História Um Tempo de Lobos e Dragões - Jon IV

Jon

Jon caminhou de volta na direção dela e pegou a taça que ela oferecia. Quando saiu de seu quarto mais cedo precisou tomar um pouco de vinho para se preparar, talvez agora devesse se controlar um pouco, talvez devesse ir em frente e perder o controle. Caminhou com a rainha até a sacada do quarto, o frio infiltrou-lhes sob as roupas de pele assim que saíram, Daenerys apoiou-se ali e olhou para ele enquanto o vento bagunçava seu cabelo e trazia o seu cheiro para ele. Jon Snow respirou aquele aroma doce e inebriante, ele poderia ir dormir todos os dias com aquele cheiro em sua cama. Ou poderia tê-la em sua cama.

— Eu falei com Lorde Manderly no outro dia e...

— Não. — Ela o interrompeu. — Não vamos falar sobre guerras, não agora. Teremos tempo, amanhã.

— Amanhã. — Ele brindou e um sorriso atravessou seus lábios quando ela sorriu para ele. Era bela, é verdade, nunca tinha visto beleza igual antes.

— Você é como seu lobo, — Ela falou de repente. — não é atoa que o chamam de Lobo branco por aqui. Está sempre quieto observando, mas sempre pronto para defender aqueles que ama. Eu o vejo com sua irmã e... sinto inveja. É algo que nunca terei e nunca tive. Viserys nunca foi um irmão carinhoso e não tive a chance de conhecer Rhaegar. Talvez se nada daquilo tivesse acontecido há alguns anos você e eu nunca teríamos estado nessa situação. Eu não precisaria estar em uma guerra pelo meu trono e você...

— Não teria nascido. — Ela o olhou com confusão cintilando nos olhos. — Meu pai conheceu minha mãe durante a guerra, a família Stark seria outra. O lorde de Winterfell seria Brandon Stark, meu tio.

— Sim, nada disso aconteceria. — Ela o olhou tímida e encolheu-se, algo que Jon nunca imaginou na rainha. — Jon! Me desculpa, eu não devia ter te forçado a me contar. Me sinto horrível.

— Você não me forçou. Se tivesse me forçado eu teria contado naquele dia no salão, mas vim até aqui porque você precisa confiar em mim, assim como eu em você.

— Então é uma trégua?

— Nunca foi uma guerra.

— Você não sabe quem foi sua mãe, não é? — Ele balançou a cabeça olhando para o horizonte. - Minha mãe morreu quando nasci, também não a conheci.

— É diferente. Eu não sei se ela está viva, qual o seu nome, onde mora, não sei se ela sabe sobre mim, se ela ao menos se importa. Eu não sei de nada. — Ele quase sorriu ao dizer aquilo.

— Sinto muito sobre a sua mãe.

— Não vamos falar sobre coisas tristes.

— E sobre o que vamos falar? — Ela o olhava com curiosidade.

Eles conversaram por um tempo, tempo demais. O céu estava clareando, um sol nascia escondido e pouco brilhava, misturava-se com a neblina da manhã.

— O lugar que nos encontramos pela primeira vez...

— O Bosque Sagrado.

— Ele é mágico?

— Quer ir até lá? Mais tarde, é claro, por hora acho melhor descançarmos, será um longo dia, Vossa Graça.

— Sim. — Ela caminhou com ele até a porta, Jon não queria ter que ir, mas eles tinham ficado ali por horas e precisavam descançar um pouco antes de suas obrigações. — Te vejo daqui a pouco Jon.

— E eu a você, Daenerys.

Ele abriu a porta e ouviu passos se aproximando silenciosos enquanto a fechava novamente, mas não deu atenção, ou não quis, ao olhar para o lado, viu Lorde Tyrion com uma lamparina acesa segura em suas pequenas mãozinhas.

— Lorde Snow! É a primeira vez que o vejo sorrir desde que cheguei, devo me preocupar? — Falou olhando significativamente para a porta do quarto.

— Não, Lorde Tyrion, o senhor não deve.

— Está saindo do quarto da rainha?

— Sim.

— Mais uma vez eu pergunto: devo me preocupar? — O homem parecia desconfiado, no entando Jon limitou-se a sorrir mais uma vez. — Oh, os deuses são bons, mais um sorriso, será que vou encontrar a rainha em tão bom humor se entrar aí? Se sim, acho que vou fazer alguma estupidez, tenho certeza que ela não se importará.

— Boa noite, Lorde Tyrion.

— Noite? Já é dia rapaz! — Tyrion pareceu estupefato. Cruzou os braços e olhou mais uma vez para a porta enquanto Jon se afastava. — Não me diga que dormiu aqui?

— O senhor é muito curioso, Lorde Tyrion. Mas não se preocupe, eu não dormi, nem a rainha se quer saber.

— Oh rapaz! — Ele chamou enquanto Jon se afastava ainda mais com uma gargalhada alta escapando de seus lábios.
 

Sansa estava bordando em seu quarto aquela manhã, para ela, aquele era o lugar mais tranquilo da casa, estava sempre fazendo lobos em seus bordados. O último tinha sido um lobo gigante cinzento em um campo branco de gelo.

— O que acha? — Perguntou mostrando o bordado para ele.

— Lindo.

— Onde esteve ontem? Davos queria falar sobre os homens que estavam sendo enviados para a Muralha. Fui até seu quarto, mas você não estava lá.

— Vou falar com ele agora mesmo. — Ele falou imediatamente enquanto caminhava até a porta.

— Jon! Você não me respondeu.

— Fui até a adega. — Ele observou seus olhos verdes curiosos. — E também fui até o quarto da Daenerys.

A menina soltou o bordado de lado e levantou, os olhos brilhando numa curiosidade que há muito tempo ele já não via. O que ela espera? Que eu substitua suas amigas de antigamente e comece a falar sobre as garotas de Winterfell?

— Você a chamou de Daenerys?

— É o nome dela.

— Sim, um entre mil. — Ela cruzou os braços, Jon sentiu-se como num julgamento. — Só não imaginei te ouvir falando esse nome entre todos os outros, eu o imaginei falando: Vossa Graça, Vossa Majestade, Mãe dos Dragões, até mesmo Khaleesi, ou qualquer outro, são muitas as opções.

— Daenerys soa bem.

— Sim, eu também acho. Mas você fala como se tivesse algum significado.

— E tem. Ela vai ser a minha esposa.

Sansa sorriu ao compreender.

— Sim, ela vai.

— O que é esse olhar? — Jon perguntou depois que a irmã se sentou carregando um pequeno suspiro.

— Que olhar? — Assim que levantou o rosto, lá estavam seus olhos, divertidos e ainda curiosos.

— Esse olhar.

— Nada, só estou vendo o que você não vê.

— E o que você vê?

— Não posso dizer, você tem que ver por você.

— Eu sei o que você está pensando.

— Então viu rápido. Eu não posso te julgar, ela é realmente linda.

— Não é isso...

— Não é isso. — Ela o imitou com uma voz grave enquanto arregalava os olhos. — Certo, então vamos cavalgar essa tarde, as pessoas precisam ver o Rei do Norte.

— Essa tarde eu não posso, marquei de visitar o Bosque Sagrado com a Da... rainha. Pode vir conosco se quiser.

— E ser odiada pelo resto da vida por uma mulher que tem três dragões? Não.

— Você deve estar conversando demais com Lorde Tyrion.

— Ele é uma companhia agradável, acho que precisava dessa animação por aqui.

— Isso é bom, Sansa. — Ele caminhou até ela e beijou sua testa com carinho, depois se afastou até onde Fantasma estava parado o esperando.