A lua brilha soberana nesta noite, as pálidas estrelas que enfeitam o céu se reúnem entorno dessa grande atração para ouvir as histórias que esse pequeno astro conta do humilde planeta que acompanha. Lá de cima, todo o ecossistema cósmico observa, estático, a movimentação numa pequena cabana em meio a outras, num acampamento isolado das agitadas cidades por quilômetros de vegetação e estradas de terra.
-E então... quando ele abriu a porta, não havia chão, não havia céu, havia apenas o reflexo dele nas pupilas cristalinas de um... Titã! – Exclamou um dos meninos em roda nos colchões atirados ao chão daquele pequeno quarto. O clima era de tensão, ninguém ousava emitir um ruído, todos aterrorizados pela história.
De repente, um travesseiro voa e acerta em cheio o rosto do menino que conduzia a narrativa, que esbraveja.
-Eren! Por que fez isso? Estragou todo o clima! – O menino protesta, se dirigindo a seu colega sentado em cima do beliche com a cara fechada.
-Cala a boca Jean! Essas histórias não têm graça... Se vocês continuar falando de titãs eu quebro sua cara! – Eren ameaça e reprime seus colegas da roda com o olhar.
-Eren... eu sei que deve ser difícil para você... mas por que você, o Armin e a Mikasa não saem do canto de vocês e sentam aqui... podemos falar de outras coisas – Propõe um dos meninos, que está deitado de lado com a cabeça apoiada no antebraço e ajeitando a calça frouxa de seu pijama.
-Connie, não adianta, já falamos para eles se enturmarem, mas é difícil depois de tudo que aconteceu com eles... – Uma voz feminina, Sasha, famosa por ter desafiado o instrutor por conta de uma batata, se manifesta na roda, o tom de arrependimento e de insegurança da menina contagia o resto dos adolescentes, fazendo Jean reconsiderar seu aborrecimento com a travesseirada.
A situação é difícil, Eren, junto com Mikasa e Armin, que estão sentados ao seu lado, sobreviveu à maior catástrofe que assolou a humanidade nesses últimos tempos, a queda da muralha Maria. Desde que fugiram do anel externo, a vida foi difícil e os dias sofridos até que pudessem se alistar para o exército, um lugar que reúne pessoas das mais diversas origens e intenções e no qual não estavam há mais de uma semana. É óbvio que haveriam conflitos e que a convivência não seria pacífica.
-Sabe Eren... você não pode viver mal-humorado para sempre... poderia te ajudar se descesse aqui e desabafasse, sabe... – Jean propõe casualmente para Eren, que se afunda no travesseiro e não diz nada.
Jean suspira e antes que pudesse retomar o assunto com Connie e Sasha, três batidas são ouvidas na porta.
-Ahh é o sinal... mas já deu a hora? Vamos Mikasa. – Sasha levanta-se e espreguiça-se dirigindo-se a Mikasa, que está entediada em cima do beliche.
-Essa regra é um saco... por que separar meninos e meninas? Se todos estivessem no mesmo dormitório seria mais... fácil... – Connie declara com um sorriso diabólico, mas logo Jean dá-lhe um tapa na nuca e com uma voz aborrecida responde.
-É por haver pessoas como você que essa regra existe... pelo menos nenhum menino vai fazer essas coisas com outro... – As bochechas de Jean roseiam levemente à medida que presta atenção em suas próprias palavras e vira o rosto tentando esconder.
O silêncio se instala quando Mikasa pula do beliche e aterrissa próximo aos dois meninos, mas logo a tensão se esvai com a voz desinteressada da menina.
-Vamos Sasha, boa noite Eren, Armin... nos vemos amanhã – As duas saem e restam apenas Eren, Armin, Connie e Jean no quarto.
Armin desce para a parte inferior do beliche, enquanto Eren se envolve em seus cobertores e Connie arruma seu colchão jogado sobre o tablado de madeira. Apenas Jean fica em pé e imóvel olhando para o beliche.
-O que você está fazendo Eren? Hoje é o meu dia de ficar no beliche, pode descer aqui! – Jean exige irritado.
-Não quero... tem baratas aí em baixo, já estou quase dormindo, me deixa...- Eren resmunga sem se mover
-É por isso mesmo que a gente reveza! Se você não sair eu vou subir e dormir com você! – Jean ameaça, esperando que Eren proteste.
-Faça o que quiser, eu não saio daqui.- Eren conclui com uma voz manhosa.
De repente Jean fica vermelho e seu coração acelera.
Era para esse idiota recusar! Como assim eu dormir com ele? Mal tem espaço para uma pessoa lá, só daria para dormir de conchinha... E se acontecer algo durante à noite... se ele perceber...
Os pensamentos de Jean tomam conta dele por alguns instantes. O menino respira fundo, abaixa o rosto para tentar esconder sua vergonha e fala enquanto sobe no beliche.
-Ta bom... mas não vá se arrepender depois...
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