História Uma Doce Mentira - Tudo em cima - ATUALIZADO

Uma forte dor de cabeça me atingiu antes mesmo que eu pudesse abrir os olhos para apreciar o provável belo dia que nascera lá fora, mas assim que o fiz, amaldiçoei cada raio de sol que se esgueirava pelas frestas das cortinas e cobri o rosto com um travesseiro. Entretanto, estranhei a fragrância masculina que estava impregnada no mesmo e somente o lancei para longe de mim quando também me dei conta de que estava nua sob os lençóis da cama de outra pessoa.

Sentei-me sobre o colchão em um pulo e cobri meu corpo dolorido com o lençol, depois olhei ao redor para poder me localizar e me deparei com minhas roupas atiradas pelo chão junto com algumas outras que não eram minhas e o travesseiro branquinho que eu havia jogado segundos antes. Não demorou para que eu reconhecesse o quarto de Justin e para que a minha cabeça passasse a doer ainda mais a partir do momento em que flashes da noite anterior se fizeram presentes em minha mente confusa.

Como eu pude fazer isso? Como eu pude me deixar levar desse jeito?

Massageei a têmpora e me coloquei a pensar sobre quais seriam as proporções daquele problema se alguém do escritório soubesse desse meu gigantesco delito. Perguntei duzentas e dezesseis vezes a mim mesma onde eu estava com a cabeça quando fui parar na cama com um criminoso que eu fora encarregada de entregar às autoridades, e a imagem de Hayle em uma cama hospitalar só enalteceu o meu martírio.

Corri para o banheiro e tranquei a porta antes que alguém resolvesse aparecer por ali, depois liguei o chuveiro e deixei que a água morna levasse embora todo e qualquer resquício da noite passada, desde a grande quantidade de álcool que eu havia ingerido à culpa por ter cedido ao toque de Justin. O arrependimento estava me matando aos poucos e não havia nada que eu pudesse fazer para voltar atrás, a única coisa que eu tinha plena certeza era de que ninguém poderia descobrir o que acontecera na noite anterior, principalmente Khan.

Terminei de me enxaguar e enrolei uma toalha no corpo e outra no cabelo, e só me percebi que não havia o que vestir quando voltei ao quarto de Bieber e avistei novamente minhas roupas molhadas no chão. Contra a minha vontade, mas sem outra saída, fui até o closet de Justin e peguei emprestada uma de suas cuecas, uma calça de moletom e uma camiseta preta. Depois de vesti-las e ajeitá-las de acordo com o meu corpo, tirei o excesso de água dos cabelos com a toalha – estendendo ambas no vidro do box em seguida –, e os penteei com uma escova que estava na bancada do banheiro.

Eu não sabia o que fazer com as minhas roupas, por isso as deixei onde estavam e rumei em direção ao corredor com meus pés descalços. Após fechar a porta do quarto com muito cuidado para não causar alarde, desci o lance de escadas em completo silêncio e parei ao ouvir a voz de Justin e Angelina conversando na cozinha.

– Conheci a America ontem. – Angelina disse – Ela é sua namorada?

– Deus é que me livre. – Rebateu Bieber, zombeteiro – Ela não bate bem dos parafusos.

– Mas ela gosta de você, disso eu tenho certeza.

– Ela gosta é de infernizar a minha vida, Angelina. – Disse Justin e eu automaticamente revirei os olhos.

– Na minha época de menina, quem muito infernizava, muito amava. – Brincou despreocupada e soltou uma risadinha em seguida.

– Ela não... eu não... nós não funcionamos dessa maneira. – Ele falou, por fim.

Assim que parei de dar importância àquela conversa, avistei meu par de botas em um canto e corri para calçá-las o mais rápido possível. Em seguida, arrastei meu olhar por cada parte do cômodo e encontrei as chaves do meu carro – o qual Justin deve ter mandado buscar no hospital –, em cima da mesinha de centro da sala e me apressei em pegá-las. Entretanto, o barulho das mesmas chocando-se contra o vidro da mesa acabou chamando a atenção de Justin e Angelina, que surgiram como um flash na sala de estar e me pegaram no flagra tentando escapar.

– Indo embora tão cedo, rainha do baile? – Bieber falou sarcástico, surpreendendo-me.

– É, eu... ahn... tenho muitas coisas para fazer. – Por mais que eu tivesse me esforçado para controlar o nervosismo em minha voz, Justin o notou e riu discretamente.

– Mas você não vai tomar nem café da manhã? – Angelina indagou, preocupada – Eu preparei waffles com calda de chocolate, panquecas e até bacon com ovos. Sente-se e coma pelo menos um pouquinho, você está muito magrinha.

– Juro que não é a minha intenção fazer desfeita nem nada do tipo, e agradeço imensamente por ter dedicado o seu tempo para preparar um café da manhã que imagino estar delicioso, mas eu preciso mesmo ir embora. – Falei um tanto inquieta.

– Angelina, você pode nos dar licença um instante? – Justin pediu com um leve toque de autoridade no tom e ela apenas assentiu com a cabeça, retirando-se do recinto.

Eu não conseguia sequer erguer o meu rosto ardendo em brasa para poder olhá-lo nos olhos, todos os meus músculos estavam tensionados com aquela proximidade e os meus batimentos acelerados mal me deixavam respirar ao pensar na possível conversa que se iniciaria ali. A única coisa que eu ficava repetindo inúmeras vezes para mim mesma era que eu precisava me controlar, caso contrário ele usaria tudo aquilo como vantagem em seu discurso de conquistador barato.

– Então quer dizer que a sua maneira de evitar falar sobre o que aconteceu ontem é fugindo? – Ele questionou.

– Não há motivos para falarmos sobre isso. Foi um erro, não irá se repetir. – Esclareci.

– Tem certeza? – Bieber ameaçou diminuir a distância entre nós, mas eu o impedi.

– Nem um passo a mais. – Ergui o dedo à altura de seus olhos – Você e eu sabemos que foi um grande erro, então porque não admite logo e assim cada um pode seguir o seu caminho?

– Porque a minha fama não me permite achar sexo um erro.

– Eu esqueci que você é o pior tipo de canalha.

– O seu orgasmo na noite passada mostrou claramente que eu sou o seu tipo preferido de canalha. – Justin estava se divertindo à minha custa e eu já estava perdendo as estribeiras, esvaindo-me em raiva.

– Você quer me ouvir falar sobre o que aconteceu? Tudo bem. – Explodi e me preparei para falar tudo que estava entalado em minha garganta desde que eu tomara conhecimento do terrível erro que cometi.

Justin me encarou, seu maxilar estava travado.

– Eu estava vulnerável e tão bêbada que mal conseguia me aguentar em pé, você também não estava em melhores condições, mas não ouse tirar conclusões baseadas nos acontecimentos da noite passada. Não se atreva a pensar que eu sou igual a essas garotas descerebradas que tem o costume de cair aos seus pés, porque eu nunca quis e nem nunca vou querer ficar com alguém como você, entendeu?

– Tudo isso que você disse pareceu tão patético e contraditório comparado aos seus gemidos ontem à noite. – Seu sorriso maléfico se alargou e eu comecei a sentir o meu sangue ferver em cólera.

– É ridículo você pensar que esse tipo de comentário promíscuo e totalmente previsível vai me abalar de alguma forma. – Falei com firmeza, mantendo a pose – Eu não tenho medo de assumir nenhum os meus erros, Justin. E eu admito para quem quiser ouvir que escolher passar a noite com você foi o maior e mais vergonhoso de todos eles.

– Se bem me lembro, ontem você me disse que queria ser outra pessoa. Alguém que... quais foram as palavras que você usou mesmo? – Ele deu uma breve pausa e fingiu pensar sobre – Ah é, “alguém que pudesse estar nos seus braços sem medo das consequências”.

– O mais importante é que a pessoa que eu sou hoje, a que eu sempre fui, sabe que não vale a pena perder tempo com você. – Meu tom de voz saiu rude e repleto de desprezo, o que aparentemente não deixou Justin nem um pouco contente.

– Qualquer argumento ou ofensa que você fica tentando usar contra mim acaba refletindo apenas em você, que caiu na minha cama sem que eu precisasse fazer o menor esforço. – Pontuou ele, com suas palavras acertando-me como eu soco no estômago.

– Vai pro inferno. – Cuspi as palavras e bati a porta quando saí, seguindo em direção ao meu carro.

[...]

Estacionei o carro em minha vaga no condomínio e fiquei parada com as mãos no volante por um tempo, refletindo sobre tudo o que havia acontecido ultimamente e que agora parecia estar desmoronando sem aviso prévio. Minha mente estava tão confusa a ponto de eu questionar a minha capacidade como agente federal, a julgar pelo fato de eu ter me dormido com o alvo que me fora designado e que era um cafajeste de carteirinha. Também não conseguia tirar da cabeça que todos aqueles acontecimentos trágicos pareciam seguir um único padrão, o qual eu deveria ter investigado ao invés de estar transando com um criminoso. Droga, tudo me levava de volta a Justin.

Transferi meu olhar para o banco do carona quando meu celular começou a tocar dentro da bolsa e me apressei em achá-lo antes que a pessoa desistisse, ainda mais se fosse algum familiar de Hayle. Contudo, era Aldous Khan.

– Finalmente! – Ele comemorou com palavras banhadas em sarcasmo – Essa é a décima nova vez que eu te ligo hoje.

– Eu estava... ocupada... com o caso. – Falei entre pausas, rezando para que ele não desconfiasse de nada por meio de meu tom de voz trêmulo.

– Vejo que não cumpriu muito bem com a sua ocupação então. – Khan resmungou.

– Do que você está falando?

– Do fato de você ter esquecido de alertar o FBI sobre a invasão ao sistema do departamento de polícia e sobre o roubo de armamento ontem à noite. – ao ouvir isso, apertei os olhos em uma reprimenda a mim mesma e sibilei um “merda” sem som.

– Olha Khan, aconteceram algumas coisas que exigiram um pouco mais da minha atenção e eu acabei me esquecendo disso. – Expliquei – O erro foi meu, eu sei, me desculpe.

– Suas desculpas não valem de nada se não houver uma boa razão para eu limpar a sua barra com o conselho, como, por exemplo, uma pista de que estamos no caminho certo para pegar o projeto Sentinela e o Bieber.

Suspirei ao pensar rápido em algo que me rendesse mais tempo e disse:

– Certo, eu tenho um plano. – Articulei com convicção – Apenas não me tire do caso e eu juro para você que pego o microchip para o FBI e coloco o Bieber atrás das grades.

– Espero que você tenha um bom plano, Selena. – Aldous falou em advertência.

– Confie em mim. – Pedi – Sei o que está em jogo aqui.

– Tudo bem. – Ele se deu por vencido – Me mande um relatório com todas as informações que você conseguiu até agora.

– Pode deixar. – Sem esperar por uma resposta, finalizei a ligação e saí do carro.

Apertei o botão do elevador e esperei até que o mesmo chegasse ao térreo para então me levar ao meu andar, onde alcancei a porta branca em poucos passos e girei a chave para poder entrar em meu apartamento iluminado pelos raios solares. Eu estava exausta e precisava descansar, mas não antes de me desvencilhar das roupas de Bieber e daquele perfume inebriante que estava me deixando desconcertada.

Passei pela cozinha para pegar um pacote de salgadinho, pois eu não havia comido nada desde ontem e não tivera vontade de tomar café da manhã na casa de Justin, e fui comendo enquanto atravessava o corredor até o meu quarto. Em seguida, larguei o pacote sobre o criado-mudo para vestir o meu pijama e depois dobrei as roupas de Bieber, deixando-as na poltrona pouco antes de me deitar e cair em um sono profundo.

[...]

O relógio marcava 17h42 quando despertei com as energias renovadas e pronta para bolar um plano que colocasse Justin na prisão o mais rápido possível. Contudo, pensei que seria bom fazer uma visita à Hayle antes de me preocupar com seu primo problemático e encrenqueiro, por isso pulei para fora da cama e fui procurar o que vestir.

Escolhi uma roupa bem simples, contando apenas com uma camisa branca de botões bem soltinha e com mangas, uma calça jeans com as barras dobradas e sapatos confortáveis na cor preta e sem salto. Prendi o cabelo em um coque bem mal feito, o qual deixara algumas mechas caídas atrás, e passei no banheiro para escovar os dentes antes de ir até o quarto equipado com as parafernálias do FBI para ouvir a rádio Bieber.

Acomodei-me em uma cadeira com rodinhas e sintonizei as escutas implantadas na casa de Justin, esperando que ele me desse algum conteúdo bom o bastante para levar ao conselho. No entanto, fui surpreendida com várias vozes femininas transformadas em murmúrios de prazer e cerrei os olhos ao sentir o sangue ferver em minhas veias, descrente de que aquele miserável estava se divertindo com sexo fácil enquanto Hayle estava em estado crítico no hospital. Bieber deveria estar dando apoio à sua família ao invés de estar pensando somente em si e em suas necessidades para com o gênero feminino, mas as três vozes femininas que contabilizei me diziam que ele não ligava a mínima para quem quer que fosse.

Irritada com a situação, me desconectei abruptamente e me dirigi para a sala de estar, onde peguei as chaves do carro junto com a mesma bolsa que usara no dia anterior e saí do apartamento em direção ao estacionamento. Eu estava determinada a visitar Hayle para esquecer do que ouvira há poucos minutos atrás, e acreditava que boas notícias sobre seu quadro clínico estavam ao meu aguardo quando eu chegasse. Eu precisava de algo bom em meio àquela maré de azar, precisava saber que a única melhor amiga que eu já tive na vida estava fora de perigo e pronta para voltar para nós.

Assim que cheguei ao hospital, meus olhos se ocuparam em procurar uma vaga em que eu pudesse estacionar o meu carro e que ficasse próxima à entrada principal. Porém, quando a encontrei e estava prestes a ocupá-la, um Fisker Karma cromado se atravessou na minha frente e preencheu o lugar que antes me pertencia por direito.

– Merda! – Esbravejei, batendo com as mãos no volante.

E foi então que o sorriso conquistador e o típico olhar lascivo revelaram a imagem perfeita de Satã, que jamais abandonara o ar de superioridade nem o egocentrismo de sempre. Bieber escorou-se despreocupadamente sobre a lataria do carro depois de bater a porta e seus olhos logo alcançaram os meus, que faiscavam de raiva.

– E aí. Tudo em cima, rainha do baile? – Seu sorriso cínico se alargou.