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História Um Verão de Mistérios - Múltiplos Gideon


Escrita por: becausedelrey

Capítulo 7 - Múltiplos Gideon


Gideon Pines

Eu não conseguia mais fingir, eu odiava muito o Dipper Gleeful.

Eu odiava Dipper Gleeful com todas as partes da minha alma. Cada célula do meu corpo queria o ver queimar, cada batida do meu coração pedia para que ele fosse embora para sempre.

Eu odiava ele mais do que pensava que era capaz odiar alguém.

A Pacifica não parava de falar sobre o “encontro” que eles teriam no sábado. Até ouvir o nome dele me fazia querer fugir com ela. Já que eu não podia o prender, pelo menos eu podia me certificar de que Pacifica não chegasse tão perto. Essa era minha maior chance.

Mas como eu faria isso? Pacifica não era da minha posse. Ela era independente e agia de acordo com suas próprias experiências. Como ela saberia para ficar longe dele se ele não tinha feito nada de errado perto dela? Eu só queria ser um pouco mais forte, para que não tivesse tanto medo dele.

Wendy nos convidou para uma festa na casa dela, e de alguma maneira me convenceu a ir. Eu tive que ficar repetindo para minha cabeça: “Dipper não vai estar lá…”

Eu conseguia, eu tinha que conseguir. Eu aguentava uma festa idiota. Eu nem era fã de festas, mas naquela noite eu era fã de tudo menos de Dipper Gleeful, aquele monstro nojento. Pacifica me chamou.

“Gideoooooon, você tá pronto?”

“Me dá meio minuto”.

Eu estava pronto, e do mesmo jeito de sempre. Meu cabelo branco debaixo do boné idiota, o mesmo tipo de roupa, mesmos sapatos, eu não me importava. Era uma festa, claro, mas… eu não me importava.

Pacifica, porém, se importava muito. Ela vestia uma camisa laranja e eu mal conseguia olhar para ela sem ficar com os olhos doendo. O seu cabelo estava preso, e com cada passo até a casa da Wendy, eu notava mais um detalhe sobre ele. E também sobre a calça jeans dela, sobre a blusa…

Com cada passo, eu também me perguntava “o que eu tô fazendo?” Eu não precisava ir longe assim. Mas esse outro lado da minha cabeça ficava repetindo que faria bem para mim, e esse lado era Pacifica, pulando e falando que ela amava festas, de novo e de novo.

“O que você não ama, Pacifica?” brinquei. Ela encarou o céu.

“Hum, abelhas?”

“Você ama abelhas, Pacifica”.

“É verdade, eu amo abelhas!” ela sorriu forte. Eu imaginei como seria viver igual a ela: enamorado por tudo, e não com medo de tudo. “Sabe do que mais eu gosto? Estrelas… Sabia que a marca de nascença do Dipper é uma constelação chamada ‘Grande Dipper’? É de lá que ele pegou o apelido, muito fofo”.

Mas, claro. Ser enamorado por tudo também significava DAVISPERLE ele. E aquilo, aquilo eu não queria.

“Marca de nascença? Achei que fosse maquiagem”.

“Não, bobo, é uma marca de escolha”. Eu nem pensie em perguntar o que aquilo era, mas ela obviamente começou a explicar. “Quais são as chances de nascer com uma constelação perfeita na sua testa? A alma do Dipper provavelmente veio de um outro mundo, feito para agradar a Terra com sua mágica incrível. É provavelmente por isso que ele é tão perfeito, tipo um anjo”.

Meu Deus, cala a boca, isso era tudo que eu pensava. Perfeito? Anjo? Claro, eu tinha que aceitar que Pacifica não fazia ideia do que Dipper realmente era, igual a todo mundo naquela cidade idiota. Eu precisava entender que ele era um ótimo ator, e que ela não pararia de falar sobre o quanto o amava ou o quão “agradável” ele era. Mas aquilo era tão estúpido. O Big Dipper nem mesmo era uma constelação… 

“Será que a Mabel tem uma marca também?” eu perguntei, fingindo interesse.

“Hum, eu não sei, mas posso perguntar no nosso encontro!” e ela sorriu. “Por quê? Você… tá interessado nela?”

O quê, não, eu balancei a cabeça. A encarei sem acreditar, enquanto ela encarava de volta sorrindo forte.

“Você tá, tá sim!” ela gritou enquanto pulava e segurava o meu braço. Meu Deus. Tinha tanta coisa que eu queria a mandar parar de fazer.

“Eu não tô, Pacifica. Eu mal a conheço!” mas ela não parecia ligar, ou prestar atenção no que eu falava.

“Aw, seria tão fofo! Eu namorando ele e você namorando ela! Seria tipo, os dois novatos de Gravity Falls foram os que conquistaram o coração dos Gleeful, irado, não é? Isso significa que a gente foi escolhido?! Gideon, faz tanto sentido!”

“Não, Pacifica, não faz. Não tem isso de ‘escolhido’, e eles nunca se apaixonariam por pessoas como nós. A gente precisa é ficar longe deles,” eu queria poder dizer.

“Talvez eu possa… Talvez eu possa pedir para a gente ter um encontro duplo, nós quatro?” Por favor, não. “Droga, eu não peguei o número dele. Mas talvez a Wendy tenha? Posso pedir pra ela! Gostou da ideia, Gid?!”

Eu não sabia o que dizer. Pacifica tinha transformado meu cérebro em uma poça d’água, incapaz de controlar e projetar palavras humanas. Eu só a encarava, e ela de volta. Eu não acreditava que aquilo estava acontecendo.

“Não, Pacifica, eu não quero um encontro duplo com o cara mais assustador que eu conheço e a irmã malvada dele. Você tá maluca, tu precisa se acalmar e aceitar que ele nunca vai te amar ou te fazer bem. Ele vai causar seu fim, Pacifica. Por favor, para”.

Eu não podia dizer aquilo, não podia dizer nada. O que ele tinha feito comigo?

“Não,” eu sussurrei, quando minha voz finalmente decidiu funcionar. Pacifica me olhava. “Por favor”.

“Por que não?” ela disse.

“Porque eu não gosto dela!” respondi. “Já te falei, ela é tipo uma estrela. Eu falei com ela uma vez, por que eu sentiria algo por alguém que nunca nem encostou em mim?”

“Nossa, os meninos realmente não entendem o amor,” revirei meus olhos. “Você não precisa encostar em alguém pra se apaixonar, idiota. Você só precisa saber o quão legal ela é, o quanto significa pra você”.

“Significa pra você?” O que Dipper Gleeful poderia significar para Pacifica? O doido que parecia ter stalkeado a gente quando chegamos? O garoto que ela conhecia há dias e que só falou com ela uma vez? Eu não podia mudar a mente da Pacifica sobre ele ser bom ou não, mas podia a ajudar a ver o quão esquisito ele era”.

“Eu realmente não quero mudar o assunto pro Dipper, mesmo você não aceitando que eu não gosto da Mabel”. Aquilo era parcialmente verdade, mas eu queria sim mudar o assunto para ele. “Por que você acha que ele é normal? Sem ofensa”.

“Normal?” ela riu.

“É, tipo, um cara normal”. Eu não sei. “Um cara que… fala… ri… chora… normal”.

Ela riu alto.

“Quê? Você tá falando que o Dipper não… fala?”

E ela riu mais. Eu nem fazia mais ideia do que estava falando. E não sabia mais o que falar.

“Acho que sei quem de vocês dois é o cara normal”.

Ela sorriu, como se tudo fosse brincadeira. Ótimo, perfeito, maravilhoso. Eu revirei os olhos mais uma vez, provavelmente. 

“Não é isso… que eu quero dizer,” eu tentei consertar. “Tô falando que, tipo…”

Não tinham palavras. Talvez eu devesse desistir, talvez aquela conversa já estivesse perdida.

“Quer dizer, eu só vi ele sorrir no palco. Ele não parece tipo… um robô?”

Ok, aquilo era com certeza idiota e eu precisava parar. Pacifica estava sim se apaixonando por um zumbi e eu não podia fazer nada… mas ela via beleza em tudo, não é? Talvez eu não pudesse mudar nada afinal.

Talvez eu só tivesse que aceitar.

“Gideon, você é maluco,” ela gritou. Nós chegamos na festa, então nossa conversa frustrante teve que acabar.

Eu estava com tanta raiva. Eu não conseguia fazer nada mesmo, nem tentar mudar as coisas.

Eu não tinha o que fazer, estava fora do jogo da vida, não tinha controle sobre nada, nem sobre mim mesmo. E aquilo era uma merda.

A festa começou de um jeito horrível, e continuou assim. Com cada momento que passava eu queria ir embora mais e mais. Queria que Pacifica estivesse silabando “quer ir embora?” mas ela estava lá, dançando, se divertindo como todos os outros na festa. E Wendy também estava lá, óbvio, usando um cordão com uma jóia azul que me lembrava dele. A jóia que ele usava era bem maior e mais clara, e ficava no meio da gravata, complementando a fantasia azul idiota. Mabel também tinha uma, no topo do cabelo. 

Ele tinham figurinos, figurinos! Eles tinham pétalas azuis, eles tinham um mordomo azul. Por que tudo neles era tão dramático? Por que eles pareciam ter saído de uma ficção? E por que eles estavam invadindo a minha mente naquele dia também? Por que Wendy não podia só usar o seu cordão sem eu ter que pensar sobre ele?

Por quê? Em Gravity Falls, a pergunta era sempre “por quê”.

“Por que você tá sentado fazendo nada?”

Eu olhei para cima. Por que definitivamente a pergunta… Uma garota de cabelo preto e óculos redondos me encarava, de cima a baixo. Ela tinha algum sotaque estrangeiro.

Eu não respondi de primeira. Primeiro eu olhei para minha esquerda, ironicamente.

“Eu?”

“Sim, você, otário. De onde você é?”

“Eu… moro na Cabana do Mistério. Quer dizer, agora. Eu moro na Califórnia, na verdade, mas tô aqui pelas férias todas, e…”

“Fala muito”.

Nossa. Aquela garota era uma peste. A voz dela era fofa mas eu preferia que ela não dissesse nada.

“Ok, me desculpa, princesa”.

Ela revirou os olhos, cruzando os braços na frente do vestido verde.

“É burro?”

“Não, não sou. Por quê?”

“Quer me beijar ou não?”

O quê?

“Por que eu iria?”

“É uma festa?”

Aquilo era uma pergunta ou uma resposta? Eu estava confuso demais para tentar entender. Era aquilo que faziam em festas? Talvez ela estivesse bêbada, mas não parecia ter mais de quinze anos. Ela continuou me encarando.

“Sim ou não?” perguntou, claramente se cansando de perguntar. Eu levantei minhas sobrancelhas, olhando em volta. Realmente tinha muita gente se beijando, talvez festas fossem mesmo para aquilo. Eu voltei para ela, assentindo.

Naquele momento eu pensei: por que não? Bora.

Eu levantei de onde estava e ataquei a boca dela com toda a minha força. Eu não queria ser brutal ou repentino demais, mas só deixei meu corpo tomar conta. Ela envolveu os braços em volta do meu pescoço e me puxou para perto, pressionando nossos peitos juntos. Era meu primeiro beijo da vida, e eu claramente estava recriando o que via na televisão. Ela não parecia incomodada com nada e eu também não. Se meu cérebro quisesse ser neurótico naquela hora, se ele tentasse me fazer parar de beijar ela, eu teria falado para ele calar a boca. E queria poder fazer aquilo sempre.

O salto dela não era tão grande, então ela era da altura perfeita. Eu deixei ela tomar o controle depois de uns cinco segundos, mas aquilo não importava. Nada importava, na verdade. Eu estava ignorando minha cabeça. 

Quando a gente se separou, eu vi a Pacifica, de longe, olhando para mim e comemorando. Eu voltei o olhar para a garota que eu tinha acabado de beijar, e ela me olhou de volta.

“Tchau,” ela falou. Aquilo não parecia nem um pouco com uma cena de comédia romântica.

“Pera,” eu pedi para ela parar de virar. “Meu nome é Gideon”.

“O meu é Candy,” ela respondeu. E depois foi embora. E uau, eu só fiquei parado ali.

Ela ainda era uma peste. E talvez beijar fosse ruim. De qualquer maneira, eu estava orgulhoso do que tinha feito.



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