História Uma nova chance - Martírio na biblioteca

Quando Jared chegou à biblioteca, Jensen já estava lá.

- Bom dia, Jensen. – disse o moreno com a voz mais simpática que pôde fazer. Já que precisariam passar um tempo trabalhando juntos, Jared faria um esforço para tratar o colega da melhor maneira possível.

- Bom dia... – respondeu Jensen. Jared notou como ele parecia pouco a vontade. Talvez devesse se desculpar com ele, afinal agira como um louco. O louro não tinha culpa...

- Jensen, desculpa todas aquelas perguntas sem sentido, e o jeito como eu te tratei... Eu estava passando por um problema. Juro que não vai mais acontecer...

Jensen escutou com atenção e assentiu.

- Você está bem agora? – perguntou.

- Estou ótimo, não se preocupe – respondeu o moreno.

Jensen sentiu-se um pouco mais aliviado. Não tinha mais motivo para preocupações, Jared realmente parecia outra pessoa. Poderiam fazer o trabalho juntos sem nenhum problema. Jensen então falou, mostrando alguns livros que havia pego:

- Olha, eu já achei vários livros... Eles contam a história da escola desde a sua criação. - Eu estou começando por esse daqui, que fala do projeto arquitetônico do prédio. Estou fazendo um resumo...

- Ótimo – disse Jared – Eu vou então resumir esse aqui. – Ele disse apanhando um dos livros da pilha. O livro contava sobre a inauguração e a história dos primeiros anos da escola. Começou a ler sem muito entusiasmo.

"O Colégio Saint Peter foi criado por padres protestantes no ano de 1856, utilizando-se como espaço físico o Castelo do Duque de Winshire, construído em meados do século VXIII. Com um ensino tradicional e rigoroso, logo tornou-se referência em educação para os rapazes da alta sociedade..."

Jared começou a anotar as informações que julgava importantes. Foi difícil para ele, entretanto, avançar em sua leitura. Estava com dificuldade em se concentrar com Jensen ali tão perto dele... Sentia-se constantemente atraído a olhar para aquele rostinho de anjo. O mesmo rosto do menino que tanto amara...

Jared tentou se acalmar e refletir no que estava acontecendo. Não podia se deixar levar pelas aparências. Tudo o que o seu amor e o novo Jensen tinham em comum era o corpo, nada mais. O antigo Jensen era uma pessoa fechada. Por fora era durão, não deixava que nada ou ninguém o atingisse. No intimo, entretanto, era um menino doce e apaixonante, sensível e artístico. E o novo Jensen? Esse parecia ser completamente diferente. Era tímido demais, revelando o quanto se importava com a opinião dos outros. O que tinha seu amado de corajoso, tinha ele de medroso, parecia evidente. Jared não o conhecia na intimidade, mas com certeza não haveria de ser tão interessante quanto o outro. Não tocava piano, não sabia pintar quadros... Não havia dúvidas: as semelhanças eram apenas na aparência.

A biblioteca estava muito quieta. Além deles dois, apenas mais dois ou três meninos circulavam por ali. Pelo jeito sábados não eram dias muito populares para o estudo. Assim como Jared, Jensen também não conseguia se concentrar. Jensen se deu conta de que a pelo menos um minuto prestava atenção no som da respiração de Jared. Suspirou e olhou para o colega. O moreno não era louco, então porque Jensen não conseguia se acalmar? Talvez Jared fosse bonito demais...

Jared desviou os olhos do livro, e seu olhar encontrou-se com o de Jensen, para desespero do mesmo. O louro desviou os olhos de forma tão brusca e assustada que arrependeu-se depois. Com certeza estava deixando transparecer que Jared mexia com ele... A verdade é que ele mexia com todos os seus sentidos. A respiração de Jared pareceu tornar-se mais audível, e, embalado por esse som, o perfume que o moreno exalava era quase enebriante. Jensen deixou de prestar atenção na leitura por completo.

- Jensen... – o louro estremeceu à menção de seu nome, e principalmente ao sentir o toque de Jared em seu braço. Um arrepio percorreu seu corpo todo.

- Está no mundo da lua? – perguntou o moreno sorrindo, formando covinhas. Jensen forçou um sorriso, ele estava mesmo era desesperado. Já havia se sentido atraído por garotos antes, mas nunca de forma tão intensa. O que estava sentindo era um tanto assustador.

Jared gostava de ver Jensen corado. Ele ficava ainda mais bonito... Tudo estava ficando complicado demais... Por mais que não quisesse, sentiu vontade de arrastar Jensen para um canto escuro e beijá-lo da cabeça aos pés. Esse pensamento era torturante para ele. Gostar do novo Jensen significava que ele poderia gostar de qualquer criatura que habitasse aquele corpinho perfeito do louro. Será que nada mais importava para ele? Não importava se Jensen era tímido ou atirado? Inteligente ou burro? Criativo, artístico e engraçado, ou simplesmente um sem gracinha qualquer? Nada importava contanto que tivesse aqueles lábios, aqueles olhos, aqueles cabelos e aquelas pernas arqueadas? Isso fazia de Jared um cara superficial... Sentindo seu membro endurecer por dentro das calças, imaginou ser o taradão mais fútil do mundo inteiro, e se odiou por isso.

Voltou a olhar para Jensen, que claramente também não estava conseguindo se concentrar no trabalho. Com o rosto enfiado nos livros, o louro respirava rápido demais e balançava as pernas nervosamente.

- Vamos dar uma pausa para o almoço. – anunciou Jared. Precisava de um tempo para se recompor.

Jensen adorou a ideia, e nem comentou o fato de ainda ser 11h da manhã. Combinaram de se encontrar novamente por volta das 14h.

Jared saiu dali direto para seu quarto. A vontade que teve de agarrar o novo Jensen era uma traição à memória do antigo. Quando encontrou com Tom mais tarde para almoçar, sentia-se péssimo. Notou que o amigo, entretanto, estava mais sorridente que o usual.

- Que cara de felicidade... – Jared comentou.

Tom soltou uma risadinha safada. Estava doido para contar a Jared tudo o que fizera pela manhã.

- Beijei o Carl no banheiro – disse ele, sem maiores explicações. Jared ficou surpreso. Tom nunca mencionara Carl. Jared nem tinha certeza de quem ele era...

- Quem é esse garoto? Eu nem conheço... – disse Padalecki. A verdade é que Jared estava tendo dificuldade em guardar os nomes dos colegas e saber quem era quem. Os únicos meninos que estavam tanto em seu sonho como na nova realidade eram Tom e Jensen.

Tom mostrou o garoto com um gesto de cabeça. Era magro, com cabelos cor de areia e olhinhos miúdos. Podia-se dizer que era bonitinho, no máximo... Mas Tom parecia ter tirado a sorte grande.

- Você está apaixonado? Estão namorando? – perguntou o menino.

Dessa vez foi Tom quem se espantou.

- Jared, foi apenas um beijo... Foi bom... Só isso...

Sim, tinha sido apenas um beijo... Qual era o problema de trocar uns beijinhos para se divertir? Eles tinham 16 anos... Talvez Jared levasse tudo a sério demais...

Jared chegou primeiro que Jensen à biblioteca. Dessa vez foi ele quem separou todos os livros e colocou-os sobre a mesa. Tinham que conseguir trabalhar um pouco, por bem de sua nota em história. O moreno se concentrou, respirando fundo. Não gostava da nova versão de Jensen, e não sentiria nada quando o visse chegar...

"Merda" – pensou ele ao escutar seu coração batendo mais forte assim que avistou o louro. Por mais que ele tentasse, seu corpo parecia querer aquele garoto... Sentiu-se trêmulo. Quando o garoto deu "boa tarde" e sentou-se a seu lado, o desespero pareceu aumentar ainda mais.

Jensen também tentava manter-se calmo, mas era em vão. Pegou um dos livros e enfiou no rosto, tendo a certeza de que novamente não iria conseguir digerir uma única palavra. Não com Jared respirando ao seu lado...

Trocaram algumas palavras gaguejadas e momentos de nervosismo e embaraço. Depois de umas três horas ali, Jensen conseguiu de alguma forma terminar uma leitura dinâmica do livro que estava com ele.

- Terminei esse – ele anunciou. – Mas parece que tem uma continuação... Vou pegar na estante. – Dizendo isso o louro se levantou.

Jared o acompanhou com o olhar. Viu quando Jensen se esticou todo para tentar alcançar o livro, mas estava alto demais. Jared levantou-se e foi ao encontro do colega. Talvez pudesse ajuda-lo.

Jensen estremeceu ao perceber Jared chegando por trás.

- Deixa que eu pego para você... – ele disse.

Jared era tão alto... Jensen suspirou. Ele também era gentil...

O moreno se esticou todo, mas também não conseguiu alcançar. Sentiu-se um idiota.

- Não tem problema – disse Jensen – eu vou pedir para a bibliotecária pegar. Ela tem uma escadinha.

- Ou eu posso te levantar... – sugeriu Jared. Nem ele mesmo entendeu porque dissera aquilo. Falara sem pensar... Talvez só estivesse mesmo querendo poupar o colega do trabalho de ir até a bibliotecária. Não custava nada levantar Jensen por dois segundos para que ele alcançasse o livro.

O coração de Jensen bateu forte, ele não tinha nenhuma desculpa para negar a ajuda do colega.

Jared segurou Jensen por trás e ergueu-o alguns centímetros do chão. Sentiu seu corpo quente e macio. Teve vontade de apertar.

Jensen sentiu sua cabeça girar e suas mãos amolecerem. Foi uma sorte ter conseguido segurar o livro. Quando Jared colocou-o de volta ao chão, sentiu seu coração disparar desordenadamente. Só então percebeu que Jared ainda o abraçava. Ele ainda o segurou por mais um ou dois segundos... Jensen virou-se, sentindo-se trêmulo dos pés a cabeça.

Jared não conseguiu se mover. Não queria sair de perto do louro. O que sentia era forte demais... Que se dane se era um vadio! Se Tom podia beijar Carl, ele também podia beijar Jensen, sem compromisso. O corredor estava vazio, não tinha ninguém por perto. Jared aproximou-se mais de Jensen, e segurou seu rosto com as mãos. Tocou os lábios do colega de leve com os seus, lentamente. Jensen fechou os olhos, estava totalmente entregue. E então beijaram-se de forma intensa e cheia de emoção ao som da batida frenética dos dois corações.