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História Uma nova oportunidade - O vidro que sumiu


Escrita por: juuhgodoy

Notas do Autor


Ei gente, esse é o último capítulo que estou lançando aqui em agosto, então só me esperem mês que vem! Se alguma alma viva estiver lendo isso aqui, por favor fala comigoooooo! Fico emocionada quando alguém lê alguma besteira minha hahaha. Caso queiram falar comigo diretamente, meu Twitter é @lilsruiva . E não se esqueçam que as partes em negrito foram escritas pela JK em Harry Potter e a Pedra Filosofal! Boa leitura!!!

Capítulo 3 - O vidro que sumiu


     -Bom, quem vai ler dessa vez? –perguntou Frank.

    -Eu leio –Alice se voluntariou.

    O vidro que sumiu.

    -Harry deve estar fazendo magia involuntária. –animou-se Lily.

    -Provavelmente é isso mesmo –James concordou.

    Quase dez anos haviam se passado desde o dia em que os Dursley acordaram e encontraram o sobrinho no batente da porta, mas a rua dos Alfeneiros não mudara praticamente nada. O sol nascia para os mesmos jardins cuidados e iluminava o número quatro de bronze à porta de entrada dos Dursley; e penetrava sorrateiro a sala de estar, que continuava quase igual ao que fora na noite em que o Sr. Dursley ouvira a funesta notícia sobre as corujas. Somente as fotografias sobre o console da lareira mostravam o tempo que já passara. Dez anos antes

     -Não acredito que Harry continua morando com esses seres desprezíveis –rosnou Sirius –Eu não vou aparecer para tirar meu afilhado daí, não?

    -Afilhado? –Lily levantou a sobrancelha.

    -Claro –Padfoot respondeu, revirando os olhos –James não escolheria outra pessoa para batizar o filho dele.

    -Ele está certo, Lils –concordou Remus.

    -Mas eu tenho direito de escolher também –disse como se fosse óbvio –e eu duvido que escolheria um maroto.

    -Ah, qual é, Lily –disse James –Você se casou e teve um filho com um maroto, é claro que o padrinho de Harry também seria um.

     -Tudo bem, tudo bem –suspirou vencida –Sirius será o padrinho de Harry.

    -Obrigado. –agradeceu Sirius.

    -Não precisa agradecer. Eu sei que você fará de tudo para ver Harry bem, e eu sei que nós dois –segurou a mão de James –preferimos que você seja o responsável por ele. Porém, isso não me impede de te encher o saco e te chamar de doido.

     -Igualmente, ruiva querida –disse Sirius, lançando-a uma piscadela marota.

 havia uma porção de fotografias de uma coisa que parecia uma grande bola de brincar na praia, usando diferentes chapéus coloridos – mas Duda Dursley não era mais bebê; e agora as fotografias mostravam um menino grande e louro na primeira bicicleta, no carrossel de uma feira, brincando com o computador do pai, recebendo um beijo e um abraço da mãe. A sala não continha nenhuma indicação de que havia outro menino na casa.

    -Em cada palavra eu fico mais decepcionada com Petúnia –murmurou Lily. James se aproximou da ruiva e colocou o braço ao redor dos ombros da menina, em uma tentativa de consolá-la.

     No entanto Harry Potter continuava lá, no momento adormecido, mas não por muito tempo. Sua tia Petúnia acordara e foi sua voz aguda que produziu o primeiro ruído do dia.

    -Deus me livre de acordar com a voz dela –comentou Alice.

    -Garanto que não é agradável –confirmou Lily –Pobre Harry.

    – Acorde! Levante-se! Agora!

    Harry acordou assustado. A tia bateu à porta outra vez.

     – Acorde! – gritou.

     Harry ouviu-a caminhar em direção à cozinha e em seguida uma frigideira bater no fogão. Virou-se de costas e tentou se lembrar do sonho em que estava. Era um sonho gostoso. Havia uma motocicleta.

     -Ele definitivamente tem uma memória boa –murmurou Frank, impressionado.

     Tinha a estranha sensação que já vira esse sonho antes. A tia voltara à porta.

    – Você já se levantou? – perguntou.  

    – Quase – respondeu Harry.

     – Bem, ande depressa, quero que você tome conta do bacon. E não se atreva a deixá-lo queimar. Quero tudo perfeito no aniversário de Duda.

     Harry gemeu.

     – Que foi que você disse? – perguntou a tia com rispidez.

     – Nada, nada... O aniversário de Duda – como podia ter esquecido?

    Harry levantou-se devagar e começou a procurar as meias. Encontrou-as debaixo da cama e depois de retirar uma aranha de um pé, calçou-as. Harry estava acostumado com aranhas, porque o armário sob a escada vivia cheio delas e era ali que ele dormia.

    -Como ela ousa? Como ela pôde? –gritou Lily.

    -Armário sob a escada –murmurou James –Eu não posso acreditar que essa será a vida do meu filho.

    -Nós vamos mudar isso –assegurou Remus –Harry vai ter a vida que merece.

     O casal de futuros pais se entreolhou, oprimindo a raiva.

     -Vamos mudar isso –disseram em uníssono, tentando se convencer.

     -E eu definitivamente vou me assegurar que Petúnia não tenha filhos! –a ruiva acrescentou, sentindo uma enorme vontade de espancar a irmã.

      Já vestido saiu para o corredor que levava à cozinha. A mesa quase desaparecera tantos eram os presentes de aniversário de Duda. Pelo que via, Duda ganhara o novo computador que queria, para não falar na segunda televisão e na bicicleta de corrida. Para o quê, exatamente, Duda queria uma bicicleta de corrida era um mistério para Harry, porque Duda era muito gordo e detestava fazer exercícios – a não ser, é claro, que envolvessem bater em alguém.

    -Ai dele se encostar em Harry –rosnou Sirius.

    O saco de pancadas preferido de Duda era Harry, mas nem sempre Duda conseguia pegá-lo. Harry não parecia, mas era muito rápido.

    -Ele te puxou, Prongs –sorriu Remus. James assentiu, sorrindo levemente.

    Talvez fosse porque vivia num armário escuro, mas Harry sempre fora pequeno e muito magro para a idade. Parecia ainda menor e mais magro do que realmente era porque só lhe davam para vestir as roupas velhas de Duda e Duda era quatro vezes maior do que ele. Harry tinha um rosto magro, joelhos ossudos, cabelos negros e olhos muito verdes.

    -Ele é a sua cara –Lily se impressionou –Só tem meus olhos. O resto, é só seu.

    -Mas tenho a impressão que a personalidade será a sua. –sorriu James.

    -James Potter –ameaçou ela, e James prendeu a respiração, questionando o que tinha dito de tão ruim –você não ouse ficar feio! O coitado do MEU filho vai ser igual a você, então o mínimo que você pode fazer por ele, é não ficar um adulto horroroso!

     O silêncio da sala foi interrompido por uma estrondosa gargalhada de Sirius.

     -Prongs! Ela te chamou de bonito!

     -Eu creio que eu não tenha dito isso, Sirius Black –discordou Lily, secamente.

     -Você disse...como foi mesmo? –ele fingiu estar pensativo –“ Você não ouse ficar feio, James Potter” –falou afinando a voz ao imitá-la –Logo, você afirmou que hoje não o acha feio. Portanto, ela te chamou de gato, Prongsie.

     Lily bufou enquanto Remus batia na cabeça do amigo.

     -Você distorceu o que eu disse, Black.

     -Ora, Lils –disse James, com um sorriso torto sendo formado em seu sorto –você não casaria e teria um filho com um cara que você acha feio e nada sexy, né? –ela revirou os olhos –Então muito obrigado pelos elogios!

     -Menos, Potter, bem menos –resmungou –e eu posso te garantir que eu não deixaria de casar com alguém só por ele não ser bonito. Eu não sou superficial, diferente de você.

     -Oh, então você casaria comigo mesmo se eu fosse horroroso?

     -Se eu te amar o tanto que eu acredito que irei, claro que sim –deu de ombros.

     O aperto no coração de Snape foi inevitável. Ele desviou o olhar da cena rapidamente, querendo se enfiar em um buraco para não ter que ouví-los.

     -Fico lisonjeado –piscou para ela –mas a senhorita não terá que se preocupar, eu sou lindo e sempre serei, assim como o seu filho, querida.

     -Como você é metido –bufou em resposta.

     -Metido não, verdadeiro! –ela revirou os olhos e fez um gesto para a amiga continuar a leitura.

    Usava óculos redondos, remendados com fita adesiva, por causa das muitas vezes que Duda o socara no nariz.

    Sirius pegou um pergaminho em cima da mesinha de centro e começou a escrever uma lista de vingança aos Dursley.

     -O que você está fazendo? –questionou Frank.

     -Escrevendo jeitos de me vingar desses imbecis. –deu de ombros, escrevendo sem parar.

   A única coisa que Harry gostava em sua aparência era uma cicatriz fininha na testa que tinha a forma de um raio. Existia desde que se entendia por gente e a primeira pergunta que se lembrava de ter feito à tia Petúnia era como a arranjara.

    – No desastre de carro em que seus pais morreram – respondera ela. – E não faça perguntas. Não faça perguntas – esta era a primeira regra para levar uma vida tranquila com os Dursley.

    -Não acredito que ela escondeu a verdade de Harry –disse Lily, revoltada. James passou o braço pelo ombro dela na tentativa de acalmá-la. Snape olhou a cena com nojo.

    -Acidente de carro? Como ela ousa? –disse Remus, a revolta crescendo em seu peito –Como se vocês fossem morrer em um simples acidente! Voldemort pessoalmente precisou matá-los!

     Tio Válter entrou na cozinha quando Harry estava virando o bacon.

    -Ele era obrigado a cozinhar? –perguntou Alice, assustada.

    Ela logo se juntou a Sirius para aumentar o pergaminho de vingança.

    – Penteie o cabelo! – mandou, à guisa de bom-dia.

    -Não adianta –riu Remus, olhando para os cabelos espetados de James.

    -Não mesmo. Ele não para no lugar –James deu de ombros, bagunçando o dito cujo ainda mais.

     Mais ou menos uma vez por semana, tio Válter espiava por cima do jornal e gritava que Harry precisava cortar os cabelos. Harry deve ter feito mais cortes que o resto dos meninos de sua classe somados, mas não fazia diferença, seus cabelos simplesmente cresciam daquele jeito – para todo lado.

    -Ele é filho de James –riu Sirius –Nem se ele quisesse, daria para domar esse cabelo. E olha que Fleamont Potter tentou!

     -Seu pai fez a melhor poção de cabelo no mundo bruxo e não conseguiu domar o seu? –perguntou Alice a James, inconformada.

     -É realmente impossível –o Maroto deu de ombros.

     Harry estava fritando os ovos na altura em que Duda chegou à cozinha com a mãe. Duda se parecia muito com o tio Válter. Tinha um rosto grande e rosado, pescoço curto, olhos azuis pequenos e aguados e cabelos louros muito espessos e assentados na cabeça enorme e densa. Tia Petúnia dizia com frequência que Duda parecia um anjinho – Harry dizia com frequência que Duda parecia um porco de peruca.

    A sala gargalhou.

    -Ele puxou o seu senso de humor –riu Lily para James.

    Harry pôs os pratos de ovos com bacon na mesa, o que foi difícil porque não havia muito espaço. Entrementes, Duda contava os presentes. Ficou desapontado.

     – Trinta e seis – disse, erguendo os olhos para o pai e a mãe. – Dois a menos do que no ano passado.

    -Ninguém pode ser tão mimado assim –espantou-se Frank.

     – Querido, você não contou o presente de tia Guida, está aqui debaixo deste grandão do papai e da mamãe, está vendo?

    – Está bem, então são trinta e sete – respondeu Duda ficando vermelho.  

     Harry, percebendo que Duda estava preparando um enorme acesso de raiva, começou a engolir seu bacon o mais depressa possível, caso o primo virasse a mesa.

    -É sério que Petúnia deixa isso acontecer? –murmurou Severo para Lily. A sala o olhou com interesse, provavelmente era a primeira vez que falava algo.

   -Eu também não acredito –respondeu Lily.

    James olhou para os dois com receio. Não era de hoje que odiava Snape, e tinha medo que a amizade dos dois retornasse, afastando Lily de James.

      Tia Petúnia obviamente também sentiu o perigo, porque na mesma hora disse:

     – E vamos comprar mais dois presentes para você quando sairmos hoje. Que tal, fofinho? Mais dois presentes. Está bem assim?

    Duda pensou um instante. Pareceu um esforço enorme. Finalmente respondeu hesitante:

     – Então vou ficar com trinta... trinta...

     -Não é possível que ele não saiba fazer uma soma –comentou Remus, assustado com a burrice do garoto.

    – Trinta e nove, anjinho – disse tia Petúnia.

     – Ah. – Duda largou-se na cadeira e agarrou o pacote mais próximo. – Então, está bem.

     Tio Válter deu uma risadinha.

      – O baixinho quer tudo a que tem direito, igualzinho ao pai. É isso aí, garoto! – E arrepiou os cabelos de Duda com os dedos.

    -Eles realmente apoiam esse tipo de comportamento? –perguntou Lily, suspirando –Pobre Duda, não vai conseguir lidar com o mundo real nunca.

    -Realmente –concordou Frank –Ele sempre vai achar que as pessoas precisam fazer tudo por ele o tempo inteiro.

     Naquele instante o telefone tocou e tia Petúnia foi atendê-lo, enquanto Harry e tio Válter assistiam a Duda desembrulhar a bicicleta de corrida, a câmara de filmar, um aeromodelo com controle remoto, dezesseis jogos de computador e um gravador de vídeos. Estava rasgando a embalagem de um relógio de ouro quando tia Petúnia voltou do telefone parecendo ao mesmo tempo zangada e preocupada.

      – Más notícias, Válter. A Sra. Figg fraturou a perna. Não pode ficar com ele. – E indicou Harry com a cabeça.

     Duda boquiabriu-se de horror, mas o coração de Harry deu um salto. Todo ano, no aniversário de Duda, os pais dele o levavam para passar o dia com um amiguinho em parques de aventuras, lanchonetes ou no cinema. Todo ano deixavam Harry com a Sra. Figg, uma velha maluca que morava ali perto. Harry detestava o lugar. A casa inteira cheirava a repolho e a Sra. Figg lhe mostrava fotografias de todos os gatos que já tivera.

    -Nós vamos mudar isso, não vamos? –James assentiu para Lily, que ficava cada vez mais desolada.

     – E agora? – perguntou tia Petúnia, olhando furiosa para Harry como se ele tivesse planejado tudo.

     Harry sabia que devia sentir pena da Sra. Figg que quebrara a perna, mas não era fácil quando lembrava que ia passar um ano sem ter que olhar para o Tobias, o Néris, Seu Patinhas e o Pompom outra vez.

    -Não podemos te culpar, Harry –disse Alice, olhando para o livro com pena.

      – Poderíamos ligar para a Guida – sugeriu tio Válter.

     Lily gemeu. Conhecia a irmã de Válter bem o suficiente para detestá-la.

     – Não diga bobagem, Válter, ela detesta o menino.

     Com frequência, os Dursley falavam de Harry assim, como se ele não estivesse presente – ou melhor, como se ele fosse alguma coisa muito desprezível que não conseguisse entendê-los, como uma lesma.

     – E aquela sua amiga, como é mesmo o nome dela, Ivone?

    – Está passando férias em Majorca – respondeu Petúnia, com rispidez.

     – Vocês podiam me deixar aqui – arriscou Harry esperançoso (ele poderia assistir ao que quisesse na televisão para variar e, quem sabe, até dar uma voltinha no computador de Duda). Tia Petúnia parecia que tinha engolido um limão.

    – E quando voltarmos, encontrar a casa destruída? – rosnou.

    – Não vou explodir a casa – prometeu Harry, mas os tios não estavam mais escutando.

    -Não te culparíamos se o fizesse, meu amor –disse Lily, suspirando para o livro.

     – Talvez pudéssemos levá-lo ao zoológico – disse tia Petúnia lentamente – e deixá-lo no carro...

     – O carro é novo. Não vou deixá-lo sentado no carro sozinho...

     -Fala sério, o Harry é só uma criança! –disse Remus, se unindo a Sirius e Alice.

     Duda começou a chorar alto. Na realidade não estava chorando, fazia anos que não chorava de verdade, mas sabia que se fizesse cara de choro e gritasse a mãe lhe daria o que quisesse.

     -É muito mimo para uma criança só, pelo amor. –disse James, revirando os olhos.

     – Dudinha, querido, não chore, mamãe não vai deixar ele estragar o seu dia! – exclamou, abraçando-o.

     – Não... quero... que... ele... vá! – Duda berrou entre grandes soluços fingidos. – Ele sempre estraga tudo! – E lançou um riso maldoso por entre os braços da mãe.

    -Ok, eu preciso ajudar vocês –disse Frank para o grupo que escrevia sem parar diversos tipos de vingança aos Dursley.    

     Naquele instante a campainha tocou.

     – Ah, meu Deus, são eles chegando! – disse tia Petúnia nervosa, e um minuto depois, o melhor amigo de Duda, Pedro Polkiss, entrou acompanhado da mãe.

      Pedro era um menino magricela, com cara de rato. Em geral era quem segurava para trás os braços dos garotos enquanto Duda batia neles. Na mesma hora Duda parou de fingir que estava chorando.

     -Agora ele não é mais bebê chorão, né –falou Sirius, com os dentes trincados.

     Meia hora depois, Harry, que não conseguia acreditar em sua sorte, estava sentado no banco traseiro do carro dos Dursley, com Pedro e Duda, a caminho do jardim zoológico, pela primeira vez na vida. O tio e a tia não tinham conseguido pensar no que fazer com ele, mas antes de saírem, tio Válter puxara Harry para o lado.

      – Estou-lhe avisando – disse, aproximando a cara grande e vermelha de Harry. – Estou-lhe avisando, moleque, a primeira gracinha que fizer, a primeira, vai ficar preso naquele armário até o Natal.

      – Não vou fazer nada – disse Harry –, juro... Mas tio Válter não acreditou nele. Ninguém nunca acreditava.

     -Nós acreditamos, Harry, mesmo que você não saiba –murmurou Lily, se aconchegando a James.

     O problema era que sempre aconteciam coisas estranhas à volta de Harry e simplesmente não adiantava dizer aos Dursley que não era sua culpa. Uma vez, tia Petúnia, cansada de ver Harry voltar do barbeiro como se não tivesse estado lá, apanhara uma tesoura de cozinha e cortara o cabelo dele tão curto que o deixara quase careca, exceto por uma franja, que ela deixou “para esconder aquela cicatriz horrorosa”. Duda morrera de rir de Harry, que passou a noite acordado imaginando o que seria a escola no dia seguinte, onde já riam dele por causa das roupas folgadas e dos óculos emendados com fita adesiva.

     -Não acredito que ele tenha que passar por tudo isso sozinho –disse Lily, suspirando.

      Na manhã seguinte, porém, quando se levantou, os cabelos estavam exatamente como eram antes de tia Petúnia cortá-los. Tinham-no deixado preso uma semana no armário por causa disto, apesar de sua tentativa de explicar que não saberia explicar como é que os cabelos tinham crescido tão depressa.

     -Petúnia sabe o que é magia involuntária, -disse Snape –não faz sentido ela o tratar dessa maneira.

     -Acho que Petúnia me odeia mais do que imaginávamos –concordou Lily.

     -Ela tem inveja de você –comentou Severo, a olhando profundamente –Sabemos que o sonho dela era vir para Hogwarts contigo.

     -Sério? Ela trata nosso filho assim porque não é bruxa? –perguntou James para Lily.

     -Éramos melhores amigas –Lils suspirou –Até o dia que Sev me disse o que eu era. Ela não aceitou muito bem, e quando a carta de Hogwarts chegou, ela quis me matar. Começou então a me tratar mal, me chamar de “esquisita” e “aberração” o tempo todo. Só que nós dois –apontou para si mesma e Snape –descobrimos uma carta que ela mandou para Dumbledore pedindo para ser aceita em Hogwarts comigo, só que claro, ela não tinha magia.

    -Agora faz mais sentido –disse Frank, pensativo –Pelo visto ela guarda rancor, tanto de você, quanto pelo Mundo Bruxo que a recusou.

     Outra vez, tia Petúnia tentara obrigá-lo a vestir um macacão velho de Duda (marrom com pompons cor de laranja). Quanto mais tentava enfiá-lo pela cabeça dele, tanto menor o macacão ficava, até que finalmente parecia feito para um fantochinho de dedo, e com certeza não ia servir para Harry. Tia Petúnia concluiu que devia ter encolhido na lavagem e Harry, para seu grande alívio, não foi castigado. Por outro lado, ele se metera numa grande encrenca quando o encontraram no telhado da cozinha da escola. A turma de Duda o estava perseguindo, como sempre, e tanto para surpresa de Harry quanto dos outros, ele apareceu sentado na chaminé.

     -Ele aparatou? –perguntou Remus, incrédulo.

     -Para isso, ele precisa ser muito poderoso –concordou Sirius.

     -Acho que Harry é bem mais forte do que possamos imaginar –murmurou James.

     Os Dursley receberam uma carta muito zangada da diretora de Harry, contando que Harry andara escalando os prédios da escola. Mas só o que tentara fazer (conforme gritou para tio Válter através da porta trancada do armário) fora saltar para trás das grandes latas de lixo à porta da cozinha. Harry supunha que o vento devia tê-lo apanhado na hora em que saltou.

     A sala inteira riu.

     -Os trouxas realmente arranjam desculpas absurdas para a existência da magia –comentou Alice.

     Mas hoje nada ia dar errado. Valia até a pena estar em companhia de Duda e Pedro para passar o dia em outro lugar que não fosse a escola, o armário, ou a sala com cheiro de repolho da Sra. Figg.

     Todos fizeram caretas. Lily se juntou então, ao grupo que planejava vingar Harry.

      Enquanto dirigia, tio Válter se queixava à tia Petúnia. Ele gostava de se queixar de tudo: das pessoas no trabalho, de Harry, do conselho, de Harry, o banco e Harry eram seus dois assuntos preferidos. Esta manhã eram as motocicletas.

     – ... roncando pelas ruas como loucos, os arruaceiros – disse, quando uma moto emparelhou com eles.

     – Tive um sonho com uma motocicleta – falou Harry, lembrando-se de repente. – Ela voava.

     Tio Válter quase bateu no carro da frente. Virou-se para trás e gritou com Harry, seu rosto parecendo uma beterraba gigante e bigoduda:

     – MOTOCICLETAS NÃO VOAM!

     Duda e Pedro deram risadinhas.

     – Sei que não voam – respondeu Harry. – Foi só um sonho.

     -Harry tem uma memória absurda –murmurou Lily –como ele lembra disso se tinha só um ano?

     -Prongs, precisamos aprender a fazer uma moto voar! –falou Sirius.

      -Nós vamos saber, cara. –respondeu James –Mas vamos esperar você arrumar essa motocicleta para aí sim, mexer nessa parte, ok?

     Sirius bufou, impaciente.

      Mas desejou que não tivesse dito nada. Se havia uma coisa que os Dursley detestavam mais do que as suas perguntas, era quando falava de coisas que faziam o que não deviam, não interessava se era sonho ou desenho animado – pareciam pensar que ele poderia arranjar ideias perigosas.

     Era um sábado muito ensolarado e o zoo estava cheio de famílias. Os Dursley compraram grandes sorvetes de chocolate para Duda e Pedro à entrada e, então, porque a mulher sorridente na carrocinha perguntara o que Harry ia querer antes que pudessem afastá-lo depressa dali, eles lhe compraram um picolé barato de limão. Não era ruim, Harry pensou, lambendo-o enquanto observavam um gorila que coçava a cabeça e se parecia demais com Duda, exceto pelos cabelos que não eram louros.

    James riu. Parece que seu filho realmente tinha um senso de humor parecido com o seu.

     Harry passou a melhor manhã que já tivera em muito tempo. Cuidou de andar um pouco afastado dos Dursley de modo que Duda e Pedro, que ali pela hora do almoço estavam começando a se chatear com os bichos, não recaíssem no seu passatempo favorito de bater no primo. Almoçaram no restaurante do zoo e quando Duda teve um acesso de raiva porque seu sorvetão não era bastante grande, tio Válter comprou-lhe outro e deixou Harry terminar o primeiro. Depois Harry achou que devia ter adivinhado que estava bom demais para durar muito tempo.

     Lily gemeu, com medo do que estava por vir.

    -Calma, Lils. –James segurou sua mão com carinho –Vamos mudar isso.

    -Eu sei que vamos, mas eu tinha esperanças de que minha irmã pudesse cuidar melhor do meu filho, da forma que eu faria se estivesse no lugar dela.

     -Nem todos tem um coração bom como o seu –murmurou James.

     Terminado o almoço, foram visitar o alojamento dos répteis. Era fresco e escuro ali, com quadrados iluminados ao longo das paredes. Por trás dos vidros, rastejavam e deslizavam em pedaços de pau e em pedras todos os tipos de cobras e lagartos. Duda e Pedro queriam ver as enormes cobras venenosas e as grossas pitones que esmagavam um homem. Duda logo encontrou a maior cobra que havia. Poderia dar duas voltas no carro de tio Válter e amassá-lo até reduzi-lo ao tamanho de uma lata de lixo – mas naquela hora ela não estava disposta a fazer nada. Na realidade, estava dormindo a sono solto.

     Alice ficou arrepiada, tinha pavor de cobras.

    -Calma –Frank disse para ela –não vai chegar aqui –ela assentiu.

     Duda parou, o nariz comprimido contra o vidro, observando as espirais marrons e reluzentes.

     – Faz ela se mexer – choramingou para o pai.

      Tio Válter bateu no vidro, mas a cobra não se mexeu.

      – Faz outra vez – mandou Duda. Tio Válter bateu no vidro com os nós dos dedos, mas a cobra continuou dormindo. – Que chato – queixou-se Duda. E saiu arrastando os pés.

     Harry veio se postar na frente do tanque e estudou a cobra com atenção. Não se admiraria se a própria cobra morresse de tédio – não tinha companhia a não ser aquela gente idiota que batucava no vidro, tentando incomodá-la o dia inteiro. Era pior do que ter um armário por quarto, onde a única visita era a tia Petúnia esmurrando a porta para acordá-lo, mas ao menos ele podia visitar o resto da casa. A cobra inesperadamente abriu os olhos, que pareciam contas. Devagarinho, muito devagarinho, levantou a cabeça até seus olhos chegarem ao nível dos de Harry. E piscou. Harry arregalou os olhos. E olhou depressa a toda volta para ver se havia alguém olhando. Não havia. E retribuiu o olhar da cobra, piscando também. A cobra acenou com a cabeça na direção de tio Válter e de Duda, depois levantou os olhos para o teto. Lançou um olhar a Harry que dizia com todas as letras:

     – Isso é o que me acontece o tempo todo.

      – Eu sei – murmurou Harry pelo vidro, embora não tivesse muita certeza se a cobra poderia ouvi-lo –, deve ser bem chato. A cobra concordou com um aceno de cabeça enfático.  

     -Harry é ofidioglota? Mas como? –perguntou James, confuso.

     -Não faz sentido, realmente. –murmurou Sirius.

     -Os Potter nunca tiveram esse poder –explicou Remus para os demais –Harry não tem a quem puxar nesse quesito.

     -Bom, acho melhor continuarmos a leitura –disse Frank –Acredito que em algum momento o livro vá nos explicar.

     – Mas de onde é que você veio? – perguntou Harry.

     A cobra apontou com o rabo uma placa próxima ao vidro. Harry espiou. Boa Constrictor, Brasil.

     – Era bom lá?

     A jiboia apontou novamente a placa com o rabo e Harry leu: Este espécime nasceu em cativeiro.

     – Ah, entendo, então você nunca esteve no Brasil?

     A cobra sacudiu a cabeça, mas um grito ensurdecedor atrás de Harry fez os dois pularem:

     – DUDA! SR. DURSLEY! VENHAM VER ESSA COBRA! VOCÊS NÃO VÃO ACREDITAR NO QUE ESTÁ FAZENDO!

     Duda veio bamboleando até onde o amigo estava o mais depressa que pôde.

     – Cai fora – falou dando um soco nas costelas de Harry.

    -Não encosta no meu filho, seu filho de porco –sibilou Lily.

     Começou então a escrever furiosamente no pergaminho de vinganças, com a ajuda de um James igualmente revoltado.

     Apanhado de surpresa, Harry caiu com força no chão de concreto. O que se passou em seguida aconteceu tão depressa que ninguém viu como foi: num segundo, Pedro e Duda estavam encostados no vidro, no segundo seguinte, estavam saltando para trás soltando uivos de terror. Harry sentou-se e parou de respirar: o vidro da frente do tanque da jiboia tinha sumido. A grande cobra se desenrolou depressa e escorregou pelo chão – as pessoas no alojamento dos répteis gritaram e começaram a correr para as saídas. Quando a cobra passou rápido por ele, Harry poderia jurar que uma voz baixa e sibilante tinha dito: “Brasil, aqui vou eu... Obrigada, amigo.”

     O zelador do alojamento dos répteis ficou em estado de choque.

      – Mas o vidro – ele não parava de repetir –, para onde foi o vidro?

     O diretor do zoo em pessoa preparou uma xícara de chá forte para tia Petúnia enquanto se desculpava mil vezes. Pedro e Duda só conseguiam balbuciar. Pelo que Harry vira, a cobra não fizera nada a não ser fingir abocanhar os calcanhares deles quando passou, mas quando chegaram finalmente ao carro do tio Válter, Duda estava contando que a cobra quase lhe arrancara a perna a dentadas, enquanto Pedro jurava que a cobra tentara apertá-lo até matar.

     -Nem são dramáticos, imagina –Alice revirou os olhos.

      Mas o pior de tudo, pelo menos para Harry, foi Pedro ter se acalmado o suficiente para perguntar:

     – Harry estava conversando com ela, não estava, Harry?

     -Ahh –gemeu Lily, enterrando o rosto no peito de James, enquanto ele fazia cafuné nos cabelos ruivos –Isso não vai ser bom.

      Tio Válter esperou até Pedro estar longe da casa para brigar com Harry. Estava tão zangado que mal podia falar. Conseguiu apenas dizer:

     – Vá... armário... Harry... sem comida – antes de desmontar em uma cadeira e tia Petúnia ter que correr para lhe servir uma boa dose de conhaque.

     -Além de tudo isso, ainda querem matar meu afilhado de fome? Seus filhos da...

     -SIRIUS! –gritou Alice –Acalme-se. –o Maroto bufou em resposta, rabiscando no pergaminho furiosamente.

     Muito mais tarde, deitado no seu armário, Harry desejou ter um relógio. Não sabia que horas eram e não tinha certeza se os Dursley já estariam dormindo. Até que estivessem, ele não poderia se arriscar a ir escondido até a cozinha buscar alguma coisa para comer. Vivia com os Dursley havia quase dez anos, dez infelizes anos, desde que se lembrava, desde que era bebê e seus pais tinham morrido naquele acidente de carro. Não conseguia se lembrar de ter estado no carro quando os pais morreram. Às vezes, quando forçava a memória durante longas horas em seu armário, lembrava-se de uma estranha visão: um lampejo ofuscante de luz verde e uma queimadura na testa.

     -Harry realmente tem uma memória boa demais –murmurou Remus.

     Isto, supunha ele, era o acidente embora não conseguisse lembrar de onde vinha toda aquela luz verde. Não conseguia lembrar nada dos pais. A tia e o tio nunca falavam neles e naturalmente tinham-no proibido de fazer perguntas. E não havia fotografias deles na casa. Quando era mais novo, Harry sonhara muitas vezes com um parente desconhecido que vinha levá-lo embora, mas isto nunca acontecera;

     -Eu não consigo nem imaginar o motivo e nunca termos resgatado Harry –disse Remus para Sirius.

     -Algo muito grande deve ter me impedido –respondeu Sirius pensativo –Eu não abandonaria Harry sem um motivo muito bom.

     -Eu sei disso. Porém, eu sei que eu não teria condições de cuidar dele –Sirius apertou o ombro do amigo, sabendo o quanto isso era difícil para ele.

os Dursley eram sua única família. Ainda assim, ele achava (ou talvez fosse só uma esperança) que estranhos na rua o conheciam. E eram estranhos muito estranhos. Um homenzinho de cartola roxa se curvara para ele uma vez quando estava fazendo compras com tia Petúnia e Duda. Depois de perguntar a Harry, furiosa, se ele conhecia o homem, tia Petúnia tinha empurrado os meninos depressa para fora da loja sem comprar nada. Uma velha amaluca da toda vestida de verde uma vez acenara alegremente para ele no ônibus. Um careca com um longo casaco púrpura chegara a apertar sua mão na rua um dia desses e em seguida se afastara sem dizer nada. A coisa mais estranha nessas pessoas era a maneira com que pareciam desaparecer no instante em que Harry tentava vê-los melhor. Na escola Harry não tinha ninguém. Todos sabiam que a turma de Duda odiava aquele estranho Harry Potter com suas roupas velhas e folgadas e os óculos remendados, e ninguém gostava de contrariar a turma do Duda.

    -Bom, acho melhor lermos só mais um capítulo antes de dormir –disse Lily, olhando para o relógio, que apontava que já eram 23hs.

    -Realmente, senão ficará muito tarde –concordou Remus.


Notas Finais


E aí? O que acharam?? Me contem!!! Eu amo o Sirius enchendo o saco da Lily e um James com um ego maior que o próprio corpo, então eu garanto que teremos muito mais disso hahaha. Jily é fofinho demais aaaahh!
Um beijo e até o próximo capítulo!


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