História Um Mês e Nada Mais - Chegada Inesperada

“E então, Darcy, você vai hoje a noite?” Bingley perguntou animado como sempre. Ele adorava estar com Jane e os jantares na casa dela estavam se tornando seus momentos preferidos.

“Quem estará lá?” Darcy se esquivou do convite com cuidado. Ele adorava seu amigo e Jane estava rapidamente se tornando uma querida amiga, mas ele não antecipava uma noite ao lado de Caroline. Ela simplesmente não desistia.

“Eu, Jane, Louise, Hurst e Caroline.” Darcy fez uma careta que não passou despercebida por Charles. “Eu sei, Darcy, eu sei... Caroline é difícil, mas ela é inofensiva.”

Darcy suspirou. Ele não queria ofender o amigo. “Tudo bem, eu vou.” Ele não estava entusiasmado em passar um tempo na presença da irmã de Charles, mas não queria perder a oportunidade de contemplar a deliciosa imagem da irmã de Jane. Ele não via a hora de ver a original em sua frente e já estava decidido a ser o mais encantador possível.

Darcy não teve sorte até aquele momento. Elizabeth chegou de Nova York enquanto ele estava na inauguração de um hotel na Itália. Duas semanas depois, ele voltou para a Inglaterra e se encontrou com Charles e Jane só para descobrir que no dia anterior, por coincidência, ela tinha viajado para a Itália para ficar um mês na casa do parceiro de dança e se preparar para alguma competição que aconteceria naquele país.

Ele tinha pesquisado o nome dela na internet e achado várias informações interessantes. De fato, ela era uma dançarina excepcional. Darcy viu vários vídeos e coreografias dela. Como Jane disse, era tudo de bom gosto, mas muito sensual. Elizabeth era ardente e ele estava ansioso para saber se ela seria assim em outros lugares além de uma pista de dança.

“Isso é bom. Jane vai cozinhar. Ela e Lizzie reformaram a cozinha e ela está ansiosa para estrear. Ela queria esperar até que Lizzie estivesse aqui novamente, mas não resistiu...” Bingley se encostou confortavelmente na poltrona, demonstrando todo o contentamento que sentia.

Darcy sorriu. Era uns dos grandes talentos e charmes de Jane conseguir criar uma atmosfera tão doméstica e acolhedora. “Eu gosto muito dela, Charles. Parece que você está bem envolvido.”

Charles tinha um olhar sonhador ao responder. “Muito envolvido... e muito feliz. Jane é perfeita, Darcy. Eu sei que posso contar com ela para qualquer coisa. Eu conheci os tios dela e são pessoas incríveis. E eu nem preciso falar mais de Lizzie, as duas semanas que ela ficou aqui foram desgastantes e maravilhosas. Eu tive oportunidade de conhece-la melhor. Ela não é só uma mulher enérgica como eu pensei. Ela é inteligente, tem um humor maravilhoso, é sensível, dedicada, engraçada.... Eu realmente me apeguei à irmã de Jane. Agora eu entendo porque as duas são tão ligadas.”

Darcy não perdia a oportunidade de saber mais sobre ela. “Deve ter sido difícil perder os pais tão cedo. Eu sei como é.”

Charles suspirou. “Para Jane foi terrível. Mas as circunstâncias fizeram ser muito pior para Lizzie.” Charles olhou para Darcy com um rosto sério e voltou a falar com a voz baixa. “Eu dormi lá um dia quando Lizzie estava em casa. Eu e Jane acordamos assustados com um grito no meio da madrugada. Eu levantei alarmado, mas Jane me acalmou, pediu que eu ficasse e saiu do quarto. Quinze minutos depois ela voltou para dormir e me encontrou acordado. Então ela me explicou que Lizzie, às vezes, tem pesadelos com o acidente.”

Darcy estava escutando tudo com interesse e com a impressão que tinha mais história. Charles, olhando para as próprias mãos, continuou. “Era Lizzie quem estava dirigindo. Eles estavam na estrada em direção a Londres para comemorar. Lizzie tinha sido aceita para uma escola de dança famosa, eu não me lembro o nome agora, mas eles só aceitavam os melhores e ela tinha conseguido. Um motorista bêbado dormiu no volante e entrou na contramão. O airbag de Lizzie funcionou, mas por um defeito de fábrica, o do passageiro e o do banco de trás não. Lizzie quebrou um braço e teve algumas escoriações, mas os pais não resistiram. Quando o resgate chegou, ela estava em choque... ela tinha ficado presa nas ferragens e viu o pai e a mãe agonizando sem poder fazer nada.”

Os amigos ficaram calados por um tempo. Darcy engoliu em seco. Ele perdeu a mãe quando tinha apenas quinze anos em decorrência de um câncer, e o pai quando tinha vinte e três por causa de um infarto. Foi difícil, mas ele não presenciou a morte de nenhum deles. Ele não conseguia nem imaginar a dor que ela sentia.

“Parece uma vida muito difícil para alguém que aparentemente é alegre o tempo inteiro.” A voz de Darcy era um pouco sombria quando fez esse comentário.

Bingley concordou com um aceno de cabeça antes de continuar a falar com um pequeno sorriso nos lábios. “Lizzie tem um lema: só pensar no passado se fazê-la feliz. Não que ela não lembre dos pais, mas ela se esforça a ter uma vida alegre. Eu tenho muito carinho por ela, Lizzie tem apenas vinte e três anos e passou por experiências que muitos nem imaginam passar. Jane me contou superficialmente sobre o péssimo namorado da fotografia.”

Darcy ergueu os olhos. Desde que Jane mencionou isso ele estava curioso com a história, mas ficou em silêncio esperando Charles continuar. Por sorte, Charles estava disposto a relatar tudo o que tinha aprendido.

“Jane não sabe a história completa... ela disse que Lizzie foi estudar na França quando tinha recém completado vinte anos e um mês depois de chegar conheceu um homem e se apaixonou. Eles estavam juntos por cinco meses quando ele a convidou para um final de semana na Grécia. Lizzie ligava para Jane constantemente para dizer o quanto estava feliz. Então, o namorado a convidou para conhecer os pais, que estavam em uma viagem pela Alemanha. Chegando lá, eles a trataram muito mal. A atitude do namorado mudou completamente e sem avisar, eles foram embora a deixando sozinha no hotel com ordens para expulsa-la quando a diária acabasse.”

Darcy arregalou os olhos. “Eu não posso acreditar... Como alguém pode ser tão cruel? Ele nem conversou com ela?”

Charles balançou a cabeça. “Não. Ela só soube que ele tinha ido embora quando alguém do hotel avisou que ela tinha até o outro dia onze horas para sair. Lizzie ligou para Jane desesperada. Ela não falava o idioma, não conhecia o país, não tinha dinheiro suficiente e estava muito assustada. Jane comprou a passagem e Lizzie conseguiu chegar ao aeroporto, voltando para a Inglaterra em segurança. Jane tentou saber mais informações, mas Lizzie se fechou. Até hoje ela não contou exatamente o que aconteceu.”

Darcy estava indignado. Abandonar uma mulher em um país desconhecido não era atitude de um homem... “Mas Jane não sabe nada desse homem?”

“Tudo o que ela sabe, é que Lizzie o chamava de Rick, e que provavelmente é de uma família muito rica, mas Lizzie nunca disse o sobrenome da família dele. Jane acha que são pessoas conhecidas.” Bingley finalizou o relato com um semblante entre triste e irritado. Ele não conseguia acreditar que alguém tivesse feito Elizabeth passar por tudo aquilo.

Darcy ficou pensativo. Ele teria que ser cuidadoso com ela e deixar claro que seria somente um mês. Antes de propor o relacionamento, ele teria que estudá-la, saber se ela seria uma daquelas mulheres que se apegariam facilmente. Ele não queria ter problemas com Jane e Charles quando tudo terminasse. Talvez, se ele agisse com cuidado, eles poderiam ser amigos depois.

O jantar na casa de Jane estava delicioso como de costume. Ela fez comida italiana e a conversa era animada. Para Darcy, só não foi mais agradável devido a presença de Caroline. Desde que a conheceu, Darcy sabia que não era o tipo de mulher que ele queria se envolver. Ele sabia que teria problemas se fizesse para ela o tipo de proposta que fazia para outras mulheres. Ela seria uma daquelas que se convenciam que eram especiais e se apegaria, e pior, seria uma que ele veria constantemente e que não desistiria. Era a última mulher no mundo que ele queria se envolver e tentava deixar claro de uma maneira cavalheiresca, mas nunca teve sucesso.

Caroline estava de carona com Hurst e Louise na esperança de poder voltar de carona com Darcy, mas seus planos foram por água abaixo quando Darcy disse que não poderia leva-la porque tinha um compromisso. Uma mentira necessária, e para felicidade de Darcy, Hurst tinha um compromisso cedo no outro dia, por isso, logo depois do jantar ele foi deixado somente com Charles e Jane para uma conversa agradável.

Os três amigos estavam desfrutando de uma taça de vinho tinto com uma música agradável ao fundo e conversando sobre uma possível visita a Netherfield quando escutaram a porta abrindo e um grito animado.

“JAAAANEEEEEE!!!!! Venha felicitar a campeã europeia de dança de salão!!!”

Jane, com um grito, praticamente pulou e correu para a porta. Darcy e Charles escutaram as palmas, gritos e felicitações entre as irmãs. Pouco depois, Jane entrou arrastando uma mala em uma mão e um troféu na outra com lágrimas escorrendo pelo rosto. Darcy e Charles levantaram na expectativa de receber Elizabeth. E foi então que ela entrou na sala e o queixo de Darcy caiu.

Ela usava uma bota de couro preta cujo cano terminava acima de seus joelhos, um vestido vermelho curto que mostrava todos os contornos perfeitos de seu corpo e uma jaqueta de couro preta. Ela era quente. Quente como o inferno. A mulher mais sexy que ele colocou os olhos.

Ele saiu do estupor quando viu Charles a abraçar tão apertado que a levantou do chão. Cada fibra de seu corpo desejava ter aquela mesma intimidade. Enquanto Jane e Charles examinavam o troféu atentamente, ela o olhou pela primeira vez e ele pôde ver o rosto dela de perto. Exótico. Olhos grandes e verdes com uma maquiagem escura que os destacavam, lábios grossos e vermelhos, um nariz delicado, quase infantil, e um sorriso devastador.

Elizabeth sabia quem era, mas esperaria até ser formalmente apresentada para cumprimenta-lo. Foi Charles quem percebeu a gafe. “Oh, me desculpem. Lizzie, esse é meu amigo, William Darcy. Darcy, essa é Elizabeth, irmã de Jane.”

Darcy a olhava com intensidade que a fez estremecer. Ele pegou uma de suas mãos para apertar, e se inclinou para dar um beijo no rosto dela. “Muito prazer, Elizabeth. Eu ouvi falar muito sobre você. Meus parabéns pela vitória.”

Elizabeth arqueou uma sobrancelha e se distanciou um pouco dele. “Obrigada, Sr. Darcy. É um prazer conhecê-lo também. Qualquer amigo de Charles é bem-vindo em nossa casa.” Ela manteve a compostura. Embora o homem que estava em frente a ela era facilmente um dos mais bonitos que ela tinha colocado os olhos, ela não se esqueceu de sua fama. Ela se manteria educadamente afastada.

“William, por favor. Sr. Darcy faz com que eu me sinta muito mais velho.” Darcy lhe deu um dos sorrisos que ele sabia que afetava as mulheres, mas não parecia funcionar com ela.

Elizabeth sentiu o coração disparar ao olhar para aquele sorriso, mas se forçou a parecer o mais natural e indiferente possível. “Como quiser.” Ela respondeu dando de ombros e devolveu um sorriso tão deslumbrante quanto o dele, voltando a atenção para Jane e Charles, para total confusão de Darcy. As mulheres, uma vez que tinham sua atenção, não o ignoravam.

“Como foi o mês de vocês dois? Alguma novidade durante minha ausência?” Elizabeth tinha sua atenção concentrada em Jane e Bingley.

Charles balançou a cabeça enquanto contemplava o troféu. “Nada tão empolgante quanto a sua novidade.”

Elizabeth andou em direção ao sofá. “Será que vocês se importam se eu tirar essas botas aqui? Eu estou com elas há horas...” Então, ela abaixou um zíper lateral até o tornozelo enquanto Darcy a devorava com os olhos. Quando tirar um calçado se tornou tão sensual? Assim que ele vislumbrou as pernas dela, ele entendeu que morreria se não a tivesse. Pela primeira vez, ele não estava interessado nas consequências. Ele nunca quis tanto uma mulher.

“Você deve estar cansada, Lizzie. Quer que eu esquente o jantar para você?” Jane, sempre solícita e pronta para cuidar de sua irmã, já estava caminhando em direção a cozinha, até Elizabeth interromper seu caminho.

“Não precisa, Jane. Eu tenho um compromisso em uma hora, só vou tomar uma ducha rápida e trocar de roupa. Estou excitada demais para dormir.” Elizabeth respondeu demonstrando toda a energia que estava sentindo. Ela estava animada demais com a conquista do campeonato e queria compartilhar sua alegria com seus amigos.

Elizabeth não poderia nem imaginar o impacto de suas palavras nos ouvidos de Darcy. Cada gesto, sorriso e olhar aumentavam o desejo dele por ela. Ele descobriu que o anseio que sentia contemplando o retrato não era nada para o que estava sentindo pela mulher real.

“Lizzie, são mais de onze horas. Aonde você vai à meia noite?” Jane perguntou preocupada.

Elizabeth levantou-se segurando as botas nas mãos. “Vou festejar. Vai ser no Éden Proibido. Se estiverem animados, apareçam por lá. Mas já vou avisar que a festa vai até amanhã.” Ela deu um beijo estalado na bochecha de Jane e Charles e olhou para Darcy superficialmente. “Bom te conhecer, Darcy.” Em seguida, saiu com passos animados em direção a escada. Darcy percebeu imediatamente que ela não o chamou de William, como ele pediu.

Charles e Jane riram quando escutaram as palavras de Darcy. “Um furacão, de fato.” Ele ainda estava intoxicado com a presença dela. “O que é Éden Proibido?” Ele perguntou intrigado.

Charles se animou assim que Darcy perguntou sobre o lugar. “Cara, é um lugar incrível que pertence a uma amiga de infância de Lizzie e Jane. Um Cabaré escondido e extremamente VIP. Para entrar, tem que estar na lista, e para estar na lista, é necessário um convite de pessoas selecionadas. A decoração é surreal. Quando você entra, parece que você está dentro de um universo paralelo. A gente tem que combinar de ir lá um dia.”

Jane acariciou a mão de Charles. “Você aguentaria outra noite daquelas?”

Charles gargalhou. “Com certeza, meu amor. Eu teria você para me impedir de exagerar na margarita maravilhosa.” Olhando para Darcy ele completou. “Sério Darcy, tudo é incrível, mas as bebidas... São perfeitas.”

Quinze minutos depois, Elizabeth desceu as escadas correndo quando escutou uma buzina. Ela usava outro vestido, um tubinho preto sem alças. Quando chegou no fim das escadas, calçou seus sapatos de salto vermelhos, virou para os ocupantes da sala sorrindo e acenou um adeus. Eles escutaram sua voz em volume alto passando pela porta. “Se quiserem ir, deixarei o nome de vocês três na portaria.” Eles escutaram algumas palmas e gritos vindo da frente da casa, e depois, o som de um carro partindo apressadamente.

Eles se entreolharam. “Por mais que eu queira comemorar com minha irmã, eu sei que tudo vai ser uma loucura. Eu tenho certeza que Charlote fez uma superprodução para essa noite. Amanhã eu preciso acordar cedo demais... para mim não dá, mas se vocês quiserem ir...”

Darcy estava louco para ir. Ele não queria perder oportunidade de se aproximar dela, mas tinha certeza que Charles não iria sem Jane e ele não poderia aparecer sozinho. Como previu, Charles disse que passaria a noite com Jane e logo em seguida, Darcy pediu licença e partiu. Ele teria que encontrar outras maneiras de conhece-la melhor.