarto.
Direcionei-me ao cômodo proibido com fogo nos olhos e em mãos, seja lá o significado, alguém pagaria caro por aquilo, uma estranha luz azulada saía pelo batente e uma sensação estranha me apossou ao encostar a maçaneta, era quase bom e errado ao mesmo tempo, como se meu lugar fosse ali, mas eu não devesse permanecer. Com receio abri a porta e parei deslumbrada com a visão que se surgiu, meu antigo quarto se encontrava de fato intacto, porem não da maneira que esteve durante os últimos anos, ele estava em perfeita ordem e reluzia em uma luz azul confortavelmente. Não era o quarto que eu havia trancado para sempre e sim o quarto calmo e tranquilo que tive durante toda infância e adolescência, ele se mantinha imaculado a toda maldade que presenciou. Junto com a luz era possível ver minha antiga inocência sendo refletida nas paredes e isto me deixou em choque mais do que as antigas marcas de sangue.
- Entre Regina. – Uma voz desconhecida se ouvia vindo do interior do quarto apesar de aparentar-se vazio. – Entre, mas saiba que deverá deixar suas Trevas onde estão. A escuridão não é bem vinda em nossa conversa.
- Quem pensas que é para entrar em meus aposentos sem permissão e despejar-me ordens? – Gritei com sarcasmo, ainda sem adentrar o quarto. Podia sentir a raiva desejada se esvaindo de meu corpo. – Sou a Rainha, ordeno e não sou ordenada.
- Entre e descubra minha cara. Mas como disse a Rainha Regina, Senhora das Trevas não tem permissão de lhe acompanhar, desejo falar apenas com a Princesa Gina que espero ainda existir ao meio deste caos.
Coloquei-me em conflito, sentia a necessidade de fechar a porta e destruir o que estivesse no interior do quarto sem ao menos olhar para trás, mas algo me pedia para seguir as instruções da voz misteriosa. Meu coração de pedra me pareceu mais pesado no peito, como se quisesse bater mais uma vez. Há tempos não sentia qualquer impulso emocional e foi este o motivo que me fez dar um passo adiante.
Ao entrar senti-me leve, livre das amarras que me seguravam a escuridão. Meu corpo já não me acompanhava mais, estava jogado ao chão ainda no batente da porta. Por impulso me direcionei a ele, mas foi impedida pela voz melodiosa.
- Não se preocupe com ela criança, seu corpo ficará perfeitamente bem depois de nossa conversa. – Olhei em direção a voz e encontrei uma mulher alta de cabelos curtos e loiro, vestida inteiramente em tons de azul.
- Deixe me apresentar. Chamo-me Fada Azul, sou líder das fadas em nosso recanto de paz.
Muita coisa passou a fazer sentido então. Não havia reconhecido a magia, pois se tratava de magia de luz e de fato esta era minha primeira experiência com a luz extrema. Sabia que sendo quem sou deveria odiar-la ao ponto de desejar-lhe a morte, mas no momento me sentia assustadoramente calma e impotente.
- O que fez comigo? – Indaguei. Não queria me sentir fraca diante de tal inimiga. – Por que não consigo ataca-la?
- Não se desespere criança, você nem ao menos deseja atacar-me que eu sei. Não precisa fingir ser quem não é aqui dentro, toda maldade que em você existe ficou repulsando do lado de fora.
- Está enganada. Em mim não resta uma única parte que não seja escuridão. – Disse com amargura.
- O engano não me pertence minha Cara e sim a você. Ainda lhe resta bondade e com ela esperança, por este motivo vim até aqui esta noite. Tenho uma profecia a lhe entregar, e preste bastante atenção, pois esta pode ser a única chance de salvação que sua alma terá. Seu corpo foi amaldiçoado Regina, foi tomado pelas Trevas até se tornarem um só ser, mas sua alma não teve alternativa se não acolher a maldade, você perdeu muito em uma só noite e isto influenciou suas escolhas. Então o destino está lhe reservando uma segunda chance de escolher, e desta vez se escolher as Trevas não terá mais salvação, seu corpo e alma se renderão de vez a escuridão.
“Esta guerra para qual está indo será um sucesso e você sairá como vencedora do campo de batalha, porem seu troféu será também sua ruina. A única coisa que pode lhe salvar é a luz que vem do amor verdadeiro e hoje estará em frente a ele, tens o direito de não reconhece-lo criança, mas não terá o direito de negligencia-lo.”
“Fique atenta Regina, se permitir, este amor trará vida ao seu coração e luz a sua alma, será um caminho tortuoso, mas prazeroso no final. Se o recusar perderá a chance de ser feliz assim como a humanidade que ainda lhe resta, será imortal aos olhos dos homens, mas as Trevas lhe consumirão por completo. Acredite em mim quando digo que preferiria a morte, já vi homens poderosos sucumbirem em seu lugar.”
- Se oque diz é verdade, não serei nada sem a escuridão, ela me alimenta, ela me faz forte e poderosa, não prosseguiria sem magia e se achas mesmo que seria capaz de abrir mão dela por algo fraco como amor está mais enganada do que pensas. Isto imaginando que alguém fosse capaz de amar-me genuinamente. – Minha voz trazia ressentimento e não a raiva que eu desejava. – E estou bem com a escolha que fiz a anos atrás, posso muito bem lidar com o poder e não irei sucumbir a nada e ninguém.
- Você amará antes de ser amada, mas não deve se preocupar com isto. Vá para a batalha, vença e se precisar de auxilio entre neste aposento, alguém virá ao seu socorro. Este local representará oque lhe resta de bom Regina, você pode deixar que a luz dele invada outros cômodos mas também pode deixar que a escuridão invada novamente aquela porta. A escolha é somente sua. Boa Sorte!
- Espere. Você não pode... – Estendi a mão, mas tudo que encontrei foi o lado de fora da porta que mais uma vez estava fechada.
Longe da suposta luz azulada consegui sentir novamente toda a maldade que abitava em mim e isto não trouxe o conforto que deveria. Fadas. Seres de luz incompetentes. Se eram tão boas assim porque nunca vieram ao meu auxilio quando me mantinham trancada sobre tortura? Mas como as ignorantes que são não podiam aceitar o fato que eu a tempos aceitara, não existe salvação parar quem se torna senhora das trevas, essa era a regra do jogo e eu jogava melhor que qualquer um.
Sai dos aposentos Reais sem dar mais atenção à patética profecia, alias nos corredores do palácio já não me parecia que aquilo foi de fato real, de certo acabei tento devaneios por conta do estresse. Tudo que preciso saber é do derramamento de sangue que estou prestes a presenciar e este era todo o incentivo de que precisava.
A musica continuava a tocar por todo o Reino indicando que ninguém estava assustado ou encantado com luzes azuis entrando pelas janelas. Deveras estava tendo alucinações diante das emoções tão afloradas pelo Reino. Encontrei um serviçal indo em direção a cozinha e o mandei atrás do General incompetente, precisava saber se ao menos fora homem para obedecer-me ou um covarde parar tentar fugir de minha irá. Segui ao estabulo em busca de meu antigo e único amigo, o lindo Corcel que hoje possuía pelagem negra como a noite, a anos lhe lançara um feitiço para representar meu coração e desde então permanecia negro.
Ao receber a noticia que Graham e metade da guarda já se encontravam a caminho das montanhas me coloquei a cavalgar, minha intenção não era lidera-los, mas ver seu desempenho e certificar-me que teria meu inimigo com vida ao final da batalha, os acompanhava escondida na noite, vendo sem ser vista. Metade da noite foi gasta para alcançarmos o acampamento inimigo, que a está altura havia adentrado em muito minhas fronteiras e descansavam como se fosse senhores do mundo. Senti a raiva crescer em mim.
Observei minha guarda recuar silenciosamente a uma colina enquanto escutavam as ordens vindas de Graham. Com magia me transformei em um dos soldados para escutar seu plano sem ser identificada.
- Meus caros, estamos aqui como irmãos prontos para entregar o que nossa amada Rainha deseja. Vamos defender nossas terras em nome de nossas famílias e teremos vitória ao voltar para nossas casas. A própria Rainha Regina me mandou lidera-los, pois sabe que sairemos com vida deste campo, o exercito inimigo nos subestima, zombam de nós ao repolsar em terras por eles proibidas, vamos mostrar por que somos o maior Reino de todos os tempos, vamos mata-los e capturar seu líder para a Rainha. – Vê-lo motivando os soldados era de fato cômico, queria faze-los acreditar que estava ali por devoção e não como forma de castigo. Mas até mesmo eu deveria aceitar seus esforços para manter-se corajoso nas devidas circunstancias.
- Dividirei a tropa em três partes para termos melhores chances. – Prosseguiu com as ordens. - Tenente Pan seguirá a leste do acampamento e Tenente Jones seguirá a oeste, ambos com a mesma quantidade de homens. Atacaram a exatas duas marcas de vela. O Terceiro grupo será composto por mim e mais cinco homens, teremos a missão mais difícil em mãos, a Rainha precisa de respostas, e parar isto temos ordens de capturar o líder inimigo. Conto com voluntários valentes parar entrar no cerne da batalha e se necessário dar a vida em nome do Reino.
Ele fez uma pausa para que aparecessem os voluntários, me coloquei entre mais quatro homens e esperamos novas instruções. Fazia questão de segui-lo em seu plano para garantir o êxito final.
- Obrigado homens, a Rainha saberá de seus atos de bravura. –Graham agradeceu e voltou ao discurso. – Nós seis esperaremos três marcas de vela e aproveitaremos a brecha que se formara ao meio do acampamento. Prestem atenção todos, estamos aqui para proteger nossas famílias, estamos em maior numero e com mais armamento, pretendo deixar poucos ou nenhum homem morto esta noite. Tenham cuidado e boa sorte. Tenentes por gentileza acendam as velas e podem prosseguir com seus homens.
Então um a um os soldados seguiram em distintas direções restando apenas nós seis no alto da colina, onde foi possível ver quando as duas tropas atacaram pelos flancos em uma perfeita sincronia, a mais uma marca de vela foi nossa vez de entrar pelo centro.
Com um coração de pedra poucas coisas me eram estimulantes, mas estar no cerne de uma batalha com uma espada a punhos sempre me causava algo perto da felicidade, parar qualquer lado que olhasse era possível ver corpos inimigos estirados, espadas eram empunhadas contra cabeças que rolavam ao serem arrancadas dos corpos, em instantes minha armadura se encontrava banhada de sangue. Não me foi nem esforço chegar ao centro da batalha onde se encontrava um pequeno batalhão em volta de uma armadura reluzente de prata. Com toda certeza meu alvo seria aquele vestindo prata, por um instante indaguei-me quem poderia ser em uma armadura destinada a Realeza se nem Rei ou Rainha se encontravam ali. Está questão logo foi esquecida ao ver a batalha intensa que se colocava a minha frente, Graham fazia jus ao titulo de General e batalhava melhor que todos, seu esforço era apenas eclipsado por mim, afinal sua vida dependia duplamente da vitória.
Podia sentir minha lamina ferindo quem se aproximava impedindo nosso avanço e quando dei por mim estava em frente a armadura prateada travando uma das melhores batalhas que tive em tempos, era de fato um bom cavaleiro tirando o fato de ser burro o suficiente para invadir minhas terras. Nossa batalha estava realmente acirrada quando General Graham se pôs a sua costa e arrancou-lhe a espada.
- Não! – Uma voz masculina se pode ouvir ao tumulto. – Princesa! – O homem que gritava foi em direção a Graham, mas eu o desarmei colocando-o aos meus pés, impotente e com a espada sobre a cabeça.
O General então tira o elmo que cobria o rosto do guerreiro prateado e para nossa surpresa surge uma moça loira de olhos intensamente verdes. Só então recordo-me da Princesa do Reino de Diamante, a moça em minha frente trazia a beleza do Rei David no rosto e a forças da Rainha Mary nos braços que fora apelidada de Branca de Neve graças a uma flor tão bela e tão forte capaz de aguentar nevascas.
- August. – Ela chama por seu cavaleiro. – August não se aproxime. Isto é uma ordem.
- Então temos a bela Princesa do Reino de Diamante liderando a batalha? – Graham sorri diante a vitória. – Minha Rainha ficará encantada com tal informação.
- Garanto que já estou encantada General. – Desfiz o feitiço de ilusão e me revelei como Rainha, não ouve surpresa da parte de Graham, afinal todos em minha guarda e castelo sabiam de meus dons, mas a Princesa ficou um tanto preocupada com minha presença. Excelente.
- Minha Rainha. – O General me reverencia só com a cabeça. – Deveria esperar que tal lutador não pudesse ser outra pessoa se não Vossa Majestade.
- Bom. Oque temos aqui Princesa? – Perguntei a mulher vestida de prata, com a espada ainda sobre a cabeça de seu cavaleiro. – Irá se render ou prefere continuar a condenar a vida de seus homens? Começando com este aqui. Desejo apenas você, mas posso deixar meus homens prosseguirem com o massacre.
Ela olha diretamente em meus olhos pela primeira vez e por um momento meu coração parece querer bater diante da imensidão verde, mas então ela se ajoelha rendendo-se.
- Imaginei que seria esperta. – Sorrio de forma irônica, sobre os protestos do cavaleiro aos meus pés. Pronuncio de forma magica para que todos escutem. – Todos os homens a mim leais recuem, pois nosso premio foi conquistado, ao exercito de Diamante será dada a chance de recolherem os mortos e feridos enquanto ainda me encontro misericordiosa.
O cessar de espada pode ser ouvido e meus homens recuavam dando espaço para fugirem, ao guardar minha própria espada fui surpreendida pelo cavaleiro August que levantando em um salto apunhalou-me no coração com uma adaga.
- Não levará minha Princesa sua Bruxa. – Pronunciou ao torcer a adaga em meu peito.
Olhei em seus olhos e pude ver seu temor ao constatar o fogo que em mim havia em vez de surpresa.
- Achas mesmo que pode me ferir soldado? – Ele recuou de espanto e foi capturado por Pan e Jones cada um segurando-lhe um braço. – Saiba que sua audácia poderia lhe custar a vida, ninguém tenta matar-me e sai impune...
- Não o mate. –Interrompeu-me a Princesa com uma suplica. – Deu-me sua palavra que recuaria se me entrega-se. Por favor, não o mate.
- Não costumo fazer favores a inimigos princesa. Deveria saber disso ao tentar me roubar terras. – Olhei em sua direção e vi a devastação em seu olhar. Mas ainda sim algo em mim queria agrada-la, não consegui acreditar em minhas próprias palavras ao voltar para o cavaleiro. – Porem como disse sua Princesa dei minha palavra e irei cumpri-la. Você levara um recado a sua Rainha, diga-lhe que ficarei com a Princesa em troca do transtorno que me causou e que isto sirva de lição para nunca mais tentar roubar-me qualquer coisa que seja. Agora Jones e Pan, levem-nos a fronteira e garantam que nenhum corpo vivo ou morto reste em minhas terras. General Graham, tenha a gentileza de amarrar a Princesinha na traseira de seu cavalo e traze-la junto a mim aos seus novos aposentos nada Reais.
Acenei e meu exercito começou a guiar os soldados de Diamante em direção a fronteiras junto com os Tenentes. Quando Graham terminou de amarrar a Princesa em seu cavalo já estávamos sozinhos no campo. Nos dirigimos em direção ao castelo, poderia nos transportar facilmente com magia, mas sabia o quanto a viagem seria mais dolorosa para ela deitada no lombo do cavalo.
Chegamos aos portões um pouco após o nascer do sol e como o esperado mais da metade do Reino se encontrava dormindo após a noite de bebedeira.
- General, leve nossa prisioneira para as masmorras e certifique-se que ela esteja desconfortável. – Sorri olhando-a de cabeça para baixo pendurada. – Não toque em um único fio de cabelo, ela é minha entendeu Duque?
- Sim Vossa Majestade. – Ele parecia aliviado por cumprir sua missão com vida. – Deseja mais alguma coisa?
- Se passar por algum criado chame por minha serviçal particular. Assim que o batalhão chegar dispense todos para o descanso merecido e certifique-se que as fronteiras estejam novamente sobre vigia. Desejo uma Reunião com o Senhor e seus Tenentes logo após a cerimonia final onde recolho a bandeira. E Duque, por hora pode descansar, tivemos uma noite longa e cansativa.
- Obrigado minha Rainha. – Após fazer uma nova reverencia saiu com a prisioneira no ombro.
Transportei-me aos meus aposentos Reais com magia e estava terminando de limpar a espada quando Natalie termina de preparar-me o banho, gostava de nossa interação, eu nunca precisava lhe expressar meus desejos, ela de alguma forma sempre sabia oque precisava fazer. Após um longo banho deitei e adormeci com aqueles olhos verdes em mente. Não poderia ser a profecia da fada uma verdade, meu coração se mantinha firme como rocha. Bobagem.
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