História Uma Nova Chance - Cap.104

                    Paolla: 

Eu já estava ficando entediada de tanto esperar por Marco, sei que não faz tanto tempo assim, mas a fome fazia os minutos dobrar e mais parecer uma eternidade. 

— É, Julinha... Seu papai parece que tá fazendo plantão lá na lanchonete, isso sim. Vai fazendo reserva aí que nossa comida vai demorar...— Digo quase sussurrando enquanto acariciava meu ventre. 

Sorrio sozinha enquanto observava minha barriga que já estava enorme, aos sete meses de gestação, já era praticamente a reta final e eu não via a hora de conhecer a minha Júlia, de ver seu rostinho delicado e segurar aquele bebê frágil e totalmente indefeso nos braços, de amar, cuidar e ve-la crescer linda e saudável. Pensava também nas noites sem dormir e mdrugadas em claro nos primeiros meses de vida, mas isso parecia tão insignificante diante de tudo de bom que sua chegada iria me proporcionar. E eu só espero que na prática seja tão insignificante mesmo quanto parece. 

Algo caindo sob meu pé me chama de volta à realidade, olho em direção ao chão e vejo uma carteira e não muito longe, um homem que caminhava totalmente distraído. Sem pensar duas vezes, ando depressa atrás dele e por pouco não o alcanço, mas praticamente me joguei na frente dele para que me percebesse aí, visto que estava com fones de ouvido.

- Sua carteira!- Digo entregando o objeto pra ele. O rapaz me encara surpreso e em seguida sorri, dizendo um milhão de coisas ao mesmo tempo e eu o encarando com um ponto de interrogação enorme estampado na cara, ele falava rápido demais e eu não consigo acompanhar. 

Ele percebe e para de falar por um tempo, procurando algo mais pra dizer.

— É de onde?

— Brasil.— Respondo e ele sorri. 

— Jura? Eu também!.— Ele me diz agora em português, me fazendo sentir-me mais a vontade. — É de que Estado?

— Moro em São Paulo. 

— Meus pais são do Rio Grande do Sul... — Ele diz e pelo tom, não pretendia parar a conversa tão cedo. Bom, Marco não voltaria tão cedo e ele parece ser um raro cara legal que quer apenas conversar é agradecer por eu ter salvo o salário que ele acabara de sacar no banco, como ele havia em contato logo depois. 

Nem percebi que conforme a conversa avançava, nós íamos caminhando lentamente, ele me contou que chamava Jorge e que se mudou pra o exterior aos dezenove anos, na verdade ele morava em Vegas e tinha uma enorme casa de shows onde se fazia de tudo e servia até de cassino, ele fazia shows de mágica e ilusionismo e estava aqui para fazer uma pequena apresentação essa noite no salão de um hotel não muito longe de onde eu e Marco estávamos. 

— Uau... Parece ser muito legal, nunca vi esse tipo de show, já fui em circo, coisa e tal... Mas um show ilusionismo assim, nunca. 

— Pois é tem de tudo, eu faço só o ilunismo, mas tem muito mais atrações. É um show e tanto, começa mesmo às dez da noite, mas um pouquinho antes tem uma galera que fica lá fazendo uma ponta, vendem ingressos de última hora, um pessoal que vende comida, bebidas... 

— Entendi... — Digo e só então vejo Marco próximo á nós. — Ah! Meu marido!

Caminho até Marco e percebo de longe seus ciúmes. 

— Esse é o Marco, meu marido. Marco, esse é Jorge, ele vai fazer um show de ilusionismo hoje a noite. 

— Hm... Que bacana.— Ele responde forçando uma simpatia que não tinha no momento. Jorge não percebeu, ou ignorou, acho que a segunda opção. 

— Vai ser um ótimo show, eu tenho certeza. E vocês estão convidados.— Ele diz nos entregando dois convites, eram azul escuro com letras cinza cintilantes.

— Muito obrigado, mas eu não sei se vai ser...— Marco começa mas eu o interrompo.

— É claro que vamos! Pode nos esperar lá. 

— E é na primeira fila. Bom, eu tenho que ir, preciso me preparar pra mais tarde. Até a apresentação.

— Até! — Digo e ele sai após se despedir de nós dois rapidamente, somente com um aceno. 

— Ah, pronto... Da onde você conhece o sujeito?— Marco pergunta me entregando o sanduíche.

— Conheci agora. Ele veio me pedir uma informação.

— Entendi... E será que ele distribui convites a torto e a direita também? Vai lucrar como desse jeito? 

— Para amor! Ele só foi gentil e eu fiquei curiosa com esse tal show, eu nunca vi esse tipo de apresentação de perto.

— Isso aí é tudo lorota! Tudo falso.

— Eu sei, é óbvio! Por isso chama i-lu-sio-nis-mo. — Digo e ele revira os olhos. 

— Eu te levo pra ver outro show. Outro dia. 

— Não, amor, ele já chamou! Vamos, vai ser legal, para de ser ciumento!— Digo apertando suas bochechas.

— Ciumento, eu?

— Sim. Você!

— Até parece... To nem aí pra esse show, não tem graça nenhuma! Nem pra aquele homem também... Já que é mágico podia desaparecer.— Ele resmunga enquanto caminhavamos de volta pra casa.

Sorrio, já imaginando o que eu não iria ouvir do inicio ao fim do show. Mereço... Mereço.