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História Um Epílogo Distante - Konoha East Side School - Uma manhã fria - Parte I


Escrita por: Sennin- e Uchiha_Sasuke

Notas do Autor


Essa fic tem um significado especial para mim: mais de 8 anos atrás, eu postei uma fanfiction chamada "Konoha East Side School" no Spirit, e ela está aqui até hoje. Como não tenho mais aquela conta, resolvi postar essa two-shot (o segundo capítulo sai logo mais tarde, ainda hoje) para trazer a conclusão que KESS tanto merecia. Foi necessário fazer algumas adaptações, mas é o mesmo universo, e sim, esse é o EPÍLOGO DISTANTE daquela fanfiction, cujo link está aqui: https://www.spiritfanfiction.com/historia/konoha-east-side-high-school-331107

Se quiser ler a original, fique à vontade, mas saiba que não é necessário ara entender a fic em si. Essa one é, assim como a minha "Fale Comigo", um "acerto de contas" entre eu e o meu passado.

A capa foi feita pela incrível @Ahros <3 E eu escolhi destacar NejiKarin e ShinoHina na capa justamente pelos comentários de 2012 no capítulo 9 (o último postado) da original: esses dois shipps em particular não foram muito bem recebidos. Daí, resolvi dar esse destaque justamente a eles. E aguardem o capítulo 2, teremos uma surpresinha, MWAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!

Sem mais delongas, boa leitura!

Capítulo 1 - Uma manhã fria - Parte I


 

SAKURA UZUMAKI

 

A camiseta branca no fundo do guarda-roupas seria a minha escolha da vez. Tinha uma estampa de pétalas rosas de cerejeira. Sakura. Estava perfeita; combinaria bastante com a calça jeans e os tênis brancos em meus pés. Peguei-a, fechei o guarda-roupa e me encarei no espalho. De fato, combinava.

O celular apitou pela segunda vez. “Não se atrase!”, Karin me pedia pelo mensageiro instantâneo. Juntar aquilo ao fato de, um dia, já tínhamos sido inimigas, apenas me fazia rir. Como éramos crianças bestas! Sim, sem dúvidas. Cada confusão que aprontávamos que só Kami sabia. O mesmo Kami que cuidara dos meus pais “lá em cima” pelos últimos oito anos.

A imagem deles amarrados num pilar do porão, sujos de sangue, já sem vida, me era dolorosa até hoje; vívida, até hoje. Ainda me lembro do instante em que aproveitara o descuido do invasor, pegara sua escopeta; quando se virou para mim, puxei com raiva o gatilho. Seu braço esquerdo agora tinha um rombo que o fazia urrar de dor. O impacto do tiro foi forte a ponto de fazê-lo cambalear para trás e cair, no mesmo instante em que dois policiais desciam as escadas e efetuavam a prisão daquele sujeito (que morreu na ambulância, a caminho do hospital).

Hitsuo, meu padrasto, era como um pai para mim. Saber que ele nem minha mãe estariam lá quando eu voltasse da escola, sendo o silêncio seria a única resposta (e quem não gostava de receber um “bem-vinda de volta!” para o tradicional “estou de volta”?), partiu-me ao meio.

Acho que o laudo do psicólogo forense estava errado: ficara traumatizada, sim. Impossível esquecer o sangue respingando em minha roupa, o rosto de meus pais amarrados como animais, e o desgraçado que fizera tudo aquilo. Impossível não olhar para as minhas mãos e não ver o sangue de minha mãe e de meu pai. Tocá-los, ainda quentes, mas já sem vida. Impossível.

Suspirava fundo. “Isso já passou. Você superou”. Às vezes, parecia não funcionar. Mas eu tentava.

Na época, conversava com Ino Yamanaka. Seu apoio me fez conversar com o promotor do caso, Dan Senju, sobre minha transferência para um internato – Konoha East Side School, o mesmo que a loira me indicara por MSN. Era fora de Tóquio, quase no interior do país. E aquilo mudou minha vida para sempre.

 

“Adeus, Tóquio. Hora de recomeçar.”

 

Konoha East Side School me mudou totalmente. Não digo somente pelo fato de ter ganho uma medalha do Prefeito regional por ter, junto de meus amigos, desmontado um esquema de corrupção monumental do então Diretor Orochimaru e alguns magnatas que visavam se apropriar das valorosas terras do internato; tampouco foi pelo excelente desempenho escolar que tive, apesar daquele trauma me castigar dia e noite. Foi por conhecer cada um dos meus amigos – e, entre eles, o homem pelo qual me apaixonei e com quem estava casada havia três anos.

— Sakura, já está pronta? — indagou, adentrando o quarto e me fitando com olhos profundos como o Mar do Japão; abraçou-me e me encarou sorridente, e logo nos voltamos ao espelho.

Seu sorriso acalentador e contagiante me cativava desde a primeira vez que o vi, ainda na Estação Ferroviária de Konoha. Falava ao celular dentro de um ônibus, o qual vi assim que desembarcara do vagão. Depois, naquela escola, quando Ino o cumprimentara espalhafatosamente (e ele respondeu do mesmo jeito. “Porca!!”, gritara à loira), aqueles olhos azuis hipnotizantes me fitaram: “Você é aquela garota bonita que vi hoje, ao passar perto da estação”.

Ele me achava bonita desde aquele dia. E eu lhe afirmava sempre que aquilo vinha à tona: fora recíproco.

— Claro, Naruto. Se nos atrasarmos, a Ino e a Karin nos matam — brinquei.

— Com certeza!

Naruto virou seu rosto para mim. Seu sorriso me contagiava. Dois beijos sólidos e suaves ainda à frente do espelho. Oito anos que nos conhecíamos, sete e meio de relacionamento “oficial” – dos quais, três de casamento. Era verdade, em Konoha East Side School, demoramos um pouco a engatar – tive uma queda por Sasuke Uchiha por um tempinho, mas não vingou: no final, meu coração era de Naruto.

Pegamos nossos agasalhos: fazia um frio gostoso naquela manhã em Konoha. Adentramos o veículo vermelho e seguimos ao nosso destino, não muito longe dali.

 

NARUTO UZUMAKI

 

De tudo o que Konoha East Side School me trouxe, com certeza a melhor era Sakura Haruno. Quem diria que essa coisa estranha de “amor à primeira vista” me pegaria de jeito; mesmo vendo, no início, como ela olhava para o Sasuke, não conseguia parar de pensar nela. Esse sentimento cresceu ao ponto de, quando o diretor Orochimaru caiu, eu chamá-la num canto e lhe confessar o que sentia. Falei-lhe dos poemas que lhe escrevia em segredo (entreguei-lhe todos), e que a queria feliz, independente do que acontecesse.

Foram seis meses vendo-a suspirar por Sasuke – embora ele sempre a ignorasse. Lembro-me de sonhar com ela toda noite. Olhá-la no banco do passageiro do carro, quase oito anos depois, fitando-me com um sorriso terno, mostrava que valera a pena me declarar naquele dia. Senti sua mão macia sobre a minha enquanto mudava a marcha do veículo, e cada toque seu me causava um arrepio gostoso.

Mesmo quase oito anos depois.

— Lembra-se do dia em que o diretor saiu algemado da escola? — indaguei-lhe enquanto fazia a curva, virando calmo o volante.

— E como eu poderia esquecer? — Fitou-me na resposta. — Foi o dia mais especial da minha vida. Nós salvamos a escola, e você me salvou.

Foi naquele dia que a puxei para uma conversa a sós e lhe confessei meu amor. Ela ficou boba no início, mas então me abraçou e, instantes depois, me beijou. Foi ali que iniciávamos nossa jornada que ultrapassaria a faculdade – Gakira University: eu em Administração; ela, em Direito.

Era até engraçado: hoje, em sociedade com Sasori Akasuna, gerenciava uma pequena loja de bicicletas, com serviço de oficina. As corridas na Montanha Ruiki, próximas do internato, não mais existiam (a polícia sempre patrulhava o local): agora, tínhamos um parque com uma pista especial para as bicicletas. De noite, o parque ficava isolado e, com a autorização da prefeitura (lógico, salvar o internato contribuiu para conversarmos com o Prefeito), os mais jovens faziam suas corridas no recinto.

Sim, já fora um informante da polícia antes mesmo de entrar em East Side, mas salvar Sasuke me fizera “mudar de lado”. Algo estilo “Velozes e Furiosos”.

Sasuke era o melhor naquela montanha, mas deixou tudo de lado quando sofreu um acidente que o deixou de cama por alguns meses. Assim, foi perdendo o interesse em pedalar novamente, além de a universidade se aproximar e o futuro bater à nossa porta. Na época, um futuro incerto, nebuloso. Um futuro que não vimos chegar.

Mantive-me na cena até o fim do “Passeio Ruiki”, como chamávamos aquela “brincadeira” nossa. Até por isso, tive uma conversa com o prefeito, que acabou cedendo. Ao menos, o desejo de Sasuke de que as corridas continuassem, sem qualquer interferência brusca, ficaria de pé.

“Bicicletas Uzumaki-Akasuna”, era o nome da loja. Tinha-a havia dois anos, e aquele era meu trabalho dos sonhos: mexia com o que jurava ter nascido para mexer. Mecânica de bicicletas. Em verdade, eu tinha a vida que sempre desejei: trabalhava com o que eu gostava e estava com quem eu amava; mal acreditava que, apesar dos perrengues na escola e na faculdade, Sakura e eu atravessamos aqueles oito anos juntos.

Pensava nisso quando batemos ao portão social escuro daquela casa que era a maior do bairro mediano.

Pois não? — indagou-nos a voz grave e máscula ao interfone. Uma voz muito familiar.

— Naruto e Sakura — respondi, sentindo a rosada segurar minha mão.

O som do destravar do portão ecoou segundos depois.

 

SASUKE UCHIHA

 

Há quanto tempo não pisava em Konoha. Desde que me mudara para Shikoku, em razão da faculdade de Robótica, não tinha vindo para cá sequer uma vez. As pessoas ainda me conheciam – algumas haviam guardado a matéria impressa no jornal local; cumprimentavam-me pelo feito heroico de anos atrás.

— Tem o endereço fácil aí, perfeição? — A voz da de cabelos castanhos, presos em dois coques, tirou-me do transe de olhar pela janela do trem. Em poucos minutos, desembarcaríamos.

— Tenho sim, lindeza — respondi-lhe, puxando o celular do bolso e consultando a mensagem recebida de Karin dias atrás. Suspirei enquanto lia o endereço enviado pela ruiva para todos nós. — Aqui.

Ver o sorriso de Tenten me recordou do dia em que a conheci. Estávamos naquela aventura de derrubar o diretor, mas suas habilidades para coisas cibernéticas eram fora de série. Eu não percebia, mas aos poucos deixava de lado minha pequena atração por Sakura Haruno (hoje, feliz com meu melhor amigo – sempre soube que ficariam juntos no final: sempre torci por eles) e meus pensamentos passavam a remontar aquela garota com um peculiar corte repartido chinês. Naqueles seis meses, oito anos atrás, de luta para derrubar Orochimaru, Tenten abrira não só o cofre do diretor corrupto, como também o meu coração.

Percebi isso somente no último ano do colégio. Entretanto, ainda era fraco: não consegui lhe dizer o que sentia (nem ela conseguiu me dizer: entretanto, sabia que nós não teríamos ficado “somente na amizade” em Konoha East Side School). Que dor no coração embarcar no trem para Tóquio (e, de lá, para Shikoku) com aquela angústia no peito. Que besteira eu (não) havia feito. Aceitei que era tarde, que jamais vacilaria de novo.

Parecia, então, que o destino havia me dado uma nova chance: Tenten estava no mesmo curso, na mesma universidade que eu. Não vacilaria de novo. Começamos a sair, e aquela amizade fraca que tínhamos como colegiais floresceu bruscamente como universitários. Uma vez, acabamos nos beijando por um escorregão meu, e ficamos ambos um pouco desconcertados com a situação. Entretanto, aquilo me dera a certeza do que sentia por ela.

Ingressamos numa competição nacional de robótica no penúltimo ano de faculdade (recordo-me perfeitamente): dez integrantes, dos quais Tenten e eu fazíamos parte. Como (experiente) líder, organizei nosso projeto detalhadamente, de modo que vencemos a disputa. Foi uma grande festa para a universidade. No palco, enquanto pulávamos alegremente com as medalhas douradas, chamei Tenten para segurar o troféu.

Perfeição.

Enquanto ela o erguia, abracei-a por trás. “Amo você, Tenten Mitsashi”, sussurrei-lhe, ao que abaixou imediatamente o objeto e se virou para mim; selamos nossos lábios em rede nacional, segurando juntos o troféu de vencedores.

Acontecera quase três anos atrás, mas me recordava como se tivesse sido ontem.

— Finalmente de volta, hein? — comentou Tenten Mitsashi, atualmente minha noiva, levantando-se do assento para desembarcarmos.

— Pois é. Como será que o pessoal está? Fomos os únicos que seguiram para o sudeste do país. — Minha pergunta rondava minha cabeça desde que pisara no trem, com as passagens ainda em mãos.

Mãos dadas. Jamais imaginei que desceria de um trem daquele jeito, tampouco que atravessaria a estação daquele jeito, muito menos que embarcaria no táxi daquele jeito. Daquele jeito.

Demos o endereço ao motorista. Fazia frio naquela manhã, mas estávamos bem agasalhados; o vapor se condensava nas janelas do veículo, permitindo-nos desenhar com os dedos algumas bobagens e outras piadas internas.

Não tardou para chegarmos ao destino. Dois carros, um vermelho e um cinza, encontravam-se estacionados  em frente ao portão social escuro daquela casa (a maior do bairro):

Pois não? — indagou-nos a voz grave e máscula ao interfone. Uma voz muito familiar.

— Sasuke e Tenten — respondi. Agora, de braços dados com ela, olhávamos entre os dois beijos.

O som do destravar do portão ecoou segundos depois.

 

TENTEN MITSASHI

 

Entrar naquela casa de braços enlaçados com Sasuke Uchiha ainda parecia surreal, apesar de fazer três anos desde que ele me pedira em namoro no dia em que vencemos a disputa de robótica. Sinto até hoje o arrepio daquela vez a cada segundo ouvindo sua voz, principalmente se for algo mais íntimo ou sussurrado.

Lembro-me de ter nutrido um pouco de sentimentos por ele em Konoha East Side School, apesar de saber, na época, que Sakura gostava dele. Não conseguia deixar de pensar naquilo, mas, afinal: o que eu tinha a oferecer, além de ser uma garota nerd, apaixonada por circuitos elétricos, informática, e tudo o que envolvia a área de automação e robôs? Seria tão errado assim assistir sempre inúmeras séries e animes mecha, sonhando com aquelas máquinas de metal?

No dormitório, passava horas da madrugada vendo os combates, imaginando-me a bordo daquelas coisas gigantes com lasers e tudo o mais que tinham direito. Adorava aquilo, mas acho que Sasuke não gostava muito. Aliás, achei errado.

Já na faculdade, quando ele me chamara para sair um dia, fomos a um café. Até então, éramos bons amigos e nada mais: tínhamos um passado de três anos juntos que incluía a derrubada de um diretor corrupto. Nada de mais. Entretanto, naquele mesmo dia, começamos a fugir do assunto do passado, falamos sobre um monte de coisas que jamais imaginei conversar com alguém – menos ainda se esse alguém fosse Sasuke Uchiha.

No dia em que tropeçara em mim (ele diz que foi um escorregão, mas é mentira), senti seus lábios pela primeira vez. O medo me tomou de supetão e fiquei atônita com aquilo. Nunca tocamos no assunto, e confesso que quase deixei a competição de robótica de lado por causa daquilo – você dá um beijo não consentido na pessoa e, de repente, descobre que ela será líder do seu grupo.

Ainda bem que não o fiz.

Apesar da vergonha em rede nacional, ter os lábios de Sasuke nos meus reacendeu aqueles velhos sentimentos que eu jurava terem morrido; de início, resisti, mas ele estava ali, diante de mim, pouco se importando com o que sairia nos jornais ou na boca das pessoas. Sim. E eu só queria uma boca na minha: a boca de Sasuke Uchiha. Entreguei-me naquele instante, naquele sorriso, naquele olhar do moreno. Meu Kami, como era bom!

E aqui estávamos, três anos depois daquele episódio, esperando nossos velhos amigos abrirem a porta da casa.

 

KIBA INUZUKA

 

Aquela manhã meio fria me dava um pouco de alergia. Uma tosse leve me acompanhara do momento em que acordara até que, após o banho, vesti-me com a tradicional camisa preta. De praxe.

Encarei cada canto de meu reflexo no espelho: o cabelo mais crescido, o sorriso arrebatador de caninos de renome. Em nada lembrava o cara que quase morreu pra Tenten por lhe dar uma paquerada e quase brigou com Neji... no mesmo minuto, praticamente. Ainda bem que tudo aquilo havia ficado para trás.

A tela do celular apitava. “Estou pronta”, dizia minha loira na mensagem. Um sorriso enorme se abriu em meu rosto, principalmente quando lhe respondi que já estava a caminho. Olhei-me mais uma vez no espelho, recordando-me do dia em que a polícia adentrou o colégio para prender o diretor Orochimaru. No instante em que as viaturas estacionaram com suas sirenes e giroflex ligados, quando o pânico tomou os alunos, vi Ino Yamanaka perdida: a chegada repentina da polícia não estava em nossos planos (ou ao menos se esqueceram de contar para nós dois). O plano de Sasuke teria dado certo?

“Estou com medo, Kiba!”, exclamou-me Ino, num canto do pátio em que vários alunos brigavam entre si. A gritaria generalizada. A baderna. O sentimento de não saber o que fazer, para onde correr. Ela tinha um medo especial, principalmente por ter vivenciado de perto a tragédia da queda das Torres Gêmeas: ainda era uma criança quando seus pais se perderam dela, por algumas horas, no caos logo após o primeiro avião...

 

... deixa pra lá. O que importava era que Ino estava com um pavor surreal: a desordem, a baderna... o caos.

 

Ino tinha pânico do pânico.

 

“Eu te protejo, Ino”, segurei-lhe as mãos naquela manhã confusa. Prensei-a contra a parede, usando meu corpo de escudo contra qualquer coisa que pudesse nos ameaçar ali. Entretanto, um de frente para o outro; nossas faces coravam pela proximidade. Os rostos, os olhares, e naquele instante, naquele minúsculo instante entre nós dois, o pânico desapareceu. O mundo desapareceu. Ouvíamos o coração um do outro, um som que nos aproximou ainda mais, até tocarmos as testas. Nenhuma palavra, apesar das bocas semiabertas. As mãos de Ino me puxando levemente; nossos lábios se selando, se roçando, numa tímida e discreta felicidade em meio a todo aquele caos.   

Eu estava lá com ela. Eu estava lá para ela. Eu estava lá por ela.

 

Por ela.

 

Em poucos minutos, já me encontrava dentro da caminhonete preta. Suspirei fundo e girei a chave no contato da ignição. O escapamento tossiu uma grossa nuvem de fumaça negra (Diesel), e o ronco do (bem) antigo V8 importado dos EUA soou pela garagem aberta. Entre os bancos e o aço da (larga) caçamba, alguns medicamentos e meu jaleco, ainda da faculdade de Medicina Veterinária. Olhei uma última vez o celular antes de pôr minha atenção às ruas.

Não demorou muito para chegar na casa de Ino, que já trancava a porta e vinha em minha direção: vestia o moletom roxo (seu favorito), sua calça jeans escura (que dava um volume maravilhoso às coxas), e um par de allstar brancos. Os olhos turquesa me encararam ao bater a porta. Já sentada no banco dos passageiros, cumprimentou-me com um beijo ardente de língua... de praxe. Um beijo provocante, gostoso e sem deixar de lado a ternura essencial de Ino Yamanaka.  

— E aí, amorzão? Vamos? — disse-me antes de me selar novamente os lábios.

— Claro! Estava só te esperando, maravilha. — Engatei a marcha e partimos, atravessando a cidade.

Os sorrisos mútuos que trocávamos eram ainda mais apaixonados que os de oito anos atrás. O fogo se mantinha o mesmo, apesar de nosso relacionamento ter tido altos e baixos (todo relacionamento tem, sei muito bem disso). Ser noivo de Ino Yamanaka, posso dizer, era a melhor coisa da vida.

Não demoramos muito para chegar a nosso destino. Estacionei logo atrás do hatchback vermelho de Naruto e Sakura. Já eram cerca de oito e meia da manhã. Talvez apenas aqueles dois tivessem chegado; talvez mais gente tivesse vindo sem carro. De qualquer forma, o interior da residência não estava parado: reconheci, quase que instintivamente, a risada de Naruto, ao que Ino e eu nos olhamos com o nome do loiro na ponta da língua. Em uníssono.

— Ele sempre riu assim, não foi? — indagou-me.

— Era todo dia isso, desde o reformatório lá em Akita — respondi-lhe entre risos. Trancamos a porta do veículo e, antes de pressionar o botão do interfone, beijamo-nos mais duas vezes.

O som da campainha ecoou pela casa, ao que ouvimos uma voz grossa ao interfone:

Pois não? — indagou-nos a voz grave e máscula ao interfone. Uma voz muito familiar.

— Kiba e Ino — respondi. Demo-nos mais um beijo.  

O som do destravar do portão ecoou segundos depois.

 

INO YAMANAKA

 

Ser noiva de Kiba Inuzuka... como posso descrever isso além de ser a melhor coisa da vida?

Todo dia, quando eu levantava, ainda me sentia como se acordasse de um pesadelo. Em verdade, o pesadelo quase fora real.

Ao fechar dos olhos, naquele fechar de olhos, via-me de volta ao caos de minha infância, quando meus pais sumiram de minha vista; pior, foi reviver algo semelhante, quando a polícia invadiu o colégio para prender Orochimaru, que havia ordenado a vários alunos que badernassem o quanto fosse. Lembro-me do pânico de ser derrubada, de ser pisoteada, enquanto Sasuke, Naruto e os outros adentravam o prédio principal e seguiam rumo ao cofre (onde se encontravam vários documentos comprovando os crimes de Orochimaru).

 

No fim, quem mais gostava de chamar a atenção (eu), queria passar o mais despercebida possível.

 

Por sorte, eu tinha Kiba. Naquela fase final, já havíamos feito nossa parte no plano, mas o caos nos impediu de ficarmos em paz. Quando ele me prensou contra a parede, protegendo-me; quando nossos rostos se aproximaram mais do que deviam; quando fechamos os olhos. Cada instante que antecedeu o nosso primeiro beijo me era uma lembrança única. Aliás, foi o beijo de Kiba que me tirou das trevas, do medo, de tudo. O arrepio que me percorreu quando senti seus lábios nos meus foi revelador. Meu Kami. Naquele momento, eu apenas me perguntava por que não o tinha beijado antes, por que não havia me salvado antes.

Tudo bem. Oito anos de altos e baixos, e nos últimos tempos, temos uma estabilidade que imaginei ser alcançada apenas em filmes e novelas. Eu estava errada. Estava apaixonada, mesmo após oito anos.

Vê-lo dentro da caminhonete virara uma cena comum de minha semana. Eu amava aquele cheiro característico que ele deixava no veículo, um cheiro quente que impregnava suas roupas. Seu perfume destrancava meu nariz da rinite, enquanto seu abraço me esquentava, independentemente do tanto de frio.

 

SHINO ABURAME

 

Foi numa manhã fria como essa, no último dia de aula. Ah sim, recordo-me perfeitamente. 8 anos atrás. A festa dos alunos no grande pátio aberto da escola, uma comemoração sem precedentes; Tsunade Senju tomou o colégio para si, substituindo o então diretor-interino Jiraiya (que entrou no lugar de Orochimaru). De alguma forma, o clima estava bem mais ameno do que o caótico período de Orochimaru, bem como quanto aos meses de reconstrução do colégio.

Fogos de artifício inundavam o céu da noite com brilhos e estouros de alegria e comemoração. A presença no pátio ao redor do prédio principal era quase uma obrigatoriedade. Todos os alunos, bem como os funcionários, tiraram aquela noite para celebrar um verdadeiro renascimento financeiro e moral de Konoha East Side High School. Mesmo o ar trazia uma pureza que não se respirava havia muito tempo.

Por sorte, no início daquele ano escolar, Sasuke havia me chamado das férias do Conselho Estudantil. Tudo bem que ele não era o presidente na época (Tayuya ocupava aquele posto), mas meu respeito por sua postura dentro da escola falou mais alto do que minha posição como membro discreto e privilegiado da escola. Lembro-me de quando peguei o táxi para a escola e cheguei à oficina – um local meio estranho para uma atividade em grupo. Quando me explicou o plano de se livrarem do então diretor Orochimaru, fiquei surpreso, não só com a complexidade do plano, mas também com um par de olhos perolados que, para ser sincero, eu já observava havia um tempo.

Entretanto, no dia daquela comemoração, havia saído para dar uma volta pelos cantos mais silenciosos do colégio: a oficina, onde armamos todo o plano, agora se encontrava quase totalmente silenciosa – não fosse por alguns insetos que visavam às lâmpadas incandescentes acesas. Ouviam-se os fogos de artifício, mas agora como sons mais distantes e abafados. Era o mais próximo que se teria por paz naquela noite.

Esbocei um sorriso quando vi todo o prédio fechado – agora, utilizado somente para aulas de mecânica. Um longo suspiro no ar gélido da noite, um pouco impregnado do cheiro de pólvora festiva.

Sentada sobre a mureta da fonte, uma morena encapuzada observava solitariamente os fogos subirem aos céus e explodirem como um estalo efêmero e intenso.

— O que faz por aqui, Hinata? — Indaguei-a, fazendo a tímida moça se virar para mim com seus olhos perolados.

— T... talvez... fazendo a-a mesma coisa que você — respondeu-me. Ela sempre fora bem introspectiva e sempre gaguejava quando falaria algo. Conversando rapidamente com Sakura, descobri que aquela gagueira era psicológica, e passei os últimos meses procurando ajudá-la discretamente, sem nem mesmo ela saber. — P-por que não está... com os outros?

— Eles estão bem, sem mim. — Virei-me para cima, para o céu, enquanto me sentava ao seu lado. Próximo. Um calor subia por meu corpo, isso que mal vestia o agasalho do colégio. — E quanto a você?

— Talvez eles... não precisem de mim.

— Hinata, você é muito insegura de si e quanto ao mundo. É verdade que existem pessoas más, mas existem pessoas boas, também. Hinata, não deixe seus medos te dominarem. Talvez isso melhore até seu gaguejar.

— V... você... tem razão. — Acho que, pela resposta, eu havia tocado em alguma ferida: o semblante de Hinata se desviou por alguns segundos de meu rosto, permanecendo em silêncio. —... Tem toda a razão.

— Eu entendo você. De verdade. Sou de falar pouco justamente por não aguentar mais ser ignorado pelos meus “amigos”. Sinceramente, a pessoa com quem mais gosto de conversar é você.

—E-eu...? — Apontou para si mesma, com um olhar assustado.

— Sim. Seu pai temia por sua segurança, e quando ele me pediu secretamente para te proteger de Danzou Shimura, que estava no esquema com o Orochimaru, não pude recusar: era uma oportunidade de me aproximar de você, conhecer-te melhor. Hinata, eu adoro cada conversa nossa, nem que seja um “oi”.

— Shino...! — O rosto de Hinata se ruborizou totalmente. O olhar se voltou para mim vagarosamente, enquanto uma das mãos tirava a mecha negra da face. Perto.

— E... eu acho você linda... inteligente... bonita... e eu sempre quis — Suspirei enquanto me virava para seu rosto novamente. Naquele instante, nossos rostos se aproximavam cada vez mais. —... uma chance de te dizer isso. E sempre que você cair, eu estarei lá para te ajudar a levantar.

—... Shino.

Quando dei por mim, meus lábios já roçavam os dela. Permanecemos dois longos minutos naquela posição, naquele efêmero instante em que fogos de artifícios estouravam enquanto nos encontrávamos, nos sentíamos; aproximamos nossos corpos um do outro, nossos braços nos pressionavam um contra o outro carinhosamente. O segundo beijo, ainda mais demorado que o primeiro, e o rubor de Hinata apenas a tornava mais linda ainda. O terceiro, com uma carícia pura em seu rosto angelical – enquanto seus dedos passeavam entre meus cabelos castanhos.

Amargo era como eu gostava de tudo que fosse comer ou beber. Os chocolates, as comidas, e o beijo de Hinata Hyuuga. Descobri-la daquela maneira apenas me fez mais e mais vontade de ficar ai para sempre, querendo explorar cada canto daquele paraíso que era sua boca.

Acabamos indo para a mesma universidade: cursei Engenharia da Computação e, ela, design de interiores. Hoje, Hinata era uma maga em seu ramo, assim como eu no meu. Éramos bons no que fazíamos, em tudo.

No penúltimo ano de faculdade, acabamos nos casando.

Agora, três anos depois daquela data especial, estávamos diante do portão daquela casa.

Pois não? — indagou-nos a voz grave e máscula ao interfone. Uma voz muito familiar.

— Shino e Hinata — respondi. Demo-nos mais um beijo. 

O som do destravar do portão ecoou segundos depois.

 

HINATA ABURAME

 

Nunca me esqueceria daquele momento em que Shino e eu nos beijamos. A última noite do período letivo – o dia seguinte seria livre aos alunos para embarcarem na viagem paga pelo colégio ao acampamento de férias.

Sentar-me à fonte era a melhor maneira que eu tinha de passar um tempo sozinha, principalmente após aquele ano maluco. Quase todas as noites de sexta eu vinha para cá, e naquela que era a última sexta-feira letiva do ano não seria diferente. Em verdade, seria: os fogos de artifício acabavam me roubando um ou outro sorriso – eles eram sinônimo de felicidade, e de fato estava feliz.

Tudo bem: algumas coisas não haviam acontecido como eu imaginava: nunca consegui me declarar para o Shino – ah, ele era perfeito em tudo o que fazia! Desde que o dia em que planejávamos derrubar Orochimaru, sua aura misteriosa e a conversa desafiadora me intrigaram a tal ponto de querer conhecê-lo melhor, ver um Shino sem aqueles óculos escuros e com os braços à mostra (na verdade, poderiam ser muito mais coisas à mostra). Durante a execução do plano, aproximamo-nos mais, mas talvez nenhum de nós tínhamos coragem de dizer o eu sentia um pelo outro.

Timidez, insegurança, ameaça à minha vida. Tinha tantos problemas naquela época que mal podia mensurar o tamanho do rochedo diante de mim. Com a queda de Orochimaru, descobrimos que Danzou era o chantagista contra meu pai, mas ainda assim a insegurança e o medo de tudo me dominavam. Fui perdendo-os aos poucos, um pouquinho a cada dia.

Entretanto, Shino Aburame acabou com tudo isso naquela curta frase, no alto da noite: “sempre que você cair, eu estarei lá para te ajudar a levantar”.

E foi aquilo que me fez subir ao altar com ele, anos depois. Hinata Aburame.



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