Depois de dois dias em observação, vários exames e a comprovação de que não havia nada de errado com sua cabeça, Amanda foi liberada do hospital. Mesmo sem ter ideia do que fazer ou para onde ir, poderia procurar por um hotel, mas com que dinheiro pagaria? Não havia documentos, celular ou qualquer outra identificação quando foi atendida - conforme o Dr. Halstead informou.
Enquanto arrumava a mochila, pegou novamente aquela camiseta. Olhou por alguns minutos a estampa, era mesmo os bombeiros ali. Os Tenentes Casey e Severide, que conheceu dias antes e outros que não conhecia - ou não se lembrava que conhecia. Focou no rosto de Casey e passou os dedos suavemente pelo tecido, lembrando-se dos olhos dele a encarando preocupado. Se pegou sorrindo e pensando se o veria de novo.
— Amanda? — A voz de Halstead invadiu o quarto, a assustando, e ela se virou rápido para ele — desculpe, não quis te assustar.
— Tudo bem, tava só pensando…— soltou a camiseta dentro da mochila.
— Alguém veio vê-la. — Então Casey apareceu na porta, com um sorriso sem graça e um aceno. Seu desejo foi realizado mais rápido do que pensou ser possível.
— Tenente Casey, oi! — Não conseguiu disfarçar a alegria, com um largo sorriso, logo se sentindo uma boba por ser tão transparente.
— Will me disse que teria alta hoje e… — ele olhou para o médico, procurando as palavras — queria saber se tem para onde ir.
— Na verdade, não tenho ideia — abriu os braços e respirou fundo, então olhou para a mochila — vi a camiseta que falaram, pensei que ativaria alguma memória, mas nada.
— Pode ser uma amnésia momentânea e voltará com o tempo. — Dr. Halstead tentou tranquilizar — não há mais nada que possamos fazer, talvez você voltando a rotina, ajude.
— Só preciso descobrir que rotina é essa, Doutor. — Ela riu ao passar a mão na nuca e os outros dois a acompanharam numa risada baixa.
Até Casey dar um passo à frente e com os olhos fixos nos dela, fazendo Amanda sentir a respiração falhar por um segundo, fazendo um convite.
— Pode ficar no Quartel 51, onde trabalho, pelo menos até descobrirmos o que tá acontecendo. — Mais uma vez aquela sensação de que estava segura, de que podia confiar nele de olhos fechados.
— Não precisa fazer isso, Tenente, não quero atrapalhar e…
— Não vai atrapalhar — ele a interrompeu com um sorriso — estará segura lá, prometo. — Mal sabia que para ela, não precisava prometer aquilo. Então Amanda assentiu e voltou-se para o Dr. Halstead.
— Muito obrigada, Dr. Halstead. — Ele se aproximou de Amanda com um sorriso e tocou em seu braço suavemente.
— Espero que fique tudo bem e precisando, só voltar aqui, qualquer coisa diferente que sentir. — Ela assentiu em resposta e Will saiu depois de se despedir de Casey com um aceno de cabeça.
No estacionamento, ao se aproximarem do carro, Amanda olhou para o adesivo na porta da camionete, onde dizia "M. Casey Construção". No mesmo instante, sentiu uma sensação de deja vu, como já tivesse visto aquele carro em algum lugar. Aquilo a fez titubear e sentir uma tontura que quase a fez cair. Mas estando atento, num movimento rápido, Casey a segurou pelos braços para que não caísse.
Foi algo extremamente rápido e em segundos sentiu-se bem novamente. Mas Amanda já estava ali, com Casey a segurando e os olhos dele fixos nos dela. Ficaram parados, presos no olhar um do outro, por minutos longos o suficiente para deixar a situação constrangedora. Casey a soltou e Amanda desviou o olhar, coçando a garganta ao voltar-se para o carro rindo, entendendo o que aconteceu.
— Quer voltar? Se estiver se sentindo mal, volto com você e...
— Não, fica tranquilo, foi só uma sensação estranha. — Coçou a testa, com um sorriso sem graça — talvez eu já tenha visto seu carro em algum lugar.
— Isso é um bom sinal, talvez esteja se lembrando. — Ele abriu um sorriso, que Amanda fez o máximo esforço para não se sentir afetada e entraram no carro.
Uma rádio qualquer de música estava ligada e nenhum dos dois parecia ter algum assunto para conversar. Então Amanda aproveitou o momento para admirar as ruas movimentadas de Chicago, um lugar totalmente novo para ela. Teria se mudado para a cidade para estudar? Trabalhar? Foi sozinha? Com a família? Com amigas? E se fosse o caso, como ninguém a procurou? Sua expressão facial denunciou sua confusão e ansiedade com toda aquela situação, porque a voz de Casey a tirou de seus pensamentos.
— Isso deve ser assustador, não se lembrar. Mas vai ficar tudo bem, vamos ajudar você. — Amanda o observou por alguns segundos, antes de sorrir levemente, sentindo os olhos um pouco marejados.
— É tudo muito confuso.
— O que se lembra? — perguntou cauteloso, sem tirar os olhos da rua.
— Que meu nome é Amanda Rodrigues, tenho 25 anos, ou algo próximo a isso, sou brasileira e… — tentou pensar em mais alguma coisa antes de continuar — E que no Brasil, o motorista fica do lado esquerdo. — Os dois riram e Amanda sentiu-se um pouco mais leve que alguns minutos atrás.
Chegando no Quartel, Amanda olhou a fachada enquanto bateu a porta do carro e depois para as viaturas estacionadas, sentiu uma sensação estranha, talvez precisasse comer alguma coisa. Então caminhou ao lado de Casey para dentro do Quartel, ignorando o sentimento de segundos antes.
— Bom gente, essa é a Amanda… — Casey apresentou ao chegarem no refeitório e verem todos ali.
— Oi pessoal — ela acenou, ainda bem sem graça e sem saber muito bem como agir.
— Você parece bem, ficamos felizes que não se feriu gravemente — na camiseta da mulher morena e de sorriso largo, pôde ler “paramédico” abaixo do logo do corpo de bombeiros. — Sou Gabriela Dawson, prazer.
— Sim, só tem alguns parafusos soltos aqui dentro… — Amanda brincou apontando para a própria cabeça.
— Ah, mas isso quase todos aqui também tem… Não é, Otis? — disse um dos que estava na mesa redonda logo atrás do sofá, que ela soube mais tarde ser Herrmann, arrancando uma risada de Amanda e fazendo Otis rolar os olhos.
Não fazia nem cinco minutos que chegou ali e já estava gostando de todos. Então, em meio aos cumprimentos e apresentações, um homem saiu de uma porta aos fundos do refeitório. Apesar do sorriso simpático, tinha uma postura diferente dos outros, com uma mão na cintura se apresentou como o chefe do quartel 51, Wallace Boden.
— É muito bem vinda, pelo tempo que precisar, Amanda.
— Muito obrigada, Chefe Boden.
"Ambulância 61, Viatura 81, Esquadrão 3, incêndio estrutural"
Amanda olhou em volta ao ouvir a voz do alto-falante acompanhada de uma sirene. Todos se levantaram e correram para o chamado, mas antes de sair, Casey olhou para Amanda e tocou seu braço.
— Voltamos em breve, fica a vontade — ela sorriu e assentiu rapidamente, garantindo que estava bem, então o viu correr e passar pela porta dupla.
Ao ficar sozinha no quartel, com exceção do pessoal na administração ao lado da sala de Boden, abraçou o próprio corpo e olhou em volta. Então saiu do refeitório e caminhou pelo corredor, até chegar numa espécie de painel.
Haviam fotos de todos do Quartel, sempre rindo e brincando uns com os outros. Nitidamente não eram apenas colegas de trabalho, eram amigos… Uma família. Passou os olhos por cada rosto, a fazendo lembrar daquela bendita camiseta. Usar uma camiseta com a foto de uma banda, atores, filmes ou super heróis, fazia sentido para ela… mas uma camiseta com a foto dos bombeiros de Chicago? Não podia negar que eles eram verdadeiros heróis, mas por que alguém teria uma camiseta deles? Por que ela teria? Sentiu a cabeça doer um pouco enquanto pipocavam perguntas.
Respirou fundo e voltou para o refeitório, decidida a fazer algo útil e que também a distraísse. Brownie sempre é uma boa opção. Procurou pelos armários, ingredientes para fazer o doce e começou o trabalho.
— Nossa, isso é… — Amanda olhou para a porta ao se levantar, tirando a fôrma de brownie do forno — Oh meu Deus, brownie de chocolate? — Otis perguntou animado ao apoiar os braços na bancada.
— O cheiro tá incrível! — Joe Cruz comentou ao encostar do lado de Otis, a reação empolgada fazendo Amanda abrir um largo sorriso de satisfação.
— Que bom que gostam! É uma receita de família! — Amanda disse enquanto começou a cortar o bolo em quadrados.
Casey e Severide escutaram o que Amanda disse ao se sentarem na mesa próxima. Os dois trocaram um olhar de confusão, e Severide arqueou uma sobrancelha para Casey. Enquanto todos se ocupavam em atacar os brownies, inclusive Amanda.
— Ela disse receita de família? — Kelly Severide perguntou baixo.
— Isso não quer dizer nada, Severide.
— Se ela diz que não lembra da família, quer dizer algo sim.
— Por que estão cochichando? — Shay se sentou comendo um pedaço de brownie — esse brownie da Amanda está incrível, já comeram? — Severide balançou a cabeça, impaciente e se levanta, saindo do refeitório.
— Disse algo de errado? — Shay perguntou para Casey, sem entender a reação do amigo e o outro apenas balançou a mão, mostrando não ser nada importante.
Por algum motivo, que Casey não conseguia entender, acreditava em Amanda e achava totalmente infundada a desconfiança de Severide. Algo dentro dele dizia que tinha de estar ao lado dela, tinha de protegê-la e garantir que estivesse segura. Como se algo os conectasse. Os olhares deles se encontraram por alguns segundos, enquanto ela ria e conversava com Peter Mills e Otis. Ele apenas sorriu para ela, um sorriso simples e quase imperceptível. Sem perceber que da outra mesa, Gabby Dawson os observava um pouco desconfortável, até se levantar para sair do refeitório.
— Gabby, oi… — trombou com Antônio, seu irmão, na porta, ao sair apressada — Ei, tá tudo bem? — ele perguntou a segurando pelos braços.
— Oi Antônio, sim, tudo ótimo… — coçou a testa, dando um sorriso amarelo — o que faz aqui? Algum problema? — quis saber, visto o irmão detetive normalmente aparecer no quartel quando tinha problemas.
— Por causa de um caso. O Chefe Boden está?
— Sim, na sala dele. — Ele assentiu e a passos largos, se encaminhou à sala de Boden depois de passar pelo refeitório fazendo um comprimento rápido e geral.
Poucos minutos depois que Antônio estava na sala do chefe, a secretária, Connie, apareceu no refeitório, informando que o chefe estava chamando o Tenente Casey e Amanda na sala dele.
— Olá Amanda, sou o Detetive Antônio Dawson, da Polícia de Chicago — a jovem olhou para Boden e depois novamente para Antônio, um pouco nervosa — estamos investigando seu acidente e… Você. — Ele fez uma pausa, como se analisasse a reação de Amanda, mas ela apenas continuou o encarando, esperando que continuasse, ansiosa por respostas — de certa forma, encontramos algo sobre você.
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