História Uma Nova Chance - Cap.68

                          Paolla: 

Eu sei, essa de longe foi a pior desculpa que eu já inventei na vida, tá certo que eu nunca fui muito boa com mentiras, meu pai, apesar de carinhoso e brincalhão sempre foi um homem rígido nesse quesito, ela não suportava mentiras e sempre me dizia que sabia quando eu não lhe dizia a verdade, mesmo que fosse uma mentira boba, ele sabia, e por crescer com isso em mente, me tornei uma péssima mentirosa, é como se a verdade piscasse em luzes de neon na minha testa. Não sei nem como eu consegui esconder essa gravidez, talvez porque ele não tenha me questionado e se isso acontecesse a verdade simplesmente sairia da minha boca sem eu ter o menor controle sobre elas, sempre foi assim, eu poderia até mentir uma vez, mas se me colocassem contra a parede eu contava até o que não tinha pra contar.

— Deu treze e noventa. — a moça do caixa diz não disfarçando a cara de espanto ao me ver comprar tanto chuchu, acho que eu acabei com o estoque.

Sim, foi por isso que eu não quis dizer o que eu vim fazer no mercado, Marco sabe que eu odeio chuchu, não suportava nem olhar pra ele. Mas, de repente, do nada, me deu uma vontade absurda de comer chuchu, eu precisava daquilo como se minha vida dependesse dessa refeição, mas um detalhe indispensável: ele precisa ser feito pela minha mãe, uma sopa só com chuchu e só de pensar e imaginar o cheiro adentrando minhas narinas, minha barriga até roncava.


( . . . )


— É sério isso? Você sempre...

— Eu sei, mãe!— Respondo enquanto ajudava com a sopa. — O chuchu é o alimento que eu mais odeio na vida... Mas, o meu bebê não tá nem aí pra isso.

Minha mãe sorri e meneia a cabeça, terminando de cortar os chuchus para colocar na água fervendo.

— Pode deixar que eu termino aqui, filha, vai descansar um pouquinho.— Ela diz com um sorriso doce.

— Eu vou tentar falar com o Marco e ver se está tudo bem.

Caminho até a sala e só então me dou conta de que não havia trazido minha bolsa, fiquei tão desnorteada que só levei a carteira. Solto uma respiração pesada e me sento no sofá, acompanhando um filme aleatório que passava na tv.

— Tá pronta, filha...— A voz de minha mãe me desperta quando eu estava quase cochilando. — Que cara é essa?

Ela me entrega o prato com a sopa e eu o apoio em cima de uma almofada.

— Eu esqueci meu celular e não consigo falar com o Marco...— Digo emburrada e com os olhos marejados.

— Come a sopa, mulher, depois você liga do meu.

Apenas assinto e dou a primeira colherada, era incrível o quanto essa sopa estava maravilhosa e o tanto que eu passei a amar chuchu naquele momento, eu podia facilmente trocar uma barra de chocolate por essa sopa. Eu mal acabei o primeiro prato, já fui na cozinha colocar mais, na verdade eu queria mesmo era trazer a panela comigo.


~ ~ ~


Depois de três enormes pratos de sopa, tento inutilmente falar com Marco, mas como ele não me atende, deduzo que a teimosia falou mais alto e ele saiu pra trabalhar.

— Filha, cuidado na estrada e não fica se estressando, viu?— Minha mãe diz depois um milhão de recomendações.

— Pode deixar, mãe. Agora deixa eu ir dar uma bronca no pai do meu filho. — Digo sentindo o coração bater mais forte ao pronunciar "pai do meu filho".

— Me liga quando chegar.

— Ligo, sim.

Com um sorriso no rosto me despeço.


Chego no apartamento e vejo Marco sentado no sofá. Ele se levanta quando me vê e me encara totalmente sério.

— Paolla, quando é que você ía me contar que está grávida?!?— Ele pergunta em tom grave e com os olhos marejados.

Meu coração parece ter parado de bater.

— Como...?

— Seu amigo te mandou uma mensagem, perguntando de você e do seu bebê, não foi difícil de deduzir. — Ele diz sério. Como não respondo nada, ele continua: — Por que você escondeu isso de mim?!? Até quando você ía mentir pra mim?!?

— Eu ía contar!! Eu ía te contar hoje, era pra eu ter contado assim que eu cheguei, mas você veio com quatro pedras na mão e eu fiquei com medo!

— Medo de que, Paolla? E quem é Ryan? Como que ele sabe disso e eu não?

— Ele... Trabalhou comigo de voluntário, ficamos amigos e...

— Você se relacionou com esse cara? Vocês tiveram alguma coisa?— Ele questiona e minha vontade era de vomitar.

— NÃO!! Merda, não!— Digo sentindo meus olhos marejarem, as lágrimas caem e eu desvio o olhar. — Entende agora? Era por isso que eu hesitei em te contar, eu sabia que você ía desconfiar de mim e a última coisa que eu queria era que você sequer pensasse que eu teria um relacionamento com outra pessoa.

— Igual você fez comigo?— Ele questiona e eu emudeço.

Não digo nada e ele se aproxima, tocando meu rosto.

— O que te faz pensar que eu ía duvidar da sua palavra?

— Você é infértil...

— E daí? Paolla, isso é um milagre! É nosso pequeno milagre aí dentro de você.— Ele toca meu ventre e se emociona.— Nosso filho... E eu fui a última pessoa a saber disso e é muita injustiça!

— Marco...— Começo e ele nega com a cabeça.

— Eu merecia saber... Como pai, como seu esposo e até mesmo se eu não fosse mais... Eu merecia saber, é um direito meu, você sabe o quanto eu sempre quis ser pai, é o sonho da minha vida e você não ía me contar?!?

Nos encaramos com os olhos marejados e antes que eu possa dizer qualquer coisa, ele sai e se tranca no quarto, me deixando sozinha...