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História Uma Doce Mentira - Colecionadora de palavras - ATUALIZADO


Escrita por: YAfanfics

Capítulo 11 - Colecionadora de palavras - ATUALIZADO


Fanfic / Fanfiction Uma Doce Mentira - Colecionadora de palavras - ATUALIZADO

O final de semana passou em um piscar de olhos desde que cedi ao repouso recomendado e me acomodei no sofá da sala para assistir a alguns filmes no sábado à tarde, levantando-me somente para tomar os medicamentos prescritos pelo doutor Bryce, para ir ao banheiro ou para pegar mais comida. Só me dei conta de que já era domingo à noite quando o meu celular apitou em cima da mesinha central – indicando que eu havia acabado de receber um novo e-mail – e eu olhei a data e o horário na tela luminosa.

De acordo com a breve mensagem enviada pela diretoria da Columbia, as aulas retornariam normalmente na segunda-feira pela manhã e ainda haveria, no turno da tarde, palestras contra o uso abusivo de drogas para os alunos que tivessem interesse. Acredito que a universidade tomou essa providência devido à conclusão a que as investigações policiais chegaram sobre o assassinato de Oliver Morris, que era um usuário de substâncias entorpecentes. Porém, estava claro para mim que o garoto morto não era o único culpado por escolher um caminho tortuoso, havia outra pessoa que cooperava com suas más escolhas e que nem sequer daria as caras nessas reuniões informativas.

Dado o meu estado extremo de preguiça durante o final de semana inteiro, resolvi tomar um banho quente antes de preparar alguma coisa gostosa para comer. Bloqueei a tela do celular e o joguei em um canto qualquer, desliguei a televisão com o controle remoto e me levantei do sofá com muito custo para me dirigir ao meu quarto, tentando não forçar a perna lesionada contra o piso de porcelanato. Chegando ao cômodo silencioso, acendi imediatamente a luz e fui em direção ao meu closet, onde peguei um conjunto de lingerie confeccionado em renda azul claro, um pijama de algodão e o meu roupão branco para usar quando eu saísse do chuveiro.

Tomar banho com uma bota imobilizadora testando as suas habilidades de equilíbrio não é uma tarefa fácil – ou mesmo agradável –, mas não havia nada que eu pudesse fazer a não ser encarar aquela situação. Demorei uns quarenta minutos até sair vestida do banheiro, secando os cabelos com uma toalha ao mesmo tempo em que procurava um casaco de moletom no closet para me proteger da brisa gélida que estava entrando pela sacada.

Já na cozinha, preparei rapidamente um prato de macarrão com queijo e em seguida me sentei novamente no sofá da sala, agora para comer enquanto assistia a um episódio aleatório de Friends. Entre algumas garfadas e gargalhadas incontidas, terminei de jantar e permaneci com os olhos vidrados na televisão por mais uns quinze ou vinte minutos, quando me levantei para colocar a louça na pia e tomar o analgésico que me fazia dormir a noite inteira.

Assim que engoli o pequeno comprimido com a ajuda de alguns goles de água, escovei os dentes com a barriga escorada na pia e desliguei a luz ao sair do banheiro, seguindo sem pressa até a minha cama e cobrindo-me até o pescoço com um cobertor leve. Levou poucos minutos até que a sonolência começasse a deixar os meus olhos pesados e o meu corpo leve, e então eu apaguei.

[...]

Espreguicei-me na cama e abri os olhos lentamente, fitando o teto branco por um breve período de tempo até conseguir me situar sobre o que estava acontecendo no silêncio que me rondava. Tateei o criado-mudo em busca do meu celular e não o encontrei ali, então me lembrei de tê-lo deixado na sala de estar na noite anterior e me levantei com cuidado para ir pegá-lo.

Ao encontrá-lo desligado por entre as almofadas, girei meu corpo em direção à cozinha e arregalei os olhos em sinônimo de pavor ao ver o horário no relógio de parede que ficava no cômodo. Corri da forma que consegui até chegar ao quarto novamente e peguei a primeira roupa a que meus olhos alcançaram no closet, sendo esta uma calça jeans bem justa, uma camisa xadrez sem mangas e com tons mesclados de vermelho com azul, apenas um pé de tênis da cor branca e um boné vermelho para cobrir os meus cabelos desgrenhados.

Para quem mal conseguia parar em pé direito, me arrumei com uma rapidez de se admirar e saí de casa fazendo um rabo de cavalo e ajeitando junto com o boné, apertei o botão para chamar o elevador com o cotovelo enquanto tentava equilibrar a alça da bolsa no ombro e comemorei mentalmente quando ele chegou ao meu andar.

Entrei no meu carro sem qualquer tipo de cuidado e joguei a bolsa no banco do carona, pressionei o botão do controle para abrir o portão automático e os pneus cantaram no chão quando eu afundei o pé com a bota ortopédica no acelerador. Logo, o sol da Califórnia se estendeu pela rodovia a frente e minhas mãos se apertaram ao redor do volante devido ao nível de aflição a que meu corpo atingiu quando eu vi o engarrafamento naquela área da cidade.

– Merda! – Resmunguei.

Procurei por um atalho no GPS instalado no painel do carro e aproveitei que não havia nenhum automóvel na faixa da direita para entrar na rua indicada, a qual estava parcialmente vazia e que daria direto no centro da cidade. Segui caminho a 100 km/h e não demorou muito até que eu já tivesse encontrado uma vaga no estacionamento da Columbia e estivesse a caminho do meu armário.

Puxei rapidamente o livro de Economia Política e o restante veio abaixo, causando um barulho estrondoso no corredor vazio e me deixando ainda mais irritada do que eu já estava. Abaixei-me para recolhê-los, resmungando baixinho sobre o péssimo dia que eu estava tendo até agora, quando senti a presença de alguém se aproximando e uma voz doce e animada dizer:

– Atrasada também?

Fui erguendo o olhar desde o par de sapatilhas em tom de laranja, passando pela calça jeans azul claro, pela blusa soltinha com listras finas em preto e branco e pela bolsa preta com pequenas caveiras até chegar aos olhos de um azul da cor do mar e ao cabelo louro preso em um coque desarrumado.

– É, acho que sim. – Terminei de juntar os meus livros do chão e a garota sorridente me ajudou a levantar, segurando a minha bolsa enquanto eu guardava tudo de volta no armário.

– Obrigada. – Disse a ela quando a mesma me devolveu a bolsa, ainda sorrindo.

– Me chamo Hayle Stevens, mas acho esse nome muito formal e prefiro que me chamem apenas de Hailz, porque é um apelido de infância e tem muito mais a ver comigo do que Hayle, sem contar que é um apelido bem descolado e... – A garota atropelava as palavras como se não fosse ter fôlego o suficiente para finalizar sua interminável frase.

– Tudo bem, Hailz, eu já entendi. – Frisei o apelido e dei um sorriso meio assustado, o qual fora retribuído com uma expressão satisfatória.

– Como você se chama? – Hayle perguntou.

– America Miller. – Estiquei minha mão em sua direção e a garota a apertou, sacudindo-a descontroladamente em seguida.

– America. – Ela pronunciou mais para si mesma do que para mim – Que nome bonito, combina muito com você e com o seu estilo de garota texana.

– Eu sou de Seattle. – A corrigi.

Será que é assim tão óbvio que sou do Texas?

– Oh, me desculpe. – Hailz sorriu sem jeito – É que você tem traços latinos bem marcantes, eu pensei que...

– Não precisa se desculpar, está tudo bem. – Apresentei-lhe um sorriso reconfortante e ela anuiu com um leve movimentar de cabeça. – E então, você tem aula de quê agora?

– Tenho aula com a senhora Gribbin, economia política na sala doze. – Respondeu.

– Eu também. – Falei.

– Ótimo, assim podemos ir juntas e eu não preciso chamar a atenção sozinha por causa do atraso.

– Algo me diz que você adora chamar a atenção. – Disse sincera.

– E algo me diz que você está completamente certa. – Hayle falou e ambas caímos na gargalhada antes de tomarmos caminho para a sala de aula.

[...]

Longos trinta e cinco minutos se passaram desde que Hailz e eu entramos na sala de aula no meio da explicação da professora sobre o principal conceito de economia. Tentamos prestar o máximo de atenção no conteúdo apresentado pelo restante do tempo, depois seguimos juntas pelo vasto corredor infestado de alunos apressados até chegarmos a uma parte do campus repleta de árvores e nos sentamos na grama.

– Você mora na Califórnia há muito tempo? – Hayle questionou depois de largar a bolsa ao seu lado no chão.

– Não, me mudei esse ano.

– Você disse que é de Seattle. – Relembrou e eu assenti. – Você nasceu e cresceu lá?

– Sim.

– E porque resolveu se mudar justo para a Califórnia? – Esboçou uma feição curiosa e eu formulei a mentira perfeita que me instruíram a contar.

– Perdi meus pais em um acidente de carro e então Seattle já não era mais o meu lar. – Forcei um tom de voz entristecido e vi a curiosidade de Hailz ir por água abaixo.

– Sinto muito. – Ela disse.

– Tudo bem, uma hora você acaba se acostumando com a ausência e segue com a sua vida. – Afirmei e ela entortou a boca, chateada. – Mas agora eu quero saber tudo sobre você, senhoria faladeira.

– Bom, vamos começar pelo início. – Disse e deu uma risadinha. – Nasci e cresci na fazenda dos meus avós em Vancouver, no Canadá. A família da minha mãe é de lá e a do meu pai é de Michigan, motivo pelo qual eles discutem todos os anos sobre onde vamos passar o feriado de natal. Tenho dois irmãos mais novos, Caleb e Lindy, e um primo que considero como um irmão mais velho. Também tenho uma York Shire de estimação chamada Pandora, o que é um grande avanço pra quem costumava ter vacas e porcos quando pequena. – Hayle contava sua história de forma tão rápida e engraçada que eu não consegui conter a risada em boa parte de seu monólogo, e então ela continuou: – Meus pais são donos de uma das empresas mais bem sucedidas do ramo da moda, a Stevens Emporium, e estão sempre promovendo desfiles e eventos para levantar fundos voltados a projetos de caridade.

– Nossa, seus pais parecem ser incríveis. – Comentei e a garota sorriu.

– Eles são legais.

– Espero poder conhecê-los alguma hora dessas.

– É claro! – Hailz falou animada – Eles vão adorar você.

– Como você tem tanta certeza disso?

– Porque você me aguentou por mais de cinco minutos falando sem parar e nem sequer reclamou, então é algo que você tem em comum com eles. – Ambas gargalhamos alto, chamando a atenção de alguns alunos que passavam por ali.

– Oh, já ia me esquecendo! – Hayle exclamou de súbito – Agora que você é minha amiga, meus pais vão querer a sua presença no baile anual de caridade promovido pela Stevens Emporium.

– Baile? – Indaguei com o cenho levemente franzido e ela assentiu sorridente.

– Todo ano, meus pais promovem um baile com o objetivo de arrecadar dinheiro para uma fundação que ajuda crianças com câncer. Nele, eles realizam um leilão onde as pessoas dão lances altos, pois sabem que o dinheiro será direcionado a uma boa causa. – Explicou. – Esse ano ainda não foi definido um tema específico, já que também será comemorado o aniversário de dezesseis anos da minha irmã, então a minha mãe achou que seria mais apropriado deixá-la escolher e agora está esperando que Lindy tome uma decisão o mais rápido possível para poder dar início aos preparativos.

– E quando é esse baile? – Perguntei.

– Daqui a um mês. – Hailz respondeu – Tempo suficiente para a minha mãe me deixar tão louca quanto ela.

– Ela não pode ser tão ruim assim.

– Pode sim. Minha mãe vive para o trabalho, ela ama o que faz, mas às vezes isso... – Ela parou de falar no instante em que ouviu seu celular tocar dentro da bolsa e ergueu um dedo, sinalizando para que eu esperasse.

Aproveitei que Hayle estava no telefone e olhei ao redor, procurando pela pessoa que me levou até ali e que costuma tornar os meus dias um completo inferno. Eu não havia visto Justin desde que ele me ajudara no outro dia, quando assinara minha alta e me levara para casa, mas suas últimas palavras antes de bater a porta do meu apartamento ainda martelavam em meus pensamentos e buscavam por um significado que fizesse sentido.

“– Você não precisa de nenhuma resposta minha pra te convencer de que isso foi diferente desde o início”.

Que diabos ele quis dizer com aquilo?

– Mãe, se liga, eu cheguei de viagem hoje. – A voz doce, porém impaciente, de Hayle me despertou do transe – Então como você espera que eu saiba onde o Caleb se meteu com aqueles amiguinhos pés no saco? – Ela esperou a outra pessoa do outro lado da linha falar, o que levou uns trinta segundos, e depois continuou: – Sim, eu vou resolver isso ainda hoje. Não mãe, eu não vou fugir do jantar. Tá, eu já entendi. Tchau.

Hayle finalizou a ligação com sua mãe e jogou o celular de volta dentro da bolsa preta com caveiras, depois me olhou como quem quisesse pedir alguma coisa e eu estreitei os olhos em sua direção. Um sorriso se esticou em seus lábios e ela piscou várias vezes seus longos cílios, tentando me convencer sem nem proferir as palavras.

– O que você quer? – Interpelei sem mais delongas.

– O que você acha de almoçarmos juntas e depois fazermos umas comprinhas?

– Compras? – Repeti e Hailz balançou a cabeça positivamente – E o que exatamente vamos comprar?

– Quatro vestidos. Dois para você e dois para mim.

– Porque eu preciso de dois vestidos? – Franzi o cenho.

– Um para o baile de caridade dos meus pais e outro para a pré-festa que acontece na minha casa uma noite antes. – Esclareceu.

– Eu tenho outra escolha?

– Tem, mas a minha opção é mais divertida. – Respondeu risonha.

– Certo, você me convenceu. – Falei, por fim, e Hayle comemorou batendo palmas feito uma idiota.

– Você tem alguma preferência para restaurante? – Perguntou enquanto me ajudava a levantar.

– Contanto que tenha comida, qualquer um está ótimo pra mim. – Brinquei e a garota gargalhou.

– Então vamos ao meu favorito, o Pedalers Fork. – Disse e nós tomamos caminho até o estacionamento da universidade, onde Hailz havia estacionado seu belíssimo Porsche Spyder prata.

[...]

Durante o almoço, Hayle me contou um pouco mais sobre sua vida e sobre sua última viagem para Florença, na Itália, onde passou três meses conhecendo e apreciando lugares lindíssimos. Ela também me falou muito a respeito de seu primo e das situações inusitadas pelas quais os dois já passaram juntos, desde colocar fogo no celeiro dos avós até fugas no meio da noite para ir a festas de arromba. O modo com que Hailz falava dele mostrava claramente o quanto ela o amava e o quanto ele era importante em sua vida, ainda que tenha mencionado o fato de que o garoto havia se fechado para o mundo depois de passar por muitos problemas pessoais.

O restaurante em que almoçamos estava localizado bem no centro da cidade, exatamente onde também ficavam as lojas a que Hayle queria visitar para procurar os vestidos. Então pagamos a conta e fomos caminhando lentamente pela calçada até chegarmos a uma loja toda arquitetada em vidro e com belos vestidos expostos na vitrine.

Fomos recepcionadas por uma atendente de longos cabelos pretos e olhos de um verde bem claro, que nos ofereceu uma taça de champagne depois de informarmos o que estávamos procurando. Ela foi muito simpática e paciente ao nos mostrar grande parte das peças exclusivas da loja, mas nenhuma delas pareceu agradar Hailz e muito menos a mim, então agradecemos e seguimos para a próxima boutique.

Depois de visitar oito lojas em três quarteirões e meio, estávamos somente com os vestidos e os pares de sapatos para a pré-festa comprados. Hailz telefonou para sua mãe e não precisou se esforçar nem um pouco para convencê-la a desenhar modelos exclusivos para que ambas usássemos no baile da Stevens Emporium, logo, não havia mais nada para nos preocuparmos. Então decidimos que já era a hora de ir embora e seguimos caminho até onde Hayle havia estacionado o carro. Porém, antes que pudéssemos alcançá-lo, ela parou no meio do caminho e abriu um sorriso de orelha a orelha.

Justin! – Deu um berro estridente.

Ao ouvir a pronúncia alta e clara daquele nome, fui tomada por um desespero momentâneo e tentei me convencer de que não seria ele quem eu encontraria ao erguer o olhar, por mais que meu subconsciente insistisse em trair as minhas preces. Mesmo não querendo, me obriguei a levantar os olhos em linha reta e acabei me deparando com a figura de Justin em sua calça jeans bem justa na cor preta, com uma camiseta sem mangas igualmente do mesmo tom escuro e um boné com a aba virada para trás.

Por um momento, Bieber me encarou de forma desconfortável e até mesmo receosa, mas logo depois abriu seu melhor sorriso sarcástico e veio em nossa direção. Hayle abriu os braços carregados de sacolas e envolveu Justin em um abraço caloroso, o que me levou a questionar mentalmente de onde os dois se conheciam e que tipo de relação eles mantinham.

– O que você está fazendo aqui, Drew? – Hailz indagou ao soltá-lo.

– Você sabe que eu odeio quando me chamam assim, Hayle. – Rebateu, dando ênfase naquele nome considerado “formal demais” pela garota.

– Tudo bem, você ganhou. – Ela deu o braço a torcer e revirou os olhos, sorrindo.

– Sua mãe me ligou hoje de manhã. – Bieber começou a explicar – Ela disse que eu precisava de um terno novo para a pré-festa da Stevens e que tinha que ser comprado hoje mesmo, então é o que eu vim fazer aqui.

– E você obedeceu a essa ordem patética por que...? – Hayle perguntou em tom de deboche.

– Ela é minha tia, como eu ia recusar? – Ele replicou. – Além do mais, você conhece bem a sua mãe e sabe o quanto ela leva esses eventos de caridade a sério, então preferi evitar que ela ficasse me enlouquecendo por mais dias e vim comprar essa porra de terno hoje.

“Ela é minha tia, como eu ia recusar?” essa frase destruiu qualquer possível teoria que eu tenha criado em relação àqueles dois, e me causou um sobressalto tão grande que as palavras saíram de minha boca sem que eu conseguisse sequer controlá-las:

– Espera, ele é o seu primo? – Interpelei um pouco mais alto do que deveria e acabei interrompendo a conversa dos dois, que direcionaram rapidamente o olhar para mim.

Vi os lábios de Bieber se curvarem em um sorriso sacana quando ele me colocou em seu campo de visão e senti que o meu tom de surpresa pareceu lembrá-lo de que eu estava presente desde que aquela conversa se iniciara.

– Desde quando você é amiga da biruta aí? – Justin questionou sem tirar os olhos de mim.

– Desde hoje de manhã, quando nós duas estávamos super atrasadas para a aula de Economia Política da senhora Gribbin e acabamos nos esbarrando no corredor. – Hailz contou toda sorridente, me abraçando de lado. – E sim, ele é meu primo e... Ei, espera um pouco! Vocês dois se conhecem? – Ela revezou o olhar curioso entre mim e Justin.

– Sim. – Respondemos em uníssono, nos encarando.

– Que ótimo! – Ela exclamou animada – Assim eu posso pular a parte chata e constrangedora das apresentações e ir direto para a parte em que te ajudamos a escolher um terno.

– O quê? – Disparei ao arregalar os olhos.

– Nós podemos ajudá-lo a escolher um terno, não podemos? – Hayle me olhou e eu permaneci em silêncio por alguns instantes, buscando por uma desculpa convincente que me tirasse dessa enrascada. – Nós já compramos tudo o que precisávamos e estamos sem nada para fazer mesmo, não custa nada ajudar.

– É, America, não custa nada ajudar. – Bieber enfatizou e eu o fuzilei com o olhar, irritada com o seu divertimento diante daquela situação.

– Certo, vamos. – Respondi com impaciência, mas Hailz não percebeu e deu pulinhos de alegria.

Fomos até o carro para largar as sacolas no porta-malas e depois nos encaminhamos até uma loja a que Justin disse ser uma das quais ele sempre vai para comprar seus ternos caros. Chegando lá, uma funcionária alta e loira se aproximou de nós três com um sorriso marcado por um batom vermelho sangue, mas ignorou completamente a minha existência e a de Hayle para medir Bieber dos pés a cabeça como se estivesse frente a frente com algum tipo de deus grego. Talvez Hailz estivesse acostumada com esse tipo de situação, pois nem deu muita importância para o acontecido, mas eu estava achando tudo isso patético.

Passamos para os fundos da loja, onde havia uma sala privada que disponibilizava de algumas cabines de vestiário para que Justin experimentasse os ternos e saísse para nos mostrar como tinha ficado. Ele escolheu várias peças de cores e cortes diferentes e entrou em uma das cabines, enquanto Hayle e eu aguardávamos sentadas em um pufe redondo e bege.

Eu já disse o quanto odeio usar terno? – Justin resmungou de dentro do provador.

– Eu já disse o quanto a minha mãe não se importa com a sua opinião? – Hailz rebateu brincalhona, fazendo-me rir.

– Isso é ridículo. – Ele falou ao abrir a porta do provador, saindo de lá com um belíssimo terno preto.

– Suas roupas não são lá grande coisa, pelo menos assim você se parece mais com uma pessoa civilizada. – Comentei.

– Isso vindo da pessoa que saiu do hospital vestida feito uma sem-teto. – Retrucou.

– É ótimo ver que vocês estão se dando bem. – Hayle disse com ironia e nós nos calamos. – Enfim, acho que esse terno não combina muito com você, Justin.

– Eu não o compraria nem se você gostasse, ele é ridículo.

– Então vamos para o próximo. – Ela apontou para o provador com uma das mãos.

Ficamos cerca de quarenta e cinco minutos esperando que Bieber experimentasse os inúmeros ternos que havia pegado nas araras da loja, mas nenhum parecia bom ou caro o suficiente para convencê-lo a comprar. Hayle dava a sua opinião para cada peça que ele vestia, mas eles não tinham gostos nem um pouco parecidos e isso dificultava ainda mais a escolha.

– O que você achou desse, America? – Ouvi o meu nome ser pronunciado por Hailz e virei o rosto para atender ao seu chamado.

Meus olhos pararam drasticamente ao encontrar Justin trajando um magnífico terno azul marinho, mas que por alguma razão eu sabia que ele havia detestado, então apenas suspirei antes de dar o meu decreto:

– O terno é realmente muito bonito e combina com você, mas eu acho que você não precisa ir tão formal assim. – Falei de forma simples e Justin me olhou como se o que eu estivesse falando pudesse ser levado em consideração, portanto, continuei: – Você poderia usar uma calça preta do jeito que você gosta, um blazer da mesma cor, uma camisa social branca e um par de tênis de cor mais chamativa para quebrar um pouco os tons escuros.

– Onde você esteve nos últimos cinquenta minutos? – Hailz brincou, referindo-se ao fato de que poderíamos ter ido embora muito antes, e eu dei uma risadinha nasalada.

– E então, Bieber, qual é o veredito? – Perguntei e ele abriu um sorriso malandro.

– Um ponto pra você, Miller. – Dito isso, Justin entrou de volta no provador para tirar o terno azul marinho e vestir suas roupas e depois saiu de lá carregando apenas o blazer e a camisa social branca que eu havia sugerido que ele comprasse.

Depois que Justin efetuou o pagamento no caixa e nós saímos da loja, o celular de Hayle começou a tocar de forma frenética dentro da bolsa e ela bufou ao ver o nome “mãe” piscar na tela. Bieber e estávamos encostados no carro de Hailz enquanto ela andava de um lado para o outro falando rápido e gesticulando com as mãos.

Quando, por fim, ela finalizou a ligação, veio correndo até nós e disse sem fôlego:

– Eu estou muito atrasada para encontrar a minha mãe e preciso ir antes que ela perca a reserva no restaurante.

– Pode ir, eu levo a America pra casa. – Bieber se prontificou e Hailz concordou com um movimentar de cabeça. 

Ela abriu o porta-malas para me entregar as minhas sacolas e depositou um beijo estalado na bochecha de cada um antes de entrar no carro e dar partida, virando à direita na primeira rua.

Olhei para Justin, que deu um meio sorriso e pegou as sacolas da minha mão para que eu não precisasse carregá-las até o carro, e segurei em seu braço para ter um apoio – já que eu estava sem muletas. Minha perna doía um pouco devido ao esforço físico que eu havia realizado naquele dia, mas nada que eu não pudesse suportar até chegar em casa. Confesso que até pensei em pedir a Justin que me levasse de volta ao campus da Columbia para que eu pudesse pegar o meu carro, mas a universidade era para o lado oposto de onde eu morava e a verdade é que eu estava cansada demais para dirigir.

[...]

O caminho do centro da cidade até o meu apartamento nunca me pareceu tão longo e agonizante. Eu olhava para Justin de rabo de olho uma vez que outra, na esperança de que ele encontrasse algum assunto para desenvolver e que a estação de rádio não se fizesse mais necessária como sendo a única válvula de escape para a tensão que aumentava a cada quarteirão que percorríamos.

Porém, ele não disse nada, assim como eu.

Assim que paramos em frente ao meu condomínio, permaneci em silêncio olhando pela janela por alguns instantes, pensando no que eu deveria dizer e quais palavras eu deveria usar. Era como se eu quisesse falar a coisa certa em resposta ao que ele dissera na última vez em que estivemos juntos, mas como eu poderia responder algo que nem eu mesma compreendia direito?

Talvez o principal motivo de eu me sentir tão incomodada perto de Justin seja pelo fato de que ele tenha me deixado confusa, o que não acontece com tanta frequência já que eu sou controladora demais para deixar que outras pessoas me façam isso comigo. Contudo, ele havia conseguido me afundar em perguntas que eu não sabia responder.

– Obrigada pela carona. – Foi só o que consegui falar antes de levar a mão até a alavanca para abrir a porta do carro, que ainda estava com a trava de segurança acionada.

– Você quer ajuda pra subir? – Justin perguntou.

– Não, está tudo bem, eu consigo sozinha. – Respondi um pouco nervosa.

– Isso tudo é medo de ficar perto de mim e não conseguir resistir? – Quando escutei aquelas palavras absurdas saindo de sua boca, uma onda de raiva percorreu cada terminação nervosa do meu corpo e eu senti meu rosto esquentar.

– Me responde você. – Falei um tanto exaltada ao me virar para ele – Porque insiste tanto em querer estar sempre perto de mim?

Meu olhar estava fixo ao dele e eu me mantive quieta a espera de uma resposta, mas a única atitude tomada por Bieber naquele momento fora a de ficar me observando atentamente por uns quinze segundos em completo silêncio. No entanto, o maior problema veio depois desse silêncio gritante, quando ele foi se aproximando vagarosamente e, sem desviar os olhos dos meus, plantou um beijo no canto dos meus lábios.

Fiquei imóvel, sem saber o que fazer ou o que falar, e então ele se afastou para me olhar e disse:

– Boa noite, Miller.

Logo, o barulho da trava de segurança sendo desativada me despertou daquele transe em que eu me encontrava e eu rapidamente peguei as minhas sacolas no banco de trás e saí um tanto desconcertada de dentro do carro. O motor roncou atrás de mim e eu me virei a tempo de ver o carro de Justin virar à esquina no final da rua, levando consigo todo o meu autocontrole.

– O que foi que acabou de acontecer? – Murmurei perplexa.


Notas Finais




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