Toda pessoa tem um rito de passagem. Um não, vários. Os ritos são diferentes um dos outros, justamente por que na nossa pequena estadia aqui na terra, nenhuma pessoa passa apenas por um único momento durante esse tempo. Nossa vida é dividida em partes. Partes de alegria, partes de tristeza, partes de medo, partes de decepção, partes de luta, partes de vitória, e também de derrota. Cada uma dessas partes é um rito, então é compreensível que as pessoas tenham coleções de ritos, alguns que carregamos com carinho, enquanto outros nós só gostaríamos de ao menos tentar esquecer.
E eu não sou diferente das outras pessoas. Me consideram jovem, mas já vivi um pedaço da minha vida e hoje me considero lúcida para tomar as minhas próprias decisões, por mais que muitas vezes as pessoas duvidem da minha capacidade de pensar com clareza devido a tudo aquilo que eu perdi. Mas eu não sou especial. Não. Eu sou apenas mais uma garota, vivendo e tentando encontrar sentido para a própria existência. Eu não sou diferente de ninguém. Nem melhor, nem pior, apenas...Alguém. E sendo um alguém tão normal eu tenho ritos.
Mas a semelhança para por aí. Todos os meus ritos, desde do mais adorável até o mais pesaroso, todos eles tem um único nome e sobrenome: Neji Hyuuga.
O Conhecer
Cronologicamente contando, o conhecer parece fazer mais sentido para começar. Neji Hyuuga era meu parceiro de equipe, juntamente com Rock Lee, e meu amado professor Maito Guy. Mas não foi na primeira formação shinobi que eu conheci Neji, na verdade, foi um pouco antes disso. Foi até mesmo antes de entrar para a academia ninja. Eu já trazia comigo a convicção de que iria me tornar uma ninja extremamente forte e habilidosa, alguém que todos gritassem pedindo por ajuda, um rosto inesquecível no meio da multidão. Um exemplo de força e coragem. No fim, eu acabei me tornando exatamente o oposto de tudo aquilo que eu já sonhei pra mim mesma. Não sou capaz de proteger aqueles que amo, nem mesmo aquilo que é mais precioso para mim eu tive forças para proteger. Mas isso é outra história. O fato é, que a minha determinação em me tornar uma ninja melhor acabou facilitando muito para que eu conhecesse o gênio do Clã Hyuuga, que na época, não passava de um garoto magricela e franzidinho.
O campo de treinamento, localizado nas profundezas do clã Hyuuga. Eu sabia que era proibido, mas mesmo assim, naquele fim de tarde, adentrei as dependências do clã. Uma senhora de idade, que imagino que deve pertencer a família principal do clã esquecera algo dentro dos arredores de um dos clãs mais poderosos, temidos e respeitados de toda a aldeia da folha. É claro que eu vi a oportunidade única de entrar lá sem que ninguém me visse. Pensei que, talvez por sorte, eu iria ver o campo vazio e que talvez pudesse fazer uns golpes ali para me sentir mais honrada. Caso o tatame estivesse ocupado, eu poderia absorver alguns dos segredos dos Hyuuga, se por um acaso eu acabasse entrando em conflito com um deles, além de também ser capaz de melhorar as minhas técnicas de me ocultar. Ok, talvez meu plano tão tenha soado tão brilhante como eu havia arquitetado em minha mente, mas ao menos naquele dia, com a minha mentalidade de cinco anos de idade, não passou em nenhum momento na minha cabeça que eu iria ser pega, o que eu acabei sendo.
Por um garoto de também cinco anos de idade.
Naquela época, eu já havia ouvido falar sobre o Byakugan, no entanto, não fazia a menor ideia de qual seria a dimensão dos seus poderes. Por isso, fiquei escondidinha ali, no arbusto, e logo Neji pode me ver por que estava treinando sozinho, com o Byakugan já ativado. Não foi muito difícil para ele me ver naquele péssimo esconderijo. Antes que eu pudesse perceber que havia sido descoberta, ele já estava bem na minha frente, de pé, com uma feição zangada e os braços cruzados. É estranho relembrar que foi com essa expressão no rosto que Neji me viu pela primeira vez. Eu estava tão hipnotizada com a dimensão dos poderes de um Hyuuga, afinal, era a primeira vez que eu via um Byakugan na minha vida, que não tinha forças para falar.
-O que está fazendo aqui? Foi a pergunta dele. Curto e grosso. Objetivo. Uma característica de Neji que permaneceu ao longo de todos os seus anos.
Quando finalmente lembrei que tinha a capacidade de falar, disse:
-Eu vim treinar, oras bolas! Seja meu adversário!
O menino que naquele momento, eu nem sabia o nome, virou o rosto para o lado:
-Até parec...
Não deixei com que ele terminasse. Me lembro perfeitamente daquele momento. Pulei do arbusto para imobilizá-lo, mas ele se moveu tão rapidamente que eu nem pude ver o que estava de fato acontecendo. Quando vi, estava caída no chão. Irritada por ter sido humilhada, tentei dar uma rasteira nele, mas ele agarrou meu pé de forma tão rápida quanto da primeira vez, e como se fosse algo simples, me derrubou novamente no chão. Ele espantava poeira das mãos, encostando-as uma nas outras, enquanto me encarava com um olhar reprovador.
-Você não tem condição de enfrentar um membro direto do Clã Hyuuga. Os Hyuuga são os mais fortes da aldeia da folh...
Dessa vez, foi Neji que se calou. Ele não esperava que uma pirralha como eu já soubesse fazer o jutsu de substituição. Apareci atrás dele, segurando a kunai que, para o desespero da minha mãe, sempre carregava por perto.
-Sua guarda estava baixa, sabia?
Aquilo pareceu calá-lo por um instante. E eu gostei disso. Guardei a kunai no bolso novamente, pronta para encará-lo de frente, como os verdadeiros shinobi faziam.
Estava pronta para pressentir seu próximo ataque quando me surpreendi, ele havia estendido a mão.
-Neji Hyuuga.
Foi assim que eu o conheci. Éramos dois pirralhos com o sonho de se tornar shinobis extremamente fortes. Ele, para proteger a família principal de seu clã, e eu para me tornar um símbolo de força e coragem. Com objetivos parecidos, nós acabávamos nos entendendo, e eu acabei me tornando a sua parceira nos treinos constantes que ele tinha, com o objetivo de ter a sua rotação perfeita.
A Briga
Neji Hyuuga era a pessoa mais lógica que eu já conhecera em toda a minha vida. Quando ele traçava um plano, ele sempre gostava que ele saísse exatamente do jeito que ele havia planejado. Chegar atrasado, esquecer o que ia falar em uma apresentação importante, tirar zero em um exame, fracassar em uma missão ninja. Todas essas coisas eram completamente desconhecidas para ele, por isso que não era nenhuma espécie de novidade pra ninguém o garoto ser apelidado de Gênio.
Mas para mim, não era nada inteligente uma pessoa se dedicar tanto por uma única causa.
-A vida não é feita apenas da casa principal, sabia? Eu havia perguntado casualmente enquanto me sentava ao lado de Neji em um fim de tarde quente. Nós estávamos dando um pequeno intervalo depois que eu insisti muito. O solo estava completamente desnivelado devido a rotação, e nós estávamos tão sujos de lama que eu imaginei que não tinha como estar mais suja do que já estava, por isso me deitei sob o solo, até por que estava exausta. Neji no entanto, não mexeu um único músculo, apenas olhou pra mim com uma cara zangada, e disse:
-Esse é meu jeito ninja.
-Eu sei que é o seu jeito ninja, Neji. Concordei- Mas a vida não é só missões e batalhas. Existe outro Neji que não fica só pensando em treinar?
-Já chega. Ele levantou a voz e eu me assustei por isso- Você está me desrespeitando.
-F-Foi só uma pergunta... Murmurei, sem saber o que fazer para que ele parasse de me olhar daquele jeito. Eu amava treinar com ele, por isso o encontrava todos os dias, durante dois anos e meio. Só estava tentando puxar um assunto que não fosse relacionado ao treinamento, só queria que a gente parasse para tentar fazer algo diferente, sem que parecêssemos duas máquinas de batalha. Brincar de esconde-esconde nos arbustos, competir pra ver quem subia árvores mais rápido, sair para tomar um sorvete. Na verdade, eu só queria conhece-lo melhor, e não era justo que ele me olhasse daquele jeito.
-Você não entende mesmo, não sei por que eu ainda tento... Ele tinha resmungado, e se levantou. Eu já me encontrava sentada, e sentia as lágrimas chegando- Esquece Tenten, eu quero treinar sozinho.
-Pra sempre? O desespero daquela pobre garota de sete anos e meio explodiu dentro de mim, mas Neji não pareceu ter muita piedade.
-Isso, pra sempre. Agora vá embora.
E eu corri, derramando várias lágrimas pelo caminho, até a direção contrária da que eu estava, deixando até as kunais no campo de treinamento. Eu senti meu coração despedaçar em milhões de pedaços, e demorou um tempo para que eu pudesse entender que ele só fez isso com meu coração por que eu já o tinha entregado bem em suas mãos.
A confissão
Depois disso, eu fiquei um bom tempo sem vê-lo, mas isso não significava que eu não pensava nele. Na verdade eu pensava sim. Todos os dias. Mas eu imaginava que ele ainda estava zangado comigo, e essa teoria foi fazendo mais sentido na minha cabeça, por que depois daquele dia, ele nunca mais veio me chamar com uma pedrinha na minha janela para que treinássemos. Imaginei que ele não queria me ver nunca mais, e conforme fui crescendo, tive a certeza que ele nem se lembrava mais de mim, por que éramos muito pequenos na época.
Foi então que designaram a nossa equipe ninja. A famosa equipe 3. Rock Lee, Neji e eu. Não preciso dizer o quão nervosa eu me senti ao ouvir o nome de Neji ser anunciado para a nossa equipe.
No dia da apresentação, fiquei quieta. Procurei fingir que eu nunca conheci Neji de nenhum lugar. Foi quando as apresentações acabaram e Lee e Guy saíram para treinar juntos mais um desafio maluco, que Neji me chamou.
Nunca vou esquecer.
-Ei. Foi o que ele disse. Eu já tinha agarrado minha bolsa e estava prestes a ir pra casa. Tentei em vão disfarçar o meu nervosismo.
-E-Ei. Minha voz saiu falha enquanto minha mão trêmula acenava de volta pra ele.
-Tá afim de treinar, como nos velhos tempos? Perguntou ele, com o rosto virado para o lado.
Nunca respondi tão rápido em toda a minha vida.
-Claro!
Caminhamos em silencio um do lado do outro até o campo de treinamento. Eu me lembro de tê-lo observado pelo canto do olho. Tinha tanta coisa que eu queria perguntar pra ele, mas não conseguia estabelecer uma ordem exata de prioridades, por isso me calei. Quando chegamos, acabamos por dizer ao mesmo tempo.
-Você cresceu.
Neji soltou um sorriso de canto e eu pensei que estava começando a derreter como picolé.
-P-Pois é.
Não sei quanto tempo se passou, mas foi o suficiente para que o tão racional Neji Hyuuga se aproximasse de mim e dissesse:
-Tenten, eu gosto de você.
Meu rosto ficou em chamas, minhas pernas ficaram trêmulas e eu senti que meu coração iria explodir dentro do meu peito. Eu não sabia o que fazer. Tomei uma coragem absurda para encará-lo, e seu semblante sério indicava que ele não estava brincando. Mesmo assim, murmurei:
-V...Você o que?
-Eu gosto de você. De repente Neji parou de me encarar, e começou a se afastar. Eu queria que ele ficasse. Eu queria que ele soubesse que eu também sentia o mesmo, muito menos antes de saber o que era exatamente sentir algo de verdade.
Foi então que minha cabeça tentou de forma árdua não definir aquilo que estava sentindo, uma coisa tão intensa a ponto de lhe implorar por ar para respirar com algo tão vazio como palavras. Mas nada saiu.
-Agora que somos parceiros de equipe, achei que deveria te dizer isso. Concluiu o gênio, logo ativando seu Byakugan e se posicionando para realizar a sua rotação, como se nada tivesse acontecido.
O amor, assim como todas as demais coisas era, pra ele, algo descomplicado e desprovido de complexidades.
O Primeiro beijo
Durante muito tempo, eu evitei aquele acontecimento. Eu queria dizer a ele que eu o amava, como eu fiquei contente com a sublime revelação de que eu havia descoberto que na verdade eu era correspondida, mas toda vez que eu abria a boca, nada saia. Neji permaneceu sendo o mesmo depois do que havia dito naquele dia, me tratando exatamente do mesmo jeito que ele estava me tratando antes, provavelmente se acostumando com uma rejeição que na verdade nem existia de fato.
Olhando para trás, não consigo entender por que perdi tanto tempo para dizer que eu sentia o mesmo. Não conseguia entender por que estava tão insegura. Eu o amava, e agora eu sabia que ele também sentia o mesmo, e aquilo era maravilhoso. Mas provavelmente para uma garota de treze anos como eu aquilo era, no mínimo confuso.
Não preciso nem dizer que aquilo foi um dos meus maiores arrependimentos, talvez o maior. Há certas coisas que não podem ser recuperadas, nem saradas com o tempo. E este tempo que perdi, poderia ter sido muito bem gasto tendo lembranças ainda mais inesquecíveis com Neji, lembranças que não pude ter, devido a minha covardia.
Mas como é que eu iria saber que ele atravessaria como areia pelos meus dedos?
Eu só sabia que passei a maior parte daqueles dias tentando achar maneiras diferenciadas de me declarar, mas nunca conseguia ter nada em mente. Para piorar, nunca me abri com ninguém a respeito disso, por que era tímida demais.
E então, finalmente, encontrei a oportunidade que estava esperando. As finais do Exame Chunin. É claro que estava nos meus planos aparecer de repente no camarote, parabenizando Neji pela vitória, dizendo que sentia o mesmo, torcer para que ele ainda sentisse o mesmo, que seu coração não tenha esfriado por minha covardia ou que ele não tenha reparado em nenhuma garota mais bonita e mais interessante que eu e com sorte, com muita sorte, eu ganharia um abraço dele.
Mas a vida sempre nos reserva muitas surpresas, por que no fim das contas, Neji havia sido derrotado por Naruto. O impossível havia literalmente acontecido. Sem saber ao certo o que estava de fato acontecendo, meus pés me guiaram para a enfermaria onde ele estava sendo levado. Quando cheguei, tão preocupada com ele que nem bati na porta, quando percebi, o senhor Hiashi já estava se retirando. Neji parecia estar tão fragilizado, não pelos ferimentos, mas sim por causa da presença daquele homem. E eu nunca havia o visto desse jeito. Neji nunca havia sido o tipo de pessoa que demonstrava abertamente as suas fraquezas.
Permaneci parada enquanto Hiashi se retirava do quarto de hospital, me cumprimentando com um maneio de cabeça. Quando ele foi embora, Neji me encarou com um olhar perdido, como se estivesse tentando processar as milhares de coisas que estavam passando na sua cabeça durante aquele momento:
-Tenten...? Ele tinha dito, simplesmente- O que está fazendo aqui?
Eu apenas me aproximei, e com as mãos tremulas, num movimento que deixava claro a minha falta de experiência, o meu nervosismo e a minha hesitação, o envolvi em um abraço. Neji não se desvencilhou, pelo contrário, aos poucos fui sentindo que ele foi retribuindo o abraço.
-Eu vim por que eu te amo, Neji. Disse baixinho, enquanto levava as minhas mãos aos seus cabelos castanhos lisos e perfeitos, que eu sempre tive curiosidade em tocar- Espero que eu não tenha chegado tarde demais, e...
Neji não havia deixado que eu terminasse. E eu me lembro de cada segundo que se passou após aquilo. Ele tinha exibido um sorriso de canto, como se estivesse há muito tempo esperando por isso, e me puxou lentamente, e me beijou. Um beijo extremamente inexperiente, de duas pessoas que não sabiam o que estavam fazendo, mas que sabiam exatamente o que estavam sentido.
A Alegria
Os dias que se sucederam depois daquele sublime acontecimento foram incríveis. Neji sempre fora uma pessoa extremamente discreta em relação a todas as coisas das quais ele estava, de certa forma, envolvido, e eu sempre respeitei isso. Eu me lembro perfeitamente o quanto eu me sentia feliz naquela época ao abrir meus olhos e me deparar com Neji deitado bem ali ao meu lado, repousando tranquilamente enquanto envolvia minha cintura com seus braços fortes. Eu sentia que nada no mundo me faria sentir mais feliz. Finalmente, eu me sentia completa, e aquilo era a melhor sensação do mundo para mim.
No fim do outono com as folhas esparramadas pelo chão, quando estávamos treinando sozinhos no campo, como sempre fazíamos, me ocorreu de descobrir um lado sapeca do grande e até então sério gênio do Clã Hyuuga. Eu estava dando meu melhor para encontrar uma fraqueza naquela rotação dele quando de repente ele desativou o Byakugan e gesticulou para que eu chegasse mais perto. Larguei as armas enquanto dava de ombros. Como o semblante dele era sério, eu já pensei em uma justificativa enquanto me aproximava dele:
-Olha, antes que você reclame que eu não consegui encontrar um ponto fraco na sua rotação, é por que a cada dia você está melhor e...
Antes que eu pudesse terminar, ele havia jogado uma quantidade considerável de folhas em mim. Eu gritei, devido ao susto.
-Neji Hyuuga! Exclamei, parecendo zangada, e ele riu em resposta. Como era bom vê-lo sorrindo e escutar a sua risada..- Você vai pagar caro por isso!
-Será? Ele desafiou.
Eu me lembro de ter corrido atrás dele e ter jogado uma porção de folhas naquele cabelo perfeito dele. Nós travamos uma guerra árdua para ver quem ficava mais sujo com as folhas. Eu me lembro de estar fugindo dele, quando tropecei em um graveto e caí com tudo num monte de folhas avermelhadas. Neji já estava diante de mim quando tentei me levantar. Nós rimos.
-Agora eu peguei você. Ele abriu um sorriso de canto, enquanto eu aproximava minha mão no canto de seu cabelo, tirando das folhas que tinha ficado ali. O puxei pra perto e o beijei, enquanto o por do sol começava a aparecer.
E nosso amor perdurou cada vez mais intensamente com o passar de todas as estações.
Eu amava quando nós saíamos para ver mais de perto as estrelas que coloriam o céu com um esplendor especial, quando sentíamos o frio gelado da madrugada nos saudar enquanto caminhávamos de mãos dadas nas ruas praticamente abandonadas de Konoha, quando subíamos em um telhado qualquer onde provavelmente uma família dormia já o quinto sono e fazíamos juras de amor um para o outro. Bem baixinhas, o suficiente para que só nós dois pudéssemos compreender as palavras que estavam sendo ditas ali. Não precisávamos provar ao mundo o valor do nosso amor nos expondo, por que nós já sabíamos exatamente o que estávamos sentindo e isso já estava de bom tamanho pra nós.
Eu sentia uma felicidade tão grande, que não cabia dentro de mim.
Nunca passou pela minha cabeça, em nenhum momento, que essa alegria estivesse prestes a acabar.
A Tristeza
E então, chegou o rito mais dolorido de todos. A morte.
Eu sempre soube que um dia Neji e eu morreríamos, mas nunca dessa forma, nunca tão cedo. Não como shinobis. Para mim, era impossível que Neji morresse em combate. Era inadmissível para mim que ele morresse devido a alguma espécie de batalha. E apesar da grande preocupação que encheu meu coração naquele dia contra Kidomaru, e seu grave estado de saúde, eu nunca duvidei, nem por um segundo, que Neji iria voltar pra mim. Ele sempre faria isso, ele tinha me prometido isso, e eu acreditava em cada palavra dita por ele.
Mas então aconteceu o pior. A guerra eclodiu para todos os lados, e pela primeira vez eu senti um medo muito grande. Mas não era medo de que Neji morresse. Pelo contrário, eu tinha a ampla certeza que ele iria ficar vivo, assim como também tinha certeza que Guy e Lee também sobreviveriam aos combates, até por que eles eram extremamente fortes e habilidosos, mesmo com todos os empecilhos que foram lançados sobre eles ao longo de toda as suas vidas.
Eu estava com medo de morrer. Eu não sabia se poderia ou não sobreviver a mais um confronto. Eu queria me tornar forte para poder sobreviver a tudo para garantir de vez o meu futuro e a minha vida com Neji, e finalmente poder contar aos meus filhos como o papai havia se destacado com suas habilidades impressionantes.
Mas eu não tinha certeza de nada.
Nunca vou esquecer daquela primeira noite sob acampamento de guerra. Todos a quem um dia eu já tive contato estavam lá, amontoados. Os Senseis, sempre ocupados, definiam e faziam as suas sugestões de táticas de combate juntamente com Shikamaru, nosso consagrado estrategista.
Os demais pareciam preocupados, mas depositando suas esperanças em Naruto, especialmente Hinata, mal sabia eu que não iria conseguir mais encará-la nos olhos depois da guerra.
Alguns faziam piada sobre o assunto e tentavam considerar o acontecimento como algo irrelevante, apenas para mascarar aquilo que realmente estavam sentido, como Ino e Kiba, enquanto outros apenas permaneciam sendo eles mesmos, como Chouji e Shino.
Fiquei calada durante todo tempo, dando um sorriso ou outro e dando algumas risadas para tentar esconder o medo avassalador que eu sentia dentro de mim, crescendo cada vez mais. A verdade é que eu queria correr como uma garotinha indefesa e pular nos braços de Neji, que estava do outro lado da sala, discutindo as táticas de batalha juntamente com Shikamaru e os mais velhos, ajudando a decidir o plano que definiria a nossa vitória.
Algumas horas depois, Tsunade ordenou que todos fossemos dormir. Como se alguém fosse conseguir.
Deitei-me no meu colchonete velho e encarei a escuridão presente no teto. Nenhum ruído, nenhum sequer. Nem mesmo Naruto foi capaz de fazer alguma espécie de piadinha. Estava deitada entre Sakura e Shino, que já adormeciam. Me virei de um lado para o outro como um peixe fora d’água. Não conseguia dormir, apenas chorar silenciosamente, torcendo até o fim para que ninguém acordasse com meus soluços que eu tentava, ao máximo possível abafar.
Se perdêssemos a guerra, nem mesmo o mais forte entre todos nós seria capaz de sobreviver ao pavoroso Plano da Lua Vermelha.
Nem mesmo Neji.
De repente, o primeiro som foi ouvido depois de todo aquele tempo em silencio.
-Ei- Um sussurro extremamente familiar, o que me fez arregalar os olhos. Era ele.
Neji estava sentado em seu colchonete, provavelmente sem conseguir dormir também.
Ele gesticulou para que eu chegasse perto dele.
-Tem certeza? Sussurrei de volta, e ele assentiu com a cabeça.
Cheguei perto dele, receosa, olhando para trás a todo o momento. Será que alguém estaria nos vendo?
Antes que eu pudesse perguntar o que Neji queria, ele disse, colocando as mãos em meu rosto:
-Nós vamos sobreviver, tá bem?
Aquela declaração dele era tudo o que eu precisava para desabar por completo. Comecei a chorar, enquanto ele me abraçava, fazendo carinhos em meus cabelos.
Quando finalmente parei para me recompor, procurei encará-lo. Ele estava sorrindo pra mim, parecia livre de qualquer espécie de preocupação. Eu ainda me mantinha sobre proteção de seus braços, e não queria sair dali nem por um segundo sequer.
-Ei... Ele sussurrou baixinho, enquanto enxugava uma última lágrima que caia solitária em meu rosto- Quando sairmos daqui, vamos contar para todos o que nós temos.
Arregalei os olhos, devidamente surpresa:
-Tem certeza? Mas é que...
-Não para por aí. Neji sorriu, enquanto brincava com uma mecha dos meus cabelos- Eu quero passar o resto da minha vida ao seu lado Tenten. E enquanto eu tiver esse objetivo bem aqui.- E então, ele colocou minha mão sobre o coração dele. Foi a última vez que eu o ouvi batendo- Eu não vou morrer.
Mentiroso.
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