Pov Sasuke
-Sasuke-san, é a minha vez de vigiar. - Olhei para o Yuri de pé ao meu lado e me levantei.
-Certo. Depois será a vez do Ren. - Ele assentiu e voltei a olhar na direção de Konoha.
-Está preocupado com algo? Desde que chegámos que não para de olhar na direção de Konoha.
-Não sei. Estou com uma sensação estranha. - Divaguei sentindo o meu coração apertado. - Mas deixa para lá. Eu vou descansar. - Ele assentiu e me virei para ir deitar, mas voltei a virar para trás ao sentir movimento de chakra e olhei para o céu, de onde descia um falcão mensageiro de Konoha.
Deixei ele pousar no meu braço e tirei o bilhete de lá, Yuri observava tudo em silêncio. Desdobrei a folha e li o que estava escrito, sentindo o meu coração parar por um segundo com o que li.
"Volte para Konoha imediatamente! Hinata perdeu o bebé."
-Yuri. Vou voltar para Konoha agora!
-O quê? Como assim? O que aconteceu?!
-É uma emergência. Você está no comando da missão. - Mordi o meu dedo e fiz os selos para a invocação. - Kuchiyose no Jutsu! - Bati no chão e Garuda apareceu. - Garuda, para Konoha agora! À toda velocidade. - Falei subindo no falcão e sem demoras ele se pôs a voar.
O caminho todo eu me perguntei como isso pode ter acontecido? Estava tudo bem, eu deixei ela bem. Como... os sonhos! Ela disse que estava tendo sonhos estranhos com choros de bebés, será que era uma premonição?
Uma hora depois cheguei à Konoha e Garuda pousou em frente ao hospital. Desci e entrei às pressas dando de cara com Sakura falando algo com o Hiashi-san e a Hanabi que chorava.
-Onde ela está? - Perguntei me aproximando e todos olharam para mim.
-Ainda bem que chegou Sasuke. - Sakura disse olhando tristemente para mim. - Venha, eu preciso falar com você. Licença Hiashi-san, Hanabi. - Segui a Sakura até a sua sala e ela me disse para sentar, assim o fiz.
-Como isso aconteceu? - Perguntei assim que a mesma se sentou na sua cadeira e ela suspirou.
-Ela teve um aborto espontâneo. É a perda da gravidez antes da 20ª semana e normalmente ocorre quando o feto não está se desenvolvendo bem, o que foi o caso da Hinata.
-Como assim não estava se desenvolvendo bem? Nós fizemos a consulta, você viu que estava tudo bem Sakura.
-Sim, mas parece que durante o tempo que não fizemos as consultas o embrião parou de se desenvolver, ele não tinha mais condições para sobreviver e o organismo naturalmente interrompeu a gestação. Isso não tem nada a ver com vocês nem nada, vocês não fizeram nada de errado.
-E a Hinata?
-Já cuidamos dela. Ela está descansando num quarto. Agora escute Sasuke, eu sei que isso é pesado para você, que dói em você, mas entenda, para a Hinata é muito mais difícil. Porque era ela que carregava o bebé e pensa que fez algo de errado para que tenha perdido o bebé, ela se culpa. Então ela precisa de você mais do que tudo nesse momento, seja paciente com ela, não force a barra e apoie no que for necessário.
-Nem precisa dizer. - Falei suspirando e esfreguei as mãos no rosto. - Onde ela está? Ela já sabe disso que contou?
-Sim, mas...
-Mas o quê?
-Ela ouviu, estava olhando para mim e tudo. Mas quando terminei de falar ela simplesmente virou o rosto e não proferiu nenhuma palavra desde então. Nem com a Hanabi e nem com o pai dela. Então não a force, tudo bem? - Assenti e ela levantou. - Vou levar você até lá. Vocês precisam do apoio um do outro.
Sakura saiu da sua sala e segui ela até uma área mais calma do hospital, o corredor estava vazio e totalmente silencioso. Paramos em frente à uma porta e Sakura olhou para mim.
-Ela está aqui. Lembre do que eu disse e... - Ela me abraçou fortemente. - Sinto muito. Qualquer coisa lembre que eu estou aqui. - Assenti e abracei ela de volta, talvez procurando um pouco das forças que eu senti que perdi quando recebi essa notícia. Sakura se afastou e foi embora.
Olhei para a porta e fechei os meus olhos respirando fundo. Levei a minha mão à maçaneta e abri lentamente a porta. Entrei e reparei na Hinata deitada na cama e olhando para a parede à sua direita.
Fechei a porta sem fazer barulho e puxei uma cadeira e me sentei próximo à cama, observando ela que nem ousou olhar para mim. Não disse nada, achei melhor não dizer nada. Mas quando agarrei a sua mão senti a mesma apertar ela.
-O nosso filho Sasuke... - Olhei para ela e a mesma estava olhando para mim. Senti o meu coração se partindo em mil pedaços ao ver os seus olhos encharcados. - Eu perdi o nosso filho... - Ela disse perdendo a voz em meio ao choro. - A culpa é minha... eu devia... eu devia ter me cuidado melhor. Eu acho que fiz algo errado...
-Shhh... - Deitei ao seu lado na cama e trouxe o seu rosto para o meu peito a abraçando fortemente. - A culpa não foi sua Hime...
-Está doendo tanto... eu vi... aquele sangue... estava perdendo ele... eu perdi ele Sasuke...
-Shhh... nós vamos superar isso. Eu e você, juntos.
-Mas por que tinha que ser o nosso filho? Eu nem pude sentir ele crescer dentro de mim, não pude sentir os chutes, os desejos... nada! Tudo foi arrancado de mim antes que eu percebesse.
-Eu sei e eu estou aqui. Chore o quanto quiser, fale o quanto quiser. Eu vou suportar toda a sua dor. Não vou sair daqui. - Prometi e a mesma agarrou fortemente a minha camisa e chorou. Ouvir cada um dos seus soluços era como levar várias facadas no mesmo sítio, no coração, que é onde doía mais. E saber que eu não podia fazer nada para aliviar a dor da mulher que eu amo, me fazia sentir impotente, nunca me senti tão fraco como agora. Mas eu não ia desabar na frente dela, ela precisa do meu apoio, e eu o darei à ela.
Após uma hora chorando, Hinata finalmente caiu no sono. Eu precisava sair para apanhar um ar, então deixei ela dormindo e saí silenciosamente do quarto. Me apoiei na porta atrás de mim e sem forças para segurar mais, caí de joelhos e levei as mãos ao rosto soltando as lágrimas que insisti em prender enquanto estava com a Hinata. Senti alguém puxar o meu braço me colocando de pé e dei de cara com o Naruto.
-Não dá mais para segurar não é? Não precisa se segurar na minha frente. - Ele disse e sem hesitar abracei o meu melhor amigo e deixei que ele ouvisse os meus baixos soluços, o choro que estava entalado na minha garganta. - Dessa vez sou eu quem tomará as suas dores.
***
Pov Naruto
Acordei com batidas fortes na porta e levantei sonolento indo abrir. Quem raios bate a porta da casa de uma pessoas assim?!
-Já vai! - Falei abrindo e vi Sakura do outro lado. - Sakura-chan? O que está fazendo aqui a essa hora?
-Naruto, aconteceu algo terrível. - Ela disse preocupada e logo fiquei sério.
-O quê?
-A Hinata perdeu o bebé. - Arregalei os olhos.
-O QUÊ?!
-Fale baixo idiota! - Disse me socando. - Ela perdeu o bebé, foi um aborto espontâneo, mas não há tempo para eu te explicar isso.
-E o teme?
-É justamente por isso que vim te chamar. Ele está com a Hinata, mas eu conheço o Sasuke e sei que ele vai se segurar o máximo na frente dela. Mas eu sei que em algum momento ele vai desabar, e não há ninguém melhor do que você para apoiar ele.
-Me leve até ele. - Falei sério e ela assentiu.
Segui a Sakura até ao hospital e cruzamos com a Hanabi e o pai dela.
-Hanabi, já estão voltando?
-Sim. - Ela parecia acabada, nem imagino como a Hinata deve estar. - Eu vou pegar uma muda de roupa para a Hinata e logo trago.
-Está bem. Tentem descansar, a Hinata está em boas mãos agora. - Hanabi assentiu e se retirou com o pai dela.
-A Hinata deve estar péssima. - Falei e Sakura assentiu.
-Não proferiu nenhuma palavra quando confirmei que ela havia perdido o bebé. Nem com o pai e nem com a irmã. Acredito que só vai falar com o Sasuke, aliás já deve ter falado tudo, já passou uma hora. Mas enfim, venha. - Entramos no hospital e seguimos por alguns corredores. - Vai por esse corredor e espere em frente à porta número 32, é o quarto da Hinata.
Assenti e fui para o corredor que ela indicou, mas travei quando vi o Sasuke caído de joelhos tapando o rosto. Apressei os meus passos até ele e o puxei para ficar em pé, o mesmo reparou que era eu e notei as suas lágrimas.
-Não dá mais para segurar não é? Não precisa se segurar na minha frente. - Falei e não me surpreendi quando ele me abraçou e ouvi os seus soluços baixos, o choro que eu sei que ele estava segurando. - Dessa vez sou eu quem tomará as suas dores. - Falei abraçando ele de volta e dei todo o meu apoio.
Sasuke não demorou mais do que apenas alguns minutos chorando e logo nos afastamos e sentamos nos bancos em frente a porta e ficámos em silêncio por longos minutos.
-Não vou perguntar como você está se sentido, que eu sei que está se sentindo péssimo. Mas... como ela está?
-Se culpando. Ela acha que a culpa é toda dela. - Ele disse fungando e coçando o braço. - Foi difícil e doloroso ouvir o choro dela, parecia que o meu coração iria parar a qualquer momento de tão apertado que estava. Hinata é forte, mas vai ser difícil superar isso.
-Vai ser difícil para vocês os dois. Afinal, era um filho que ambos esperavam. - Não recebi a sua resposta. - Eu sei o que está pensando, que deve se manter firme e dar todo apoio à Hinata. Não digo que nesse momento você não precisa ser o mais forte, você tem que ser. Mas não carregue tudo sozinho, se abra com a Hinata, fale também do que sente e tentem superar isso juntos. Vai ver que se fizer isso, vão ultrapassar tudo muito mais rápido. Seja sincero.
-Hm. - Murmurou coçando o pescoço e estava achando esse comportamento estranho.
-Está com alguma alergia? Não para de coçar desde que sentamos aqui.
-Não é nada, deve ser só uma irritação na pele.
-Quer que eu chame a Sakura?
-Não! Não é necessário! - Pelo tom acho melhor nem insistir no assunto.
-Você precisa de algo?
-Preciso que pegue uma muda de roupa para mim em minha casa. Vou passar esta noite aqui e só sairei amanhã com a Hinata, acredito que a Hanabi vai trazer roupa para a Hinata, mas passe lá para avisar.
-Não será necessário, cruzei com ela quando estava chegando e ela disse que ira pegar uma muda de roupa para a Hinata, daqui a pouco ela chega, a Sakura deve entregar para você.
-Certo, então é só isso mesmo.
-Está bem. Eu vou lá pegar, enquanto isso tente descansar também, já são 4h da manhã e acredito que não tenha dormido nada.
-Vou tentar, se conseguir.
-Tem que conseguir. Eu vou lá, fique bem. - Falei me levantando e ele assentiu. Voltei para a recepção e a Sakura estava lá esperando por mim.
-E então? Como ele está? - Ela perguntou preocupada e eu suspirei.
-Como a gente imaginava. Tentando suportar tudo sozinho.
-E a Hinata?
-Ele disse que ela está se culpando. Mas eu falei para ele que eles precisam conversar abertamente sobre isso, que ele precisa se abrir para ela e dizer como se sente com relação a isso tudo, senão eles vão demorar muito para ultrapassar isso.
-É. Que coisa triste, ainda não acredito que isso aconteceu. - Sakura disse suspirando.
-Você parece exausta.
-E estou, estava de plantão e era suposto eu ir para casa descansar, mas a Hinata chegou aqui sangrando tanto que eu não consegui deixar isso nas mãos de outra pessoa, tive que ser eu a atender ela. Ela me implorava tanto para salvar o bebé dela, estava desesperada. Tivemos que sedar ela.
-E não teve como salvar o bebé?
-O feto parou de se desenvolver, já não havia como sobreviver e o organismo dela expulsou algo que já não tinha vida.
-Que triste, isso vai marcar eles de uma forma absurda.
-Eles vão precisar de muita força para superar isso. E nós somos os amigos deles, temos que estar lá para eles a qualquer momento que precisarem.
-Tem razão. Bem, eu vou buscar uma muda de roupa para o Sasuke e logo estarei aqui para entregar para você. Acredito que vá passar a noite aqui, certo?
-Sim, quero estar aqui para o caso da Hinata precisar de algo.
-Está bem. Tente descansar na sua sala, é notável o seu cansaço. - Ela assentiu e instintivamente beijei a sua testa. - Ah... - Me afastei atrapalhado e vi o seu rosto surpreso. - Desculpe, eu... esquece! - Virei indo embora antes que não falasse alguma besteira. - No que estava pensando?! Eu só posso ser idiota mesmo. - Falei sozinho e caminhei apressado pelas ruas desertas de Konoha.
Pov Sasuke
Acordei e a primeira coisa que notei foi que nem dormi direito. Olhei para a Hinata ao meu lado e ela ainda dormia, parecia bem abatida mesmo durante o sono. Acariciei o seu rosto e beijei a sua testa.
Levantei da cama e vi duas mochilas no quarto, uma delas era minha. Sabia que eram as minhas roupas e da Hinata. Aproveitei que ela ainda estava dormindo e fui tomar um duche rápido no banheiro do quarto e troquei de roupa. Hinata ainda dormia, então achei melhor pegar algo para ela comer.
Saí do quarto e caminhei até a sala da Sakura e bati a porta. A mesma permitiu a minha entrada e entrei reparando que ela estava deitada no sofá.
-Quero pedir algo para a Hinata comer, tem alguma restrição?
-Não. Ela está totalmente livre para seguir a sua vida com normalidade. Sei que não estão no clima, mas vou avisar mesmo assim. Ela não pode ter relações sexuais por no máximo duas semanas Sasuke. Tenham cuidado. - Assenti e fui para o refeitório do hospital e pedi um pequeno-almoço reforçado para ela. Levei num tabuleiro até o seu quarto e quando entrei a mesma não estava mais na cama. Ouvi o barulho do chuveiro ligado e deduzi que ela estava tomando banho.
Pousei o tabuleiro na cama e me sentei na cadeira esperando por ela. Após me concentrar unicamente no som do chuveiro ligado, passei a ouvir os seus soluços.
Eu queria ir lá e consolar ela, abraçar o seu pequeno corpo e dizer que tudo vai ficar bem. Mas achei que ela precisava desse momento à sós, ela precisa estar um pouco sozinha.
Minutos depois ela saiu vestida e de banho tomado, mas era notável os seus olhos inchados e o nariz avermelhado.
-Trouxe comida para você. - Apontei para o tabuleiro na cama e ela olhou de relance.
-Não estou com fome. - Suspirei assentindo, eu sabia que ela daria essa resposta.
-Tudo bem, não vou obrigar você. - Falei me aproximando dela e beijei a sua testa. Bateram a porta e eu permiti a entrada.
-Licença, bom dia Hina. Como se sente? - Sakura perguntou entrando e se aproximou da Hinata.
-Não muito bem, como pode ver. - Hinata disse forçando um sorriso.
-Bem, você já pode ir para casa. Já falei com o Sasuke sobre os cuidados que devem tomar. Qualquer coisa sabe que pode contar comigo, certo? - Hinata assentiu e Sakura abraçou ela.
Peguei as nossas mochilas numa mão e passei a outra pelos ombros da Hinata e saímos do quarto.
Algumas pessoas que ficaram a saber do ocorrido, olharam para nós com pena e eu senti que a Hinata ficou meio acanhada com isso. Olhei ameaçadoramente para todos e eles desviaram os olhares.
Saímos do hospital e de imediato a luz do sol me incomodou, parece ter incomodado a Hinata também, já que ela se aninhou mais a mim.
Durante o caminho ouvimos os cochichos e sentimos o peso dos olhares sobre nós. Se desse eu tacava fogo à todo mundo, mas obviamente não podia. Seguimos apenas o nosso caminho em silêncio e paramos em frente ao clã Hyuuga.
-Não quero ficar aqui. Posso ficar com você só por alguns dias?
-Você pode ficar comigo o tempo que quiser. - Falei voltando a caminhar e poucos minutos depois chegámos à minha casa.
Entrámos e pousei as mochilas no sofá e olhei para a Hinata que esfregava a mão num braço olhando ao redor, parecia meio perdida.
-Quer alguma coisa? - Perguntei me aproximando dela.
-Acho que só quero deitar.
-Você não vai comer mesmo nada?
-Vou comer mais tarde, por agora só quero descansar. - Assenti e ela foi para o meu quarto e eu suspirei esfregando as mãos no rosto.
-Nunca vi ela tão abatida.
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