História Um Milhão de Sonhos (Levi x Oc) - Capítulo 14- O Julgamento

Lena foi para o seu quarto, com as lágrimas a caírem dos olhos azuis como o céu. Deitada na cama, deixava as lágrimas cair fortemente e cada vezmais pesadas. A sua mente e o seu coração estavam uma confusão. Como foi isto possível? Eren tornar-se um Titã era tão inacreditável. Simplesmente não conseguia pensar como deve ser.

Lena olhou para o seu espelho, analisando a sua anatomia . Um humano... Um belo ser humano a transformar-se numa besta sem coração. Era quase impossível acreditar nisso. Mas a ruiva confiava em Armin do fundo do seu coração, por isso estava 100% certa de que ele lhe estava a dizer a verdade.

Os seus olhos azuis observaram pelo quarto, e Lena lembrava-se que ainda tinha trabalho a fazer, os relatórios e a papelada para os soldados feridos. Bem... Deixaria isso para mais tarde. A sua prioridade era encontrar Eren e saber se estava tudo bem. Para ter a certeza que nada lhe acontecia.
Era quase hora de almoço, era quando Lena deveria encontrar-se com Armin e Mikasa, para que eles explicassem melhor como Eren se tornou num maldito Titã e se ele estava bem. Lá ia ela...

Ao apanhar a sua mala e ao libertar o seu cabelo encaracolado e ruivo, a jovem de 23 anos saiu do seu quarto, com milhões de pensamentos e dúvidas ao seu redor.
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Lena chegou ao refeitório, onde todos os cadetes que tinham sobrevivido estavam a almoçar. Olhava à sua volta. Todos eles estavam pálidos, e nem sequer conseguiam comer bem. Os seus olhos que brilhavam de esperança, sonhos e vida estavam agora escuros e sem alma. A moça de caracóis ruivos perguntava-se... Numa idade tão jovem, já a perder tantas pessoas importantes para eles.

Antes de ver Armin e Mikasa, notou os moços que haviam tentado confortar aquele cadete assustado, que teve um ataque de pânico no dia anterior. Ben, se ela se lembrava bem. A moça ainda estava a chorar e aquele cadete não estava com eles. Tudo já fazia sentido na cabeça de Lena... Ele também tinha morrido. Depois de ela ter dito que os seus companheiros de equipa e superiores iriam estar com eles... 
Lena tinha-lhe mentido... 

Assim da moça reparar que Lena estava a olhar para eles, foi o minuto em que se levantou da cadeira e correu a abraçá-la. Isso apanhou Lena logo de surpresa. As lágrimas caíam fortemente do rosto da cadete. E, como um contágio, também caíam da face de Lena.

-Ele morreu... O Ben morreu...- disse a moça, em num sussurro. A sua voz era fraca e frágil, como um vidro partido, mas que podia cortar alguém em qualquer momento. E com certeza que cortou Lena...

-Eu sei, eu sei...- respondeu Lena, a sua voz já estava a ficar fraca, mas manteve sempre o tom doce. Beijou a cabeça da rapariga e acariciava as suas costas, a fim de a confortar -Shh, está tudo bem...

-A culpa foi minha... Eu disse-lhe para a direita. Logo depois do superior ter-lhe dito para ir para a esquerda...- soluçava a moça, com uma voz tão incoerente que Lena quase não conseguia entender o que estava a dizer. A chorar tanto.... -Fui eu!! Foi culpa minha!

-Não, não... A culpa não foi tua...- respondeu Lena, enquanto chorava com ela. Separaram-se daquele abraço e a moça enfrentou os olhos castanhos vermelhos da cadete -Tu não sabias, ok? Tenho a certeza que o Ben não ia querer que te culpasses por algo que não te cabia a ti. 

-Mas se não fosse por mim, o Ben ainda estava vivo!!- chorou ainda mais, e Lena abraçou-a mais uma vez.

-Não, não, não! Tu não sabias. Por favor não te culpes, o teu amigo não ia querer que te culpasses- De repente, todos os cadetes estavam a olhar para a mulher e para a moça no meio do refeitório -Olha para mim...

Elas separaram-se uma da outra e a cadete de cabelo castanho olhou nos olhos de Lena. Os seus olhos transmitiam-lhe luz, positividade e esperança, ainda que tivessem um brilho tão triste... 

-Não te culpes por isso, ou vai consumir toda a tua vida- Lena tinha a sua mão no ombro, tentando consolá-la -O teu pior inimigo, depois da tua mente é o teu coração. Se não estiveres equilibrada no coração, ele não vai ser capaz de equilibrar a tua mente. Se continuares a culpar-te vezes sem conta por isto, vai assombrar-te todos os dias e para sempre. Como um fantasma. E vais começar lentamente a perder-te a ti própria.

A moça olhou para Lena ainda com lágrimas nos olhos, prestando atenção ao que a cabeça de gengibre lhe dizia.

-A culpa é como um fantasma. Vai assombrar-te, sempre, por todo o lado. À noite, nos teus sonhos, de dia, quando estás a comer, quando estás a dormir- Lena afirmou -Perdemos pessoas que amamos, é assim que a vida funciona. Não podemos fazer nada... Mas não podemos perder-nos a nós próprios... Se o fizermos, perdemos tudo. 

A moça não nem pestanejava, prestando extrema atenção ao que a ruiva lhe estava a dizer. Mostrou uma maturidade incrivelmente impressionante, mas ao mesmo tempo uma gentileza que fez com que todos a quisessem ouvir. Agora, muitos cadetes e até outros soldados estavam a prestar atenção a essa cena. Não era algo que eles viam todos os dias na Tropa de Exploração. Aquela mulher assemelhava-se a uma santa, um anjo.

-Percebeste? O Ben está agora à tua procura no céu, com Deus. Nem Deus nem Ben te vão abandonar. E eles não te vão culpar por nada- Lena tocou na bochecha da moça, que chorou ainda mais.

-Obrigada....- começou, mas não acabando pois não sabia o nome da moça. 

-Podes chamar-me Lena- A moça de caracóis ruivos respondeu com o mesmo sorriso doce no seu rosto sardento- Se alguma vez precisares de mais alguma coisa, sabes como me encontrar. E os teus amigos também. Deus te abençoe. 

A moça também sorriu para ela e sentou-se na mesa com os outros cadetes que ainda a olhavam com expressões chocadas. Quem era ela? Porque estava ela a ajudá-los? Como é que ela sabia o que dizer num momento como aquele?

Todos eles olharam fixamente para a ruiva. Alguns deles conheciam-na dos exames ou dos almoços e jantares. Era conhecida por falar muito alto. Mas os mais velhos nunca a tinham visto lá.

Lena foi para a mesa onde estavam Armin e Mikasa. Estavam todos a olhar para baixo, os seus olhos não brilhavam. Não se pareciam com as crianças com quem ela costumava brincar. Tinham conhecido tanta dor, que partiu o coração de Lena.

-Andem lá, não fiquem com essa cara de enterro Lena segurou as duas mãos dos adolescentes e olhou para eles com o seu sorriso bondoso e compassivo. Olharam para ela, ainda com lágrimas nos olhos azuis e olhos escuros: - Por favor, contem-me o que se passa com o Eren.

Hesitaram um pouco... Mas Mikasa foi a primeira a falar.

-Eu estava a ser perseguida por um Titã. Naquela altura pensávamos que o Eren tinha morrido. Mas depois, um grande Titã defendeu-me... Ele lutou contra o outro e conseguiu matá-lo- olhou fixamente para a mesa, a sua voz estava fria e rachada -Ficámos todos surpreendidos porque nunca vimos um Titã que pudesse fazer isto... Mas depois, de repente...

Mikasa parou um pouco e fechou os olhos, respirando fundo. Lena segurou a mão com mais força...

-De repente, o Titã começou a evaporar-se. E Eren saiu dentro dele...Não sabemos porquê, não sabemos como.... Mas aconteceu- Lena ouviu-a com muita atenção "Depois, apareceram muitos políticos e soldados da Guarnição, que diziam que o Eren, eu e Armin éramos traidores e que provavelmente também éramos Titãs...

Mikasa gemeu e deu um murro na mesa com raiva. Lena e Armin olharam para ela surpreendidos -Não é justo!! Agora ele vai ter um julgamento para decidir se é morto ou não!!

-O quê???- gritou Lena com raiva, fazendo toda a cafetaria olhar para ela - Ele vai ser julgado por algo que nem sequer foi culpa dele?? Isso não faz sentido!!

-Nós sabemos isso, Lena... É por isso que estamos neste estado- disse Armin, ainda olhando para baixo. 

-Mikasa Ackerman e Armin Arlert!!!- uma voz soou ao vir da porta. Era um soldado da Polícia Militar.

Mikasa e Armin levantaram-se da cadeira. Lena suspirou... Ela apenas desejava poder fazer algo a respeito... Mas a única coisa que ela podia fazer era rezar... Caso contrário.....

-Senhor!!

-Têm ordens para estarem presentes e agir como testemunha na deliberação de hoje!!

Mikasa e Armin estavam hesitantes. Lena olhou para eles com tristeza. Se ela fizesse o que estava a planear, pelo menos ela tinha tentado. Não podia deixá-los defender Eren sozinhos. Era ela que conhecia Eren há mais tempo.

-Senhor!!!! E-Eu tenho um pedido!!- Lena levantou-se e finalmente ganhou coragem para falar. Mikasa e Armin olharam para ela com expressões confusas.

-E posso saber quem você é??- O deputado perguntou, curioso sobre a moça de caracóis ruivos. 

-O meu nome é Elena Häustler, sou uma noviça do convento de Rose, mas trabalho como enfermeira na Tropa De Exploração. Conheço o Eren desde que ele ainda era um bebé pequenino e posso... E devo defendê-lo na deliberação!! Se puder, aceite-me como testemunha se faz favor!!- exclamou Lena, com determinação na sua voz. Todos lhe olharam de relance.

O polícia militar deu-lhe um olhar de choque, mas Lena continuou com a sua postura determinada. Não podia deixar Eren ser absolvido por algo de que não tinha culpa.

-Acho que não há problema com mais uma testemunha- os olhos azuis de Lena olharam com esperança -Muito bem, você pode vir... Mas se descobrirmos que é uma falsa testemunha... Vai ter consequências duras...

-Ótimo, então não tenho nada para ter medo- respondeu Lena com a mesma confiança e determinação, que até surpreendeu o polícia militar. 

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Lena, Armin e Mikasa foram levados aos tribunais. A ruiva não sabia o que fazer. Nunca tinha estado num julgamento antes, por isso não fazia ideia do que se iria passar naquele edificio. 

Enquanto passeavam pelos corredores do edifício, o Capitão Levi e o Comandante Erwin passavam por eles. Mikasa e Armin inclinaram-se e colocaram-se em posição.

-Armin...Mikasa...É bom ver-vos aqui. Íamos agora mesmo para a sala de audiências. Eren está agora na sua cela, espero que as coisas corram como planeado- declarou Erwin, fazendo arrepios na espinha de Lena... Eren estar dentro de uma cela era algo que ela simplesmente não conseguia imaginar...

-Sim senhor! Vamos tentar defendê-lo com as nossas vidas!- respondeu Mikasa com uma enorme determinação na sua voz.

-Elena...vejo que também estás aqui- disse Erwin, apanhando Lena desprevenida.

-S-Sim, Comandante Erwin" respondeu Lena, ainda num tom nsrvoso- Também quero defender o Eren... Não é nada justo ele estar numa cela como aquela! Coitadinho! Conheço-o desde que era apenas um bebé muito pequeno e recuso-me a acreditar que o Eren é perigoso! 

-Tch...- Levi disse com a sua habitual expressão fria- Boa sorte com isso...

Lena olhou para ele e depois ele olhou para ela. Os seus olhos entraram em contacto como um choque eléctrico. Seus olhos gelados encontraram os céu azul nos da ruiva e pareceram explodir. Cada vez que olhavam para os olhos um do outro, uma explosão acontecia. 

-Bem, então Levi... Vamos ver se está tudo no seu devido lugar- disse Erwin, que já sentia a tensão entre a enfermeira e o capitão- Boa sorte para  vocês. 

-Obrigado, senhor!- Armin e Mikasa responderam ao mesmo tempo.

Os dois homens continuaram a caminhar através dos corredores. Lena ainda estava um pouco tensa com o que tinha acabado de acontecer. Os olhos de Levi eram de gelo. Puro gelo. Completamente inatingíveis, como gaiolas fechadas. Lena nunca tinha conhecido uma pessoa tão fria.

-Credo, o Capitão Levi é mais duro que uma pedra- suspirou Lena para os dois cadetes.

-É o Capitão Levi, afinal... Ele é completamente impossível de ler...- respondeu Mikasa, fazendo com que Lena olhasse para ela com um olhar curioso.

Lena suspirou de novo... Parecia que Levi a odiava. Não queria nada ter uma má relação com um dos seus superiores. Bem... Mas também não queria ser amiga do Capitão de forma adequada. Ele não era uma pessoa que captasse a atenção de Lena de uma forma positiva, mas apenas queria que ele pelo menos a respeitasse.

Começaram a caminhar novamente para a sala onde o julgamento iria acontecer.

-Notei alguma tensão entre vocês os dois- disse Armin a Lena, dando-lhe um pequeno sorriso -Nunca vi os teus olhos tão frios.

-Quê?? Deves estar maluco! Não há nenhuma tensão entre mim e o Capitão... Ou se há, quem a criou foi ele!- Lena deu uma resposta simples e defensiva. Era verdade, ela não tinha intenções de se dar bem com o Capitão Levi. Foi ele quem não a respeitou e foi rude com ela em primeiro lugar.

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Já na sala do julgamento, Armin, Mikasa e Lena estavam perto uns dos outros. Lena sentiu o suor e a tensão a saírem do seu corpo. Nervosa era uma palavra fraca para descrever como ela se sentia...Nunca havia estado num tal cenário. Mas mais uma vez, não ficou surpreendida... Ir para a Tropa de Exploração significava lidar com coisas como aquela as da vida quotidiana....

A sala estava cheia de homens. As únicas mulheres ali presentes eram as soldados. O resto eram homens. Soldados, padres, políticos... Olhando para os adolescentes com a raiva nos seus olhos. Como se quisessem assassiná-los com a mente. Lena sentia arrepios...Se pensava que as freiras a pressionavam, não conseguia descrever a forma como se sentia naquele momento...

De repente, ouviram um esmagamento na porta. Lena virou imediatamente a cabeça...Eren. Mas um Eren que a ruiva nunca tinha visto antes. As suas mãos estavam atadas, estava assustado, desesperado...Ela podia sentir o que ele estava a sentir naquele exacto momento. Lena começou a chorar...Era uma imagem que ela não esperava ou quereria alguma vez ver...Só queria ir lá e segurá-lo com força...Dizer-lhe que ia ficar bem. Para acalmar a mulher, Armin colocou a mão sobre os seus ombros.

Eren olhava à volta da sala, quando alguns soldados pegaram no que parecia um bastão e colocaram-no no chão, amarrando ainda mais Eren, para que não pudesse fazer qualquer tipo de movimento. Lena olhou para ele novamente... Simplesmente não podia acreditar no que os seus olhos testemunhavam...De repente, Eren olhou de relance para os quatro. Os seus olhos estavam cheios de medo e ansiedade.

-Vai ficar tudo bem...- Lena conseguiu sussurrar. Eren assentiu com a cabeça, mas, ao ouvir um ruído, olhou novamente para a frente....

O juiz iniciou o julgamento. Lena estava tensa e sentia o suor a cair da sua pele. Ver Eren nessa posição deixava-a tão desconfortável. Ainda o via como a criança de 10 anos que brincava com ela nos campos cheios de relva e flores e recusava-se a acreditar que ele era um monstro. E tinha de o provar àquelas pessoas...

De repente, Lena sentiu-se a recordar a sua infância em Shingashina... Deus, a falta que sentia desses tempos... Brincar com Armin, Mikasa e Eren... Cantar cantigas debaixo de uma árvore, sem qualquer preocupação no mundo, concentrando-se apenas nos jogos e na música... Eren não era um monstro. Ele era apenas um garoto. Todos eles eram apenas crianças...

-Lena- chamou Armin, fazendo-a regressar à realidade. A ruiva já estava de novo perdida nos seus pensamentos -Concentra-te, eles estão a propor o que querem fazer com o Eren...

-Certo, peço desculpa...- suspirou Lena, olhando para a frente e concentrando-se naquele momento momento. Deus, será que isso demoraria muito? Detestava cada segundo... Detestava ver Eren a ser tratado como uma besta...

-Agora, gostaria de ouvir o plano de proposta da Tropa de Exploração- declarou o juiz.

-Sim, senhor. Enquanto na posição de Comandante da Tropa de Exploração, eu, Erwin Smith, proponho o seguinte- respondeu Comandante Erwin. Lena sentiu-se ainda mais tensa. Respirou fundo, não podia estar nervosa. Comandante Erwin era um homem sábio e ela tinha a certeza de que ele não tomaria uma decisão cruel -Eren tornar-se-á um membro completo da Tropa se Exploração e utilizaremos a sua capacidade Titã para retomar a Muralha Maria. 

Todos começaram a sussurrar uns com os outros. Lena suspirou... Era como pensava, o Comandante Erwin Smith era um homem sábio. Eren tornar-se um membro completo da Tropa de Exploração não era algo que ela gostaria de ver tão cedo, mas era melhor do que morrer apenas porque pensavam que ele era um monstro.

De repente, um homem começou a gritar que faria mais sentido para eles tornar os outros portões mais fortes do que a Muralha Maria, que já tinha sido destruída. Outro homem começou a gritar também. As coisas começavam a ficar intensas.

-Gritar mais alto não vai ajudar o seu caso, porco- Desta vez, foi o Capitão Levi que falou. Lena olhou para ele... Sempre com a mesma expressão fria e distante -Quando diz 'não temos dinheiro', fala por alguém a não ser pelos seus amigos comerciantes gordos? Será que vocês, porcos, percebem sequer que a maioria do nosso povo está a lutar apenas para sobreviver da pequena terra que nos resta? 

Lena ficou surpreendida... Pela primeira vez na sua vida, concordaea com Levi. Bem dito, pensou ela. Estava 100% correto. O povo estava a sofrer e a lutar, ela tinha visto o que tinham passado. No convento, algumas freiras até davam quartos aos refugiados onde os mais pobres podessem ficar durante algum tempo.

-Estou simplesmente a dizer que selar os portões é a única protecção garantida que temos- respondeu o homem, claramente intimidado pelo olhar frio do soldado mais forte da Humanidade.

-Segure a sua língua, seu herege vil!!! Está realmente a sugerir que nós, meros humanos, toquemos na Murakha Rose?? Um presente trazido até nós por Deus??- todos se encolheram com vergonha após aquela frase. Era um pastor da igreja das Muralhas. Faziam os grupos religiosos parecer tão mal... Até as freiras não tinham paciência para ouvir os seus discursos radicais - As Muralhas são um milagre!! E a sua divindade transcende a compressão humana!! 

A moça de caracóis ruivos revirou-lhe os olhos... Como era possível que a igreja das Muralhas estivesse a ganhar força? Deus estava lá em cima e iria protegê-los, mas não era certamente ele que tinha construído as Muralhas... Os conventos católicos também estavam contra eles, pelo menos alguns. 

-É aquele culto...Foram eles que fizeram o armamento dos Muros demorar mais tempo...- sussurrou a Mikasa e a Lena.

-Isso mostra o apoio e o poder que eles têm. Não confio neles de todo...- Uma soldado com óculos também lhes sussurrou.

-Eu também não confio neles... Eles fazem a fé real parecer fanatismo...Temos tanta vergonha deles...- respondeu Lena, esforçando-se por falar num tom mais baixo - Os conventos e as igrejas estão cada vez vazios porque eles estão a crescer cada vez... 

Lena observava a forma como ele falava... Apenas um fanático que envergonhava todos os crentes e punha vidas em perigo... Sentia uma repulsa tão grande...

-Ordem! Peço-lhe que guarde os seus sentimentos pessoais para outra altura! Agora Sr. Yeager, tenho uma pergunta para si- declarou o juiz. Lena ficou ainda mais nervosa. Estava a sentir ansiedade só de ver Eren naquele estado. Rezou para si mesma para que ele ficasse bem no final- Como soldado, fez um voto para responder ao apelo da humanidade. Ainda pode servir, ao controlar a sua capacidade?

Lena olhou para Eren com olhos compassivos. Ela tinha a certeza de que ele sairia de lá em segurança. Ou pelo menos esperava que sim...

-Sim, senhor- a voz de Eren foi sempre com determinação. No entanto, o medo era claro ali dentro...

-Bem....Este relatório da batalha de Trost contradiz essa afirmação...- respondeu ele. De que estava ele a falar? -Logo depois de se ter transformado, parece que tentou fazer matar Mikasa Ackerman. 

Os olhos de Lena alargaram. Ela não podia acreditar no que aquele homem estava a dizer. Eren olhou para Mikasa da mesma forma que a ruiva. Ele não o podia ter feito... Não podia ser verdade...

-Não acredito... Armin... Diz-me que isso não é verdade...- perguntou Lena muito calmamente ao rapaz louro que olhou para ela com olhos tristes e olhou para o chão... Ela já sabia a resposta...

-Ele não se lembra de nada...Ele... Ele acabou de perder o controlo total- respondeu Armin também num sussurro. Lena cobriu a sua boca com as mãos. Ela simplesmente não podia acreditar...

Mikasa olhou de relance para o soldado de cabelo branco. Era demasiada informação para a ruiva...

-O quê, estavas à espera que eu mentisse num relatório? Negar esse facto importante seria ainda pior para o Eren-... A soldado respondeu.

-Quem é Mikasa Ackerman? perguntou o juiz.

-Eu. Sou eu, senhor" respondeu Mikasa. Lena tentou dar-lhe um olhar de confiança, embora a sua cabeça estivesse prestes a explodir.

-É verdade que Eren Yeager tentou matá-la enquanto ele estava na forma de Titã?

Mikasa hesitou. Tudo isso pareceu surreal. Lena não podia acreditar que o seu amigo de infância tentasse matar alguém como Titã. Tudo isso não fazia qualquer sentido.

-Sim, tudo isso é verdade...- Mikasa respondeu. O coração de Lena estava a acelerar ainda mais... -Mas o Eren também me salvou duas vezes depois disso. E em cada circunstância ele estava a usar a sua habilidade de Titã. Gostaria que levasse estes factos em consideração! 

Lena soltou um suspiro em alívio. Sabia que Eren não era um monstro. Ele era apenas uma criança... Com uma capacidade que não conseguia compreender, a culpa não era dele. Agora que Mikasa tinha dito o que disse, sentia-se muito mais aliviada...Mesmo assim, era tudo tão confuso. Como foi possível que isso acontecesse?

-Protesto!- Um polícia militar gritou- Tenho razões para acreditar que os sentimentos pessoais desempenham um grande papel no seu testemunho. Mikasa Ackerman tornou-se órfã quando era jovem e a família Yeager acolheu-a. A nossa investigação interna sobre este assunto levou a uma descoberta ainda mais chocante...

Lena podia sentir  Mikasa a ficar ainda mais tensa... Todos ficaram mais tensos. E mesmo assim, a moça de cabelos ruivos ainda não tinha feito nada para defender Eren...

-Mikasa Ackerman e Eren Yeager aos 9 anos de idade apunhalaram dois raptores até à morte- continuou o mesmo soldado- Todos começaram a sussurrar uns com os outros e os olhos de Lena alargaram-se... As crianças que ela conhecia durante toda a sua infância tinham feito algo assim? Ela não podia acreditar...Não, essas não podiam ser as mesmas crianças que a ouviam cantar debaixo de uma árvore... -Admito que isto foi feito em legítima defesa. No entanto, ninguém pode deixar de questionar a natureza violenta do ato. Sabendo tudo isto, deveríamos realmente investir nele dinheiro, homens, poder e talvez a própria fé de todos nós? 

-Protesto!.... ou lá como se diz....- Todos pararam de sussurrar e olharam para o dono da voz...Era a Lena. Armin e Mikasa olharam para ela com os olhos alargados... Não podia simplesmente não dizer nada sobre eles -Se isso foi feito em defesa, penso que era completamente legítimo fazê-lo! E isso não tem nada a ver com natureza violenta nenhuma! Conheço o Eren desde que ele tinha um ano e Mikasa desde que ela foi acolhida pela família Yeager! Eles nunca tiveram uma natureza violenta e foram sempre crianças calmas! Recuso-me a acreditar que eles são os monstros que vocês querem que eles sejam! 

Todos olharam para a moça de cabelos ruivos com expressões chocantes... Nunca a tinham visto antes, embora a conhecessem de ser freira no convento da Muralha Rose.

-Tch...Idiota...- sussurrou Levi para si próprio.

-Outra tomada por sentimentos pessoais, não é?- O deputado declarou, fazendo os nervos de Lena quase explodirem -Nem sequer viu Eren Yeager na sua forma Titan, por isso a sua opinião não é válida, freira!

O tribunal começou novamente a sussurrar um entre si e Lena ficou sem palavras. Como é que teve a coragem de o fazer? Ela olhou para Armin que lhe deu um pequeno sorriso. Depois, colocou os seus olhos em Eren que também olhou para ela com uma expressa chocado. A seguir então, virou os olhos para o chão.

-Oh, valha-me Deus, aposto que a Mikasa Ackerman também é uma Titã! Aposto que ela é um deles! Também é uma besta de certeza!- gritou um homem e Mikasa fez uma expressão chocada. Lena estava a sentir-se ainda mais tensa. As coisas estavam a ficar demasiado intensas.

-Agora esperem um segundo! Talvez eu seja o monstro que vocês querem ver morto! Mas deixem-na fora disto!! - gritou Ereb em desespero e dor. Os olhos de Mikasa estavam quase em lágrimas... Também devia estar desesperada de ver Eren assim...Será que algum dia essa dor e sofrimento acabariam?- Ela é inocente!

-Está-se mesmo a ver, como se confiassemos em si!!- Outro homem gritou, fazendo os nervos de Lena ferverem. Ela não suportava que as pessoas falassem de alguém que não conheciam... -Se a protegem também é uma!!! 

-PAREM!!!- gritou Eren, fazendo com que todos parassem de falar - O que é que isso interessa...? Nenhum de vocês viu um Titã! Então porque é que têm tanto medo?! Não faz sentido ter poder se não o vão usar para lutar!

Os olhos verdes de Eren brilharam de novo com determinação. Os mesmos olhos verdes de sempre... 

-Se têm demasiado medo para lutarem pelas vossas vidas, muito bem!! Deixem-ME fazê-lo!!! VOCÊS SÃO Todos UNS COBARDES!!!- O moço de 15 anos ardia de coragem e determinação. Coragem e bravura... Aquele era o Eren que conhecia...Lena tentou dar-lhe um pequeno sorriso, apesar de ainda estar nervosa- CALEM-SE E DEIXEM A VOSSA FÉ EM MIM!

Foi nessa altura que o tribunal ficou ainda mais sem palavras. Todos pararam de falar, mesmo que as suas bocas estivessem abertas ao ver aquela cena...Os polícias militares foram os mais chocados e tensos de todos eles. De repente, um deles finalmente disse algo.

-Disparem, caralho!!!- ordenou ele, fazendo o outro apontar a sua espingarda para Eren. O coração de Lena quase saltou do seu peito.

-NÃO!!!- gritou a moça de cabelos ruivos.