Glenn POV
-Sai do ônibus! – Brenda falou tentando me acertar um tapa
- Calma mulher! Eu to saindo. – me defendo enquanto passo pela louca motorista do ônibus escolar. Isso aqui parece o hospício. – Despois volto ô gostosa.
- Sai viado. – Ela é legal, embora pareça ser grossa. – Vai espalhar essa purpurina por aí. – Gargalhou.
- Pode deixar dona Brenda! - Falei me afastando do ônibus.
Acabo de chegar na escola em plena quinta-feira, aquele dia no fim da semana que parece sexta, mas não é, apenas para dar o ar da graça. O que quer dizer: eu vim porque mamis me mataria se eu faltasse. Ando lentamente pela entrada, afinal, quem está com pressa?
No entanto a calma vai por água a baixo assim que vejo minha bff, desato a correr em sua direção. Ela chegou cedo na escola, que milagre!
- Espera ae laur! – Grito e ela faz aquela virada quase dramática de filme, ui que close certo. – Aprendiz de sapata, nem te conto o que aconteceu na minha série. – ela me olhou com cara de bunda, acho que foi o apelido carinhoso que acabei de inventar, ops! – Ops, i did it again.
- O bullying já tá começando cedo hoje. – Rebateu bem humorada, hm... Como diria tia Cláudia, tem caroço nesse angu.
- Pois é, a Brenda já me deixou no ritmo. – falei, olhando disfarçadamente para Lauren. – E que bom humor é esse? Parece até a Clarke quando deu pra mulher do mercadinho. Lauren Lins, não vai me dizer que...
- Cala a boca bicha assanhada. – me corta antes que eu possa dizer que ela deu. Lauren ri um pouco e eu faço cara de ofendido.
- Assanhada não! – empaco no lugar, fecho os olhos e com o dedo indicador levantado me defendo. – De bem com a vida amore, meu homem da conta do recado. Bom... Isso quando ele não ta gemendo meu nome. – Um sorriso safado risca minha face, só de lembrar aquela bunda....
Sinto a mão de Lauren estalar em meu braço
– Ai! Sua bruta! Mal começou a quinta e você já está abusando do meu corpicho. Vou te falar mais uma vez querida, eu não sou H.É.T.E.R.O. Apenas aceita que dói menos.
Terminei de falar, e só faltava a menina morrer de tanto rir. – levou uma mão a boca e outra a barriga. – Também né? Ela está comigo, seu melhor amigo no mundo inteiro, lindo, maravilhoso e gostoso convenhamos. Ela está muito feliz pra uma quinta de manhã, e eu acho que já sei com quem isso tem a ver, que piranha.
- Então, quando você pretende parar de rir e me contar sobre quem te deixou animada pra uma quinta de manhã? – Perguntei e ela deu uma pequena travada, que logo tratou de disfarçar. Porém não rápido suficiente para me enganar, sei exatamente sobre quem estamos falando, a garota que está levando meu bebê pro lado colorido da força: a sapatona mestre.
- Não posso estar feliz por te ver? – Indagou-me. Ata que alguém fica de bom humor ao ver um amigo uma quinta de manhã.
- Até parece! Sei que sou lindo e que você tem um crush platônico em mim, mas você não me engana. Eu sei o nome e o sobrenome do que tem estado na sua cabeça nesses últimos dias. – Falei olhando em seus olhos, que ela desviou para depois encarar-me.
- E você ? O que estava fazendo ontem que você sumiu depois do primeiro tempo?? - e essa foi a minha deixa de ficar travado. É parece que fui pego, essa piranha me conhece e ela sabe quando eu estou mentindo. Maldita intimidade!
- Aiiii, você sabe aonde eu estava! Então porque fica perguntando??
-Por que é divertido?? – arqueou as sobrancelhas. Que cínica! E eu ajudei a criar esse monstro. Eu deveria ter pensado melhor nas consequências dos meus atos.
- Querida, você sabe onde eu estava. – sorri, recordando a manhã e tarde maravilhosas que eu tive.
- Sim, e pela sua cara foi muito bom. – Respondeu também sorrindo.
- Foi. – Respondi corando, a filha da puta me pegou no único assunto que eu fico sem graça. Desviei o olhar, e meus olhos vagaram por tudo e todos presentes no corredor, sem rumo.
- É muito fofo ver você corando sabia?? – Ri, mas aquela risada verdadeira sabe? Seu braço se entrelaça ao meu, formando uma corrente, tão resistente quanto uma de metal, porém inquebrável. – É muito raro isso acontecer! Ah, hoje vai chover. – Um sorriso de canto estampava sua face. Adoro quando ela sorri, parece que o mundo absorve a sua energia positiva.
- Realmente... o bullying começou cedo hoje. Mas me conte sobre o que aconteceu ontem depois que eu fui embora. – foquei em seu rosto na tentativa de interpretar qualquer sinal que ela der. Percebo que minha amiga exala confusão por todos os seus poros, vejo que está relutante, decidindo se me conta ou desconversa.
- Bom... – a expectativa é quase esmagadora, porque essa rapariga não conta logo?? – Você sabe quem é a minha dupla no trabalho de história né? – o cenário parou de passar. Com isso quero dizer que eu, a estrela do show, parei de andar. Laur notou que eu havia parado e logo se virou.
- COMO EU PODERIA ESQUECER!? É a MULHER em pessoa que vai fazer o trabalho contigo! – a animação fluía pelas minhas veias, to sentindo que esse trabalho vai render um novo casal.
- Ent... – as palavras dão lugar a seus tiques nervosos.
- Para de enrolar e me diz! Eu estou curioso! – digo ansioso. Seus dentes passam a morder o lábio inferior, ainda em dúvida se deve falar.
- Olha... Tenta não pirar. – pausa. Aff. – Eu fui fazer trabalho na casa dela ontem. – Não sei como não entrou uma mosca na minha boca , meu queixo tá no chão, minha sobrancelhas começam a se erguer e MEU DEUS. E sua expressão indica que ela está falando sério. Não é brincadeira! Quando estou pronto pra falar algo lacrante, Laur me acerta um tapa braço. – Deixa eu terminar de falar! – Assinto. – Retomando: eu fui na casa dela. A gente não chegou a uma conclusão sobre o trabalho, – Querida, vamos pra parte que interessa! Pensei. – Mas enfim, isso não é o importante. – Que bom que percebeu. Retruquei mentalmente. – Quando eu estava indo embora ela se ofereceu para me levar. Ae chegando no meu prédio, eu fui sair do carro e ela segurou meu pulso, me impedindo de abrir a porta. – PARA TUDO! Elas se beijaram!? – E... – essa pausa, hmmm ELAS SE BEIJARAM SIM. – E ela pediu por uma trégua nesse trabalho, – O que... – e disse que ela iria responder qualquer coisa que eu perguntasse, sem me esconder nada e disse que nunca mentiu pra mim. – pqp. Calma, calma calma pqp cara*** eu achei que elas tinha se beijado, POR**! Aaaaaaaaaaaaaaa.
- E o que você respondeu? – Perguntei tentando não parecer decepcionado.
- Eu respondi que daria. – Falou, ahhh eu vou maliciar.
- Dar o que querida? – com um ar inocente eu perguntei. Ela ficou toda confusa com o que eu disse, mas corou quando notou aonde eu queria chegar.
- Me respeita. – Diz enquanto meu braço arde devido ao seu tapa.
- Tá tá , só bora pra aula.
Continuamos andando em silêncio até a sala de geografia. Aquela professora é um porre, a voz dela dá um sono! E ainda tem aqueles garotos iludidos que dão em cima dela. Eles tem que acordar e ver que uma mulher de 26 anos não vai querer um cara de 16/17 anos, sem falar que ela curte outras coisas também. – Rio. – Iludidos.
Passo pela porta e tenho uma visão que toda shiper gostaria de ter. Pamela olhava para a porta, com uma expressão indecifrável até Lauren aparecer logo atrás de mim, e então ela abre um sorriso! Um sorriso verdadeiro e de orelha a orelha. Seus olhos brilhavam enquanto ela olhava minha melhor amiga. Nossa ela está tão trouxa pela Lauren.
Vejo Laur ir até nossos lugares de costume e se sentar, e não pude deixar de perceber os olhos de Pamela perderem parte do seu brilho. Ela havia sido ignorada pela sua crush. Então já que a minha amiga não quer se ajudar, eu não irei deixar meu ship ficar assim ao relento.
Ando até a mesa da sapatona mestre, e ela percebe minha presença enquanto me aproximo. Ela me olha nos olhos e abre um sorriso fraco.
- Oi Glenn. – Cumprimentou.
- Bom dia. – desejei. – Então, eu soube que você está tentando consertar as coisas com a minha amiga. – Sentei na cadeira a sua frente.
- é... – Falou corando quase imperceptivelmente e abaixou a cabeça . – Estou tentando sim.
- Você pode contar comigo, ela é muito cabeça dura quando quer. – passo minha mão na nuca. Ela levantou o olhar sorriu verdadeiramente. Minha amiga tem muito sorte e nem enxerga isso! Ainda, eu vou colocar esse ship nos trilhos. – Olha eu vou chamar ela pra vir até aqui, ok?
- Ok! – responde afobada, como se ela demorasse mais um segundo para falar eu deixaria de chamar Lauren. Rio, e ela fica envergonhada.
- Não precisa sentir vergonha. – Falei, e Pamela abaixou a cabeça novamente. EU VOU MORRER COM ESSA FOFURA! Se a Lauren não quiser eu viro hetero e fico com a Pamela pra mim. Mentira, ser hétero é contra minha religião.
Fitei o lugar onde geralmente sento com a Lauren e noto que ela está olhando para mim e para Pamela, e a mesma segue meu olhar, vendo sua amada prestar atenção em nós dois. Faço um gesto com a mão para que Laur venha até aqui. Ela fica receosa, mas por fim levanta e vem até nós. Os cantos de sua boca levantam de forma imperceptível, ela realmente não quer dar o braço a torcer.
- Oi. – cumprimenta fitando a sapata mestre.
- Oi. – uma voz suave e aveludada atinge meus tímpanos, e nesse exato momento percebo que esse casal vai ser um dos melhores que irei ter o prazer de ajudar.
P.o.v. Pamela
Hmmmm. Encaro a parede branca a minha frente, perdida em pensamentos enquanto ainda tento esquecer um em especial: o fatídico momento em que tudo mudou. O momento que para sempre ficaria gravado em minha memória. O momento em que vi minha mãe morrer. Desde então as coisas não foram as mesmas, não bastava eu não ter mãe, meu pai também se foi. Acho que o mais desolador disso tudo foi que ele não morreu, e sim me abandonou em vida. Uma criança de sete anos destroçada, sem mãe e tentando ter a atenção de seu pai. Trágico para não dizer o contrário. Sempre tentei de tudo pra chamar sua atenção, eu sempre implicava com os psicólogos em que ele me botava, e também tentava mostrar meu talento para artes e músicas. Chegou um momento que ele decidiu simplesmente sair de casa, eu já não ia mais a psicólogos, ele desistiu. Mesmo estando em casa ele nunca me deu atenção, estava sempre ocupado em seu escritório nunca tendo tempo para mim, o estorvo de sua vida. Ele nunca me falou, mas sei que em seus olhos ele sempre me culpou. Porém não é só ele que me culpa. O pensamento de “ se eu não tivesse insistido em sair, tudo seria diferente” vinha todo dia sem falta. Agora vem menos, mas ainda está aqui. As vezes na calada da noite, quando meu coração se aperta, esse pensamento me ocorre. Eu choro a noite toda, até o momento em que o despertador toca mostrando que tenho mais um dia de escola pela frente. Ah escola... Lá é a minha casa, pode parecer estranho, mas eu gosto de lá. Lá eu não fico sozinha, tenho atenção. Eu sei que nenhum deles além de Justine e kendra realmente ligam pra mim, pra eles se eu morresse aqui e agora tanto faz, tanto fez. Agora meu pai, acho que ele finalmente se livraria do estorvo que lembra a morte de sua querida e amada esposa. Ele as vezes aparece com uma piranha por aqui, e me apresenta, mas isso é só pelas aparências. Afinal um grande empresário não pode ser um pai relapso.
Não sei como ainda pego num volante, pelos menos isso os psicólogos ajudaram um pouco. Durante as sessões vários falavam que a culpa não era minha, e sim do cara que dirigia bêbado, e que um dia eu teria que dirigir também e não poderia ter medo disso acontecer comigo, que o que aconteceu com minha mãe foi uma triste eventualidade. Era bom ter alguém dizendo que eu não tinha culpa, quando eu e o meu pai achávamos exatamente o contrário. Nem olhar pra mim ele queria, só olhava quando vinha com as “namoradas” dele. Elas sempre me bajulavam, mas nunca dei bola pra elas. Eu só queria que ele olhasse pra mim, como ele olhava antes daquele dia: com carinho. Eu não vejo ele há um 1 ano já. Me acostumei com sua ausência à muito tempo, afinal sempre tive Glorinha para me apoiar, ela era amiga da minha mãe e veio para trabalhar aqui em casa quando perdeu sua empresa. Ela era a governanta e por isso ganhava bem mais que os outros. Ela até teve oportunidade pra um emprego melhor quando minha mãe morreu, mas ela não quis me deixar, ela sabia o que eu passava e era como uma segunda mãe para mim, e agora é meu pai também. As vezes vou na casa dela e falo com seu filho Joseph, ele é como um irmão pra mim.
- A Glorinha vem amanhã.... Será que ela está bem? – penso alto.
Hmmm mais um 8 de outubro chegou. Bem que alguém poderia me acordar quando esse mês acabasse. Melhor me levantar, hoje é o dia dela.
Me levanto, tomo banho e me visto. Tudo está tão no automático que nem me dá espaço para pensar ou sentir. Só quero chegar lá logo. Passo pela cozinha e engulo a primeira comida. Ainda preciso comprar as flores, suas favoritas. Isso eu também não esqueço, lembro de como antes de todo aniversário e dia das mães eu e meu pai comprávamos essas flores pra ela. Ela dizia que eu era a sua flor, e que sempre que ela via uma hortênsia ela lembrava que tinha uma filha ainda mais bonita em casa. Já eu, quando vejo uma hortênsia me lembro dela, me lembro de como éramos felizes, e de como a saudade dela bate todo dia em meu peito. Quando eu chego em casa e está tudo vazio, quando eu vejo um filme sobre mães e filhas, quando eu vejo uma mulher grávida ou simplesmente passeando com os filhos. Eu quero que ela esteja aqui comigo, nem que fosse só pra brigar comigo. Eu queria que ela estivesse aqui. – Uma lágrima escorre pela minha bochecha, e sinto o nó na garganta latejando.
Entro no carro e saio de casa indo para floricultura mais próxima do cemitério. Lívia, a dona da floricultura sempre deixava a hortênsia mais bonita separada para mim, pois tão certo quanto o sol vai aparecer amanhã, eu sempre voltarei aqui todo 8 de outubro. Paro o carro em frente a floricultura e adentro a mesma, dona Lívia me cumprimenta e dá seus pêsames. Todo ano é a mesma coisa, ela sempre olha pra mim dessa forma: com empatia. Ela sabe o que é perder uma mãe. Eu tento retribuir seus gestos e palavras de carinho, mas ela entende que estou no automático hoje e me libera. Volto para o carro e coloco a flor no banco do carona e parto em direção ao cemitério Santa Marta, onde mamãe há de descansar pela eternidade.
Paro o carro no estacionamento perto da entrada do cemitério e pego a flor do banco do carona. De casa até aqui passaram-se 30 minutos, que na minha cabeça não foram nem cinco. Sinto-me tão vazia, é um vazio anestesiado , não sinto dor, na verdade não sinto nada. É como se eu estivesse alheia as coisas a minha volta. Eu tenho que ir até ela, para assim ter um pouco de alguma coisa. Passo pelo portão e me dirijo a ala oeste. Aproximo- me lentamente de sua lápide, andando pelo extenso gramado verde em um campo arborizado. Aqui é muito lindo, embora preferisse nunca botar os pés aqui, é inevitável: todos morreremos em algum momento. Uns mais cedo do que outros, e alguns de forma mais trágica. Toda morte é a perda de um mundo, pois todos enxergamos as coisas de formas diferentes.
Paro de frente para sua lápide e seu nome me chama atenção: Clara M. Anderson
* 11/11/1973 08/10/2007
“ Para falar a verdade, não ligo de errar várias vezes, desde que um dia eu chegue lá.” – Clara
- Mãe... – sento no chão com as pernas cruzadas, de frente para sua lápide. – sinto tanto a sua falta. Sinto falta de poder contar com você, da segurança que você passava para mim. Sinto falta também do que a gente não pode viver juntas, embora isso pareça estranho. Vim aqui hoje te dar a sua flor favorita e contar como estão as coisas. – Estendo a hortênsia e coloco no espaço entre eu e a lápide. Uma lágrima insistente escapa. – Eu não sei se estou sendo ridícula, ou se você realmente está me ouvindo de algum lugar, mas irei reportar o que aconteceu nesse último ano. Mãe, estou tentando conquistar uma garota bem difícil. Ela acha que eu menti pra ela, mas vou dar um jeito de convencê-la de que não estou mentindo. Você iria gostar dela. – Esboço um sorriso fraco, enquanto outra lágrima escapa. O sorriso logo some ao me lembrar daquilo. – E seu esposo... Se me lembro bem, está com uma namorada que não sei o nome. Ele ainda não quer me ver, e acho que ele nunca irá querer. – minha voz sai entrecortada, pois as lágrimas já desciam pelas minhas bochechas e a garganta estava tão apertada que mal conseguia respirar. Começo a soluçar e lembrar de todas as coisas boas que passei com minha mãe. Olho para o céu e pergunto:
- Por que você me deixou, mamãe?
P.O.V Lauren
Tem dias que simplesmente não te trazem boas lembranças. Há coisas que marcam nossa vida positivamente e coisas que a marcam negativamente. Hoje é um daqueles dias que queríamos esquecer ou voltar no tempo para desfazer o que aconteceu, porém não há nada que se possa fazer. Hoje, 8 de outubro de 2017 , completam-se 2 anos da morte da minha avó. Dona Grace faz falta. A sua ausência deixa o ambiente mais triste, é como se faltasse algo essencial. Ahh, sempre fui tão próxima da vovó Grace, ela praticamente morava aqui comigo no apartamento do meu pai. Ela sempre dizia que uma aborrecente não pode ficar sozinha, precisa de suporte emocional. O que é verdade, sinto falta de ficar no sofá com ela e assistir um filme, de conversar com ela até a hora de dormir. Esses dois anos sem ela foram chatos, um pouco vazios diria. Mesmo tendo muito apoio do Glenn e da minha mãe, não é a mesma coisa. Mas eu tenho um objetivo e por isso estou aqui, quero passar pra uma das melhores faculdades de medicina. E pra passar para as melhores você tem que estar na melhor escola, então não voltei para casa.
Estou a caminho do cemitério, para deixar flores em seu túmulo. A mulher que sempre me deu amor e carinho de uma mãe merece que eu faça isso, ela merece ser lembrada. Vó Grace no seu último ano em vida descobriu um câncer de intestino terminal, não havia tratamento para salvá-la. Toda a família sofreu, e eu fiquei arrasada. Vovó decidiu não fazer o tratamento, dizendo que não queria prolongar esse estágio, que ela já havia vivido bastante e que ficava triste por não poder nos ver crescendo, namorando, casando e tendo seus bisnetos. Minha avó era meu exemplo, minha ídola, a pessoa que eu mais admirava por sua sabedoria e simplicidade. Sempre tinha um sorriso no rosto, não importava a situação ela sempre tentava conciliar.
O ônibus para no ponto e finalmente chego em meu destino. Ando até a entrada do cemitério segurando o buquê de margaridas, e paro na soleira do portão, inspiro criando coragem para entrar em um ambiente tão triste. Me dirijo a ala oeste, vejo uma garota ao longe sentada perto de uma lápide. Parece que outra pessoa também perdeu alguém importante hoje. Esse dia realmente podia ser apagado da história. Aproximo-me da lápide de minha avó, – me ajoelho. – deposito suas tão amadas flores e penso nela. Queria tê-la aqui para me aconselhar, me abraçar, dizer que vai ficar tudo bem, me falar seus ditados e me falar sobre as histórias de sua época. Por que a vida tinha que tirar ela de mim?
- Vó, vim aqui te deixar essas flores. – Uma lágrima cai. – E também para dizer que te amo. Sinto sua falta, eu queria que você estivesse aqui para me aconselhar. – Pamela é a primeira coisa que vem a minha cabeça, queria que minha avó estivesse aqui para me escutar. Estou tão confusa sobre o que vem acontecendo com meus sentimentos. Acho que não tem mal confessar isso aqui né? – Tem uma garota vó, e bem. .. Ela está confundindo minha cabeça. Uma hora parece que ela está mentindo, outra hora parece a pessoa mais gentil do mundo e incapaz de mentir. Hmpf – suspiro. – Espero que onde quer que você esteja, você esteja bem. – decido ficar quieta apenas sentindo esse silêncio, me deixando sentir a dor e saudade. Vovó não gostaria de saber que estou triste por ela, mas ela sempre disse que temos que nos permitir sentir. Então também permito-me admirar a linda paisagem fúnebre desse gramado cheio de pedras retangulares, e meus olhos grudam na garota. Agora que estou mais perto, vejo que ela me parece familiar. Espera... Não pode ser ela... É a Pamela!
Nesse momento me levanto, começo a andar em sua direção e quando vou levantar o braço para chamá-la e acenar, paro. Meu braço para pelo meio do caminho e minhas pernas congelam no lugar. Ela está chorando, e muito. Ela passa suas mãos pela lápide soluçando ainda mais. – vendo tudo isso decido ficar aqui observando, e dar seu espaço. – Pamela abraça a lápide e treme mais ainda. – Não sei porque mais meu coração se aperta ao ver ela sofrendo tanto, eu queria ir lá abraçá-la, mas este é um momento só dela. – Ela começa a soluçar menos, mas ainda está agarrada a lápide, e assim continua durante um tempo. De repente ela tira os braços da lápide e se levanta, vira e começa a andar em direção a saída sem me notar. Passando perto de uns arbustos algo parece chamar sua atenção, então ela vira a cabeça de um lado para o outro procurando. Logo ela para e se agacha pegando... Um gato?? E continua o resto do caminho até o portão levando o bichinho. Enquanto isso estou parada, observando tudo ao longe, vendo a verdadeira Pamela Anderson interagir com o mundo exterior. Uma das maiores verdades já dita pela minha avó foi: as pessoas agem como elas mesmas quando pensam estar sozinhas. Hoje, dia 8 de outubro, algo o mudou de totalmente péssimo para algo positivo. Pamela Anderson é humana.
- Quem ela perdeu?? – Pensei alto. Comecei a andar em direção ao túmulo, e tentava descobrir quem Pamela perdeu.
Parei de frente para a lápide e o nome me saltou aos olhos: Clara M. Anderson
* 11/11/1973 08/10/2007
Quem é essa mulher? O que ela foi para Pamela? Eu não sei quase nada se tratando de Pamela Anderson, mas uma coisa eu definitivamente sei: eu quero descobrir mais.
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