JUGHEAD JONES
Emerjo da escuridão que se abateu sobre mim, tudo está confuso e eu estou com muita sede — Onde estou? O que houve? O carro prata em minha direção!!! Eu desviei? — questiono-me mentalmente. Engulo a seco tentando levar algum conforto a minha garganta que queima por causa da sede. Sinto um gosto metálico na boca —Merda! É sangue! Meu sangue. — penso.
Ouço o barulho de sirenes e com muito esforço entreabro os olhos. Enxergo luzes pulsantes de um vermelho vivo, que me remetem a carros de polícia, bombeiros ou ambulâncias talvez.
Tem algumas pessoas a minha volta, elas estão me acomodando numa espécie de maca e imobilizando minha cabeça. Alguém está afivelando um cinto de proteção por cima do meu tórax. Quero falar que estou com sede, mas a minha voz não sai. Tento me levantar, mas meu corpo não obedece, não importa quanta força eu faça, simplesmente não consigo me mexer. Sinto uma dor lancinante na cabeça e tudo escurece novamente.
BETTY COOPER
— Jughead! — Grito. Ele olha para mim e eu apresso o passo em direção a ele. Quando começo a me aproximar do carro ele dá a partida, acelera e sai cantando pneu. — Merda! Juggie! — grito em vão, pois ele já não pode mais me ouvir.
Estou parada no lugar onde antes estava o carro dele e sinto-me impotente vendo-o ir pela estrada até desaparecer. Volto para a casa tentando organizar meus pensamentos.
— Eu já o magoei tantas vezes, ele deve me odiar agora... Ele foi embora, e em dois dias eu também irei... talvez seja melhor deixá-lo em paz de uma vez— digo a mim mesma e um segundo depois sou tomada pela agonia, simplesmente não posso deixar as coisas assim entre nós.
Pego o celular e procuro o número de Juggie — Ele não deve estar longe, talvez eu possa convencê-lo a voltar para conversarmos direito — o pensamento é reconfortante ,mas, ele não atende minha ligação. Decido continuar tentando, não posso deixar acabar assim.
Cerca de uma hora se passou e Juggie ainda não atende minhas ligações. Mas antes de desistir, faço uma ultima tentativa.
— Alô. — diz a voz séria e grave do outro lado da linha. Não se parece com a voz de Juggie.
— Jughead? — pergunto confusa.
— Receio que não senhorita. Aqui é o Oficial Grimes. Sinto informar mas o dono deste celular sofreu um grave acidente. A senhorita é da família?— meu sangue gela e eu congelo — Senhorita? Ainda está aí?
— Não, só uma amiga. Ele está... — não consigo terminar a frase o pavor crescendo em meu peito.
— Não, ele foi sosocorrido. Desacordado, mas, com vida. Foi levado para a emergência do Cambridge Memorial Hospital. Seria bom ter um conhecido lá parar resolver as questões práticas e entrar em contato com a família. — quando o oficial termina a frase, eu já estou do lado de fora com as chaves do carro na mão.
— Obrigado, eu já estou a caminho — desligo o celular, entro no carro e acelero.
O hospital não fica longe do campus, três ou quarto quarteirões apenas.
— Ah Juggie... por favor Deus, não deixe que o pior aconteça. Não deixe que o pior aconteça. Não deixe que o pior aconteça...— vou repetindo a frase, como um mantra por todo caminho. Meu coração se comprimindo de tristeza e medo a medida que me aproximo do hospital.
Paro em uma das vagas perto da emergência e salto rapidamente para fora do carro. Estou nervosa, atrapalhada e sem rumo.
Antes de entrar na recepção, ouço sirenes e vejo uma ambulância em alta velocidade chegando ao hospital. Os socorristas abrem as portas de trás com agilidade e eficiência, descendo uma maca com um paciente totalmente imobilizando e ensanguentado.
Caminho em direção a ambulância, sentindo meu coração bater na garganta , e o estômago revirar em ânsia pelo medo. Um médico e alguns enfermeiros, já estão lá para fazer a transferência do paciente de uma maca para outra e ouvir as informações sobre o caso antes de iniciarem qualquer protocolo.
—Homem inconsciente, sinais vitais bons, ainda não foi identificado, aproximadamente 20 anos. Acidente de carro. Várias escoriações pelo corpo e face. Estava sem o cinto, foi arremessado contra o para brisas do carro. Sofreu um corte profundo na altura do abdômen e uma pancada forte na cabeça. Estancamos os sangramentos e estabilizamos o paciente, mas , ele perdeu muito sangue. — disse uma mulher que usava um uniforme azul marinho parecido com o dos bombeiros .
—Ok. Muito bem pessoal, escutem! — um homem negro, de olhos verdes que vestia um jaleco branco, fala imponentemente enquanto checa os batimentos e as pupilas do homem deitado a maca. — Preciso de um raio-x do corpo inteiro, para saber a extensão da lesão no abdômen e identificar possíveis hemorragias, traumas ou fraturas internas. Testem o sangue dele, precisamos saber seu tipo sanguíneo para repor o que ele perdeu. Quero uma TC do crânio. Descubram algo sobre ele e entrem em contato com a família, agora.
— Jughead!!! — digo com desespero e entre lágrimas, depois de finalmente reconhece-lo por baixo de todo aquele sangue.
Me aproximo e seguro sua mão, enquanto sigo a equipe médica que quase corre com a maca para dentro do hospital.
— A senhorita conhece o paciente? É dá família? Qual o nome dele?— Pergunta o homem de jaleco.
—Sim conheço— Respondo aos prantos —Somos... quer dizer, fomos namorados. O nome dele é Jughead Jones e o meu é Betty Cooper.
— Olá Betty, sou o Dr James Hunt. Sabe dizer se o paciente é alérgico a algum medicamento?
— Não... pelo menos eu acho que não. Ele nunca me disse nada a respeito — tento acompanhar o ritmo apressado dos médicos, me esforçando para não tropeçar em minhas próprias pernas.
— Oxigenação e ritmo sinusal caindo. — diz uma das enfermeiras.
— Droga! Oxigênio! Preciso de uma máscara de oxigênio, agora! — o médico parece preocupado — preparem o carrinho de reanimação.
— Reanimação? — meu desespero só aumenta. — Juggie! Amor... não! Fica comigo! Fica comigo!!!— digo tomada por lágrimas, me inclinando um pouco sobre o corpo de Juggie e tentando sacudi-lo para trazê-lo de volta.
— Betty, eu entendo sua preocupação mas você não pode ficar aqui.
— Eu não vou a lugar algum! — estou brava, quero ficar perto de Juggie.
— Pôr favor, assim você não está ajudando.
—Juggie, você está me ouvindo. Fica aqui. Fica comigo! — continuo falando com Juggie e ignorado completamente o médico.
— Betty, precisamos estabilizar o Jughead, se você não sair, vou ter que chamar a segurança.
— Mas eu não posso deixar ele sozinho. — meu rosto está vermelho e molhado pelas lágrimas.
— Nós vamos cuidar dele, eu prometo. Mas agora você precisa ir, por favor.— os olhos do médico me transmitem sinceridade e confiança, então balanço a cabeça em acordo e levo a mão de Juggie aos meus lábios —beijando-a, na esperança de que seja apenas um até logo e não um adeus.
Enxugo algumas lágrimas que caem e quando me viro para ir , sinto a mão de Juggie apertando a minha e me segurando no lugar.
— Oi .. eu tô aqui. Vai ficar tudo bem, estão cuidando de você. — Ele abriu os olhos, está apertando minha mão com força e tentando falar alguma coisa. — Não se esforce, fica tranquilo a gente resolve tudo depois que você estiver bom. Não pensa em nada agora. Eu amo você.— digo acariciando seu rosto e o observo relaxar.
Ele começa a fechar os olhos novamente e a soltar sua mão da minha, como se suas forças estivessem indo embora.
— Juggie? O que está acontecendo? —os aparelhos ligados a Juggie começam apitar enlouquecidamente e eu me desespero.
— Pressão e batimentos caindo. Ele está parando— diz a enfermeira monitorando um dos aparelhos ligados a ele.
—Começando massagem cardíaca, administrem uma dose de adrenalina e preparem as pás em 200 , começando reanimação.
— Não!!! Jughead!!! — Grito e institivamente me inclino sobre ele mais uma vez balançando-o .
Um dos enfermeiros me segura na hora em que o médico grita — Afasta! — todos tiram as mãos de Juggie e o Dr Hunt dá um choque em seu peito, fazendo o corpo dele pular .
— Vamos lá Jughead, ainda não acabou! — diz o Dr Hunt enquanto observa os batimentos de Juggie no monitor , que no momento mostrava apenas uma linha azul contínua e emitia um som agudo. — Não , Não, Não! Ninguém vai morrer hoje! Mais uma dose de adrenalina, pás em 300. — Diz o médico a sua equipe e segundos depois grita novamente. — Afasta! — outro choque no peito de Juggie fazendo faz seu corpo pular novamente.
O som agudo e a linha contínua, dão lugar a bips ritmados e pequenos picos na linha azul do monitor cardíaco.
— Temos pulso ! Ele voltou! —Diz a enfermeira.
— Graças a Deus. — Dr Hunt parece aliviado — Ele perdeu muito sangue. Descubram o tipo sanguíneo do paciente, precisamos repor o que ele perdeu antes que o coração dele comece a colapsar.
— O-! Esse é o tipo sanguíneo dele.— digo com certeza, me recordando de exames de sangue de rotina que vi em seu quarto, quando o ajudei com a mudança do trailer que ele morava no lado Sul, para a casa nova no lado norte de Riverdale.
— Você tem certeza? — Pergunta Dr Hunt e eu assinto com a cabeça. — Ótimo, isso vai nos poupar tempo. Você conhece a família do Jughead? Consegue entrar em contato com eles? Precisaremos da autorização da família para possíveis procedimentos. — balanço a cabeça afirmativamente mais uma vez. Meu coração se contorce pelo susto de um minuto atrás e com o medo de perder Juggie. Não consigo mais controlar o choro, que sai intenso e dolorido.
O bom Dr Hunt, compadecido por minhas lágrimas, aproxima-se e põe a mão no meu ombro.
— Ei menina, não fique assim. Dá para ver o quanto você o ama e se importa com ele. Eu prometo que vamos fazer tudo o que estiver a nosso alcance para cuidar do Jughead. Precisamos que se acalme, entre em contato com a família e confie em nós. Pode fazer isso? — pergunta gentilmente.
— Ok. — respondo atordoada.
— Ok! — diz ele me olhando com um pequeno sorriso e virando-se para equipe no momento seguinte, orienta — Smith, providencie o sangue, para ontem! Gonzalez, preciso da TC agora e solicite uma avaliação com a chefe neuro. Delacruz, peça a doutora Yang uma avaliação, para assegurar que ele não tenha lesões no coração. Davis e Diaz, monitorem o paciente, e deixem a sala de cirurgia 2 preparada para qualquer eventualidade. Tudo bem pessoal, vamos salvar essa vida.
Eu observo a equipe médica agindo com habilidade, destreza e apesar da velocidade com a qual se comunicam e fazem os procedimentos, eles estão calmos. A calma que só a experiência trás e isso de certa forma me acalma também.
Eles entram com a maca num grande elevador , as portas se fecham e eu não consigo mais vê-los. Meu coração se contorce mais uma vez. Parada no meio da sala da emergência, digo baixinho minha prece, enquanto as lágrimas rolam.
—Por favor Deus... Não tire o meu amor de mim!
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