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História Uma Doce Mentira - Playtime is over - ATUALIZADO


Escrita por: YAfanfics

Notas do Autor


PS: Johnny Patel é interpretador pelo Nat Wolff.

Capítulo 6 - Playtime is over - ATUALIZADO


Fanfic / Fanfiction Uma Doce Mentira - Playtime is over - ATUALIZADO

Grand Prairie, Texas; 26 de março de 2005.

– Eu não quero essa vida pra ela, Conrad. – A voz que sempre fora tão calma e angelical agora ressoava com tamanha preocupação, demonstrando claramente o grau de seriedade que aquela situação havia atingido. – Eu não quero que a nossa filha cresça assistindo o pai se autodestruir ao mesmo tempo em que ele aniquila pessoas inocentes.

Conrad soltou um longo e profundo suspiro, certamente para restringir a raiva que começava a se propagar por seu corpo constantemente tenso, e depois direcionou o olhar para a mulher pálida que estava à sua frente. – Essas pessoas a quem você se refere como vítimas, Lilian, me devem muito dinheiro.

– Por Deus! Quando foi que você se transformou nesse ser humano ganancioso e sanguinário?

– Eu faço o que é preciso para sobrevivermos, mas parece que isso não é o bastante para você. – Conrad retrucou de forma colérica e levantou-se do espaçoso sofá cor de creme para recorrer à sua principal válvula de escape em momentos como aquele, o álcool. Era possível ouvir o barulho da garrafa de cristal carregada de Johnnie Walker bater levemente nas outras três que a cercavam antes de encostar o gargalo na boca do copo.

– O seu plano de sobrevivência inclui riscos que eu não quero correr e cicatrizes que eu não posso curar.

– Você não acha que já está na hora de começar a me agradecer por todo o esforço que eu venho fazendo para manter um teto sobre as nossas cabeças?

– Não se isso significar perder todos os nossos amigos e pôr as nossas vidas em perigo por culpa da sua maldita ganância. – Lilly soltou um suspiro de lástima, permanecendo em silêncio por alguns segundos antes de finalmente prosseguir. – Você atirou no Sebastian quando ele implorou por misericórdia, tirou os freios do carro do George e da Lydia por causa de dívidas estúpidas, cortou a garganta do Christopher por medo de que ele te entregasse à polícia e causou o incêndio na casa dos Mitchell. Eu me pergunto como você consegue dormir à noite sem se culpar por cada vida inocente que você tirou.

– Eu fiz o que tinha que ser feito, aceite os fatos e siga em frente.

– Será que você não vê que essa situação está totalmente fora de controle, Conrad?

– Eles eram ameaças. ­– Conrad argumentou, elevando o tom de voz.

– Eles eram seus amigos! – Ela se exaltou igualmente. – Você matou os seus amigos, consegue entender a gravidade disso?

– O que eu entendo é que você não passa de uma ingrata. E saiba que é essa sua ingratidão que te levará ao declínio muito em breve.

– Eu só estou preocupada com a nossa filha. – O murmúrio saiu repleto de cansaço e lástima, exatamente como em todas as noites nos últimos dois anos em que esse se tornara o único assunto a ser discutido depois do jantar e durante a madrugada.

– Esse é o maior pleonasmo já usado, Lilian. Você vive de preocupações.

– Ela é sua filha também. O seu sangue corre pelas veias dela, então como pode não se importar com alguém que lutaria e morreria por você sem hesitar?

– Essa garota só me traz problemas, Lilian. Já não basta eu ter que escutar os seus lamentos todas as noites, ainda tenho que aturar aquele senso de justiça que a Selena acha que tem. É irritante!

– Você costumava ser o herói dela, Conrad. Foi você quem ensinou tudo o que ela sabe e tudo o que ela é. – Lilly rebateu com certa serenidade, provavelmente esperando que essas poucas palavras trouxessem de volta o homem justo e amoroso que um dia Conrad já foi. – Lembro-me claramente de quando você a levava para assistir o jogo de baseball aos domingos e de como vocês não voltavam para casa sem antes passar no Taco Bell. Ou de quando você a contava histórias de terror antes de dormir e a apertava entre os seus braços quando ela ficava com medo. – Outro longo suspiro de lamentação preencheu o ambiente, sendo seguido por mais alguns segundos de silêncio. – Hoje você a transformou em mais uma peça do seu joguinho de tabuleiro humano.

– Chega! Cansei de ouvir você por hoje. – Ele deixou o copo vazio sobre a mesinha central e deu às costas para a esposa, que se recompôs rapidamente e levantou-se do sofá em um pulo.

– Você não vai jogar com ela, ouviu bem? – Pela primeira vez em anos, Lilian se impôs ao marido sem qualquer resquício de medo. – Eu não vou permitir que a minha filha se torne um objeto descartável aos seus planos imundos.

– Cala a porra da boca, Lilian! – Em uma fração de segundos, o copo que estava sobre a mesa de vidro se estilhaçou contra o piso, fazendo com que a mulher estremecesse de medo.

– Eu estou tão cansada. – Ela agora utilizava um tom de voz baixo e frustrado, os olhos fitando os próprios pés e as lágrimas provavelmente embaçando sua visão. – Cansada de tentar trazer de volta o homem por quem eu me apaixonei, e de falhar em todas as tentativas. Cansada das brigas, das lágrimas, da dor... Eu estou tão cansada de você.

– Eu mandei você calar a boca! – A mão pesada de Conrad alcançou a pele clara do rosto de Lilian, causando um estalo alto e aparentemente forte. A aflição que antes fora contida e encobrida por braveza agora se esvaía entre lágrimas e soluços inquietantes.

Era isso o que mais machucava a garota de doze anos que estava parada ao pé da escada, sentindo a dor da mãe em silêncio enquanto o pai saía pela porta dos fundos sem sequer se importar com o rastro de sofrimento que deixou para trás naquela noite. Ele voltaria dali a algumas horas, como sempre fazia, mas ainda assim não teria um pedido de desculpas decorado e nem mesmo estaria arrependido por ter decepcionado a sua garotinha, que agora abraçava os joelhos e dava início a um choro silencioso.

Calabasas, Califórnia; Atualmente.

Uma corrente de ar corrompeu todos aqueles pensamentos dolorosos sobre o passado e eu me encolhi um pouco ao sentir o vento gélido tocar o meu corpo, que se ouriçou todo por conta do frio, e jogar os meus cabelos para trás. Já se passavam das três e meia da madrugada e eu ainda me encontrava sentada sobre a capota dianteira do Buggati branco, esperando por Ryan e pela sua boa vontade de me levar de volta para casa. Alguns rachas ainda estavam sendo disputados em Prado de Las Fresas e eu conseguia assisti-los de onde estava, ainda que fosse bem mais afastado da pista e da multidão que ovacionava sempre que alguém alcançava a linha de chegada.

Corri meus olhos pelo local e os mesmos focaram na imagem de Ryan aos beijos com Morgan em uma área mais isolada, o que me fez bufar com tamanha irritação ao pensar em quanto tempo mais levaria até que Butler parasse de pensar com a cabeça de baixo e resolvesse ir embora. Foi quando uma buzina quase que ensurdecedora explodiu pelo lugar e me fez dar um pulo por conta do susto que aquele barulho repentino me causou, algumas pessoas que por ali passavam também se assustaram, mas seguiram o curso sem nem resmungar. Logo, o ambiente fora preenchido por uma gargalhada maldosa e inconfundível, que rapidamente me levou a revirar os olhos e respirar fundo para reter a raiva. Redirecionei o rosto para o lado e vi aquele ser demoníaco e sem quaisquer qualidades ir cessando a gargalhada aos poucos enquanto o meu intelecto ágil já começava a bolar incontáveis maneiras de tortura para acabar com a raça daquele miserável metido a engraçadinho.

– Oh, me desculpe! Eu te assustei? – O sarcasmo sempre presente.

– Você já parou para se olhar no espelho? Qualquer pessoa em sã consciência se assustaria.

Outch! Essa doeu. – Justin se fingiu de ofendido e deu indícios de que gargalharia a seguir, o que me levou a revirar os olhos mais uma vez antes de voltar a observar a troca mútua de saliva entre Ryan e Morgan. Cheguei considerá-los muito mais interessantes do que Bieber e resolvi torná-los o meu ponto fixo, mas consegui sentir de longe a determinação de Justin em me tirar do sério e logo soube que aquela conversa repleta de motejos ainda não havia chegado ao fim.

– Se depender do Ryan você vai ficar sentada aí pelo resto da madrugada e ainda vai ter que assistir uma boa chupada do banco de trás. – Não respondi, nem sequer virei o rosto para fitá-lo. – O que foi? Resolveu me ignorar agora?

– Você não vale o meu tempo, Bieber. – Respondi rapidamente e de forma ácida, ainda sem encará-lo e tentando permanecer dessa maneira até conseguir chamar a atenção de Butler para então irmos embora.

– Você sabe que não foi nada educado da sua parte jogar a grana na minha cara, não sabe? – Ele levou a conversa para outro rumo, rumo o qual eu não estava nem um pouco disposta a seguir naquele momento. Então simplesmente fechei os olhos lentamente e enchi os pulmões de ar, me esforçando ao máximo para ignorar a sua presença incomodativa ali. – Eu estou falando com você, porra!

– Cada um recebe o que merece, Bieber. – Me limitei a dizer apenas isso enquanto o encarava novamente com a mesma repulsa de antes e, ainda que contra a minha vontade, seu olhar feroz atraía o meu feito um imã e me impedia de desviar.

– Então eu mereço um pedido de desculpas, rainha do baile.

– A última coisa que você está merecendo no momento é um pedido de desculpas, então eu sugiro que você dê o fora daqui ao invés de ficar perdendo o seu tempo tentando arrancar palavras que jamais irá ouvir de mim.

– Dar o fora e deixar você aí sozinha, donzela? – Revirei os olhos, irritada. Será que ele faz alguma ideia de como esses apelidos me deixam extremamente furiosa? Fiquei quieta e evitei manter contato visual com aquele chaveirinho do diabo, mas isso não bastou para que ele encerrasse o falatório. – Eu posso te dar uma carona se você prometer não me morder.

– Eu prefiro tomar soda cáustica a pegar uma carona com você.

– Tudo bem, paciência tem limite e o meu já se excedeu. – Ele abriu a porta do carro e saltou de lá exibindo uma feição zangada e impaciente. Meus olhos seguiram seus passos rápidos em minha direção e logo senti sua mão puxar meu braço com extrema força, me compelindo a descer da capota do carro. – Eu vou te dar só um aviso, Miller. É melhor você pensar muito bem antes de falar comigo desse jeito de novo, porque eu não sou o Ryan, que deve relevar qualquer bobagem que saia da sua boca só pra te levar pra cama.

– E é melhor você tirar as suas mãos de mim ou eu vou...

– Você vai fazer o quê? – Ele me interrompeu. – Me matar?

– Ainda que isso soe de forma tentadora, eu não tenho o menor interesse em sujar as minhas mãos com alguém tão insignificante como você. – Senti seus dedos se apertarem ao redor do meu braço com mais força e meus olhos passaram a encarar aquelas íris cor de mel com seriedade. Após alguns segundos de uma guerra travada por olhares, me soltei com um solavanco e massageei o local avermelhado e dolorido ao mesmo tempo em que mantinha os olhos cravados nos de Bieber.

– Algum problema? – A voz de Ryan tiniu atrás de nós e o meu campo de visão logo o alcançou. Ele já não estava mais na companhia de Morgan, provavelmente haviam se despedido enquanto Justin e eu discutíamos, e agora trazia certa dúvida no olhar.

– O que te faz pensar que há um problema por aqui, Ryan? – Justin o questionou sem ao menos olhá-lo, pois estava mais preocupado em me encarar de maneira intimidadora. Em vão.

– Talvez ele apenas saiba que sempre há problemas onde você está, Bieber.

– Acho que você precisa adestrar a sua nova cadela de estimação, Ryan. Ela não está seguindo as regras e isso não é nada bom, você sabe. – Justin disse ao me encarar com perversão e eu respondi àquela ofensa arqueando uma sobrancelha e o olhando com tédio. – De qualquer forma, nos vemos por aí, Miller. – Após dizer isso do modo mais nefasto possível, Bieber lançou um sorriu maléfico para mim e entrou de volta em seu carro. Logo, um silêncio incômodo se instalou entre mim e Ryan enquanto observávamos o carro de Justin sumir ao dobrar a esquina no fim da rua.

– Me desculpe por isso. Justin não sabe lidar muito bem com as pessoas. – Ryan disse meio sem jeito e eu o olhei de canto de olho.

– Eu só não digo que estou acostumada, porque com grosseria eu não me acostumo. – Respondi um tanto seca e acabei me arrependendo no minuto seguinte, pois Butler não tinha culpa pelo péssimo temperamento do amigo. – Desculpa. Você não tem culpa de ele ser um completo imbecil.

– Tudo bem. – Ele sorriu levemente. – Vem, vou te levar pra casa.

Dei a volta no carro tranquilamente e embarquei no banco do carona, bati a porta com cautela e depois me preocupei apenas em prender o cinto de segurança à trava, pois Ryan corria feito um louco pelas ruas de Calabasas e eu presava muito pela minha sobrevivência. Após se acomodar no banco do motorista e acionar a ignição, Butler ligou o rádio em uma estação de rap e aumentou o volume antes de sair rasgando pneu pelas ruas pouco movimentadas da cidade.

– Então... – Pigarreei – O Bieber sempre foi assim ou é aquela velha história de que alguma mulher quebrou o coração dele e foi embora? – indaguei na esperança de conseguir algumas respostas para as minhas perguntas e olhei para Ryan, que parecia concentrado no percurso de volta ao meu apartamento.

– Mais ou menos isso. – Ele disse depois de pensar um pouco. – É complicado.

– É complicado ou é ele quem complica?

– Um pouco dos dois. – Acompanhei Ryan em uma leve risada. – Mas a vida dele não foi nada fácil, então eu não o culpo por ser assim.

– Você é uma boa pessoa, Ryan. – Disse de forma sincera e, ainda que seus olhos estivessem atentos à estrada, um sorriso se alargou em seus lábios. – O Chaz e o Chris também são, mas ele...

– Ele é cheio de paranoias, eu sei, mas ele é o meu melhor amigo. – Ryan parou no semáforo e virou o rosto para me fitar enquanto o sinal não abria. Um semblante entristecido se apossou de seus traços e, de repente, seus olhos e sua mente perderam-se em alguma lembrança. – Eu praticamente cresci com o cara, entende? Eu vi pelo que ele passou e quantas vezes o apunhalaram pelas costas, acho que é por isso que eu não tiro a razão dele de não confiar nas pessoas.

– Isso não me comoveu nem um pouco, me desculpe. – Dei de ombros e ele soltou uma risada nasalada antes de pisar no acelerador e continuar o caminho.

[...]

– Está entregue, rainha do baile. Sã e salva. – Ryan disse ao se escorar despreocupadamente no batente da minha porta e sorriu.

– Vocês precisam parar com essa coisa de rainha do baile. Eu estou longe de ser da realeza e o colegial não foi a minha melhor época. – Disse de forma divertida e ambos gargalhamos em seguida, controlando o volume para não acordar os vizinhos. Depois, comecei a revirar a minha bolsa em busca do molho de chaves e agradeci mentalmente quando as encontrei, pois aquela havia sido uma noite muito cansativa e eu estava precisando urgente de um banho demorado e relaxante antes de dormir pelo resto da madrugada.

– Então... – Ryan exibiu um sorrisinho malicioso quando eu girei a chave na maçaneta e destranquei a porta, levando-me a entender claramente onde ele estava querendo chegar.

– Eu te convidaria para entrar, mas, você sabe... Não seria muito sensato.

– Claro. – Ele umedeceu os lábios com a língua, um tanto constrangido, e eu contive o riso que estava prestes a escapar pela minha garganta. Eu sabia que Ryan Butler não era um exemplo de cara acostumado a levar foras com frequência, mas eu estava ali a trabalho e o regulamento do FBI era bem claro quanto a esse tipo de envolvimento.

– Mas obrigada pela noite, eu não me divertia assim há muito tempo. – Sorri e ele deu uma risada fraca, quase inaudível.

– Não há de quê. – Ryan depositou um beijo estalado em minha bochecha e eu o segui com os olhos até que as portas do elevador se fechassem diante dele e me deixassem sozinha naquele corredor silencioso.

Empurrei a porta com uma das mãos e a escuridão daquele apartamento me engoliu sorrateiramente, um silêncio assustador e agonizante se estendia igualmente por todos os cômodos e eu senti como se houvesse alguém ali me observando. Tropecei em alguns móveis enquanto tentava alcançar o interruptor responsável pela regulagem de luminosidade e me espantei quando o abajur de cristal se acendeu, revelando a imagem de Khan sentado no sofá.

– Você tem noção da situação comprometedora em que me colocou ao disputar um racha com o nosso alvo, Selena? Eu enfrentei um inquérito para que não confiscassem o seu distintivo e agora o FBI está querendo a minha cabeça em uma bandeja. – O tom de voz irritadiço utilizado por Aldous combinou perfeitamente com o olhar fatal que ele me lançara. Eu sabia que havia ido contra as regras da polícia, mas não abriria mão do meu orgulho para pedir desculpas.

– Eu tive que fazer isso, Aldous. – Larguei o molho de chaves em cima da mesinha central de vidro e me sentei no sofá oposto ao que Khan ocupava com seu traseiro gorducho.

Teve que fazer isso? – Ele tombou a cabeça para trás em uma risada irônica e depois voltou a me encarar com seriedade. – Apenas admita para si mesma que arriscou perder o seu distintivo porque quis, porque sentiu prazer ao testar as suas habilidades com as de um criminoso.

– O que eu posso dizer? Não gosto de ser desafiada.

– E eu não gosto quando você age feito uma adolescente rebelde que quer viver no limite e que está se lixando para as consequências dos seus atos imprudentes. – Khan rebateu nervoso e eu soltei um longo e profundo suspiro, a fim de demonstrar o meu cansaço diante daquela conversa. – Você é uma agente investigativa, Selena. Isso já não é perigoso o suficiente para você?

Sorri sarcástica. – Uma dose de perigo é o que faz a vida valer à pena.

– O problema é que você nunca soube dosar o perigo.

– Essa conversa já acabou? Eu estou cansada. – Levantei do sofá em um pulo e permaneci com a mesma expressão fechada de antes, o que bastou para que Aldous incorporasse o papel de presidente da Agência Federal de Investigação e apontasse novamente para o sofá.

– Ela mal começou, agente Sessenta e Cinco. – Seu sorriso vitorioso me fez suspirar impaciente antes de voltar a me acomodar no sofá, agora com os braços cruzados.

– O que você quer saber, Khan? Vá direto ao ponto.

– Eu enfrentei seis horas de viagem de Nova York até aqui e você não vai me oferecer nem uma xícara de chá com biscoitos? – Brincou.

– Que tal uma xícara de veneno? – Rebati e ele soltou uma risada nasalada.

– Tudo bem, eu me rendo. – Aldous ergueu ambas as mãos e me lançou um sorriso fraco como pedido de desculpas, mas eu apenas me recostei sobre o estofamento do sofá e continuei o encarando. – Olha, eu entendo que tudo o que está prestes a viver aqui é muito novo para você, não com relação ao caso, mas com relação à nova identidade que você assumiu ao vir pra cá. – Ele deu uma breve pausa, caracterizada por um suspiro baixo e curto – O que eu estou querendo dizer é que eu sei que, lá no fundo, você gostaria de ter a vida que America Miller está destinada a ter.

– Eu já tive inúmeras identidades, Aldous. America Miller é só mais uma delas. – Tentei evitar que a minha seriedade e convicção desvanecessem com o meu tom de voz, mas Khan me conhecia o suficiente para saber quando eu estava mentindo.

– Continue fingindo que acredita no que diz, enquanto eu finjo que acredito no que ouço de você.

– Você vai ficar me analisando ou vai me dizer o que veio fazer aqui?

– Estou aqui porque temos que conversar sobre o caso. – A severidade voltou a tomar conta dos traços de Aldous e ele agora tinha as pernas cruzadas da forma mais masculina possível. – Tenho informações de que Dominic Bieber foi sargento militar durante três anos e, por exercer um cargo de extrema importância na base, ele tinha acesso a todos os dados do sistema interno do governo. Dominic foi afastado do cargo por exteriorizar segredos de estado a um de seus cúmplices no mercado de tráfico e por ser pego em flagrante por uma câmera de vigilância enquanto desviava dinheiro do banco central para uma conta bancária falsa.

– Foi depois disso que o sobrenome Bieber ficou tão conhecido.

– O fato mais importante é que Dominic estava presente na reunião de apresentação do projeto Sentinela um dia antes de tudo acontecer, ou seja, ele ficou a par da função do microchip e teve tempo o suficiente para planejar o roubo da peça antes de morrer. – Khan disse.

– E quais foram as providências tomadas pelo governo?

– Com medo de que isso voltasse a acontecer e pusesse a segurança nacional em risco novamente, o governo triplicou a segurança interna e recorreu aos cientistas da Columbia para acelerar a criação do projeto. A peça é responsável pela liberação e bloqueio de todas as contas bancárias governamentais do país e funciona através de impressões digitais. – Khan vasculhou uma pasta preta e me alcançou uma folha de papel onde havia a ilustração ampliada de uma peça quadrangular, com várias flechas indicando os elementos utilizados na confecção do programa Sentinela e com algumas anotações de ajustes a serem feitos. – A ideia é de que seja utilizado um sistema biométrico de alta segurança, isto é, a captação da impressão digital e geometria da mão, scanner de retina e íris, reconhecimento facial e a biometria das veias da mão de cada pessoa adepta a tratar do capital.

– E como vai funcionar?

– Quando o scanner foi acionado, o mesmo captará uma imagem nítida e de alta resolução do objeto de estudo e depois a colocará à disposição do software biométrico, o qual analisa e extrai as características mais relevantes da figura. Uma vez com as características extraídas, a última etapa consiste na comparação entre a imagem obtida e as informações presentes no banco de dados. Essa verificação será feita com o auxílio de diversos algoritmos, cada um trabalhando da sua maneira.

– O microchip já foi concluído? – Indaguei enquanto observava atentamente cada detalhe presente naquela folha.

– Esse é o problema. – Aldous respondeu um tanto preocupado. – O pedido para acelerar a criação da peça foi negado. Os especialistas disseram que seria impossível finalizar um material tão tecnologicamente aprofundado como esse em um mês, pois a possibilidade de não funcionar era grande e o governo cairia matando em cima deles caso isso acontecesse.

– Eles deram alguma previsão?

– Eles estão trabalhando nesse projeto há um ano. A qualquer momento eles terão a aprovação do governo para dar início aos testes e, caso não haja nenhum erro, estará pronto para uso. – Explicou.

– E com erro você quis dizer o Bieber.

– Exatamente. – Khan se desencostou do estofamento do sofá e me olhou. – É por isso que eu preciso saber se você encontrou alguma coisa suspeita quando foi na casa dele.

– Encontrei um mapeamento de várias ruas interligadas aos bancos da cidade e algumas rotas da fronteira do estado, que é onde ele deve conseguir aqueles saquinhos de cocaína que eu encontrei junto com o pacote de maconha, com os aglomerados de notas de cem dólares e com a pistola PT 92. – Disse de maneira simples e Khan me olhou com tamanha surpresa. – Vai ficar me olhando com essa cara de espanto ou vai querer ver as fotos que eu tirei das rotas daquele garoto metido a criminoso?

– Me mostre o que conseguiu, porque assim eu posso reforçar a segurança nas áreas bancárias e na fronteira. – Aldous sentou-se mais na beirada do sofá e eu saquei o celular do bolso e estiquei o braço para alcançá-lo a Khan, que bisbilhotou a galeria de fotos com brilho nos olhos. – Ótimo trabalho, Gomez.

– Obrigada, chefinho. – Sorri brincalhona, mas ele nem me deu atenção.

A campainha estrondosa tocou diante daquele silencio tranquilizador e eu olhei automaticamente para Khan, deixando que a minha expressão duvidosa o questionasse sem que eu precisasse fazer o uso de qualquer palavra. Ele me olhou despreocupado e um sorriso sereno se expandiu por seus lábios, como se essa fosse a sua forma de me acalmar e de dizer que sabia o que estava acontecendo.

– É pra você. – Ele se limitou a dizer apenas isso e depois sorriu.

– Eu sinto que vou me arrepender de abrir essa porta. – Me levantei do sofá com lentidão e dei três ou quatro passos até tocar a maçaneta e ouvir a pessoa insistente apertar a campainha outra vez. – Aperta essa porra de campainha mais uma vez e eu vou ter o prazer de fazer você se engasgar com ela. – Adverti o ser humano incomodativo que estava do outro lado e ouvi o som de uma risada ser abafado pelas paredes do apartamento.

– Abra a porta. Eu sei que não vai se arrepender. – Khan disse risonho.

– Acho que você anda sabendo demais hoje, Khan. – Revirei os olhos para ele e voltei a encarar a minha mão na maçaneta, questionando a mim mesma o porquê de estar vacilando com algo tão simples de se fazer. Respirei fundo e abri a porta com um enérgico e rápido puxão, me espantando ao ver a pessoa sorridente que estava de frente para mim. O casaco de moletom azul com o zíper fechado quase até o pescoço era tão inconfundível quanto aquela calça jeans surrada, os tênis All Star pretos e a mochila em um ombro só.

– Achei que você fosse mais educada com os seus amigos, Lena.

– E eu achei que você já estivesse se vestindo de acordo com o século vinte e um, Johnny. – Ambos sorrimos um para o outro em consequência das piadinhas trocadas e eu me apressei em abraçá-lo com toda a minha força, pois tamanha era a saudade que eu sentia de um dos meus melhores amigos do FBI. 

Johnny Patel é de longe o melhor hacker que o FBI já contratou nas últimas décadas, o garoto tem uma habilidade inigualável de conseguir ver facilmente pistas e ligações no mundo digital que outras pessoas não conseguem. Nós nos tornamos amigos há três anos, quando ele me ajudou a solucionar um caso envolvendo uma mulher de vinte e três anos que estava sendo constantemente ameaçada por mensagens de texto enviadas pelo ex-namorado inconformado com o término. Foi Johnny quem hackeou o sistema telefônico da mulher em dezessete minutos e conseguiu rastrear o local de onde as mensagens estavam sendo enviadas, tornando esse o meu caso mais rápido de ser solucionado.

– O que você veio fazer na Califórnia? – Interpelei de maneira curiosa.

– Khan me ligou hoje cedo e me intimou a vir te ajudar, não tive muita escolha.

– Não seja mentiroso, Johnny. – Khan falou um pouco mais alto da sala para que o garoto conseguisse escutá-lo. – Você praticamente implorou para vir junto quando eu disse que ela estaria aqui.

– Algumas coisas nunca mudam. – Disse convencida e lancei um sorriso a Johnny, que o devolveu junto a uma piscadela. – Entra aí, Johnny, porque o quanto antes terminarmos a possível tarefa em que o Khan nos colocou contra a nossa vontade, mais cedo você poderá me contar as novidades.

 – Tudo bem. – Ele soltou uma risada nasalada e me seguiu tranquilamente para dentro do apartamento, que ainda tinha o abajur como única fonte de iluminação para o cômodo. Afastei-me rapidamente de Johnny e de Khan para tatear a parede em busca do interruptor de luz e o acionei alguns segundos depois.

– Bem melhor. – Khan comentou.

– Melhor mesmo vai ser quando você nos disser qual é o plano. – Meu tom de voz soou um pouco grosseiro, mas Aldous sabia que não havia sido por mal e apontou com o olhar para o sofá à sua frente, indicando que nos sentássemos para que ele então pudesse explicar a tarefa.

– Pode começar. – Johnny o incentivou.

– Como não sabemos qual será o próximo passo do nosso alvo, O FBI concordou que seria uma boa ideia trazer o Johnny até a Califórnia para ajudar a agente encarregada do caso a se infiltrar na casa do Bieber. O objetivo principal dessa tarefa é espalhar escutas por todas as dependências da casa para facilitar na descoberta de pistas e lugares onde acontecerão os roubos e demais crimes a serem cometidos pela gangue. – Aldous explicou calmamente para que entendêssemos até os mínimos detalhes e nós assentimos com um movimentar de cabeça à medida que ele foi finalizando o esclarecimento. – Johnny, você tem tudo o que precisa?

– Eu ainda não tenho um Range Rover Evoque igual ao da Selena, talvez o FBI possa descolar uma pra mim depois desse trabalho. – Johnny disse brincalhão e Khan o encarou com as sobrancelhas unidas, o que fez com que o garoto se sentisse um pouco intimidado. – Brincadeira, eu estou muito feliz com o meu Maverick.

– Tudo bem, vamos logo com isso. – Khan disse e me ajudou a tirar tudo o que havia em cima da mesinha central da sala para que Patel colocasse seus aparelhos altamente tecnológicos ali.

– Acabou a brincadeira, Bieber. – Murmurei para mim mesma e dei um sorriso perverso.


Notas Finais


Hola muchachos! hahaha espero que estejam gostando dos meus rabiscos e muito obrigada pelos comentários lindos!


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