História Um Tempo de Lobos e Dragões - Tyrion III

Tyrion

O salão estava tão silencioso que Tyrion podia ouvir a neve caindo do lado de fora. Daenerys ainda estava parada no meio do salão olhando para a exata direção que Jon Snow saiu. Tyrion se perguntava o que a jovem rainha estaria pensando, queria poder interpretar aqueles olhos azuis cintilantes e a expressão confusa em seu rosto.

Foi Lady Sansa que deu o primeiro passo até o centro do salão para falar com a rainha, Tyrion observou a maneira delicada e ao mesmo tempo decidida que a menina caminhava. Mulher. Lady Sansa agora é uma mulher.

— Vossa Graça. — Ela começou calmamente. — Há alguns anos fui embora de Winterfell como uma menina apaixonada por um príncipe que seria Rei, mas o amor acabou quando já Rei ele mandou cortar a cabeça do meu pai. Aquela menina diria que Jon Snow é um bastardo, seu meio-irmão e que não é mais importante que um cavalo. Mas aquela menina se transformou nesta mulher que está na sua frente, ela sofreu e sofreu e sofreu, assistiu sua família ser morta enquanto caminhava pela casa do inimigo até que escapou e viveu rodeada de mais inimigos, até seu irmão, aquele que ela julgou a vida toda por ser um bastardo abrir os braços para ajudá-la no momento que mais precisou. Hoje sei quem é Jon Snow, sei que é o homem mais horando que conheço. E o conheço. Suas dores, medos e dúvidas, conheço sua guerra.

Tyrion conseguia sentir a tristeza que aquele olhar transmitia. Pobre Lady Sansa, sempre sofrendo nas mãos daqueles que querem decidir seu destino, para Tyrion, esse definitivamente é o lugar que ela deveria ter ficado desde o começo. Todos os Stark deveriam, antes Tyrion se culpava por ter uma empatia tão grande por eles, mesmo quando sequestraram seu irmão Jaime, ele os entendia, como não?

Seu irmão quase matou uma criança de dez anos, seu vil sobrinho matou o senhor de Winterfell Ned Stark, os Lannister conspiraram para o assassinato de Catelyn Stark e seu herdeiro Robb. Como não sentir ao menos um pouco de empatia?

Robert liderou o caminho para suas mortes quando escolheu Ned Stark como sua Mão.

— Olhe dentro de seu coração. — Lady Stark continuou. — Vossa Graça deve ter algo que não consiga falar para ninguém, algo que a assusta tanto que as palavras se formulam e morrem em seus lábios. Eu tenho os meus pesadelos de vida, Jon tem os dele e sei que Vossa Graça tem os seus. Consegue entender?

Tyrion olhou para Daenerys naquele momento, sabia que ela pensava sobre aquilo com delicadeza, ela sabe o que Tyrion pensa de Jon, Sansa e os Stark. Sabe o quanto precisa do Norte e da mesma forma que o Norte precisa deles com o Vidro de Dragão. Sansa estava agora no salão quase vazio, apenas Brienne e Pod perto o suficiente, os outros dois homens que estavam sempre por perto, o da barba ruiva e Sor Davos devem ter seguido seu Rei. Tyrion deveria ter feito o mesmo, mas Daenerys parecia querer pensar sobre o assunto e ficar sozinha, negou a presença de Missandei e Verme Cinzento em seus aposentos. 

Varys começou a falar pelos cotovelos para causar sua sempre bem-vinda boa impressão.

— Lady Sansa, a Rainha... deve estar cansada da viagem, foi tão longa! O frio... deve ter sido o frio, ela não está acostumada, a mudança de temperatura, temos que concordar que é devastadoramente notável...

— Poupe-nos de suas desculpas Lorde Varys, Lady Sansa é uma mulher, como bem disse. — Tyrion encurtou a distância que o separava da alta senhora Stark e tocou sua mão com delicadeza. — Minhas sinceras desculpas pelo desconforto, Milady. A Rainha...

— Agora é o senhor que está me dando desculpas pela Rainha, Lorde Tyrion. — Ela disse séria.

— Não, Milady, me desculpei por mim, pelo desconforto. Não me desculpei pela rainha, talvez nem ela se desculpe por ela. Mas Varys tem razão, Daenerys está cansada e devo falar com ela o quanto antes.

— Ela não parece bem humorada, talvez sirva melhor como um bobo, não como Mão.

— Lady Sansa! O que fiz para desagradá-la? Sinto muito se a ofendi...

— Não, não me ofendeu, Lorde Tyrion, sempre foi muito gentil. Perdão Milorde, se me der licença. — Ela falou ao se afastar. — Vamos Brienne, vamos achar Jon.

Mais tarde Daenerys estava sozinha em seus aposentos com Tyrion Lannister sentado de maneira preguiçosa na cadeira, ele estava coberto da cabeça aos pés com peles e mais peles para tentar enganar o maldito frio.

— Sinto-me como a vilã. — Ela andava de um lado para o outro, os ombros tensos, os olhos culpados. — O que fiz de errado?

— Além de quase tudo? Porque correr e suar a camisa se temos tempo suficiente para ir andando com calma e observando as belezas que se encontram ao nosso redor? Não pode fazer Jon Snow cuspir tudo sobre ele na frente de todas aquelas pessoas, o que pretendia? Humilhá-lo? Precisa conhecê-lo, Vossa Graça, conhecê-lo!

— Não quero me casar com alguém que assim que bem entender e quiser ir embora. Se jurar lealdade a mim, ela deve ser minha até o fim de seus tempos assim como a minha será dele. Mas como confiar em uma pessoa que não foi capaz de manter seus votos antes? Os Stark já trairam a minha família antes, e se fizerem novamente? — Ela sentou ao seu lado, cansada, triste e branca como uma árvore-coração. — O que me aconselha?

— Vai ignorar dessa vez? — Perguntou Tyrion bebendo uma grande quantidade de vinho.

— Não.