No dia seguinte ao encontro com Matt, estava preparando o almoço quando Emma juntou-se a mim para me ajudar. Revolvi contar sobre o dia anterior, uma vez que quando cheguei, ela estava cansada demais e dormiu cedo.
— Como assim você e Matt saíram? Me conte tudo e não ouse esconder nem um detalhe.
— Você acha que lembro de todos os detalhes, Em? — disse, rindo de sua animação.
— Ele disse que queria conhecer minha casa, amiga — Emma lançou-me um olhar divertido e rimos.
— Matthew Donovan é um atrevido sem escrúpulos! Eu nunca mais me sento naquela cama!
— Ficou maluca, Emma? Acha mesmo que eu traria Matt para nossa casa, ainda mais para isso? — Olhei-a com a sobrancelha arqueada e ela riu.
— Claro que não, estou apenas brincando.
Não sabia se deveria contar a Emma sobre Damon ter aparecido, temia que ficasse mais paranoica. Decidi por contar mais tarde caso houvesse a oportunidade. Terminamos o preparo do café e fomos comer, enquanto Emma me contava a respeito da reunião que tivera no dia anterior e o que estava preparando. Sentia orgulho de Emma, por estar inserida em um mercado de trabalho tão concorrido e ser composto majoritariamente por homens, e mesmo assim ser tão bem sucedida.
Nos dividíamos na lavagem e secagem da louça quando ouvimos a campainha tocar. Nos olhamos confusas por nenhuma de nós estarmos esperando visitas, mas resolvi atender. Pensei que poderia ser um novo cliente com um caso para eu resolver e abri a porta.
O indivíduo parado em frente minha casa não aparentava ser um cliente, a não ser que Damon estivesse com problemas e precisasse de minha ajuda.
— Aprendeu a tocar a campainha? — perguntei sarcástica.
— Precisamos conversar. — Disse. — Posso entrar?
Ponderei sobre a situação e olhei para Emma, que me encarava com curiosidade. Fechei a porta na cara de Damon e me virei para minha amiga. Gesticulei com os lábios o nome de Damon e Emma arregalou os olhos assustada. Subiu as escadas e sussurrou um “deixe entrar”. Abri a porta novamente e o encontrei fitando o chão, com as mãos no bolso da calça, e dei espaço para que entrasse.
— Essa é a primeira vez que não invade minha casa e não é para dizer que irá acabar comigo. Deve ser importante. — Me sentei na poltrona e lhe indiquei o sofá. — Você tem cinco minutos.
— Consideremos isso uma pequena trégua.
— De novo?
— Essa é permanente. — Disse, esboçando um sorriso de lado. — Acho justo que queira o dinheiro que foi usado para matar seus pais. No entanto, ele foi prometido à minha família.
— Você veio até minha casa e tocou a campainha com a finalidade de tentar me convencer de que merece ficar com o dinheiro? Ou de tentar me impedir? Não imaginava que me considerava uma ameaça. — Cruzei os braços e o encarei com a sobrancelha arqueada.
— Não, Elena. Eu vim fazer um acordo.
— Não tenho interesse em fazer mais nenhum acordo com você. — Rebati, me inclinando para frente. — Descobrirei quem mandou matar meus pais e conseguirei o dinheiro. Não queira fazer disso uma competição, Damon, sabemos que estou à muitos passos em sua frente.
— Não vim te impedir de ir atrás desse dinheiro, vim propor de irmos juntos. Nós dois merecemos esse dinheiro e, se concordar em achar essa pessoa comigo, dividiremos o valor por igual.
— O que eu ganho com isso? — desafiei-o com o olhar.
— Quito nossa rixa familiar e paro de planejar em acabar com você. Terá suas noites de sono de volta, eu sei que não tem dormido direito. — Encostei-me na poltrona e cruzei minhas pernas, pensando. Olhei para cima das escadas e vi Emma fazendo um gesto positivo com as mãos.
— E se eu não tiver interesse em nada disso?
— Eu sei que tem. — Diz e dá de ombros.
— Se ousar em mentir para mim uma única vez, eu te mato com as minhas próprias mãos.
Foi a vez de Damon sorrir vitorioso, levantando e se direcionando para a saída.
— Olha só, precisei de apenas quaro minutos para te convencer. — Se gabou, piscando para mim.
— Posso mudar isso.
— Tenha um ótimo dia, parceira.
Após alguns minutos que Damon saíra pela porta, certifiquei-me de que realmente havia ido embora e chamei Emma para sala.
— Desculpa ter ouvido a conversa, Lena, mas era tentador demais. — Emma deu um sorrisinho e eu sorri, dando de ombros.
— Está tudo bem. Pelo menos não terei que passar tudo para você. — Bufei ao pensar no que tinha acabado de concordar. — O que acha de tudo isso?
— Você é a detetive aqui, Elena, o que deu em você? — brincou, me dando um tapa fraco no ombro e rimos. — Acho que deve arriscar. Se ele não estivesse desesperado, não viria até você para pedir ajuda. Você poderia usar isso contra ele.
Concordei com a cabeça passei a pensar naquilo. Eu precisava de um plano para testar Damon.
— Aliás, ele é muito bonito e atraente — Emma me cutucou, levantando as sobrancelhas e olhei-a com nojo.
— E não se esqueça de assassino!
Apertei suas bochechas, sabendo que aquilo a irritava e ela revirou os olhos. Nos despedimos e subi para meu quarto para tomar um banho.
Durante o banho, passei a mão pelo ferimento causado há apenas alguns dias e que já estava cicatrizado. Apenas alguns dias atrás, Damon era uma incógnita para mim. Continuava sendo, mas pelo menos agora sei o rosto de quem estou lidando. Não sabia se estava fazendo o certo concordando em trabalhar novamente com ele, mas a essa altura eu não me importava mais. Eu tinha que descobrir os segredos de meus pais, o motivo pelo qual mandaram os assassinar, e se a condição para que isso acontecesse era juntar-me a Damon, então eu não tinha escolha.
Na manhã seguinte, acordei com o toque do meu celular que vibrava no pequeno móvel perto de minha cama. Olhei com dificuldade no visor e vi o nome do capitão Gregson brilhando. Antes de atender, verifiquei as horas e não pude acreditar que estava sendo acordada as 5:30 da manhã para resolver coisas de trabalho.
No dia anterior, foi anunciado no jornal sobre um homicídio na rua Baker Street. Eu sabia que a polícia estava atrás no criminoso, então, me aproveitado da existência desse caso, enviei uma mensagem para Gregson na noite passada, informando que tinha o nome de um suspeito do crime, portanto, já sabia sobre assunto que ele iria tratar. Respirei fundo e atendi a chamada.
— Bom dia, srta. Gilbert
— Bom dia, Gregson. Seja objetivo, por favor. — Tobias não costumava ser direto em seus discursos e, naquela hora da manhã, era tudo que eu não precisava.
— Vi sua mensagem a respeito do suspeito do homicídio na Baker Street. Preciso de todas as informações que obtiver. — Disse apressado e sentei-me na cama para pensar com mais clareza.
— Anote tudo e preste bem atenção, pois não conseguirei repetir. — Murmurou em concordância. — Seu nome é Damon. Cabelos pretos, olhos azuis, pele branca. Cerca de 1,80 m de altura e aproximadamente 70 kg.
— Mais alguma informação, Gilbert?
— Possui um Chevrolet Camaro conversível 1969.
— Certo. Caso lembre de mais algum detalhe, me notifique imediatamente. Estamos indo atrás dele. Quando o encontrarmos, venha para a delegacia para assistir o interrogatório e tirar suas conclusões.
— Mantenha-me atualizada. — Disse e desliguei o telefone.
Sabia que, com essas informações, seria fácil para Gregson e sua equipe encontrar Damon, e era disso que eu realmente precisava. Damon não era uma pessoa confiável, portanto, teria que testá-lo, colocando-o em uma situação de perigo para avaliar sua lealdade e honestidade.
Desci até cozinha e o cheiro de bolinhos assando estava delicioso.
— Meu Deus, Elena, que susto! — exclamou Emma, colocando a mão no coração ao me ver apoiada na mesa e eu ri. — Ah ótimo, você acabou de estragar minha surpresa. Estou preparando bolinhos de chocolate que você gosta para o café da manhã.
— Desculpe, Em. Eu também não queria estar acordada a essa hora! — rimos e me sentei.
— O que te acordou desta vez?
— Gregson me ligou. Terei de comparecer à delegacia mais tarde para assistir a um interrogatório. — Emma assentiu. — Tem algo programado para hoje?
— Estou com a agenda livre. Por quê?
— O que acha de ir comigo no trabalho? — mordi um bolinho e esperei a resposta de Emma, que parecia analisar a proposta.
— Eu acho maravilhoso! Estava com saudades das investigações.
Passava das 15 horas quando Gregson me ligou, informando que estavam com o suspeito e pedido para que eu fosse encontrá-lo na delegacia como combinado. Emma e eu não demoramos a sair e logo chegamos no local.
Emma e eu entramos na escura sala de testemunhas e nos juntamos ao capitão Gregson que nos esperava. Avistei Damon do outro lado do vidro com um outro inspetor da polícia que iria interrogá-lo. Mesmo eu sendo capaz de assistir toda a cena, Damon não podia me enxergar de volta, uma vez que para ele era um espelho.
No entanto, de alguma forma, Damon estava ciente de minha presença e olhava fixamente para o vidro, acertando o olhar em mim diversas vezes. Enquanto o policial o indagava, ele respondeu apenas sobre onde estava na noite e horário do crime. Qualquer pergunta fora essa, era respondia apenas com “só respondo na presença de meu advogado”, sem tirar o olho do espelho.
Passei a perceber, então, que sua mão se movimentava com frequência, em uma sequência repetida. A princípio julguei ser nervosismo e até permitir me vangloriar. Mas então consegui compreender que se tratava de códigos, códigos estes que eu havia aprendido a decifrar em meus cursos e experiências. Peguei um papel e comecei a anotar os sinais que percebia. Pontos, traços, repetidos e espaçados, abria a mão quando era para separar as palavras.
Traduzi os códigos conforme ia entendendo e sorri satisfeita com o resultado.
“Estou do seu lado”
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