História Um Extraordinário Você - 2. Sentimento inevitável.

Os três se encontravam em baixo de uma cobertura ao lado do hotel, ali existiam várias coisas feitas de madeira e até mesmo facas, rédeas, entre outras. Provavelmente para os moradores que tinham animais de fazenda ali por perto. Hyunjin estava pensando em talvez levar alguma escultura de madeira para sua tia, elas eram bem bonitas, valia a pena. A esquerda dessa pequena cobertura, tinham as árvores e um caminho entre elas para as pessoas que decidiam colher, assim não se perdiam, já que era um terreno enorme só de árvores de tangerina. 

Estavam prontos para começar a colheita das tangerinas e Jeongin era o mais animado, tinha colocado até mesmo um macacão para entrar no clima e junto um blusão cinza já que estava bem frio e, na cabeça, estava com um chapéu de fazendeiro, por algum motivo desconhecido já que não tinha sol, mas acabou rendendo boas risadas de Sunian e Hyunjin que aguardavam para receberem as cestas.

– Não é para rir! - reclamou, sentindo-se extremamente ofendido. Seu chapéu era lindo, como podiam rir?

– Por que você colocou esse chapéu, Jeongin? – perguntou Sunian, ela não conseguia acreditar que ele achava aquilo bonito. 

– Você está fofo. - Hyunjin acabou dizendo, sem filtro algum, o que fez Jeongin ganhar um rubor mais avermelhado nas bochechas e acabar esquecendo de responder Sunian. Jeongin não sabia reagir quando recebia elogios, ficava tímido e só nesse dia Hyunjin tinha o enchido de elogios. 

Nada mais foi dito depois daquilo, já que logo em seguida um dos fazendeiros veio para entregar aos visitantes as cestinhas para pôr as tangerinas colhidas. 

– Bom, eu já vou ir descansar agora, aproveitem! - Sunian se despediu, mesmo com um pé atrás sobre deixar os garotos sozinhos. Mas, deveria confiar, eles já eram bem grandinhos.

Os meninos se despediram de Sunian e começaram a ir em direção as árvores, elas aparentavam ser bastante saudáveis mesmo de longe. Jeongin carregava em uma bolsa um pequeno caderno para desenhar o esboço de alguma coisa bonita que visse, para assim poder pintá-la em uma das telas que trouxe mais tarde e bom, com certeza desenharia alguma daquelas árvores. Hyunjin havia percebido só agora aquela bolsa, acabou achando-a bem a cara de Jeongin já que ela era de raposa.

– Você é de fato um menino-feneco e o mais fofo que já conheci. - confessou Hyunjin. Jeongin indagou com um breve "hm?" após tal comentário. Aquilo era um elogio ou ofensa, afinal de contas? Não sabia, mas o coração do pobre Jeongin estava acelerado por mais uma vez ter sido chamado de fofo. Nessa altura Hyunjin queria saber porque essas reações de Jeongin mexiam tanto consigo, afinal, era só mais uma pessoa comum, não deveria lhe tocar tanto. –  Quantos anos tem, Jeongin? - questionou pela primeira vez, apenas para mudar logo de assunto.  

– E-eu tenho dezesseis. - após ter revelado, aquilo espantou um pouco Hyunjin, apesar de já ter ideia que seria mais ou menos em torno daquilo, Jeongin não parecia ser tão velho mesmo sendo meio altinho. Jeongin, por seu lado, estava apenas ocupado praguejando por ter gaguejado. – E... você tem quanto? 

– Dezenove. - aquilo foi ainda mais surpreendente para Jeongin. Em sua cabeça, Hyunjin não tinha cara de ter tudo isso, seu rosto era um pouco infantil e fofo demais, Jeongin jurava que ele seria só um ano mais velho. – Eu tinha quatro anos quando você ainda tava na barriga da sua mãe. 

– Whoa... Você quer que eu te chame de hyung então? - logo teve sua pergunta respondida com um aceno de Hyunjin. –  E desde quando você conhece a minha vó, hyung? - indagou, agora ainda mais curioso sobre a vida do mais velho. 

Hyunjin ficou um pouco intrigado sobre o sentimento que lhe adornou quando Jeongin o chamou de "hyung", não sabia explicar mas era algo em torno de adorável e bom, quando Jisung lhe chamava assim, não sentia a mesma coisa, só parecia normal.

– Desde os quatro anos, ela cuidava de mim.

– Seus pais deviam ser bastante ocupados então, não é? - disse de forma inocente, ele não sabia sobre Hyunjin e ficou um pouco preocupado quando viu a expressão nada boa que o mais velho fizera. – Oh, me desculpe. - pediu, devia ter atingido um ponto sensível de Hyunjin, se sentia culpado agora.

– Você não precisa se desculpar, é só que... Sempre quando tocam neles em algum assunto, eu fico me perguntando se eu realmente era uma grande escória assim. - suspirou em seguida.

Jeongin não soube o que responder, ele não podia nem lidar com seus próprios problemas, quem dirá os dos outros. No entanto, ver Hyunjin daquele jeito o deixava ainda mais fraco, mas com vontade de protegê-lo. Acabou visando uma árvore bem boa, com tangerinas lindas e resolveu direcionar o assunto até elas, assim talvez pudesse ajudar Hyunjin a esquecer disso.

– Hyunjin-.. Hyung - se corrigiu –, aquela árvore tem tangerinas lindas, não quer pegá-las? - indagou apontando para árvore, ao que o mais velho abrira um pequeno sorriso e começara a andar em direção da mesma. Ela era um pouco mais afasta das outras, mas valeria a pena. Mais adiante desta existia a ponta do paredão onde estavam, Hyunjin quis ir até lá para ver o mar, mas se concentrou em apenas pegar as tangerinas no momento.

Ambos ficaram em silêncio pegando as tangerinas, o clima parecia ter ficado pesado, mas de uma certa forma o cheiro forte das bergamotas ofereciam uma inspiração para Jeongin, o fazendo adquirir uma extrema vontade de conservar aquele momento com Hyunjin em mais uma de suas artes. Não estava mais conseguindo se controlar, afastou-se alguns centímetros enquanto Hyunjin estava distraído e sentou pelo solo de grama mesmo, deixou a cestinha meio cheia com as tangerinas de seu lado e retirou da bolsa o caderninho e o lápis com borracha na ponta, assim começando a fazer o esboço da árvore. Em meio disso, acabou tendo seu ponto de vista roubado por Hyunjin, que parecia tão belo, Jeongin adicionou o rapaz mais velho em seu esboço, mas como sempre em todos os esboços que tinha feito deste após o ver na loja de conveniências, estava faltando algo no rosto de Hyunjin, mas não sabia o que.

Hyunjin, por seu lado, estava ficando tonto com o cheiro daquelas frutas. Já estava sentindo sintomas de gripe desde o avião, mas havia esquecido o remédio então achou que passaria logo, mas a doença era insistente e agora se mostrava bem forte, atacando Hyunjin com uma febre onde já começara a soar frio. Ele respirou fundo, só precisaria pegar mais um pouco de tangerina e então voltar para o hotel, foi isso o que planejou, mas quando se deu conta já estava no chão por causa do corpo pesado. Foi então que notou que Jeongin estava lá, concentrado desenhando, acabou por sorrir com a cena mesmo em um momento desses, ele parecia tão belo que por um momento Hyunjin esqueceu o motivo de estar suando tanto.

Quando Jeongin novamente olhou para árvore para adicionar mais alguns últimos detalhes, se assustou ao ver Hyunjin pelo chão e claro, a primeira reação que teve foi largar suas coisas ali mesmo e ir correndo ver o que o garoto tinha.

– Hyung, por que você não me disse que estava passando mal?! - indagou, depois de ter colocado a mão na testa de Hyunjin. – Você tá queimando em febre.

Queria repreender o garoto, mas o faria depois. Voltou para guardar suas coisas e então se esforçou ao máximo para carregar Hyunjin nas costas. O mais velho era tão pesado mesmo sendo magrinho, Jeongin não entendia aquilo e sua costas já doíam por carregá-lo, talvez fosse tão pesado por ser um poste. Quando enfim chegou a cobertura, deixou Hyunjin sentado em um dos bancos dali e correu para dentro do hotel pedir ajuda.

Jeongin estava tão desesperado e preocupado, pensava que isso tudo era culpa dele por não ter percebido que o garoto estava mal. Era Hyunjin que estava doente, todavia, quando o mesmo já encontrava no quarto recebendo os devidos cuidados, Jeongin foi se trancar no banheiro para chorar e se culpar, assim como sempre fazia quando qualquer coisa de ruim acontecia a sua irmã por conta dos pais. A certeza era de que, Jeongin não teria coragem de olhar para Hyunjin depois do mal que lhe causou.

Mais tarde, quando já tinha se recuperado do choro, ele pegou suas coisas de pintura e foi para o mesmo lugar de antes, para agora enfim começar a pintar o esboço que tinha feito. Estava um pouco triste, já que pintaria o momento anterior de Hyunjin passar mal, mas pintar lhe acalmava então deveria lidar com aquilo. Ele tinha trazido tudo, praticamente tudo de pintura para a viagem, mas quando foi para fora, decidiu não levar seu cavalete para não chamar atenção e agora sentado na grama todo curvado, se arrependia uma vez que as dores nas costas se faziam presentes.

As horas foram se passando e passando, até que enfim Hyunjin tinha se acordado de seu longo sono. Sunian neste momento já devia estar no seu quarto, mas Hyunjin se lembrava de em um momento ter acordado e visto a mesma ali consigo. Se levantou, o corpo estava pesado, mas a febre parecia ter passado já. Andou alguns passos até estar na janela, olhou para fora e o céu já estava adornado de estrelas, ficou surpreso por já ser noite e, como Jeongin não estava no quarto mesmo a essa hora achou melhor sair para procurá-lo.

Por algum motivo, seus pés ensaiaram perfeitamente o caminho até aquela árvore onde passou mal. Achou incrível que quando chegou lá, a lua brilhava bem acima dela, se aproximou um pouco e mais a frente viu um corpo deitado sobre a grama.

Podia ser qualquer um, mas logo de cara Hyunjin deduziu aleatoriamente ser Jeongin e não perdeu tempo em ir até lá e se deitar ao lado do jovem. Por sorte, era mesmo Jeongin. O garoto mais novo ainda se sentia um pouco mal, portanto não demonstrou tanto sua surpresa como de costume faria. Hyunjin por sua vez, ria consigo mesmo imaginando o que teria acontecido se tivesse deitado ao lado de um estranho qualquer.

– Você está doente ainda, não deveria estar aqui. - disse Jeongin, com o timbre notoriamente triste. As palmas das mãos estavam abaixo de sua cabeça, como um travesseiro para si enquanto olhava as estrelas.

– Mas veja só, estou aqui de qualquer forma! - virou levemente sua cabeça para o lado onde Jeongin achava-se, queria ficar olhando para o garoto e nem sabia ao certo o motivo de tal vontade. – Por que você não foi para o quarto?

O mais novo não sabia que Hyunjin estava o encarando, portanto quando também virou sua cabeça para sua visão recair sobre o mais velho, acabou cruzando seus olhos com os dele. – E-eu... Foi culpa minha você ter passado mal, então senti medo. - se arrependeu logo depois que falou, mas era assim, Hyunjin o fazia revelar até mesmo o seu segredo mais profundo mesmo com um olhar.

– Culpa sua? Jeongin... - a raiva tinha crescido em Hyunjin por tal pensamento infantil de Jeongin, mas antes mesmo que o repreendesse, as bochechas coradinhas e os olhinhos alheios brilhando denunciando o choro próximo, fizeram Hyunjin se derreter todinhoe acabar desistindo de xingar o outro. – Não foi culpa sua, eu já estava gripado só que acabei me descuidando. - tal frase não pareceu ser o suficiente para Jeongin, então o mais velho tomou a liberdade para levar a canhota até a maçã do rosto deste e começar acariciá-la.

– Por que você é tão bom comigo? - indagou em um fiapo de voz. Aquela mão tão macia lhe tocando no rosto deixava Jeongin nervoso, extremamente nervoso e ele nem sabia ao certo como reagir ou o que dizer, ele apenas perguntou aquilo pelo simples motivo de ninguém o tratar como Hyunjin tratou em tão poucos dias. Sua vó o tratava bem também, mas não era como Hyunjin, ele era cuidadoso. Jeongin não pretendia se iludir, então excluiu qualquer pensamento relacionado a seu sentimento ser recíproco.

Tal questionamento pegou Hyunjin desprevenido. Nem mesmo ele sabia porque era tão bom com Jeongin, as coisas que fazia eram coisas que seu cérebro o mandava fazer e acima de tudo, coisas que seu coração lhe dizia que eram as certas. – Você se tornou como... Como irmão para mim mesmo em pouco tempo! Eu preciso ser bom com meu irmão mais novo, não é? - foi uma péssima escolha de palavras, mas não sabia mais o que dizer. Ele não sabia o que sentia por Jeongin, isto ainda era incógnita para si.

– Um irmão mais novo? - murmurou, acabando por voltar o seu olhar para as estrelas e se livrar do carinho de Hyunjin. Ele sabia que Hyunjin não era obrigado a lhe corresponder, mas aquilo o destruiu tanto por dentro que tinha perdido total ânimo para qualquer coisa, até mesmo para respirar. Pelo menos não criou tantas expectativas.

Hyunjin tinha visto nos olhos do mais novo uma grande decepção, aquilo lhe doeu, ele nunca se sentiu tão ruim como agora. Queria poder confortar Jeongin, mas ele nem mesmo sabia o que tinha feito de tão errado para o garoto ter ficado daquele jeito. Talvez tivesse sido um erro dizer que Jeongin era como um irmão mais novo, mas o garoto mais novo ter ficado tão tocado com aquilo fez Hyunjin se perguntar o que realmente acontecia entre os dois ali. Era um futuro casal se formando ou isso apenas ocorria em amizades mesmo? Estava tão confuso, se fosse a primeira opção então significava que Jeongin gostava de si? Não, não, não podia ser.

– Qual o seu tipo ideal de garotas, Jeongin? - questionou querendo "mudar de assunto", tornando o mais novo ainda mais chocado. Jeongin piscava diversas vezes, agora já estando a encarar novamente Hyunjin. – Não fique com vergonha, pode me dizer.

Jeongin receou, mas tratou de pegar qualquer coisa do padrão coreano, afinal não tinha como soltar logo de lata de que gostava de garotos. – A-ah! Cabelo curto e... hm, pálpebras duplas? - não sabia se cabelo curto era realmente do padrão, nem o conhecia, para falar a verdade, no entanto foi como uma forma indireta de dizer sua real preferência. Talvez tenha descrito um pouco de Hyunjin sem querer. Podia apenas ter respondido que não tinha preferência, mas agora já foi.

Apesar de Jeongin estar triste, ele virou todo seu corpo desta vez, ficando de lado, para poder se concentrar apenas em Hyunjin. Gostava de ficar o olhando, então mesmo que seu coração estivesse em mil pedaços, pelo menos ainda poderia ser amigo de Hyunjin. E no entanto, encontrou no rosto de Hyunjin o que tanto faltava nas pinturas que fazia do garoto; uma pintinha bem abaixo de seu olho. Jeongin sentiu que havia se apaixonado novamente mesmo por um detalhe tão simples.

"Se Jeongin realmente gostar de mim, seria certo eu retribuir seus sentimentos? Somos dois garotos...", pensava Hyunjin. Jeongin era tão belo e sensível, não queria machucá-lo, mas também não podia o iludir. – Eu gosto de garotas com cabelo grande. Não é lindo como eles balançam no vento e as fazem ficar mais bonitas?

– Eu acho que deve incomodar... - pensou um pouco antes de continuar. Neste momento nada mais o abalava, as palavras de Hyunjin nem ao menos pareciam reais então nem se incomodou. – O que você acha das de cabelo curto?

– Hm... Eu não sei. - deu um sorrisinho ladino. Pareceu notar Jeongin o olhando com expectativa e então concluiu o que possivelmente ele estaria querendo com aquela pergunta. – Está querendo saber o que acho de você?

Jeongin acabou por soltar um risada nervosa e baixa, como se todos os acontecimentos anteriores tivessem sido apagados. Não conseguia ficar triste com Hyunjin por muito tempo, mesmo o mais velho não fazendo nada, aquilo já aquecia Jeongin. – Não! Nada a ver. - se defendeu.

– Tá tudo bem, Jeongin. Eu gosto de você, mesmo que você não seja uma garota e não tenha cabelo grande. - neste momento, ambos ficaram chocados com o que fora dito por Hyunjin. Aquilo havia sido uma confissão? Jeongin queimava, como uma pimenta e Hyunjin se mergulhava em dúvidas. Ele gostava amorosamente de Jeongin também? Não conseguia aceitar tal fato, mas ao mesmo tempo tudo faz tanto sentido.

Foram tantas descobertas em apenas poucos minutos, no entanto, mesmo que os dois estivessem afogados em demasiados questionamentos; naquela noite não tiveram medo ou vergonha de adormerecem juntos embaixo de várias estrelas e ao som do mar.