Por volta de 17:30 o sol já estava quase se pondo, as lojas do centro já estavam todas fechadas agora só restava alguns bares de esquina abertos, dirigi até o Dragão do Mar, desde que cheguei ainda não tinha ido em lugar nenhum, como era sexta-feira e último final de semana antes de começar as aulas decidi esticar um pouco mais, cheguei no Chopp do Bixiga (o melhor chopp de vinho da cidade) estava completamente vazio aquele horário, claro, as pessoas só começavam a aparecer por la por volta das 9 ou 10h. Sentei sozinha em uma mesa enquanto os garçons ainda terminavam de colocar as mesas fora, tirei meu notebook da mochila e tentei falhamente continuar escrevendo o livro que comecei desde que fui morar em Londres, pedi um chopp, ascendi um cigarro e fui pro mundo da lua, pensando em como eu teria que ser firme e realmente me tornar adulta. Postei no facebook que estava no bixiga e alguns amigos do passado comentaram dizendo que queriam me ver e esses bla bla bla de sempre, porém nenhum veio até a mim.
Já estava la pelo quarto chopp quando começou a chegar outras pessoas no bar, eu estava distraída olhando minhas notificações no facebook quando alguém falou comigo.
- Oi? Você tem fogo?
Quando levantei a cabeça senti meu coração disparar, não podia ser, mas era, era a menina linda do caixa daquela loja, totalmente desconsertada estendi o meu isqueiro pra ela, que imediatamente ascendeu seu cigarro soltando a fumaça em forma de bolinha (fumo a mais de 5 anos e nunca consegui fazer aquilo, e ela fez parecer tão fácil).
- Espera, eu conheço você, não? – Disse ela apertando os olhos e mordendo o lábio inferior, socorro aqui, gente.
- Comprei umas esferas do dragão com você mais cedo. – Falei totalmente sem graça porém rindo.
- Certo, certo, lembrei. Você foi a moça que esqueceu o cartão de credito. – Disse ela soltando mais uma bolinha de fumaça.
- Isso eu mesmo – Certo ela me deixou mais sem graça ainda.
- Okay, da próxima, toma cuidado – Disse ela rindo e já indo embora pra outra mesa.
- Certo, ei espera.
- Oi?
- Qual o seu nome? – Perguntei
- Melissa
Certo, eu já sabia duas coisas sobre aquela Deusa Grega, ela era linda e chama-se Melissa, com sorte descubro algo mais, eu já estava pronta pra ir embora depois do quarto chopp, mas decidi ficar um pouco mais e observar, quais as chances disso acontecer, encontrar a mesma pessoas duas vezes no mesmo dia em locais totalmente diferentes? (Muitas chances, essas coisas acontecem o tempo todo, mas eu preferi acreditar que era o destino). Mais ou menos meia hora depois e ninguém havia chegado em sua mesa, vi ela brigando com alguém no celular e depois levantou, pensei que ela ia embora mas veio até mim de novo.
- Desculpa te incomodar, mas me empresta seu isqueiro de novo?
- Claro, fica a vontade. – Falei entregando o isqueiro – Algum problema? – Perguntei mas ela fez uma expressão e eu fiquei apreensiva e tentei me desculpar por me intrometer onde não devia – Mas se não quiser respondeu tudo bem.
- Não, tudo bem, levei um bolo dos meus amigos – Disse ela me devolvendo o isqueiro – Sai do trabalho e vim direto pra cá pra levar um bolo, é isso mesmo? – Falou olhando o pro céu como quem reclama com alguém, o que me fez olhar pra cima também.
- Bom, quer sentar comigo?
- Tava pensando em ir embora, e eu não quero atrapalhar.
- Que isso, deixa eu te retribuir a gentileza de ter devolvido meu cartão, te pago uma bebida – Falei sorrindo pra ela.
Ela falou que não poderia aceitar que eu poderia estar esperando amigos e que não queria atrapalhar, mas eu insisti até que ela aceitou, sou bem chata quando quero alguma coisa, insisto mesmo até não ter mais jeito.
- Percebi que você ta sozinha aqui desde a hora que cheguei, deve ta esperando alguém ou levou um bolo como eu?
- Nem um nem outro, vim passar o tempo matar a saudade da cidade.
- Sério? Ta a passeio?
- Agora voltei, pra morar.
- Que legal, e morava onde antes?
- Londres – ela me olhou e abriu a boca quando falei Londres.
- Ah nem vem, não é nada demais, não tava la por que sou rica nem nada, tava terminando o meu mestrado.
- Okay, mesmo assim é impressionante, ainda vou conhecer o Reino Unido um dia, deve ser um sonho aquele país.
- É sim – Realmente era um país lindo, mas nada como voltar pra casa.
Ela ficou um tempo trocando mensagens com alguém no celular com uma expressão bem seria no rosto, pedi mais um chopp pra ela que bebeu quase todo em um gole apenas.
- Sabia que seu nome significa “abelha que produz Mel” – Falei pra quebrar o clima.
- Sério? Já tinha escutado algo parecido, mas não lembro bem.
- Vai ver é por isso que toda Melissa acaba sendo apenas Mel.
- Ninguém me chama de Mel. – Disse ela fazendo biquinho.
- Sério? Então a partir de agora vou te chamar apenas de Mel, fechado? – Falei estendendo a mão pra ela.
- Fechado! – Disse ela apertando a minha mão e rindo, que sorriso lindo dessa mulher, socorro eu to perdida nele.
- Então Mel, levou bolo do namorado? – Joguei verde, queria saber se ela era comprometida.
- Na verdade ele não é namorado ainda, e pelo jeito não vai ser de jeito nenhum depois de hoje. – Disse ela largando celular na mesa.
- Você é hetero então? – Tentei disfarçar o desanimo
- Sou – Falou ela meio confusa com a pergunta.
- Desculpa a pergunta, só pra saber mesmo. Nos dias de hoje, não se sabe mais né? – Falei rindo.
- Isso mesmo – Ela deu uma pausa e continuou – Espera, você é hetero né?
- É... Não, espero que isso não te incomode – Falei ascendendo um cigarro.
- Imagina, sou totalmente a favor do amor livre, somos livres pra amar quem quiser. – Disse ela erguendo a caneca de chopp – Um brinde a essa diversidade linda – E mais uma vez abriu aquele sorriso perfeito e tenho certeza que naquele momento me apaixonei por ela.
- Um brinde – Falei sem conseguir tirar o olho de sua boca.
- Espera, você olhando pra minha boca assim, fiquei sem graça.
- Sério, desculpa, não foi a intenção – Na verdade foi sim.
Ficamos conversando sobre tudo e ela super interessada na minha vida em Londres, eu percebia seus olhos brilharem sempre que o assunto era esse, descobri que a loja onde ela trabalhava era na verdade do tio dela.
- Ai meu Deus, não acredito – Disse ela abaixando a cabeça
- O que foi?
- Ta vendo aquele menino ali de blusa amarela e boné? – Apontou ainda de cabeça baixa.
- O bombado, tatuado e de barba por fazer?
- Esse mesmo.
- To vendo, o que tem ele? Seu namorado?
- Ai meu Deus, não... – Disse ela olhando pro lado oposto de onde ele estava - Curto homens com mais inteligência e menos esteroides.
Ela mal terminou de falar o cara se aproximou de nós com mais dois amigos e sem cerimônia já foi sentando na cadeira ao lado dela, o que me fez sentir saudade educação dos Ingleses.
- Melissa, a quanto tempo – Disse ela abraçando-a (ei tira a mão dela) espera to com ciúmes? Como assim produção?
- Oi David – Disse ela totalmente sem graça ainda dentro do abraço dele e me olhou tipo como quem pede ajuda, o que me fez rir um pouco.
Fiz barulho com a garganta para que ele notasse a minha presença e largasse a minha Deusa, estranho chamar ela de Deusa? É por que vocês não estão vendo como essa mulher é perfeita.
- Oi - Disse ele estendendo a mão pra mim, relutei pra estender a minha, mas a minha educação falou mais alto e lhe cumprimentei – Amiga nova Melissa?
- Sim, levei um bolo do Bruno e ela fez a gentileza de me fazer companhia.
- Na verdade ela que esta me fazendo companhia.
- Sua amiga é linda Melissa, quem sabe ela não quer conhecer um dos caras.
Ele estava se referindo a um dos dois outros bombados que permaneciam em pé como se fossem seguranças dele, quando ele falou isso eu e a Mel caímos na gargalhada o que fez ele rir por tabela, mas tenho certeza que ele não estava entendendo nada.
- Mas e ai Melissa, quando vai rolar entre eu e você? – Que tosco isso gente, é acho que eu to com ciúmes mesmo.
- Ela tem namorado – Interrompi
- O Bruno? Por favor derrubo ele em assopro.
- Nossa que homem – Falei ironizando, o que ele não entendeu e até agradeceu.
- Melissa minha gata, preciso ir agora, a gente se ver por ai?
- Talvez – Disse ela totalmente sem graça
Ele deu um beijo bem molhado na bochecha dela, apertou a minha mão e foi embora, ela esperou ele se afastar uns 5 centímetros e limpou a bochecha, o que me fez rir.
- Você diz que não o quer, mas não ouvi você dizendo NÃO pra ele, você tem que ser bem categorica com homens, eles são meio burros. – Ela riu e concordou – Espera, mas você não é hetero? Ele até que é gato, não quer por que?
- Sou hetero moça, mas não é por isso que tenho que ficar com qualquer um que tenha pênis.
- Isso é verdade.
As horas passaram e estávamos tendo um conversa ótimas e vários chopps depois ela liga pro tal Bruno (por incentivo meu) e o colocou na parede.
- Bruno, ou você vem aqui agora, ou não precisa me ligar mais – Acho que ele disse algo que ela não gostou por que ela desligou na cara dele, mas não antes de um – Vai só foder babaca.
Caímos na risada mais uma vez, até ela ficar com uma expressão seria/triste, olhar no relógio e dizer que precisava ir embora.
- Eu te levo – Falei, (nossa como eu sou prestativa)
- Nem pensar, sabe onde eu moro?
- Não importa, eu consigo entrar e sair do seu bairro sem ser assaltada? – Falei rindo.
- Não é isso pow, é que é longe – Disse ela rindo.
- Ah, sendo assim vamos agora então, quem sabe chegamos la amanhã né?
- Ai você me mata de rir, já te adoro sabia? – (ain gente, ela já me adora, tremi aqui)
* * *
Fomos até o estacionamento, entramos no carro e parei por uns 5 segundos, me virei pra ela e perguntei:
- Ce é hetero mesmo né? – Falei rindo
- Sou sim – Disse ela também rindo
- Só pra saber.
- HAHA, você devia dirigir? Bebeu muito já.
- Relaxa, eu estava bebendo mais água, você que bebeu muito e não percebeu o liquido transparente no meu copo. – Falei rindo
Durante todo o trajeto até sua casa fomos conversando sobre muitas coisas, descobri que ela morava apenas com sua mãe que seu pai tinha ido embora quando ela tinha apenas 5 anos de idade e que desde então não tinha mais falado com ele, ah sem esquecer que ela agora tem 19 anos, (uma Deusa Grega tão novinha e hetero, essa parte é uma pena), falei que também morava apenas com a minha mãe mas que meu pai dava-se super bem com ela.
- Foi um divorcio meio que um acordo, não tava mais dando certo e fim – Falei
- Espera, 26 anos e ainda mora com a mãe? – Percebi um sorriso em seus lábios.
- Ei, dá um desconto morei 2 anos em LONDRES – Falei enfatizando no nome de propósito e ela riu. – Mas eu morava sozinha antes e já estou procurando apartamento.
- Entendi, na próxima a esquerda e chegamos.
- Quero ver, se eu consigo ir embora sem GPS daqui.
- Não é tão difícil vai? – Ela deu uma pausa – Pronto é naquela casa azul ali.
Parei em frente sua casa, ela virou pra mim e me deu beijo na bochecha, senti meu coração acelerar com seu toque.
- Vou te ver de novo? – Perguntou ela – Eu realmente já adoro você – Me deu outro beijo na bochecha.
- Ah não sei, começo a trabalhar segunda, vai ficar corrida a vida – Claro que eu estava fazendo charme, quero vê-la todo dia agora se possível e ela fez biquinho.
- Humm, pode ser o álcool falando, mas – Falou dando um pausa bem longa
- Mas?
- Eu queria saber como é beijar uma mulher, você me faz esse favor?
Puta que pariu, tremi na base juro, eu realmente não esperava isso, ela é hetero né gente? Ah vai, ela ta bêbada, eu não quero me aproveitar de pessoas “indefesas” mas eu também não ia negar sentir aquela boca maravilhosa na minha. Colei nossos lábios e comecei a beija-la lentamente, introduzi a minha língua em sua boca e comecei a intensificar o beijo (e que beijo senhora) meu coração que estava acelerado quase saltou pela boca quando ela saiu do banco do carona e sentou no meu colo e continua me beijando. (Eu nem tinha usado as esferas do Dragão ainda, e já tinha ganhando o meu desejo? Puta que pariu, se é um sonho não me acorda). Minhas mãos que estavam na sua cintura deslizaram até sua bunda e apertei, ela soltou o ar na minha boca e parou, completou o beijo com selinho, saiu de cima de mim, voltou pro banco do carona e sorriu.
- Uau menina, que delicia de beijo – Falou ela com uma sorriso safado nos lábios.
- Eu que deveria dizer isso né? – Eu ainda estava totalmente sem ar e ela ali toda linda como se nada tivesse acontecido.
- Vou indo nessa – Disse ela abrindo a porta – Obrigada pela noite, você foi incrível – Falou e mordeu o lábio, ela vai me matar mordendo esse lábio
- Disponha.
- A propósito, eu não sei seu nome, sei? – Disse ela já fora do carro apoiada na janela.
- É Ana – Falei rindo, ela passa a noite comigo, me beija e nem sabe meu nome? Que maluquinha, a maluquinha mais linda que já vi – Desculpa onde está a minha educação em não ter me apresentado devidamente né?
- Pois é, não aprendeu nada em LONDRES? Então tchau Ana?
- Tchau Mel.
- Mel, gostei – Disse ela soltando um beijinho pra mim e se afastando do carro.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.