Eu e Lysandre fomos para um lugar um pouco mais longe dos outros. Sentamos na neve macia e suspiramos juntos. O cheiro dos pinheiros molhados estava por todo lugar, e eu podia ouvir os pássaros cantando no alto deles. Estava quase anoitecendo, então não tinha mais nenhum animal andando por ali. Lysandre segurou na minha mão e a apertou de leve.
- Obrigada por ter me ajudado. – Sussurro.
- Aquilo não foi nada. Eu devia ter matado ele de uma vez. Ele é desprezível.
- Não se preocupe. Essas pessoas vão receber o que merecem. Elas vão pagar pelo que fazem aqui, e nós não seremos os responsáveis por isso. – Ele sorri para mim e beija minha testa. Fecho um pouco os olhos e escuto ele sussurrar um “eu te amo”.
- Você me ama? Achei que as pessoas não dissessem isso tão cedo.
- Pessoas que evitam esta palavra não são puros de coração. Eu acredito que você deve beijar uma pessoa quando já está sentindo algo. E se ela lhe corresponder, porque não a amar? Qual o motivo de esperar meses para dizer uma simples frase? – Eu o olho com admiração. Lysandre era realmente incrível e a cada dia ele me surpreendia mais. A luz da lua iluminava seu rosto bonito, e o vento balançava seus cabelos.
Ali, olhando para ele, eu percebi que também o amava. Se nos beijamos é porque sentíamos algo um pelo outro, então porque não o amar? Por que me privar de um sentimento tão bonito?
Sim, eu o amo. E acho que ele sabe disso, pois estava sorrindo.
Depois do ocorrido, eu fui tomar um banho. Precisava trocar de roupa e também precisava me aquecer um pouco. Eu estava sentindo um pouco de dor no pescoço, mas nada muito grave.
Vou até o banheiro feminino, e graças ao meu Kamisama, ele estava vazio. Tiro minhas roupas cheias de neve e jogo em um canto qualquer. Ligo o chuveiro e deixo a água quente levar toda a tensão do meu corpo. Eu estava um pouco arrepiada, porque o banheiro era tão apertado que eu precisava ficar encostada no azulejo gelado.
Pego a esponja que mais parecia um Cacto e esfrego o sabonete nela. Quando está fazendo espuma, passo pelo meu corpo. Me arranhou um pouco, mas era a única coisa que tinha.
Esfrego meus cabelos com o shampoo com cheiro de erva doce e depois o condicionador. Pelo menos tinha um creme bom de cabelos.
Ao terminar, desligo o chuveiro e me enrolo na toalha. Visto aquele macacão branco terrível e dou uma ajeitada no cabelo com as mãos.
Eu saio do banheiro segurando minhas roupas sujas e topo com Lysandre. Ele estava olhando para o chão, um pouco vermelho.
- Oi, Lys. Algum problema? – Pergunto enquanto secava mais o meu cabelo na toalha. Ele olha para mim, surpreso. Não tinha me notado ali.
- Não. Está tudo bem. – O platinado coloca seus dedos gelados no meu pescoço e seu olhar se entristece. – Olha o que aquele pervertido fez com o seu pescoço. Está roxo.
- O-O quê? Eu não acredito! – Coloco as mãos perto das orelhas. Eu estava irritada por estar marcado. Provavelmente estava bem feio.
- Não se preocupe, isso vai sumir em algumas semanas. Eu te ajudo com isso. – Lysandre se aproxima de mim, segurando nas minhas mãos e sorrindo. Ele tira do pescoço o pequeno lenço que o enfeitava e enrola no meu, fazendo um laço no final.
- Mas e você, vai ficar com frio, não? – Ele gargalha de leve, retirando um fio de cabelo do rosto. Era tão bonito e sereno. Como fui sortuda.
- Ah, bom, as minhas roupas dão conta do recado. Eu acho. Agora preciso ir, Castiel está me esperando para uma partida de buraco. - Ele beija a minha testa e se afasta. Eu solto um suspiro longo e abro um sorriso fraco. Logo sou tocada de leve na mão.
Era Alice. E ela estava com uma expressão assustada no rosto.
- A-Alice! O que aconteceu?
- Estão namorando? Vocês vão se reproduzir? Vão nascer lindos coelhos com cartolas? – Os olhos dela brilharam, mas minhas bochechas se enrubesceram.
- Não! Não terá coelhos de cartola. Alice, olhe para mim. – Seguro seus ombros de leve. – Esqueça o que viu, tudo bem?
- Não se preocupe, Chapeleiro. Não vi nada. – Ela sorri e sai saltitando.
Decido voltar para o meu quarto. Eu estava um pouco frustrada, mas teríamos outras oportunidade. Afinal, eu ficaria para sempre nesse lugar.
Deito na minha cama e fecho os olhos, dormindo logo em seguida.
Acordo quando já era noite e abro a boca para um bocejo. Eu estava faminta, mas não sabia que horas eram.
Talvez...sete?
Saio do quarto e vou até o refeitório. Tinham pessoas lá e os funcionários estavam servindo a comida.
Graças a Deus.
Pego uma bandeja e vejo aquele monte de gosma de feijão cair. Faço uma careta, mas logo engulo em seco ao ver a cozinheira gorda me olhar de cara feia. Ela cospe no meu prato, e então sorri maliciosamente. Abandono a bandeja ali mesmo e vou me sentar sozinha. Eu estava com fome, mas não iria comer aquela gosma com saliva. O pior é que não nos deixavam repetir a comida.
Rosalya se senta ao meu lado e me empurra de leve com seu ombro. Ela parecia tão normal. Por que será que estava aqui?
- Você e Lysandre estão juntos? – Ela pergunta sorrindo.
- Bom, acho que sim.
- Eu e o irmão dele também tínhamos um relacionamento. Ele se chamava Leigh. Era um amor de pessoa.
- Vocês terminaram?
- Ele morreu em um acidente de carro junto com os pais. – A expressão da platinada muda de alegria para tristeza profunda. – Eu fiquei depressiva, e então vim parar aqui. Tentei suicídio quatro vezes, mas meus pais me impediram em todas elas. Leigh era meu mundo. Meu mundo inteiro. Eu podia sentir ele no meu quarto algumas vezes, mas nunca pude tocá-lo. Estou aqui já faz três anos.
- Sinto muito.
- E você? O que fez para estar aqui?
- Sou depressiva e bipolar. Tentei me matar duas vezes e ameacei meus pais de morte uma vez. Quase os matei com um revólver. Sorte que eu sempre fui ruim de mira. – Dou de ombros.
- O que deixou você com depressão? – A pergunta faz meu corpo gelar. Toda vez que tocavam no assunto, eu enxergava meu irmão com sangue escorrendo da testa. Eu podia enxergar seu sorriso minutos antes do acidente acontecer, e isso fazia meu coração falhar uma batida. Eu só queria esquecer que isso aconteceu. Queria esquecer dos meus pais e da atitude miserável deles. Mas isso nunca sairia da minha memória. Ficaria li, como um dedo na ferida.
- Prefiro não falar sobre isso. – Respondo secamente. Ela dá de ombros e se levanta, indo até o balcão de comida.
Deus, como eu estava faminta! Meu estômago roncava diversas vezes e eu sentia que daqui a pouco iria vomitar de fome.
E então um presente dos céus aparece escorregando pelo chão e bate no pé da mesa.
Alguém deixou uma maçã cair. E esse alguém era Nina.
Olho para ela e depois para a maçã. E então corro até a fruta. Ele vem correndo para pegar e então nós duas colocamos a mão na maçã que parecia extremamente suculenta.
Ela olha para mim e de seus olhos pareciam sair faísca. Tento puxar a fruta, mas ela segura com força.
- Me dê essa maçã, Nina.
- É minha, protótipo de homem das cavernas.
- O quê...? – Ela puxa a maçã que apoiava todo o meu corpo e sai correndo. Meu rosto atinge o chão.
Mas que bela droga!
Será que vai haver um dia em que eu vou ter somente sorte? Ou todos serão de azar?
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