— O que aconteceu?
Aflita, Rachel encarou a porta fechada. Quinn não respondeu, mas podia escutar seus passos e divisar sua silhueta percorrer o quarto escuro. Um fósforo iluminou o cômodo quando ela acendeu a lamparina ao lado da cama.
Ela olhou novamente a porta.
— O que está havendo, Quinn?
— É o que eu gostaria de saber.
A voz soava irritadiça. Ao se virar para fitá-la, o semblante de Quinn estava sério.
— De que está falando? — Rachel indagou, também irritada.
Quinn começou desabotoar e tirar o casaco.
— Eu lhe disse, desde o início, que não gosto de segredos.
— E?
— E acredito que você não tenha me contado a verdade.
Rachel cruzou os braços.
— Não estou entendendo nada.
— O que há com sua família? — Ela livrou-se dos sapatos. — Seu primo pediu-me desculpas por você estar trabalhando aqui. Por quê?
— Deve perguntar a ele.
— Droga, Rachel. — Quinn abriu o primeiro botão da camisa e postou se diante dela. — Nem sequer sabia que tinha outra irmã. Você alegou não poder ajudar com os preparativos da festa, mas conhece tudo o que se refere à etiqueta.
— Não se trata de um crime.
— Eu a acolhi em minha casa, confiei meus filhos a você, mas não pode me dizer nada a respeito de si mesma?
— Por que tenho de lhe contar tudo? — ela inquiriu, indignada. — Não passo de uma criada nesta casa.
Chocada, Quinn recuou.
— Não, Rachel. É muito mais que uma criada.
— Conheço meu lugar.
— Asseguro-lhe de que nunca beijei uma criada. Na verdade, não beijava uma mulher há meses, até você aparecer.
Balançada, Rachel desviou o olhar. Como fora sofrido declinar o convite para dançar naquela noite, quando ansiava em desespero estar nos braços de Quinn. Foi doloroso vê-la com Constance Baird. Queria, no fundo, pertencer àquele lar e não fazer parte dele.
Ela chegou mais perto.
— Quero beijá-la de novo — sussurrou.
— Não pode. — Rachel levantou o nariz, decedida a não ceder dessa vez.
— Mas quero.
Quinn inclinou o rosto e cobriu-lhe os lábios. O beijo foi gentil e terno. Ela soltou um gemido suave e abraçou-a pela cintura.
A fim de se desvencilhar, Rachel empurrou-a. Sabia o que Quinn desejava e o que sentia por ela. Como a amava. O calor do corpo dela invadiu-a. Os braços poderosos dominaram-lhe as forças. Rachel entregou-se.
De repente, não mais importava o que os outros iriam pensar dela ou da família. Amava Quinn. Almejava aquele momento com ela, a despeito das consequências. Rachel abraçou-a e, na ponta dos pés, retribuiu o beijo ardente.
Quinn beijou a curva do pescoço e puxou o penhoar para acariciar os ombros alvos. O tecido tombou no chão. Então, possuiu os lábios carnudos, enquanto de-sabotoava a camisola até a cintura. Deslizou a mão sobre a pele quente e tocou um dos seios.
— Oh, Rachel… — Ela sugou o mamilo já túrgido. Sôfrega, ela mergulhou os dedos nos cabelos claros.
Quinn beijou-a outra vez com mais ardor.
— Rachel… eu a quero.
— Eu sei. — Ela sorriu.
— Tem certeza?
— Absoluta — Rachel sussurrou e acariciou um dos seios de Quinn.
Extasiada, Quinn a guiou em direção a cama. Deitou-a devagar, despiu-se e acomodou-se ao lado dela. A camisola continuava aberta e os cabelos cobriam o travesseiro.
— Você é linda.
— Mesmo sem a toalha?
— Especialmente sem a toalha.
Agora sem inibição, ela se jogou em seus braços, beijou-a e tocou-a, fogosa. Que tortura era esperar, controlar-se. Rachel não facilitava para ela.
Quinn escorregou as mãos sob a camisola, afagando a pele macia, e a despiu. Rachel entregou-se por completo, tocando-a conforme ela a acariciava e explorando com mãos e lábios.
Quando, enfim, não pôde mais suportar, Quinn acomodou-se sobre ela. Beijou-lhe os lábios, o pescoço, as faces e a penetrou.
Assim que ela a recebeu, voluptuosa, Quinn começou a mover-se devagar. Ondas de total deleite o dominavam e, em segundos, transformaramse no mais impetuoso prazer.
Quinn a manteve nos braços, usufruindo da deliciosa sensação de vê-la tão entregue a si. Murmurou seu nome e a possuiu até ficarem moles, entregue uma a outra no mais puro sentimento de êxtase.
De súbito, Quinn despertou e sentou-se na cama. Gotas de suor escorriam em sua testa. O coração batia acelerado.Que horas seriam?
Olhou a janela. Somente uma fraca luminosidade no céu indicava a proximidade do alvorecer. Onde estava?
Desorientada, esquadrinhou o quarto.
A lamparina continuava acesa sobre a mesa de cabeceira. Havia roupas espalhadas pelo chão. Roupas?
Suas roupas. E as de Rachel. Então, ela se lembrou.
Notou que Rachel dormia profundamente. Não recordava como haviam se acomodado sob as cobertas, porém os lençóis mal cobriam os seios fartos.
Quinn passou a mão nos cabelos, tentando acalmar as batidas frenéticas do coração.
Aquele sonho. Aquele maldito sonho a acordara.
Dessa vez, as imagens surgiram ainda mais vivas. Assustadoras e exigentes.
Mas exigiam o quê? O que significavam? Pressentia que havia uma mensagem profunda naquele sonho. Que mensagem?
Saindo da cama, Quinn caminhou até a janela. Nuvens se agrupavam no horizonte. O ar exalava umidade. Iria chover.
Rachel murmurou algo enquanto dormia. Quinn a olhou, mas não enxergou sua beleza. Sentia apenas arrependimento dentro de si.
Em que estava pensando na noite anterior? Levar Rachel a sua cama parecera ser o certo a fazer. Mas por que se atrevera a tomar tal atitude se ainda…
— Droga — resmungou.
Afastou-se da janela. Não sabia o que fazer, que rumo tomar. Precisava de ajuda. Agora.
Lentamente, Rachel despertou e inspirou o aroma de Quinn nos lençóis. Virou-se, fitou a janela e permaneceu quieta por algum tempo no quarto silencioso. O evento da noite anterior surgiu-lhe à mente.
O que fizera? Entregara-se a uma mulher que nada lhe havia prometido, que nem sequer dissera amá-la.
Devia lamentar as próprias ações, mas não estava arrependida. O amor que sentia por uma única mulher a aquecia. Quinn.
Sentindo-se tímida, apesar do que haviam partilhado, Rachel cobriu-se com as cobertas e rolou para o lado. Queria ver Quinn aos primeiros raios da manhã. Desejava guardá-la na memória, a despeito do que estava por vir.
No entanto, não viu ninguém, somente a cama vazia e fria. Quinn se fora.
No mínimo devia ter gritado, Rachel pensou enquanto se arrumava em seu quarto. Fazer amor com alguém e descobrir que desaparecera na manhã seguinte era deveras humilhante. Nesse caso, por que não estava chorando?
Porque não se sentia magoada. Sentia-se furiosa.
Naquela mesma manhã, fugira do quarto de Quinn e atravessara o imenso corredor, rezando para que as criadas não a vissem, ou Thomas Douglas, ou as criadas. Graças a Deus, todos ainda dormiam.
Tão logo terminou de vestir a calça comprida, a dor ou qualquer sentimento terno por Quinn havia se transformado em pura raiva.
Rachel foi ao dormitório das crianças e verificou que dormiam a sono solto. A caminho da cozinha, ocorreu-lhe que talvez houvesse surgido uma emergência. Quinn saíra às pressas por algum motivo.
Por que então ela não a acordara? Rachel pouco sabia a respeito de encontros amorosos, mas lhe parecia decente para ambas usufruírem de algumas horas a mais pela manhã.
A menos que…
Rachel parou no meio da escada. A menos que ela tenha fugido depois do que fizera com ela.
Sentiu o coração se apertar. E se fosse esse o motivo? E se o momento amoroso nada houvesse significado para Quinn?
— Srta. Rachel?
A sra. Royce apareceu na sala, parecendo fatigada. As criadas deviam estar exaustas após a festa. E naquele dia precisavam limpar e arrumar toda a casa. Havia muito a ser feito.
— Há uma jovem na sala de estar — A cozinheira avisou.
— Aqui? Agora? Em plena manhã de domingo?
Confusa, a sra. Royce meneou a cabeça.
— Ela acaba de chegar e quer falar com a sra. Fabray. Não consigo encontrá-la. Acho melhor a senhorita conversar com a jovem.
Um arrepio percorreu a espinha de Rachel.
— O que ela deseja?
A sra. Royce não respondeu. Apenas virou-se e saiu.
Rachel correu à sala. Os móveis ainda se encontravam nos cantos, as cadeiras enfileiradas e os tapetes, dobrados.
Uma moça, usando roupas de viagem, estava sentada em uma poltrona. Havia uma mala a seu lado. E ela parecia cansada e pálida.
— Posso ajudá-la?
A jovem fitou Rachel, aliviada por alguém se dignar a falar com ela, e levantou-se.
— Sou Daria Talmadge. Da agência.
— Agência?
— Sim. Da agência de empregos de Nova Iorque.
Rachel encarou Daria, tentando assimilar as palavras.
— Não entendi.
Daria tirou um papel do bolso da saia e entregou-o a Rachel.
— Está tudo registrado. Estou sendo esperada.
— Esperada?
— Exato. Sou a nova babá.
A respiração de Rachel falhou.
— Não…
— Sim. — Daria indicou o papel. — Fui solicitada pela sra. Quinn Fabray.
Rachel saiu da sala e correu porta afora.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.